A sessão foi marcada por um rali extraordinário na renda fixa do Brasil e, especialmente, dos Estados Unidos, embalado pelo agitado noticiário do fim de semana e da própria segunda-feira. Todos os olhos seguem atentos à crise que começou no Silicon Valley Bank (SVB) e se alastrou, até o momento, para o Signature Bank, reacendendo o temor de a quebradeira arrastar parte do sistema bancário americano. Assim, mesmo com os dados correntes de inflação alta e mercado de trabalho aquecido, consolidou-se hoje a aposta de que o Federal Reserve vai manter o ritmo de aperto em 25 pontos-base na semana que vem. O Goldman Sachs vê espaço para manutenção dos juros e o Nomura, até para queda. Mais adiante, o mercado jogou todas as fichas em um relaxamento monetário até o fim do ano, o que fez o rendimento da T-note de 2 anos ter a maior queda em um só dia desde a Segunda-Feira Negra de 1987. O yield do papel chegou ao fim da tarde abaixo da marca psicológica de 4%, aos 3,988%, queda de quase 60 pontos-base ante a sexta-feira. Taxas de 10 e 30 anos também cedem, com o mercado de olho nas chances de recessão da economia dos Estados Unidos e na busca por proteção dos títulos americanos. Os eventos externos embalaram mais uma sessão de redução forte dos juros futuros aqui no Brasil. O noticiário lá de fora se somou a uma nova rodada de declarações do governo no sentido de enviar, antes do Copom da próxima semana, a nova regra fiscal. A queima de prêmios na curva local, então, disparou. O orçamento para corte da Selic no atual ciclo, precificado em 245 pontos na sexta-feira, saltou a 300 pontos. Há chance bem pequena de redução em março, mas parcela do mercado espera ver já uma preparação do terreno por parte do Banco Central para iniciar a flexibilização. Nos demais mercados, o dólar à vista subiu a R$ 5,2688 (+1,16%) diante da busca por proteção do investidor ante o cenário adverso. Pesos mexicano, colombiano e chileno também sofreram. Na Bolsa, depois de uma queda de 1% mais cedo, o Ibovespa terminou em 103.121,36 pontos (-0,48%) na esteira das incertezas globais e sem acompanhar o bom humor que pairou nos mercados acionários dos EUA durante boa parte do dia ante a possibilidade de afrouxamento das condições monetárias. Mas até lá essa percepção não resistiu integralmente. Ao fim, Dow Jones caiu 0,28% e S&P 500 perdeu 0,15%, ao passo que o Nasdaq subiu 0,45%.
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•CÂMBIO
•BOLSA
MERCADOS INTERNACIONAIS
A quebra de Silicon Valley Bank e Signature Bank promoveu uma reviravolta nas expectativas para os planos do Federal Reserve (Fed), antes mesmo da divulgação de dados de inflação ao consumidor amanhã. Não apenas o mercado descartou uma alta de 50 pontos-base nos juros na semana que vem, como há uma crescente precificação no mercado de manutenção, ainda minoritária. O Nomura foi além e já prevê um corte de 25 pontos-base. Como resultado, os retornos dos Treasuries desabaram e o da T-note de 2 anos teve a maior baixa diária desde a Segunda-Feira Negra de 1987. O dólar também ficou sob forte pressão no exterior, enquanto petróleo sucumbiu à cautela geral. Já as bolsas de Nova York se viram diante de um "cabo de guerra": a possibilidade de pausa no aperto do Fed impulsionaram os papéis de tecnologia, enquanto o setor bancário estendeu fortes perdas. No fim, os três principais índices acionários terminaram sem direção única.
Goldman Sachs e Barclays estão entre as grandes instituições financeiras que responderam aos temores sobre a saúde do setor bancário com mudanças nas previsões para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) neste mês. O argumento principal é de que o receio de um efeito dominó disseminado levará o Fed a contrariar o próprio forward guidance e optar manter os juros inalterados. Mais ousado, o Nomura acredita que a taxa básica será cortada para evitar maiores perdas de capital.
