A incerteza dos investidores em relação ao andamento do quadro fiscal brasileiro limitou o espaço para que a tomada de risco verificada em Nova York chegasse aos ativos locais. O assunto do dia ao redor do mundo foi a mudança de estratégia da política monetária dos EUA anunciada, ainda pela manhã, pelo presidente do Fed, Jerome Powell. Ao definir que a meta de inflação passa a ser uma média de 2%, o banco central americano abre espaço para que os preços fiquem acima desse patamar em alguns momentos, como forma de compensar períodos de fraqueza como o atual. O resultado disso será, certamente, taxa de juros baixa por mais tempo, liquidez farta e, portanto, maior apetite por risco. Os principais índices acionários de Wall Street atenderam a essa lógica e o S&P 500 renovou recordes pelo quinto pregão seguido. O Nasdaq, contudo, teve uma realização após as máximas recentes. Mas o Brasil vive um momento distinto e apenas liquidez não é mais o suficiente. Os agentes seguem em compasso de espera pela solução que a equipe econômica dará para atender aos anseios do presidente Jair Bolsonaro e entregar um Renda Brasil maior que caiba de forma factível no Orçamento sem ferir o teto de gastos. O desafio é grande, os agentes sabem disso e colocam nos preços a desconfiança. Por isso, os investidores em juros futuros, mesmo com o alívio visto na etapa vespertina, em meio ao dólar mais calmo e passada a pressão com o lote expressivo de prefixados emitido pelo Tesouro, aumentaram as apostas num aperto monetário neste ano. Sabem que, sem o fiscal controlado, não há juros baixos. O próprio presidente do Banco Central, aliás, tem deixado isso claro, ao dizer que, nesse momento, a "política monetária é o passageiro e a fiscal, o piloto". Por isso, a curva a termo de DIs já contratou um ajuste de 26 pontos-base, sendo que a probabilidade de aperto já em setembro subiu de 15% para 20%. O Ibovespa chegou a subir quase 1% em meio às declarações de Powell, mas o fôlego foi curto, o índice caiu abaixo dos 100 mil pontos no meio do dia e, depois ficou rondando a estabilidade durante quase toda a tarde, até encerrar no zero a zero. Nominalmente, contudo, o sinal foi negativo, ao ceder para 100.623,64 pontos, ante 100.627,33 pontos da véspera. O real também mostrou volatilidade, com o dólar oscilando entre R$ 5,54 e R$ 5,62. Mas como um dos ativos brasileiros mais castigados no ano, conseguiu seguir a melhora externa e ganhar algum espaço ante a divida americana. No fim, a moeda dos EUA no mercado à vista cedeu 0,66%, a R$ 5,5778, mas ainda com valorização de 39% no ano.
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