Temores de novos solavancos no setor bancário dos Estados Unidos pesaram adicionalmente sobre os mercados na tarde desta sexta-feira, arrastando para baixo taxas de juros mundo afora, ações do próprio setor financeiro e preços de outros ativos de risco, como o petróleo e moedas emergentes. Bancos regionais, como o Western Alliance (-15,14%) e o First Republic (-32,80%), são bastante penalizados pela desconfiança do investidor quanto às suas capacidades de solvência. Reverbera ainda a notícia de que o acesso de instituições ao redesconto do Federal Reserve saltou a um novo recorde, superando inclusive a marca da turbulência de 2008. Mas sobretudo, a percepção que parece emergir entre os agentes é que as dificuldades de liquidez no setor bancário americano e até mesmo europeu são um ingrediente a mais no processo de desaceleração da atividade global, o que não fará com que o aperto monetário dos bancos centrais cesse, mas que a reversão para um ciclo de baixa seja antecipada. Por isso, mesmo com uma aposta de 61% de alta de 25 pontos-base do Fed fund na semana que vem, de acordo com o monitoramento da CME, a taxa da T-note de 2 anos saiu dos 4,178% ontem a 3,833% hoje. E por mais que juros mais baixos adiante seja positivo para setores como tecnologia, o sentimento geral é de apreensão. Assim, as bolsas americans caíram hoje e apararam ganhos que haviam acumulado na semana: Dow Jones cedeu 1,19% nesta sexta-feira e teve baixa semanal leve, de 0,15%; S&P 500 perdeu 1,10% hoje, mas subiu 1,43% na semana; e Nasdaq recuou 0,74% e subiu 4,41%, respectivamente. O petróleo, por sua vez, derreteu 10% na semana, dado o temor quanto ao crescimento econômico global. Aqui no Brasil, nesta semana pré-Copom, os juros futuros seguiram os Treasuries em forte baixa e agora a curva embute chance de 40% de início do ciclo de corte da Selic em maio, da faixa de 30% a 35% que prevaleceu durante a semana. A expectativa repousa agora sobre o arcabouço fiscal, que foi detalhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva hoje pela equipe econômica. Na Bolsa, aos 101.981,53 pontos, o Ibovespa acumulou recuo diário de 1,40% e semanal de 1,58%. É também o menor fechamento desde 27 de julho. No câmbio, em meio à busca por proteção, o dólar à vista subiu aos R$ 5,2702, alta diária de 0,58% e semanal de 1,19%.
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•BOLSA
•CÂMBIO
MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York fecharam em queda, puxadas pelo setor bancário, com a perspectiva de que os sobressaltos entre algumas instituições continuem. O Western Alliance Bancorp, por exemplo, comentava que havia freado em grande medida o fluxo de retirada de depósitos recente, mas sua ação recuava mais de 10% (após ter chegado a despencar 18%), enquanto o papel do First Republic Bank caía cerca de 30% mesmo após receber ajuda de grandes do setor. Nesse contexto, no câmbio o dólar ampliou perdas à tarde, e entre os Treasuries houve queda nos retornos. Ainda assim, continuavam as chances majoritárias de que o Federal Reserve (Fed) elevará os juros em 25 pontos-base, no monitoramento do CME Group. Analistas também previam em geral alta no mesmo nível pelo Banco da Inglaterra (BoE) na próxima quinta-feira. Entre as commodities, o petróleo confirmou queda de mais de 2%, com recuo de mais de 10% na semana, diante dos temores nos bancos e de que isso gere por consequência demanda mais fraca.
Ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers considerou que o pacote de resgate de US$ 30 bilhões de grandes bancos americanos ao First Republic Bank não é algo substancial do ponto de vista econômico, e acrescentou que seu efeito modesto na melhora da confiança no quadro atual de turbulências "não surpreende". Já o economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Robin Brooks, previa a chegada de um forte aperto no crédito, diante das incertezas em bancos regionais americanos e após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank. A avaliação foi endossada e compartilhada por Nouriel Roubini, que pelo Twitter ainda sugeriu que o Credit Suisse fosse desmembrado em três unidades e o First Republic recapitalizado ou comprado por outro banco maior. A Fitch manteve observação negativa do rating do First Republic, e o papel recuou 32,80% hoje. O megainvestidor Bill Ackman, por sua vez, comentou rumores de que o Bank of America (BofA) poderia anunciar na segunda a compra do Signature.
