Os ativos domésticos não resistiram a uma nova rodada de deterioração externa e, ao contrário dos últimos dias, quando se descolaram do mau humor lá fora com expectativas positivas sobre o novo arcabouço fiscal, hoje performaram pior do que os pares. Mas a aversão ao risco global não teve, desta vez, relação com o Fed ou com a possibilidade de mais juros adiante. Foi o fechamento de um banco, o Silicon Valley Bank (SVB), maior instituição financeira dos EUA a quebrar desde a crise financeira de 2008, que potencializou o recuo firme dos principais índices de ações de Wall Street, que também encerram a semana no vermelho. No período, os investidores se apegaram à ideia de que o BC americano poderia ser mais duro com sua política monetária, ainda que, hoje, as apostas majoritárias em alta de 0,50 ponto tenham dado lugar às chances de um ritmo menor, de 0,25 ponto, devido ao avanço do desemprego nos EUA mostrado pelo payroll. No Brasil, o mercado seguiu de olho no noticiário envolvendo a regra fiscal, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu apresentar ao presidente Lula na próxima semana, mas com reação limitada às novas declarações ou ao acordo entre governo e Estados para compensação de perdas do ICMS. Além do exterior novamente negativo ter aberto espaço para uma realização de lucros, o IPCA de fevereiro acima do previsto apagou um pouco os ânimos com um corte da Selic em maio. As apostas nesse cenário, até ontem em 40% de chances na curva, recuaram para entre 25% e 30% diante do avanço das taxas curtas, enquanto os vencimentos intermediários e longos recobraram prêmios em meio à deterioração generalizada dos mercados. Mesmo assim, vale notar, a curva de juros perdeu inclinação na semana. O mesmo não se pode dizer do real - pior desempenho do dia entre os pares - e da Bolsa, que, com as perdas de hoje, terminaram o período no negativo. No caso do câmbio, o dólar subiu 1,30% hoje, a R$ 5,2082, acumulando pequena valorização de 0,15% desde a última sexta-feira. O desempenho do Ibovespa foi ainda mais fraco, tanto hoje, quando cedeu 1,38%, aos 103.618,20 pontos, quanto na semana, ao recuar 0,24%.
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•CÂMBIO
•BOLSA
MERCADOS INTERNACIONAIS
O fechamento do Silicon Valley Bank (SVB), maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008, exacerbou o estresse em Wall Street e impediu a recuperação que os negócios buscavam no começo da tarde. Ainda que autoridades e especialistas minimizem os riscos de um contágio sistêmico, investidores se desfizeram de ações do setor financeiro, com as instituições regionais na dianteira das perdas. Com isso, as bolsas de Nova York caíram mais de 1% e favoreceram a migração para os Treasuries, cujos rendimentos aceleram queda ao longo do dia. O da T-note de 2 anos, inclusive, teve a maior queda no acumulado de dois dias desde 2001. O dólar também corrigiu ganhos recentes e se enfraqueceu ante rivais, após o payroll indicar avanço do desemprego nos EUA e tornar majoritárias outra vez as expectativas por alta de 25 pontos-base nos juros do Federal Reserve (Fed) em março - mesmo que a criação de postos de trabalho tenha se mantido sólida.
As especulações de que o SVB Financial Group estudava uma possível venda, diante das dificuldades em levantar capital, mantiveram operadores em alerta desde o começo do dia. Sem indícios de que os problemas pudessem ser generalizados entre os bancos, uma tentativa de recompor as perdas chegou a levar os três principais índices acionários de Nova York ao terreno positivo poucas horas após a abertura fraca.
No entanto, o movimento se desfez e o mau humor voltou a vigorar nas mesas de operações depois que reguladores americanos anunciaram o fechamento do SVB. A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) informou que assumiria o controle da empresa, mas não revelou quem será o comprador dos ativos, uma prática comum durante processos ordenados de liquidação bancos, de acordo com a Associated Press.
Ex-secretário do Tesouro, Larry Summers disse à Bloomberg que vê poucos motivos para acreditar que gigantes como JPMorgan e Bank of America possam ser severamente afetados. A atual chefe da pasta, Janet Yellen, também expressou confiança de que os reguladores dispõem de instrumentos para lidar com a questão.