Conforme mostrou reportagem da correspondente do Broadcast em Nova York, Aline Bronzati, publicada às 13h05, a nova postura é uma mudança dramática em relação às apostas da semana passada, quando a expectativa era por um Fed ainda mais rígido. Nas mesas de operações, o monitoramento do CME Group indica aumento das chances por manutenção, embora a possibilidade de elevação de 25 pontos-base siga majoritária.
"Um pânico financeiro cada vez maior e mais profundo teria claramente um impacto negativo na economia, evitando potencialmente a necessidade de mais aperto na política monetária", avalia o Wells Fargo, que se diz "inclinado" a esperar preservação dos juros na próxima semana.
O novo cenário pesou fortemente sobre os rendimentos dos Treasuries e sobre o dólar. Por volta das 17h (de Brasília), o retorno da T-note de 2 anos caía a 3,988% - na semana passada, chegou a operar acima de 5%. O da T-note de 10 anos baixava a 3,540% e o do T-bond de 30 anos cedia 3,682%. A divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI), amanhã, poderá ditar um novo direcionamento aos negócios, mas a situação no setor bancário continuará sendo monitorada.
No câmbio, o índice DXY, que mede o dólar ante seis rivais fortes, fechou em baixa de 0,94%, a 103,595 pontos, com euro em alta US$ 1,0733 e libra, a US$ 1,2189. "O status tradicional de refúgio do USD [d[olar] foi prejudicado pela especulação de que o Fed poderia ser menos agressivo do que o mercado esperava até meados da semana passada", explica o Rabobank.
O Federal Reserve (Fed), aliás, anunciou que irá conduzir uma revisão sobre o próprio trabalho de supervisão e regulamentação do SVB. Ontem, a instituição criou um programa de emergência para apoiar empresas que se encontrem em situação parecida com o SVB, no que diz respeito a um portfólio com alto volume de Treasuries de longo prazo.
Em um primeiro momento, Wall Street reagiu positivamente ao anúncio do pacote de medidas de reguladores americanos, que também fecharam o Signature Bank. À medida que a abertura do pregão regular se aproximou, o cenário ficou mais instável, sobretudo porque uma onda de compras de techs se contrapôs a intensa liquidação de bancos. No fim, o índice Dow Jones fechou em baixa de 0,28%, a 31.819,14 pontos, o S&P 500 cedeu 0,15%, a 3.855,76 pontos; e o Nasdaq subiu 0,45%, a 11.188,84 pontos.
O petróleo também foi vítima da cautela geral e, em determinado momento, caiu mais de 5%, antes de moderar um pouco as perdas. Na Nymex, o barril petróleo WTI para abril fechou em queda de 2,45%, a US$ 74,80, enquanto o do Brent para maio caiu 2,43% na ICE, a US$ 80,77 o barril. (André Marinho - [email protected])
JUROS
Os juros seguiram em forte queda pela tarde em toda a estrutura a termo, refletindo a reprecificação das apostas de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, tendo ainda como pano de fundo o risco de que uma possível crise no mercado de crédito desemboque numa recessão após o colapso de dois bancos americanos na semana passada. Mesmo com as intervenções do Federal Reserve para estancar os efeitos no sistema bancário, o mercado viu o evento como um sinal de alerta para as ações dos bancos centrais. Internamente, contribuiu ainda para o alívio nos prêmios de risco a expectativa pelo novo arcabouço fiscal que, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está pronto, à espera do aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse contexto, o mercado ampliou significativamente as apostas para o ciclo total de afrouxamento monetário, agora em 300 pontos-base.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,00%, de 13,15% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 terminou a 12,16%, de 12,36% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuou de 12,64% para 12,48% e a do DI para janeiro de 2029, de 13,04% para 12,88%.