O Mizuho argumentava por "uma perspectiva mais calma" e dizia não esperar uma crise financeira, mas também advertia para "consequências reais" nas turbulências em andamento, com uma "longa", mas também "rasa" recessão no segundo semestre cada vez mais provável, em quadro de redução na liquidez e de consolidação no setor bancário, com alguns no setor tendo de "limpar" ativos com problemas do balanço e levantar mais capital. Já o presidente americano, Joe Biden, pediu ao Congresso que fortaleça a capacidade do governo para responsabilizar a administração de bancos que entrem em colapso e sejam alvo de intervenção federal.
Nas bolsas de Nova York, o setor financeiro puxou as perdas entre os componentes do S&P 500. O Dow Jones fechou em queda de 1,19%, em 31.861,98 pontos, o S&P 500 caiu 1,10%, a 3.916,64 pontos, e o Nasdaq teve baixa de 0,74%, a 11.630,51 pontos. Nas bolsas europeias mais cedo o quadro foi similar, com Londres em baixa de 1,01% e Frankfurt, de 1,33%, e ação do Credit Suisse, banco com seus riscos mais focos na Europa, em baixa de 8,01%, com perdas de 25,48% nos últimos cinco dias. A Reuters reportou que ao menos quatro grandes bancos, entre eles Société Générale e Deutsche Bank, haviam restringido transações que envolvessem o Credit Suisse ou seus títulos, segundo fontes ligadas ao assunto.
No câmbio, o dólar perdeu mais fôlego à tarde. No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 131,84 ienes, o euro subia a US$ 1,0669 e a libra tinha alta a US$ 1,2180. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, caiu 0,68%, a 103,708 pontos.
Os juros dos Treasuries também estiveram sob pressão, com a busca por segurança. No horário citado, o retorno da T-note de 2 anos recuava a 3,833%, o da T-note de 10 anos caía a 3,406% e o do T-bond de 30 anos, a 3,616%. O monitoramento do CME Group mostrava 58,3% de chance de alta de 25 pontos-base nos juros na próxima quarta, e 41,7% de manutenção. A Oxford Economics considera que o Fed decidirá pela alta de 25 pb, mesmo com a queda nas expectativas de inflação vista mais cedo na pesquisa da Universidade de Michigan. Para o Banco da Inglaterra (BoE), o Société Générale espera também alta no mesmo nível, reduzindo o ritmo depois da alta de 50 pb na reunião anterior. O TD Securities diz que também espera alta de juros pelo BoE, "a menos que ocorra nova deterioração nas condições financeiras".
Entre as commodities, o petróleo WTI para maio fechou em baixa de 2,32%, a US$ 66,93 o barril, na Nymex, e o Brent para o mesmo mês recuou 2,31%, a US$ 72,97 o barril, na ICE. Os contratos tiveram perdas semanais de 12,71% e 11,85%, respectivamente, refletindo os temores nos mercados globais e seus potenciais impactos para a atividade e a demanda. (Gabriel Bueno da Costa - [email protected])
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JUROS
O mercado de juros esteve por mais uma sessão a reboque do ambiente externo, que se sobrepôs no período da tarde para colocar as taxas em queda junto com os yields dos Treasuries e o novo recuo dos preços do petróleo. Os temores sobre uma crise no sistema financeiro, com novos problemas nos EUA, voltaram a pesar sobre os ativos, às vésperas de decisões de política monetária tanto lá quanto aqui.
Internamente, a expectativa pela apresentação do arcabouço fiscal cresceu nesta sexta-feira em que a proposta foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No acumulado da semana, houve perda de prêmio em todos os contratos, mais acentuada nos vértices intermediários, justamente os que refletem a perspectiva para o novo ciclo de política monetária. O mercado ampliou a probabilidade de que comece em maio, com a curva apontando 40% chance de queda de 0,25 ponto porcentual na atual Selic de 13,75%.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,97%, de 13,035% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,182% para 12,075%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 12,485%, de 12,593% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2029, em 12,940%, de 13,033%.
Após percorrerem a manhã oscilando ao redor dos ajustes, sem direção firme, os juros engrenaram movimento de queda na jornada vespertina, na medida em que crescia o temor de que as questões de liquidez que ainda estão, por ora restrita, a poucas instituições se espalhe pelo sistema bancário. A controladora do falido SVB, a SVB Financial, entrou com pedido de recuperação judicial após a quebra do banco, na semana passada. Ainda, o acesso à linha de empréstimos da chamada janela de redesconto disparou a US$ 152,9 bilhões, recorde histórico e que supera o pico de US$ 111 bilhões registrado durante a crise financeira de 2008.