Ainda assim, o episódio ilustra os desafios enfrentados por instituições financeiras que aproveitaram o cenário de juros baixo durante a pandemia para ampliar o portfólio de títulos de longo prazo. Com o aperto monetário do Federal Reserve (Fed), os valores desses papéis despencaram, enquanto clientes retiravam depósitos para buscar opções mais atrativas de investimento, de acordo com o UBS. O caso do SVB é complicado pelo foco em startups, que se viram pressionadas pelo encarecimento do crédito. "Os últimos desdobramentos reforçam nossa visão negativa sobre o setor financeiro dos EUA", diz o UBS.
Essas preocupações amplificaram a onda de vendas de ações em Nova York. No fechamento, o índice Dow Jones caiu 1,07%, a 31.909,96 pontos; o S&P 500 perdeu 1,44%, a 3.861,73 pontos; e o Nasdaq baixou 1,76%, a 11.138,89 pontos. O subíndice do S&P 500 para o mercado bancário cedeu 1,90%. Silvergate Bank, que já tinha anunciado liquidação de seus ativos, se desvalorizou 10,56%. Os bancos regionais First Republic Bank e PacWest Bancorp desabaram 14,84% e 37,91%, respectivamente.
"Era para ser uma sexta-feira fácil com um enorme relatório de empregos, mas o SVB, banco com exposição em uma variedade de setores, quebrou e provocou dificuldades para vários outros bancos menores", resume o analista Edward Moya, da Oanda.
A cautela pronunciada pesou sobre os juros dos Treasuries: perto do fechamento das bolsas de Nova York, o rendimento da T-note de 2 anos caía a 4,577%%, o da T-note de 10 anos baixava a 3,687% e o do T-bond de 30 anos cedia a 3,691%. O retorno do título de dois anos teve a maior queda no acumulado de dois dias desde 2001, de acordo com a Dow Jones. A tendência foi alimentada pelos reajustes nas apostas para os planos do Fed, depois que o payroll mostrou desaceleração da geração de empregos a pouco mais de 300 mil e avanço da taxa de desemprego a 3,6%, ainda perto das mínimas em décadas.
Nesse cenário, por volta das 18h, monitoramento do CME Group estimava em 56% as chances de que o Fed suba juros em 25 pontos-base, à faixa entre 4,75% a 5,00%. Ontem, essa precificação era de 31,7%, enquanto a possibilidade majoritária era de uma elevação mais agressiva, de 50 pontos-base.
Essa reavaliação inviabilizou que o dólar capitalizasse da aversão ao risco em Wall Street e forneceu alívio à escalada recente da divisa americana. O índice DXY, que mede a moeda dos EUA ante seis rivais fortes, fechou em baixa de 0,70%, a 104,576 pontos, com euro em alta a US$ 1,0641 e libra, a US$ 1,2023. "Embora normalmente pensaria que uma liquidação de ações apoie uma alta do dólar, talvez não [será], no entanto, se o epicentro do estresse atual for o sistema bancário dos EUA", afirma o ING.
O dólar enfraquecido protegeu o petróleo da cautela generalizada. O WTI para abril negociado em Nova York fechou em alta de 1,27%, a US$ 76,68, e o do Brent para maio em Londres ganhou 1,46%, a US$ 82,78. Na semana, contudo, as cotações recuaram mais de 3%, diante de persistentes temores quanto a uma recessão nas principais economias do mundo. Hoje, a Fitch elevou a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global este ano, de 1,4% para 2,0%, mas cortou o de 2024, de 2,7% a 2,4%. (André Marinho - [email protected])
JUROS
Após uma sequência de quatro quedas consecutivas, os juros futuros fecharam a sexta-feira em alta, num movimento de realização de lucros que pela manhã se limitava às taxas curtas com respaldo do IPCA acima do consenso. À tarde, contaminou toda a estrutura a termo, dada a piora na percepção de risco fiscal e externo. A ponta longa inicialmente cedia, alinhada ao comportamento dos rendimentos dos Treasuries, mas passou a avançar à tarde, com um noticiário farto para as contas públicas e aumento da aversão ao risco em Wall Street. No balanço da semana, porém, a curva perdeu inclinação, com as taxas longas cedendo bem mais do que as curtas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,16%, de 13,01% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 saiu de 12,21% para 12,38%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,65%, de 12,55%, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 13,06%, de 12,95%.
Na semana, que teve quatro dias consecutivos de alívio nos prêmios de risco, as taxas curtas cederam em torno de 20 pontos-base, menos do que as longas, que caíram 50 pontos. A taxa do DI para janeiro de 2024, por exemplo, ontem fechou no nível mais baixo desde o fim de novembro e a do DI para janeiro de 2027, no piso desde meados de janeiro. Ou seja, num dia de aversão a risco no exterior e de redução de otimismo na seara fiscal, era provável haver uma correção na rota, mas que não comprometeu significativamente as apostas para o ciclo de afrouxamento monetário.