O movimento de realização de lucros visto na sexta-feira hoje não conseguiu avançar, com as taxas operando em baixa desde a abertura, na medida em que a curva dos Treasuries ia afundando. Além de intervir no Silicon Valley Bank (SVB) e no Signature Bank, o Fed anunciou ontem um programa de emergência a outras instituições para tentar conter os efeitos do colapso sobre o sistema bancário. A decisão foi bem recebida, mas não deixou de ser lida como um alerta sobre o risco de contágio, o que fez "subirem no telhado" as apostas de altas de juros nos Estados Unidos. Mais do que zerar as expectativas de aperto de 50 pontos-base no encontro de março, o mercado passou a considerar a possibilidade de manutenção da faixa dentre 4,50% e 4,75%. Ao mesmo tempo, dispararam as chances de redução da taxa até o fim do ano. A Nomura já trabalha com recuo da taxa na próxima reunião, na semana que vem.
O operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio destaca que eventos deste tipo podem ter desdobramentos "muito acelerados" e, muitas vezes, não totalmente controláveis, em mercados mais dinâmicos, como nos Estados Unidos. "O discurso hawkish do Fed deve ser revisado. Se o quadro piorar, não dá para ser credor em larga escala e, com isso, pode-se ter de usar a política monetária pelo menos afrouxando o discurso", afirma.
Uma mudança no juro dos EUA americana teria impactos ao redor do globo e, por isso, no Brasil o mercado agora espera um ciclo mais amplo de cortes da Selic, chegando a 300 pontos-base, ante 245 pontos na sexta-feira. De acordo com a BlueLine Asset, a curva segue apontando chance de início do processo no Copom de maio, entre 30% e 35% para uma redução de 25 pontos, sendo de 65% a 70% para estabilidade em 13,75%. Para a reunião da semana que vem, o consenso é de manutenção com apenas 3 pontos-base de queda precificados. Para o fim de 2023, aponta taxa de 12,25% e para o fim de 2024, entre 11% e 10,75%.
Para o economista André Perfeito, seria razoável supor que o Copom na semana que vem irá, pelo menos na retórica do comunicado, iniciar o corte de juros. "Muito provavelmente a diretoria do BC irá falar sobre a questão da estabilidade financeira e do ajuste feito até agora na taxa básica de juros por aqui como que dizendo que já foi o suficiente", afirma. Na sua avaliação, um corte de verdade não é para já, dada toda a discussão que surgiu no início do ano entre o Planalto e o BC. "Aqui cabe a máxima, quando se recua um exército em campo de batalha não se deve fazer isso nem tão devagar que pareça provocação nem tão rápido que pareça covardia", disse Perfeito, que projeta o começo do ciclo em maio, com Selic terminando 2023 em 12%.
Se o novo arcabouço fiscal realmente agradar, como previu a ministra do Planejamento, Simone Tebet, haveria condições para que o Copom na reunião da semana que vem adapte sua comunicação, trabalhando o espírito do mercado com antecedência. Haddad disse hoje que, do ponto de vista da sua pasta, não falta nada para apresentar a proposta. Segundo apurou o Broadcast, ele deve tornar o texto público até terça-feira da semana que vem, 21. Faltam apenas duas reuniões oficiais para que o documento seja formalmente anunciado: com o presidente Lula e com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Em evento pela manhã, Haddad disse que vê espaço para reduzir os juros no Brasil mesmo diante de um cenário internacional "turbulento", referindo-se à quebra do SVB nos Estados Unidos. "Diria que tem uma 'gordura' no Brasil que permite a nós - tomando as providências que estão sendo tomadas, e que vêm sendo reconhecidas pelo Banco Central nas atas que ele divulga -, um espaço que o mundo não tem", afirmou.
A entrevista do ministro na sexta-feira após o fechamento do mercado foi bem recebida, na qual afirmou que a nova regra fiscal será uma “combinação virtuosa” de mecanismos para acompanhar contas públicas. "Procuramos fazer combinação entre Lei de Responsabilidade Fiscal e teto de gastos, que afaste os defeitos (das duas). O arcabouço não é uma regra de dívida porque eu não acredito que funcionaria”, disse. (Denise Abarca - [email protected])
CÂMBIO
O dólar abriu a semana em alta firme no mercado doméstico de câmbio e fechou no maior nível em mais de um mês, alinhado à onda de fortalecimento da moeda americana frente a pares emergentes do real com aumento da aversão ao risco no exterior. Apesar da ação rápida de autoridades americanas para assegurar a solidez do sistema financeiro, com linha de redesconto a bancos e garantia a depositantes, a quebra do banco Silicon Valley Bank (SVB) trouxe de volta o fantasma da recessão nos EUA.
