POWELL INDICA MAIS JUROS, AZEDA HUMOR E T-NOTE DE 2 ANOS BATE 5%, PICO DESDE 2007

Blog, Cenário

Os mercados globais capitularam às declarações, consideradas duras, do presidente do Fed, Jerome Powell. Em audiência no Congresso, ele falou em mercado de trabalho ainda aquecido, caminho ainda longo para trazer a inflação de volta à meta de 2%, mesmo que tenha destacado uma desaceleração dos preços, e não descartou, sobretudo, aumentar o passo no aperto monetário e retomar doses de 0,50 ponto porcentual na elevação dos juros se os indicadores de atividade sugerirem tal necessidade. Como tais palavras vieram justamente após uma bateria de dados mostrando a resiliência da economia dos EUA, os investidores interpretaram o recado como um sinal de juros finais mais altos do que o antecipado, o que, inclusive, foi admitido pelo próprio Powell em respostas a senadores. Como resultado, o mercado passou a precificar chance majoritária de que o BC dos EUA eleve as taxas básicas em 0,50 ponto no fim deste mês, o que levou a taxa da T-note de 2 anos a superar a marca de 5% pela primeira vez desde junho de 2007. Na prática, juros mais altos nos EUA significam menor atratividade para ativos mais arriscados e fortalecimento do dólar, o que ficou espelhado na queda firme, entre 1% e 2%, dos principais índices acionários de Wall Street e no avanço da divisa americana ante rivais. Com o desempenho negativo de hoje, o Dow Jones passou a cair em 2023. E claro que esse mau humor não poupou os ativos emergentes, ainda que o desempenho do mercado brasileiro tenha sido menos pior do que o verificado em outras praças. Os agentes, ao que parece, evitaram apostas mais agressivas enquanto adotam um compasso de espera pelo anúncio do novo arcabouço fiscal, prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para antes do encontro de Copom, nos dias 21 e 22. O Ibovespa, por exemplo, cedeu 0,45%, aos 104.227,93 pontos, interrompendo uma sequência de dois pregões em alta. Já no câmbio, o dólar subiu 0,44% ante o real, a R$ 5,1927, depois de bater na casa de R$ 5,20 na máxima do dia. Os juros futuros, aliás, conseguiram até escapar da espiral negativa e devolver um pouco de prêmios, considerando que as taxas têm gordura para queimar diante da piora recente envolvendo as incertezas fiscais e os embates entre governo de Banco Central, amenizados depois que Haddad disse que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, tem participado da escolha de diretores que ocuparão vagas a serem abertas a partir de abril.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•CÂMBIO

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

O retorno da T-note de 2 anos superou a marca de 5% pela primeira vez desde junho de 2007, nesta tarde, após o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, sinalizar possível intensificação do ritmo de aperto monetário. A senadores, o dirigente afirmou, inclusive, que os juros básicos devem atingir pico acima do previsto anteriormente. Com isso, a inversão na curva de rendimentos de 2 e 10 anos atingiu a maior amplitude em mais de quatro décadas, um fenômeno que historicamente antecede recessões nos EUA. O quadro agravou a cautela nos mercados e turbinou o dólar no exterior, com o índice DXY na máxima em dois meses. Os três principais índices acionários de Nova York caíram mais de 1% e o Dow Jones passou a cair no acumulado de 2023. O petróleo também sucumbiu a aversão risco e recuou mais de 3%.

O monitoramento do CME Group expõe a guinada que Powell induziu nas expectativas para os próximos passos do Fed. Segundo a plataforma, as chances de uma alta de 50 pontos-base neste mês se tornaram majoritárias e alcançaram 70% no fim da tarde. Para o fim deste ano, a ferramenta aponta maior probabilidade de que os juros básicos alcancem pico superior a 5,50%. "O testemunho de Jerome Powell mostra que a opinião mudou novamente, com a força dos dados sugerindo a necessidade de uma taxa básica de juros mais alta e aumentos potencialmente mais rápidos", resume o ING.

O próprio Powell reconheceu que uma sequência de indicadores confirmou inesperada resiliência de inflação e atividade nos EUA e ampliou a necessidade de uma política restritiva por um período prolongado. "O registro histórico adverte fortemente contra afrouxamento prematuro", disse ele.