Como o risco de um "credit crunch" pressionaria os bancos centrais a adotarem uma postura mais dovish, a curva dos Treasuries afundou, principalmente o juro da T-Notes de 2 anos, que chegou a rodar abaixo de 3,80% nas mínimas do dia. O da T-Note de dez anos também caiu de forma expressiva, abaixo de 3,40% no fim da tarde.
Apesar disso, a aposta de que o Federal Reserve aplicará uma dose de aperto de 25 pontos-base nos juros na próxima quarta-feira segue majoritária na precificação do CME Group, com 61% de chance, mas contra nada desprezíveis 39% de probabilidade de manutenção. No Brasil, consenso de manutenção da Selic em 13,75% nesta reunião de março está preservado, mas as chances de redução de 25 pontos no Copom de maio avançaram de 30% ontem para 40% hoje. Para o fim de 2023, a curva projeta taxa básica de 12% e para o fim de 2024%, em cerca de 11,75%.
Se o mercado dá como praticamente certo de que não haverá alteração da Selic nesta reunião, não se descarta que o Copom modere o tom no comunicado, dados a possibilidade de o Federal Reserve antecipar o fim do aperto monetário e os sinais de desaceleração de atividade - hoje a Pnad Contínua mostrou desaquecimento no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego subindo a 8,4% no trimestre até janeiro, a primeira elevação em um ano. Outro fator que pode pesar por um discurso mais dovish é o arcabouço fiscal, que pode ser conhecido antes do Copom. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a proposta está "nas mãos de Lula".
Para a economista Ariane Benedito, da Esh Capital, as expectativas desancoradas e as incertezas sobre a área fiscal não deixam espaço para um recuo efetivo da Selic nesta reunião, mas reconhece que o ambiente é favorável a alguma sinalização sobre quando poderá começar a cair. "Ainda que não dê uma data, o Copom pode colocar um 'guidance' atrelado ao fiscal", afirmou. Adicionalmente, disse que se realmente o arcabouço sair antes do Copom e não houver reação do BC, a pressão do governo em cima da autoridade monetária vai crescer. "O BC não vai mudar sua postura porque o governo quer, mas poderá ir calibrando a sinalização sobre o ciclo conforme a proposta fiscal for avançando", opinou a economista, para quem a Selic só deve começar a ser reduzida próximo ao segundo semestre, fechando o ano a 12,50%.
A Fazenda voltou hoje a defender um afrouxamento da política monetária no curto prazo. "Quanto antes for possível reduzir a Selic, melhor vai responder a economia em 2023 e 2024", disse o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello. Ele considera não só possível, como também plausível fazer um ciclo de política monetária defasado do momento atual, e disse não ver incompatibilidade em reduzir juros com inflação acima da meta. O Ministério apresentou hoje suas projeções atualizadas para as variáveis econômicas nos próximos anos, com IPCA de 5,31% no fim de 2023 e de 3,52% no fim de 2024. A meta de inflação para este ano é de 3,25% e a de 2024, de 3%. (Denise Abarca - [email protected])
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BOLSA
O Ibovespa estendeu pela quarta semana a série negativa iniciada com tombo de 3,09% no intervalo entre 22 e 24 de fevereiro, que sucedeu à pausa do Carnaval. Desde então, tem acumulado apenas perdas, vindo dos 109 mil pontos na sexta-feira, 17, que antecedeu o feriado de fevereiro, há um mês. Hoje, oscilou entre mínima de 101.663,65 e máxima de 103.433,65, da abertura, para fechar em baixa de 1,40%, aos 101.981,53 pontos, no menor nível de encerramento desde 27 de julho (101.437,96).
Com vencimento de opções sobre ações nesta sexta-feira, o giro financeiro foi a R$ 34,3 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa acumulou perda de 1,58%, após ceder 0,24% e 1,83% nos dois períodos anteriores. No mês, cai 2,81% e, no ano, 7,07%.
Dentre as ações de maior peso, Vale (ON +1,20%) conseguiu escapar ao tom negativo da sessão, em dia de leve recuperação (+0,44%) para os preços do minério de ferro na China (Dalian) - na semana, a ação da mineradora cedeu 0,18%. Destaque negativo mais uma vez para os grandes bancos, especialmente para a queda de 4,17% em Bradesco PN - na mínima da sessão no fechamento assim como a ON (-3,16%) -, que havia escapado de correção no dia anterior e sido um dos destaques de alta.