Investidores não apenas começaram a colocar em xeque a possibilidade de nova alta 25 pontos-base da taxa básica dos EUA neste mês como já projetam redução dos juros americanos ainda neste ano. A taxa da T-note de 2 anos caiu dois dígitos, abaixo de 4%. Por aqui, a perspectiva de queda da taxa Selic ainda neste primeiro semestre - que estava no radar dos agentes em razão da deterioração do mercado de crédito - ganhou ainda mais corpo.
Segundo analistas, a trinca formada por limitação da exposição a divisas emergentes, perspectiva de taxa Selic menor e temores de deterioração da atividade doméstica acabou abalando o real. A moeda brasileira, que costuma apanhar mais em dias negativos no exterior, hoje não liderou as perdas entre pares, papel que coube ao peso mexicano, com desvalorização superior a 3%.
Depois de ensaiar uma escalada mais forte na primeira hora de negócios, quando esboçou correr até R$ 5,30 ao atingir máxima a R$ 5,2828, o dólar se acomodou por volta de R$ 5,23 no fim da manhã, em linha com o exterior. Ao longo da tarde, a divisa voltou a ultrapassar o nível de R$ 5,25 e encerrou a sessão em alta de 1,16%, cotada a R$ 5,2688 - maior valor de fechamento desde 9 de fevereiro (R$ 5,2788).
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, a taxa de juros no Brasil e em outros mercados emergentes atingiu seu pico e o mercado de moedas já especula em torno do início de um afrouxamento monetário. "No caso do Brasil, isso é ainda mais claro. Antes do evento do SVB, o mercado já se precificava corte de juros antecipado. E, com o que aconteceu nos EUA, passou a precificar redução ainda maior, o que se reflete no valor da moeda", afirma Oliveira, que vê início de corte da taxa Selic em junho, uma vez que "as condições financeiras estão muito mais apertadas após algumas empresas do varejo apresentarem problemas no balanço".
O economista-chefe do Fibra ressalta que o Federal Reserve agiu rápido para evitar danos maiores ao sistema financeiro em razão da quebra do SVB, o que deve levar o mercado a se reequilibrar em alguns dias. "Essa crise não será prolongada como vimos em 2008 e 2009 com o evento subprime. Como uma acomodação, o dólar deve permanecer no mesmo 'range' (entre R$ 5,00 e R$ 5,250)", afirma.
Lá fora, com perspectiva de fim iminente do aperto monetário nos EUA e aposta em corte dos Fed Funds neste ano, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - caiu quase 1%, e rompeu o piso de 104,000 pontos. A moeda americana também recuou na comparação com divisas de países exportadores de commodities que não se enquadram na categoria de emergentes, como dólar australiano e canadense.
O sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, afirma que os efeitos da alta da taxa de juros pelo Fed se fazem sentir na economia e há temores de que haja uma deterioração mais forte dos mercados de crédito, levando a um efeito cascata que deságue em uma recessão. "Isso provocou uma forte aversão ao risco no mercado, já revertido em parte pela ação rápida das autoridades americanas. Mas aquele discurso do Fed de alta de juros não vai se sustentar e isso levou a uma queda forte do DXY", afirma Izac.
Segundo o sócio Nexgen Capital, parte da depreciação do real hoje também se deve a um temor de contágio e piora da atividade do Brasil, que tem a maior taxa real de juros do mundo. "Essa questão do crédito também já preocupa aqui dentro. Há temor de que empresas e bancos brasileiros digitais de menor porte possam ser atingidos. Isso gera um movimento de 'risk off' que ajuda a explicar a desvalorização do real hoje", afirma.