Segundo a BlueLine Asset, a curva a termo segue precificando chance de início de redução da taxa básica de 13,75% em maio, de 25 pontos-base, mas pouco menores do que ontem. A probabilidade passou de 40% para algo entre 25% e 30%. O orçamento total de alívio recuou para 245 pontos, de 250 pontos ontem. O IPCA de fevereiro, de 0,84%, superou a mediana das estimativas (0,78%) e ficou mais perto do teto de 0,89%, com preços de abertura que não agradaram. Pressionada pela alta nos preços de Educação, a inflação de serviços mais que dobrou, saindo de 0,60% em janeiro para 1,41% em fevereiro, maior resultado da série histórica iniciada em 2012. Em 12 meses, foi de 7,84% em fevereiro.
"O IPCA de hoje mostra que esse espaço para corte de juros que o mercado está precificando não existe", afirmou o economista do Banco BV Carlos Lopes, que também não vê sentido numa antecipação de crise no mercado de crédito para justificar um alívio monetário. Ele lembra ainda que as expectativas de inflação estão desancoradas, o que ajuda a desautorizar o nível de otimismo da curva com relação ao ciclo de distensão monetária.
Com isso, as taxas curtas já oscilavam em alta pela manhã, enquanto a ponta longa cedia acompanhando o ritmo de fechamento da curva americana. O payroll nos Estados Unidos trouxe criação de 311 mil vagas em fevereiro, mas o aumento nos salários veio abaixo do esperado, o que embaralhou um pouco as apostas para o encontro do Federal Reserve em março, com a expectativa de alta de 25 pontos-base voltando a ganhar fôlego. À tarde, contudo, os DIs longos passaram a subir com o aumento da aversão ao risco gerada pelo colapso do Silicon Valley Bank, o maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008, que também penalizou o câmbio.
Além do exterior, a percepção de risco fiscal piorou com uma série de notícias negativas no dia. Lopes, do Banco BV, disse que o acordo que o governo fechou com os Estados para compensar perdas de arrecadação com a mudança na base de cálculo do ICMS sobre bens essenciais durante o governo Bolsonaro pesou sobre os vencimentos longos, ainda que o valor de R$ 26,9 bilhões tenha vindo um pouco menor do que os Estados estavam reivindicando. "Mas não deixa de ser significativo. Ainda que seja uma compensação, é algo negativo com o mercado à espera do novo arcabouço fiscal", afirmou. A nova âncora será apresentada na próxima semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dará a palavra final.
O reajuste nos valores da merenda escolar do ensino público a serem anunciados nesta sexta-feira pelo presidente Lula, que pode chegar a 39%, e a possibilidade de aumento de subsídio para faixa 2 do programa Minha Casa, Minha Vida, são outros fatores da cena fiscal que foram mal recebidos. "Está todo mundo gostando do que poderia ser o arcabouço, mas de concreto mesmo o que vemos são movimentos de gastos. Diferente disso, só tivemos a reoneração da gasolina. De resto, tudo sugere uma postura fiscal contrária a um marco fiscal mais consistente", afirma um economista. (Denise Abarca - [email protected])
CÂMBIO
O dólar subiu mais de 1% no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 10, e voltou a fechar acima de R$ 5,20, alinhado ao sinal positivo da moeda americana frente à maioria de divisas consideradas pares do real. Dados mistos do relatório de emprego (payroll) nos EUA esfriaram um pouco as apostas em torno da possibilidade de que o Federal Reserve acelere o passo e anuncie neste mês uma alta da taxa de juros em 50 pontos-base - o que abriu espaço para uma baixa do dólar frente a pares fortes. Sinais de estresse no setor financeiro americano com o fechamento do Silicon Valley Bank (SVB) - o maior banco dos EUA a quebrar desde a crise financeira de 2008 - provocaram, contudo, deterioração dos ativos de risco que respingou em moedas emergentes.