Na ponta perdedora do Ibovespa, Eztec (-10,73%), em reação ao balanço da noite anterior, à frente de Hapvida (-10,23%) e Cyrela (-7,47%). No lado oposto, 3R Petroleum (+16,73%), após a Petrobras ratificar a continuidade do processo de transição do Polo Potiguar, um ativo importante para a 3R. Destaque também para Ecorodovias (+8,86%) e BRF (+4,63%) nesta sexta-feira.
A Bolsa chegou ao final da semana da forma como encerrou a anterior, com investidores ainda monitorando o risco de crise de crédito que, nos últimos dias, fez emergir nomes além do SVB, como Credit Suisse e First Republic Bank. Em Nova York, as perdas no fechamento da sessão ficaram entre 0,74% (Nasdaq) e 1,19% (Dow Jones), mas tanto o índice amplo (S&P 500) como o tecnológico (Nasdaq) conseguiram avançar na semana, em alta respectivamente de 1,43% e 4,41%.
Hoje, a Fitch manteve a observação negativa do rating de crédito do First Republic Bank, mesmo após o socorro de US$ 30 bilhões de 11 grandes instituições financeiras ao banco. Segundo a agência, a franquia e o perfil de liquidez da empresa continuam "significativamente enfraquecidos".
"O dia começou de forma até positiva, mas lá fora o pedido de recuperação judicial da controladora do Silicon Valley Bank (SVB) acentuou o movimento de queda, agravando a percepção quanto à crise do setor de crédito no exterior", diz Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos, destacando também a leitura bem abaixo do esperado para o índice de confiança do consumidor nos EUA, da Universidade de Michigan. "Dificuldades em bancos costumam anteceder períodos de recessão forte nos Estados Unidos. Sobe a pressão sobre o Fed quanto aos juros."
"O cenário global está bem sensível aos sinais de pré-colapso em uma parte do sistema bancário, o que afetou o desempenho das ações do segmento também na B3", diz Alex Carvalho, analista da CM Capital. Na semana, as perdas nas ações de grandes bancos ficaram entre 1,35% (Bradesco ON) e 3,72% (Unit do Santander Brasil). O tombo de cerca de 12% acumulado pelo barril do Brent no intervalo, em meio a temores sobre o efeito do aperto de crédito no ritmo de crescimento mundial, resultou em recuos mais acentuados, de 5,88% e 7,18%, respectivamente, para as ações PN e ON da Petrobras na semana - hoje, PN subiu 1,07%, na máxima do dia no fechamento, e ON avançou 0,42%, após terem passado boa parte da sessão em baixa.
No Brasil, "o mercado está bastante indeciso em relação ao futuro dos juros", diz Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Finance da Trevisan Escola de Negócios. Para a reunião do Copom na próxima quarta-feira, mesmo dia em que o comitê do Fed voltará a deliberar sobre os juros americanos, a tendência é de que a Selic seja mantida em 13,75% ao ano. "O consenso é de que redução não deve ocorrer antes do segundo trimestre", aponta Marinello, acrescentando que a atenção do mercado estará concentrada na "sinalização" do BC, especialmente se o novo arcabouço fiscal, como tudo indica, for anunciado até lá.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que a decisão sobre o momento de divulgar o arcabouço cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele que decide agora" afirmou, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser anunciado ainda nesta sexta-feira. Sobre eventuais mudanças na proposta elaborada pela equipe econômica, o ministro afirmou também que a decisão é do presidente. "Decisão é dele. Fazenda cumpriu seu cronograma, vamos entregar ao presidente os cenários e ele encaminha", afirmou a jornalistas.
O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira mostra que para 50% dos participantes a próxima semana será de ganhos para o Ibovespa, enquanto 33,33% esperam perda. Para 16,67%, o período entre 20 e 24 de março será de variação neutra. Na pesquisa anterior, para 37,50% a atual semana seria de ganhos; para 50,00%, de estabilidade; e para 12,50%, de queda. (Luís Eduardo Leal - [email protected]; com Caroline Aragaki)
18:02
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 101981.53 -1.40488
Máxima 103433.65 -0.00
Mínima 101663.65 -1.71
Volume (R$ Bilhões) 3.43B
Volume (US$ Bilhões) 6.51B
18:03
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 102625 -1.67665
Máxima 104320 -0.05
Mínima 102340 -1.95
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CÂMBIO
Após recuo de 1,03% ontem, o dólar voltou a subir no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 17, em meio a aumento da aversão a risco no exterior com temores de crise no sistema financeiro americano e europeu. Com máxima a R$ 5,2850, a moeda terminou a sessão cotada a R$ 5,2702, em alta de 0,58%, encerrando a semana com valorização de 1,19%.