Por aqui, o mercado também monitora os sinais do governo sobre o novo arcabouço fiscal e a troca de cadeiras na diretoria do Banco Central. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje, em evento organizado pelos jornais Valor Econômico e O Globo, que a equipe econômica está confiante na proposta de nova regra fiscal e que pretende apresentá-la ao presidente Lula nesta semana. O presidente também já tem em mãos, disse o ministro, nomes indicados para ocupar as diretorias de Política Monetária e Fiscalização "deve tomar uma decisão os próximos dias".
Afastando temores de nomes mais alinhado politicamente ao Planalto no Banco Central, sobretudo após críticas do presidente à gestão de política monetária, Haddad afirmou que a lista de indicados à diretoria do BC nos dois primeiros mandatos de Lula mostra que o presidente sempre fez escolhas técnicas. (Antonio Perez - [email protected])
18:02
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.26880 1.1635 5.28280 5.21250
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL 5267.500 0.64966 5303.500 5232.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5300.000 2.04082 5300.000 5300.000
BOLSA
O Ibovespa manteve sinal moderadamente negativo ao longo da maior parte da tarde, após ter caído na casa de 1% mais cedo, sem conseguir acompanhar, na etapa vespertina, o desempenho de Nova York, em dia de forte queda nos rendimentos dos Treasuries, especialmente no vencimento de 2 anos, mais sensível à perspectiva de curto prazo para os juros de referência dos Estados Unidos, os Fed funds.
Em Nova York, a correção nos juros de mercado americanos impulsionou em especial as ações de “crescimento”, mais expostas à política monetária do Federal Reserve e que estão concentradas no Nasdaq, que subiu hoje 0,45%. O índice tecnológico perdeu força em direção ao fechamento da sessão, em que Dow Jones e S&P 500 não conseguiram segurar a recuperação e cederam, respectivamente, 0,28% e 0,15%. O quadro ao final do dia foi misto: por um lado, algum alívio, inclusive quanto ao espaço ainda livre para o aumento dos custos de crédito na maior economia do globo; por outro, receio cada vez maior de que os EUA estejam se aproximando de recessão.
As ponderações quanto aos efeitos do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), importante financiador de empreendimentos do setor tecnológico, foram contrapostas à imediata reação das autoridades americanas e do sistema de salvaguardas para evitar contágio financeiro, o que contribuiu para acalmar um pouco as bolsas americanas nesta abertura de semana.
Aqui, o Ibovespa não acompanhou a melhora de humor observada na maior parte da tarde, assim como foi o caso também nas principais bolsas europeias, com perdas que chegaram à casa de 3% (Frankfurt) no fechamento desta segunda-feira.
Na B3, o índice de referência encerrou a sessão em baixa de 0,48%, a 103.121,36 pontos, entre mínima de 102.254,72, menor nível intradia desde 16 de dezembro, e máxima de 103.906,78, saindo de abertura aos 103.607,98. O giro financeiro foi de R$ 26,8 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa cai 1,73% e, no ano, cede 6,03%. Hoje, renovou o menor nível de fechamento de 2023 - também a menor leitura desde 16 de dezembro. Foi a terceira queda consecutiva para o índice da B3.
"Para garantir que não haja uma quebra em cadeia de diversas empresas que mantinham seus depósitos no Silicon Valley Bank, o Fed por intermédio do equivalente ao nosso FGC (Fundo Garantidor de Crédito) assegurou a possibilidade de saque pelos clientes do banco", observa em nota Ricardo Veles, CIO da Futurum Capital.
"Respiro veio com o anúncio do Fed e do governo americano de que todos os depósitos de clientes de bancos em intervenção serão cobertos, e de que será criada uma linha de crédito com base em garantias de ativos líquidos, mas marcados a valor de face - ou seja, eliminando o efeito de marcação a mercado nos ativos, que poderia trazer mais temor ao mercado", aponta Alvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.
"O mercado aqui chegou a esboçar uma reação hoje, muito por conta da queda dos juros aqui e lá fora. Os bancos regionais americanos são ainda um fator de cautela, após a quebra do SVB. Mas a situação resultou hoje em percepção, talvez um pouco precipitada, de que o Fed pode ser mais flexível (com relação à elevação dos juros americanos e, por consequência, dos custos de crédito)", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, observando que, na Europa, as bolsas tiveram sessão bem mais negativa, na contramão do observado em Nova York nesta véspera de divulgação de novos dados sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos - em semana que antecede a deliberação sobre juros, nos EUA e no Brasil, no dia 22.