Por aqui, o Ibovespa, já abalado pela divulgação do IPCA de fevereiro acima do esperado, acentuou as perdas à tarde com a degringolada das bolsa em Nova York, o que contribuiu para aumentar a pressão sobre o real. Em tal cenário, agentes correram para realizar lucros acumulados com a moeda brasileira e recompor posições defensivas, uma vez que o dólar apresentava queda de 1,12% na semana até ontem, movimento atribuído em grande parte ao otimismo com a expectativa pelo anúncio do novo arcabouço fiscal.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez pronunciamento hoje à tarde, mas para anunciar compensação da União aos Estados pelas perdas de arrecadação com mudança do ICMS. O ministro informou que apresentará a nova regra fiscal na próxima semana a Lula, a quem caberá "a palavra final". Pela manhã, o presidente disse que Haddad "é criativo" e vai "arrumar recursos" para o governo investir em infraestrutura.
Com sinal positivo desde a abertura dos negócios, o dólar encerrou a sessão em alta de 1,30%, cotado a R$ 5,2082 com máxima a R$ 5,2203, à tarde. A arrancada de hoje foi suficiente para anular as perdas de ontem e levou a divisa a terminar a semana com ganhos de 0,15%. No acumulado dos oito primeiros pregões de fevereiro, contudo, o dólar ainda recua (-0,32%). Após dias de liquidez reduzida, os agentes mostraram apetite por negócios, com o contrato de dólar futuro para abril girando mais de US$ 15 bilhões.
"A moeda brasileira apresenta um dos piores desempenho frente ao dólar, em uma sessão marcada pela ansiedade em torno do setor bancário americano, incerteza sobre altas de juros com dados ambíguos do payroll e também desconforto com a inflação mais forte do que o esperado aqui no Brasil", diz CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo.
Divulgado pela manhã, o payroll mostrou criação de 311 mil vagas em fevereiro, acima da mediana (220 mil) e do teto (300 mil) de Projeções Broadcast. De outro lado, a taxa de desemprego subiu de 3,4% em janeiro para 3,6% no mês passado, ante previsão de estabilidade. Além disso, o salário hora subiu menos que o esperado na comparação mensal e anual.
Na esteira da divulgação do payroll, ferramenta da CME mostrou o mercado dividido entre alta de 50 pontos e 25 pontos-base na taxa básica americana no encontro de política monetária do Fed no próximo dia 22. As atenções se voltam agora para a divulgação na semana que vem do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em fevereiro.
"Os dados de salário e horas trabalhadas vieram um pouco mais baixos, o que se reflete na inflação. O mercado avalia que talvez o Fed não acelere o ritmo. Ainda assim, estamos vendo um mercado de trabalho muito forte e robusto", afirma o economista-chefe da RPS, Victor Candido, sobre o payroll.
Por aqui, o IPCA acelerou de 0,53% em janeiro para 0,84% em fevereiro, dentro do intervalo de Projeções Broadcast (de 0,67% a 0,89%), mas acima da mediana (0,78%). Embora já se esperasse aceleração do índice, analistas dizem que a composição e os núcleos mostram que não está em curso um processo de desinflação. Isso reduz o espaço para que o Banco Central inicie um processo de corte da taxa Selic ainda no primeiro semestre.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a perspectiva de manutenção de diferencial de juros interno e externo ainda elevado estimula as operações de carry trade e, ao lado da melhora dos preços das commodities, abriria espaço para queda do dólar no mercado doméstico. De outro lado, o ambiente ainda de incertezas políticas e fiscais jogam contra a moeda brasileira.
"Sem um fato novo mais forte, o real fica volátil, oscilando dentro desse 'range' que estamos vendo [entre R$ 5,00 e R$ 5,25]. O que pode fazer a taxa de câmbio mudar de patamar é efetivamente uma melhora na percepção doméstica. Ou uma piora muito grande de percepção de risco global", afirma Lima, que não se diz otimista com o novo arcabouço fiscal gestado pelo Ministério da Fazenda. "Deve diminuir a possibilidade de uma deterioração rápida do fiscal, mas vai manter a incerteza sobre a convergência da dívida. O presidente diz que investimento não é gastos e que o Haddad se vire e seja criativo para arranjar dinheiro". (Antonio Perez - [email protected])
18:18
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BOLSA
O Ibovespa caiu 1,38% hoje, aos 103.618,20 pontos, refletindo a cautela do investidor com o cenário externo e doméstico. No exterior, a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) renovou a aversão global a risco, em meio a leituras mistas do payroll dos Estados Unidos em fevereiro e da espera pelo CPI, na semana que vem. Por aqui, o IPCA de fevereiro acima do esperado diminuiu as apostas de antecipação dos cortes da Selic.
Sem apetite do estrangeiro por risco, o Ibovespa apagou o ganho semanal e encerrou o período em queda de 0,24%, após ter perdido 1,83% na semana anterior. No ano, a referência da B3 cede 5,57%. O desempenho do dia ficou em linha com os pares de Nova York, onde o S&P 500 recuou 1,45%, acompanhado de perto por Dow Jones (-1,46%) e Nasdaq (-1,07%).