Nas mesas de operações, os reajustes nas expectativas se traduziram em liquidação dos ativos de maior risco, como ações e commodities. Na renda fixa, o juro da T-note de 2 anos bateu máxima em quase 16 anos, em alta a 5,006%. Por outro lado, o retorno da T-note de 10 anos caía a 3,976% e o do T-bond de 30 anos baixava a 3,882%. Assim, a divergência entre as taxas de 2 e 10 anos superou 1 ponto porcentual negativo, a maior inversão desde 1981. Historicamente, esse fenômeno - no qual o rendimento de menor prazo fica maior que o de vencimento mais longo - costuma prenunciar recessões nos EUA. "Os comentários hawkish do presidente do Fed, Jerome Powell, em seu depoimento ao Congresso, abalaram os mercados de ações e títulos", resume a ANZ.

O cenário foi benéfico principalmente para o dólar, que se fortaleceu ante pares rivais e emergentes. O índice DXY, que mede a moeda americana ante seis divisas fortes, fechou em alta de 1,21%, a 105,615 pontos, maior nível desde o começo de janeiro. No fim da tarde, o euro recuava a US$ 1,0554 e a libra, a US$ 1,183.

Em Wall Street, os negócios se deterioraram ainda mais ao longo da tarde e os três principais índices acionários fecharam em baixa de mais de 1%. O Dow Jones caiu 1,72%, a 32.856,46 pontos; o S&P 500 perdeu 1,53%, a 3.986,37 pontos; e o Nasdaq cedeu 1,25%, a 11.530,33 pontos. As perdas foram generalizadas, mas o setor bancário ficou sob particular pressão: Goldman Sachs caiu 3,07%, JPMorgan baixou 2,94% e Morgan Stanley se desvalorizou 2,36%.

"As ações nos EUA não tiveram a menor chance depois que o presidente do Fed, Powell, convenceu os mercados de que os dirigentes [do Fed] estão confortáveis em levar essa campanha de aumento de juros a um patamar muito mais alto", avalia o analista Edward Moya, da Oanda.

O ambiente nebuloso e a pressão do dólar forte deflagraram também uma onda de venda de commodities, com o petróleo entre as principais vítimas. O barril do WTI para abril negociado em Nova York encerrou em baixa de 3,58%, a US$ 77,58, e o do Brent para maio em Londres baixou 3,35%, a US$ 83,29.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para abril de 2023 fechou em queda de 3,58% (US$ 2,88), a US$ 77,58 o barril, enquanto o Brent para maio, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em queda de 3,35% (US$ 2,89), a US$ 83,29 o barril.

Apesar disso, a fraqueza do ativo energético deve se provar temporária, na visão de analistas. Afinal, a produção restrita na Rússia e a reabertura da China provoca um descasamento entre oferta e demanda que tende a impulsionar as cotações. "A retirada das restrições do coronavírus [na China] e a demanda reprimida que será desencadeada em termos de atividade de viagens aéreas e terrestres devem aumentar consideravelmente a demanda por petróleo este ano", prevê o Commerzbank. (André Marinho [email protected])

Volta

BOLSA

Após duas sessões de leve recuperação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira, acompanhando o sinal do exterior. Prevaleceram os comentários hawkish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante audiência no Senado, reforçando a indicação de que a taxa de juros terminal pode ficar além do que se esperava a princípio para os Estados Unidos, no atual ciclo de elevação dos custos de crédito na maior economia do mundo.

Com os grandes bancos de contrapeso (BB ON +2,30%, Bradesco PN +2,33%) entre as ações e os setores de maior força no índice, o Ibovespa fechou o dia em baixa moderada, de 0,45%, aos 104.227,93 pontos, entre mínima de 103.480,42 e máxima de 105.178,55 na sessão, em que saiu de abertura aos 104.700,02 pontos. Fraco como nas duas sessões anteriores, o giro ficou em R$ 21,2 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 0,35%; no mês, cede 0,67%, e no ano recua 5,02%.

Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para as aéreas Azul (+20,12%) e Gol (+5,67%), junto a CVC (+9,88%), com o setor de viagens ainda refletindo a renegociação de dívidas da Azul, de efeito positivo para a geração de caixa da companhia no ano, observa Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3. No lado oposto na sessão, Dexco (-6,79%), BRF (-4,17%) e Prio (-3,00%), assim como para as duas ações de Petrobras (ON -3,03%, PN -3,31%).

Desde a última sessão de fevereiro, no dia 28, o Ibovespa tem se alternado entre os 103 e 104 mil nos fechamentos - uma série de seis sessões. "O Índice Bovespa encontra suportes em 103.100 e 101.600 pontos. Importante destacar que se for perdida essa última região, o índice poderá acelerar o movimento de baixa em direção aos suportes em 96.900 e 95.200 pontos", aponta análise gráfica do Itaú BBA. Por outro lado, "se conseguir ultrapassar a máxima deixada em 105.200, o índice abrirá caminho para uma recuperação em direção aos 109.700 e 110.500 pontos - patamar que mantém o índice em tendência de baixa no curto prazo", acrescenta.

