O mercado teve três níveis de reação ao encontro do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) desta quarta-feira. Inicialmente, ao comunicado e estimativas em si, às 15 horas, a leitura dos agentes era de que o Fed havia vindo tão hawkish quanto o precificado. Como esperado, as projeções de inflação e juros adiante se elevaram, além de surgirem comentários nos documentos sobre as chances de anúncio da retirada de estímulos ('tapering'). Até mesmo os efeitos da variante delta entraram no pacote, implicitamente, diante da redução das estimativas para o Produto Interno Bruto em 2021 e indicações mais pessimistas sobre a atividade. O otimismo nas ações permaneceu, o dólar tinha leve viés de baixa e os juros pouco mexeram. Mas a primeira reviravolta ocorreu a partir das 15h30, com a coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell. O tom usado por ele em boa parte da fala foi duro. Powell foi claríssimo ao admitir que o tapering pode ser anunciado em novembro e que as vultosas compras de ativos já fazem menos para apoiar a recuperação econômica. Ele ensaiou até mesmo um cronograma, ao afirmar que a conclusão do processo de enxugamento de liquidez pode ocorrer em meados do próximo ano. Não à toa, o rendimento da T-note de 2 anos disparou, com a aposta de que Powell pode chancelar alta de juros ano que vem. Globalmente, o dólar escalou e as bolsas esfriaram o otimismo. Mas aí veio o terceiro lance da tarde. Caminhando para o fim da coletiva, o presidente do BC americano ponderou que o tapering será 'muito gradual', arrefecendo movimentos de venda de moedas rivais do dólar e reimpulsionando as bolsas. Após o vaivém, no cômputo final, o juro da T-note de 2 anos seguiu em firme alta, apontado taxa de 0,238%, de 0,205% ontem. Nas bolsas americanas, o avanço foi perto de 1%, enquanto o Ibovespa saltou aos 112.282,28 pontos (+1,84%). Um relativo alívio na China ajudou o mercado de ações brasileiro a performar melhor que os pares. O dólar à vista terminou com elevação de 0,34%, aos R$ 5,3041, um tanto distante da máxima de R$ 5,3186, mas ainda assim com o pior desempenho ante emergentes. Nos juros futuros domésticos, com a elevação de 1 ponto porcentual hoje já assimilada, o mercado buscará no comunicado do Copom as pistas sobre os próximos passos da Selic. Em tempo: no terreno das contas públicas, enquanto os detalhes do acordo dos precatórios incomodam, de um lado, o discurso sobre a situação fiscal atual animou os agentes, que devolveram novamente prêmios nos contratos longos de juros.
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