"Acredito que a piora do Ibovespa hoje se deve, em grande parte, à aversão a risco no cenário internacional", diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "O mercado interpretou alguns dados do payroll como sinal de desaceleração do mercado de trabalho, o que veio a calhar para tirar um pouco de pressão dos juros americanos. No entanto, o evento do SVB acabou contaminando o mercado."
A criação de postos de trabalho apurada pelo payroll em fevereiro superou as expectativas do mercado, mas o relatório também apontou um aumento do desemprego a um nível acima do esperado, de 3,4% a 3,6%. O dado trouxe a aposta de aumento de 0,25 ponto porcentual da taxa dos Fed Funds de volta à mesa, dias após a ferramenta do CME Group ter indicado um aumento de 0,5 ponto como mais provável.
Mas o colapso do SVB, maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008, apagou o otimismo com uma trajetória mais suave de juros no Fed e fez com que as bolsas de Nova York - e o Ibovespa - tocassem as mínimas da sessão durante a tarde. O episódio contaminou também o segmento financeiro no Brasil, que caiu 2,35%, puxado pelas baixas de Bradesco (-2,86% PN, -2,64% ON) e Itaú Unibanco PN (-2,39%).
"As ações do setor financeiro já vêm sendo penalizadas pela leitura de um cenário mais restritivo e de maior inadimplência em 2023, que deve afetar a carteira dos bancos. Com essa questão específica dos Estados Unidos, o setor financeiro das bolsas no mundo todo acaba sofrendo a repercussão, e a gente também acaba sentindo", explica Abdelmalack.
Apesar do alívio na curva dos Treasuries com o payroll, a analista lembra que as expectativas do mercado ainda sugerem que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terá de aumentar os juros a um nível próximo de 6%, mais que o esperado anteriormente. Por isso, é natural que o mercado adote posições defensivas, à espera da divulgação da inflação ao consumidor do país (CPI) na semana que vem.
No cenário doméstico, o IPCA acima do esperado em fevereiro foi lido pelo mercado como um dado que limita a possibilidade de antecipação dos cortes da Selic. Após a divulgação do dado, pela manhã, o Bank of America citou a chance de uma "pausa" na tendência de desinflação no País. O Goldman Sachs alertou que o dado está em linha com a visão de que as condições "desafiadoras" recomendam uma política monetária conservadora.
Os investidores também continuam em compasso de espera pelo anúncio do arcabouço fiscal, que pode ser apresentado na semana que vem, à véspera da reunião do Copom de março (dias 21 e 22). Durante a tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que apresentará a proposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana e que o mandatário terá a "palavra final" sobre o tema.
"No Brasil, nada é tão ruim que não possa ser pior, especialmente na parte fiscal. Está ficando difícil Haddad apresentar uma regra com controle de gastos que agrade à cúpula do PT e ao presidente Lula", diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que vê na incerteza um vetor doméstico negativo para a Bolsa hoje. "Isso, em conjunto com o IPCA, ajuda a pressionar especialmente alguns segmentos do varejo."
O índice setorial de consumo caiu 1,52% hoje, em um dia de perdas disseminadas, com baixas também nos setores de materiais básicos (-1,94%), industrial (-1,44%) e imobiliário (-0,62%). Apesar de altas acima de 1% nos contratos de petróleo, a Petrobras cedeu entre 1,30% (PN) e 0,70% (ON). Entre as maiores quedas do Ibovespa, destaque para CVC ON (-17,75%), Arezzo ON (-11,58%), Azul PN (-11,30%) e 3R Petroleum (-7,72%).
Na ponta positiva do índice, o maior ganho foi de Hapvida (27,32%), que recuperou parte das perdas no mês. Em seguida, apareceram Embraer ON (5,67%), MRV ON (1,42%) e Locaweb ON (1,05%). O Ibovespa oscilou entre mínima de 103.201,41 pontos e máxima de 105.071,19 pontos. O giro financeiro atingiu R$ 29 bilhões. (Cícero Cotrim - [email protected])
18:17
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 103618.20 -1.38286
Máxima 105071.19 0.00
Mínima 103201.41 -1.78
Volume (R$ Bilhões) 2.89B
Volume (US$ Bilhões) 5.59B
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Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 104600 -1.22757
Máxima 106160 +0.25
Mínima 104155 -1.65