Considerando os fundamentos - onde o macro (cenário econômico) tem prevalecido sobre o micro (resultados das empresas, em geral resilientes) -, a perspectiva de retomada sustentada da Bolsa permanece incerta, tendo em vista o panorama doméstico como também o externo.

"É o ciclo de aumento de juros mais acelerado dos Estados Unidos, um freio muito brusco. Dificilmente se conseguirá evitar uma recessão, ainda que leve, por lá. A fala do Powell no Senado veio em linha com os últimos sinais do Fed, no sentido de uma taxa de juros terminal a 5,5%", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, referindo-se à taxa de juros de referência dos EUA, no maior patamar em décadas.

Para o banco ING, a probabilidade de pouso forçado e reversão da política adotada pelo Banco Central americano está crescendo. O ING avalia que Powell assumiu um tom mais "hawkish" em relação ao seus últimos comentários em fevereiro, na participação desta terça-feira no Senado americano.

"Powell sinalizou possibilidade de altas mais fortes na taxa de juros, que é possível aceleração nas próximas reuniões a depender dos dados, elevando a taxa terminal a níveis consideravelmente mais altos do que se imaginava no passado", diz Luiz Adriano Martinez, gestor de renda variável e sócio da Kilima Asset, destacando o efeito, na sessão, sobre os rendimentos dos Treasuries de 2 anos, título mais sensível à perspectiva de curto prazo para a política monetária americana.

Na máxima de hoje, o yield de 2 anos dos EUA foi a 5,02%, comparado a 4,00% de máxima para o rendimento da T-note de 10 anos - uma inversão que, na percepção de mercado, costuma antecipar ciclos recessivos no país. "A inclinação negativa dessas duas taxas aumentou hoje", destaca Martinez, observando que o movimento pode estar refletindo a percepção sobre altas mais fortes, em ciclo maior, mas com cortes de juros do Fed no médio prazo, que derrubariam a taxa de 10 anos - "puxar mais os juros agora para cortar no médio prazo", aponta o gestor.

"O mercado estava precificando 0,25 ponto para a próxima reunião (do Fed) e começa a rever para 0,50 (ponto porcentual). A taxa terminal, que o mercado projetava a 5,5%, pode chegar a 6%. A reprecificação dos juros americanos é ruim para equities. Os dados americanos têm vindo mais fortes, o que corrobora esse patamar maior e por período maior também", diz Willrich, da Blue3. Ele destaca ainda, nesta terça-feira, dados de exportação e importação um pouco piores do que o esperado para a China, o que afetou os preços do minério e o desempenho das ações do setor, bem como do petróleo e o respectivo segmento na B3. Vale ON cedeu 0,95%.

"A meta oficial de crescimento chinês em torno de 5%, considerada mais conservadora, não puxaria de forma suficiente o crescimento mundial", o que afeta em particular o setor de commodities, observa Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, em um contexto marcado também pelos sinais do Fed, de que continuará a elevar os juros enquanto for necessário.

"Provavelmente teremos juros mais altos nos Estados Unidos do que se antecipava, e o mercado refletiu isso hoje. Esperamos taxa terminal do Fed entre 5,5% e 5,75%, e o mercado está precificando com um pouco mais de probabilidade, agora, cenário entre 5,25% e 5,50%", diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group. "O discurso do Powell foi mais duro do que se esperava, o que mexeu com a curva inteira (de juros americana) e também com o dólar lá fora, afetando os mercados emergentes."

"O tom do Jerome Powell foi muito mais agressivo em relação a seus últimos comentários, de janeiro e fevereiro. Naquela época, ele falava bastante em processo de desinflação, mas agora reconhece que os números de fevereiro trouxeram uma pressão muito maior, não só no mercado de trabalho mas também no índice de preços", diz Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury. "Os mercados estão precificando agora Fed funds a 5,40% no fim do ano, o que significa 100 pontos-base de aumento até lá", acrescenta o analista, observando também o crescimento da probabilidade de que venha aumento de 50 pontos-base agora em março, na reunião dos dias 21 e 22.

No cenário doméstico, caso o governo entregue arcabouço fiscal "crível e factível" até o fim do mês, haveria espaço para retirada de prêmios da curva de juros, destravando espaço para alguma recuperação na Bolsa. Mas enquanto os juros permanecerem tão altos, o fôlego para recuperação será curto - o que reforça a importância da reação do BC ao formato do arcabouço que vier a ser apresentado neste mês, do qual se espera que possa abrir espaço para cortes da Selic.