O efeito que a debacle do SVB terá sobre o Fed divide opiniões, mas já se começa a construir o entendimento de que o BC americano será levado a dosar o ritmo de alta de juros logo à frente. "Os juros estavam muito baixos no passado, o que resultou em excesso de liquidez. Esse fato (colapso do SVB) serviu para abrir um pouco os olhos do Fed, para que não ocorra o que se viu em 2008, com o Lehman Brothers. A reação foi tomada de forma rápida agora, logo no fim de semana, de forma a evitar que não se transforme em risco sistêmico", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Para a TD Securities, a crise no Silicon Valley Bank torna improvável que o Federal Reserve opte por um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros na reunião deste mês, na próxima semana, mesmo com os dados de inflação e mercado de trabalho nos EUA favorecendo uma alta dessa proporção. Assim, consolida-se a percepção de que o Fed poderá elevar em no máximo 25 pontos-base a taxa de juros na próxima semana, após recentes comentários "hawkish" de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que haviam dado impulso ao pensamento de que o Fed viria agora com 50 pbs.
Além disso, as chances precificadas no mercado de um relaxamento monetário do Fed até o final deste ano dispararam, em meio às repercussões da quebra de SVB e Signature Bank, que desperta cautela quanto a uma eventual crise bancária nos Estados Unidos. Conforme monitoramento do CME Group, a probabilidade de que os juros básicos do Fed cheguem a dezembro abaixo do nível atual (de 4,50% a 4,75%) atingiu 94,3% no início da tarde de hoje.
Aqui, a curva do DI acompanhou o movimento de descompressão dos juros americanos, favorecida também pela expectativa para o anúncio do arcabouço fiscal que, se bem recebido, pode abrir caminho para o início do processo de cortes da Selic, hoje em 13,75%. Assim, na B3, ações dos setores de varejo e construção, mais sensíveis a juros, como Via (+12,09%), Magazine Luiza (+9,41%), MRV (+7,31%) e Petz (+6,54%) lideraram os ganhos hoje, entre os componentes do Ibovespa. No lado oposto, destaque para São Martinho (-5,81%), 3R Petroleum (-5,40%) e Dexco (-5,36%).
O índice de consumo fechou o dia em alta de 0,73%, enquanto o de materiais básicos, que reúne ações de commodities, cedeu 0,71%. Petrobras ON e PN caíram hoje 3,17% e 3,16%, enquanto Vale ON subiu 0,41%. Entre os grandes bancos, as perdas chegaram nesta segunda-feira a 1,20% (Itaú PN) no fechamento.
Nos Estados Unidos, "a intervenção enérgica (para conter os efeitos do colapso do SVB) parece ter acalmado os investidores. Dito isso, a grave má administração da exposição à taxa de juros, apresentada pelo SVB, claramente levanta questões sistêmicas sobre o setor bancário nos Estados Unidos, e a possibilidade de que outros bancos venham a seguir o mesmo caminho", diz Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.
Com a queda de Silvergate, Signature e SVB nos últimos dias, as autoridades dos EUA começaram a introduzir iniciativas para proteger os depósitos. A quebra do Silvergate e do Signature é considerada particularmente grave para os ativos digitais, na medida em que as duas instituições operavam redes de pagamentos em tempo real para a indústria cripto, auxiliando no fluxo de dinheiro de e para o setor. Muitas empresas de criptoativos agora estão procurando bancos fora dos EUA, especialmente na Suíça e nos Emirados Árabes Unidos, reporta a Bloomberg. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:02
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 103121.36 -0.47949
Máxima 103906.78 +0.28
Mínima 102254.72 -1.32
Volume (R$ Bilhões) 2.68B
Volume (US$ Bilhões) 5.11B
18:03
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 104200 -0.5393
Máxima 104920 +0.15
Mínima 103155 -1.54