Informações de forte aumento de busca de instituições por linhas de redesconto do Federal Reserve nos últimos dias e o pedido de recuperação judicial do SVB Financial Group, controlador do Silicon Valley Bank (SVB), acenderam o sinal de alerta entre investidores, que ontem haviam comemorado o socorro de US$ 30 bilhões de 11 bancos americanos ao First Republic Bank. Ainda pairam dúvidas sobre a sustentabilidade do Credit Suisse, a despeito de a instituição ter conseguido linha de crédito de mais de US$ 50 bilhões do Banco Central suíço.
Lá fora, o dólar caiu em relação a divisas fortes e moedas de países exportadores de commodities desenvolvidos, mas subiu na comparação com moedas emergentes, em especial latino-americanas, movimento do qual o real não escapou. Como em episódios de estresse ao longo da semana, as maiores perdas ficaram por conta do peso mexicano. As cotações do petróleo voltaram a recuar, com tipo Brent para maio fechando em queda de 2,31%, a US$ 72,97 o barril.
"Ainda que medidas tenham sido tomadas em ambos os casos, permanece um significativo risk-off já que persiste a incerteza em relação aos desdobramentos da crise nos bancos médios nos EUA e no Credit Suisse", afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, acrescentando que a China também agiu para dar suporte à liquidez bancária com corte de 25 pontos-base em sua taxa de compulsório. "A decisão veio após 'hard datas' chineses indicarem uma retomada menos pujante que a esperada. Esse conjunto de fatores penalizou as moedas de países emergentes e tende a continuar mantendo a aversão ao risco elevada".
No mercado de renda fixa, a taxa do Treasury de 2 anos, mais ligada à perspectiva para o rumo da taxa básica americana, caiu quase dois dígitos e voltou a operar abaixo da linha de 4,00%. Parte do mercado especula que o Fed possa optar, na próxima quarta-feira, 22, por manter os Fed Funds inalterados, em vez de elevá-los em 25 pontos-base.
O economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que os pequenos bancos americanos, quando olhados em conjunto, têm um peso relevante e superam as grandes instituições no segmento imobiliário comercial americano. "O difícil 'trade-off' que os EUA enfrentam é entre proteger os depositantes não segurados em pequenos bancos versus uma crise de crédito pontualmente profunda", afirma Brooks, no Twitter.
Apesar do escorregão com a crise externa, analistas destacam que o real parece, por hora, bem ancorado, dado que a moeda brasileira sofreu menos que seus pares. Embora tenha atingido máxima a R$ 5,3288 na quarta-feira, 15, o dólar respeitou o teto de R$ 5,30 no fechamento. As taxas reais domésticas elevadas, mesmo com eventual redução da taxa Selic nos próximos meses, e certo otimismo com a possibilidade de anúncio do novo arcabouço fiscal estariam dando suporte ao real.
"A semana foi contaminada pelas preocupações com possível crise financeira depois dos problemas de liquidez dos bancos americanos. Mas o real até que se comportou bem. Temos ainda um patamar de juro elevado que estimula o carry trade e vejo possibilidade de o dólar se acomodar mais perto de R$ 5,15", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha.
A proposta para o novo regime fiscal já está nas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha reunião marcada hoje a partir das 15h, com o ministros da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet), além do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Mais cedo, Haddad disse que a "Fazenda cumpriu seu cronograma" e agora "ele [Lula] decide".
Uma ala do mercado alimenta expectativas que a proposta seja divulgada antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira à noite, o poderia abrir espaço, ao lado da piora das condições de crédito, para o colegiado do BC sinalizar possível redução da taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, ainda no primeiro semestre.
"O conhecimento da nova regra pode trazer alguma sinalização ainda que sutil, por parte do BC, de certa redução do risco fiscal no balanço de riscos. Há espaço para o BC indicar que o próximo movimento nas taxas de juros será de queda, sem se comprometer necessariamente em quando isso se dará", afirma Damico, da Armor. (Antonio Perez - [email protected])
18:02
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
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DOLAR COMERCIAL FUTURO 5283.255 15/03