"O valuation está nos menores níveis desde 2005, com razão Preço/Lucro a sete vezes (para o Ibovespa). Tem empresas que preservaram ou até expandiram lucro e estão abaixo do que eram negociadas no pior momento da pandemia, quando nem se tinha vacina", observa Moura, da Finacap. "O mercado está muito disfuncional pelo cenário macro, o que resulta em acumulação de prêmios na curva de juros. Na renda fixa, o investidor institucional consegue IPCA mais 6,5%, 7%, e tem prefixado pagando 15% (ao ano). Por que ir pra Bolsa se há a segurança dos juros?", acrescenta. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 104227.93 -0.45118

Máxima 105178.55 +0.46

Mínima 103480.42 -1.17

Volume (R$ Bilhões) 2.11B

Volume (US$ Bilhões) 4.08B

18:27

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 105390 -0.55671

Máxima 106350 +0.35

Mínima 104615 -1.29

CÂMBIO

Após uma manhã morna e de oscilações modestas, o dólar se firmou em alta no início da tarde, sob impacto de discurso duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e encerrou a sessão desta terça-feira, 7, cotado a R$ 5,1927, avanço de 0,44%. Apesar da alta hoje, a divisa ainda acumula baixa de 0,62% no mês.

A depreciação do real se deu em meio a uma onda de valorização da moeda americana no exterior. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - atingiu o maior nível em dois meses, na casa dos 105,605 pontos, com tombo de mais de 1% do euro. As moedas emergentes e de países exportadores de commodities caíram em bloco. O real, que costuma apanhar em episódios de aversão ao risco, desta vez sofreu bem menos que seus pares, como peso chileno, mexicano e rand sul-africano.

Como ontem, o pregão foi marcado por oscilações estreitas entre mínima (R$ 5,1553) e máxima (R$ 5,2058) e liquidez reduzida. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para abril movimentou menos de US$ 10 bilhões. Dados da Warren Rena mostram que ontem os investidores estrangeiros reduziram posição comprada em dólar futuro (que ganha com alta da moeda americana) em 22,3 mil contratos (US$ 1,1 bilhão).

Operadores veem o dólar operando em uma faixa, grosso modo, entre R$ 5,05 e R$ 5,25 no curto prazo. Quando a divisa esboça superar R$ 5,20, há entrada de exportadores e realização de lucros no mercado futuro. Baixas mais expressivas da moeda, por sua vez, levam à recomposição de posições defensivas.

"Estamos vendo o real rodar em uma banda mais estreita, com variações que não chegam a 20 centavos. Mercado parece sem apetite para uma aposta forte para nenhum dos dois lados e oscila nessa faixa, muito sensível ao noticiário político", afirma o economista Bruno Mori, sócio-fundador da consultoria Sarfin, para quem a depreciação menor do real hoje pode estar ligada ao nível mais elevada dos juros no Brasil em relação a pares.

Por ora, investidores estariam refreando apostas mais contundentes à espera do anúncio do novo arcabouço fiscal, prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para antes do encontro de Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 21 e 22. A curva de juros futuros embute cortes da taxa Selic, hoje em 13,75%, a partir de junho. Haddad se encontrou hoje com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para tratar de "assuntos de interesse do BC e do Ministério da Fazenda", segundo informação do ministério. Não houve declarações à imprensa após a reunião.

"Hoje, o real apresentou desempenho melhor que seus pares. É um indicativo de que os ativos aqui estão relativamente baratos", afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressaltando, contudo, que a combinação de Fed com discurso mais duro e "probabilidade não desprezível" de o Copom iniciar corte de juros nos próximos meses aponta para um real mais fraco.

No Senado americano, Powell deixou aberta a porta para uma aceleração do ritmo de alta da taxa básica no encontro de política monetária do Fed neste mês (21 e 22). Mais: o nível terminal dos Fed Funds pode ficar acima do "previsto anteriormente", o que significa taxa mais perto de 5,50%.

A fala do presidente do BC americano vem após uma sequência de indicadores mais fortes da economia americana, em especial do mercado de trabalho, e sinais de arrefecimento mais lento da inflação. Segundo Powell, "as pressões inflacionárias estão mais altas do que o esperado no momento de nossa reunião anterior", em meio "há pouco sinais" de desinflação no setor de serviços.

A reação do mercado foi imediata. Ferramenta da CME Group mostra que, após as declarações de Powell, as chances de o Fed apertar o passo e elevar os Fed Funds em 50 pontos-base, após alta de 25 pontos em fevereiro, se tornaram majoritárias, passando da casa de 29% para o nível de 54%.

"Powell veio forte, sinalizando taxa terminal maior. A ideia de alta de 50 pontos em março tinha surgido com dados excepcionais do mercado de trabalho e agora ganhou anda mais força", diz Mori, da Sarfin.

Em relatório, a XP Investimentos afirma que o real segue volátil em meio às incertezas locais e externas. A taxa de câmbio, observa a XP, passou em fevereiro de R$ 5,09 para R$ 5,20. Modelos da instituição que consideram fatores tanto estruturais quanto cíclicos sugerem que o dólar poderia estar entre R$ 4,50 e R$ 4,85.

"Mas os riscos domésticos, sobretudo no campo fiscal, tem contribuído para manter a taxa de câmbio depreciada", afirma a XP. "Acreditamos que as discussões sobre política econômica serão difíceis ao longo do ano, com idas e vindas. Portanto, mantemos a projeção de taxa de câmbio a R$ 5,30 no final de 2023, com uma média anual de R$ 5,15". (Antonio Perez - [email protected])

18:27

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.19270 0.44 5.20580 5.15530

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 5219.000 0.46198 5233.000 5182.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5224.566 02/03    

JUROS

Os juros futuros operaram com sinal de baixa durante todo o dia, enfraquecido depois do aumento das apostas numa ação mais agressiva do Federal Reserve na política monetária na esteira do discurso do presidente da instituição, Jerome Powell. No fim da tarde, porém, o recuo voltou a ganhar fôlego. A influência externa negativa acabou sendo limitada pela expectativa do mercado em torno do arcabouço fiscal que deve ser divulgado nos próximos dias e ao qual estão atreladas as apostas para a Selic, embora não tenha havido novidades sobre o assunto nesta terça-feira.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,19%, de 13,27% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,69% para 12,62%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 13,01%, de 13,10% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 terminou a 13,42%, de 13,51%.

O mercado de juros esteve relativamente bem comportado ao longo do dia, em comparação ao estresse no exterior e que aqui afetou mais a Bolsa e do câmbio, com taxas em baixa, ainda que em ritmo menor após o testemunho de Powell no Senado dos Estados Unidos. De acordo com Powell, como os indicadores econômicos mais recentes vieram mais fortes do que o previsto, o juro terminal nos Estados Unidos deve ser mais alto que o esperado. Não só cresceram as apostas de que a taxa deve ficar acima de 5,5% no fim do ano, como também se tornou majoritária a expectativa de elevação de 50 pontos-base na reunião de março. Há espaço para um novo avanço nas apostas mais conservadoras a depender do payroll de fevereiro, que sai na sexta-feira.

A taxa da T-Note de 2 anos superou 5,00% pela primeira vez desde junho de 2007. Com isso, a inversão na curva entre as T-Notes de 2 e 10 anos atingiu maior amplitude desde 1981, com o spread negativo de mais de 100 pontos-base.

"Powell aproveitou a primeira oportunidade pública que teve para jogar o gato em cima do telhado e passou recibo de que a redução do ritmo de alta para 25 pontos pode ter sido prematura", disse a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. A reação limitada da curva, para ela, esteve relacionada à percepção de que os ativos brasileiros estariam "baratos" se o País tiver um bom arcabouço fiscal, "embora hoje não tenha tido nenhuma linha sobre o assunto".

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve reunido hoje com o presidente do Banco Central, Roberto Campo Neto, mas a pauta do encontro não foi detalhada. Estariam ainda na reunião o secretário executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, além dos diretores do Banco Central Diogo Guillen (Política Econômica), Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos) e Bruno Serra (Política Monetária).

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, também atribui o relativo descolamento da curva à expectativa de que a nova âncora fiscal saia no curto prazo, ponderando ainda que os DIs embutem prêmios elevados, o que dá espaço para alguma resistência. Haddad disse ontem que o desenho já está fechado na Fazenda e que resta apresentá-lo ao restante da equipe econômica. "A antecipação da apresentação da regra de agosto para março é uma boa notícia, embora se saiba ter sido por uma questão política para pressionar o Copom. É muito difícil que num prazo de um mês se chegue a um desenho fiscal de boa qualidade", comentou.

Na gestão da dívida publica, o Tesouro vendeu 938.950 NTN-B no leilão desta terça-feira, ou boa parte da oferta de 1,050 milhão, com a maioria das taxas ainda acima de 6%, com exceção da mais curta, 2026, que saiu a 5,910%. (Denise Abarca - [email protected])

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