A alta forte das ações da Petrobras (ON +3,63% e PN +3,99%) conduziu o Ibovespa ao terreno positivo na tarde desta segunda-feira. Depois de sentir um baque, mesmo que em menor grau, com renovado discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a política monetária, o índice iniciou um processo de diminuição das perdas embalado nos papéis da estatal. Esses, por sua vez, saltaram na esteira da valorização do petróleo no mercado internacional. Assim, o Ibovespa terminou a sessão desta segunda-feira, aos 108.721,58 pontos (+0,18%). No exterior, os principais índices de Nova York também reduziram as baixas na etapa da tarde e o Dow Jones chegou até a flertar com o terreno positivo. Mas, por lá, segue ainda o temor de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) tenha de endurecer de novo seu discurso contra a inflação por causa de dados fortes do mercado de trabalho e da inflação no setor de serviços. Os juros dos Treasuries tiveram novo dia de alta firme, com o rendimento da T-note de 10 anos acima dos 3,6%. O dólar subiu de forma generalizada. Mesmo com essa pressão externa e com o investidor arisco com comentários de Lula sobre o nível da Selic, o mercado de juros futuros viu espaço para um alívio. O argumento dos agentes é de que a curva está bastante premiada, além de já embutir piora fiscal e pressão inflacionária. O dólar à vista também perdeu força, encerrando o dia aos R$ 5,1737 (+0,51%).
•BOLSA
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•CÂMBIO
BOLSA
Com a conjunção de cautela externa, ainda na esteira da forte leitura da última sexta-feira sobre a geração de vagas de trabalho nos EUA em janeiro e o efeito que poderá ter para os juros americanos, e interna, com a queda de braço do presidente Lula sobre a Selic, o Ibovespa parecia que iniciaria a semana como fechou a anterior, em baixa - no que seria a quarta perda seguida para o índice, ainda que em grau bem mais acomodado do que o visto no fechamento das três sessões anteriores, quando cedeu 1,20% na quarta-feira, 1,72% na quinta e 1,47% na sexta-feira, em recuo de cerca de 5 mil pontos em relação ao encerramento de janeiro, então aos 113,4 mil pontos.
Mas, com o bom suporte proporcionado por Petrobras do meio para o fim da tarde, o Ibovespa conseguiu fechar o dia em leve alta de 0,18%, aos 108.721,58 pontos, evitando assim o menor nível de encerramento desde 5 de janeiro (107.641,32), a que parecia destinado até as 16h. A guinada nos preços do petróleo ao longo da sessão refletiu a possibilidade de restrição de oferta da commodity, depois da suspensão das operações em um oleoduto na Turquia em razão do terremoto no país.
Na sessão de hoje, o índice da B3 oscilou entre mínima de 107.415,53 e máxima de 108.743,77 (+0,20%), do fim da tarde, pouco distante da abertura aos 108.517,62. Nesta segunda-feira, o giro financeiro foi de apenas R$ 21,5 bilhões. No ano, o Ibovespa cai 0,92%, acumulando perda de 4,15% nessas quatro primeiras sessões de fevereiro, em que evitou, com a virada depois das 16h, a mais longa sequência negativa desde as cinco consecutivas entre 7 e 14 de outubro passado.
Nesta segunda-feira, o desempenho de Petrobras (ON +3,63%, PN +3,99%), que ganhou impulso à tarde com a virada do petróleo ao positivo, foi o contraponto à queda de Vale (ON -1,25%) e da siderurgia (CSN ON -2,04%, Gerdau PN -0,81%), bem como ao sinal misto, mas ao final majoritariamente positivo, dos grandes bancos (Unit do Santander Brasil +3,40%, na máxima do dia no fechamento; BB ON +0,56%, Bradesco PN -0,37%, Itaú PN +0,04%), na semana em que serão conhecidos os números trimestrais de Bradesco e Itaú, com atenção ainda para o efeito de Americanas sobre os balanços de instituições financeiras.
Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta abertura de semana, além das duas ações de Petrobras, destaque também para Ultrapar (+4,30%), Vibra (+3,90%) e Cielo (+3,44%), com BRF (-7,24%), Marfrig (-6,75%) e Qualicorp (-5,06%) no lado oposto. No mês, mesmo com a boa recuperação vista nesta segunda-feira, as ações de Petrobras ainda acumulam perdas de 2,07% (ON) e de 1,11% (PN).
“A Bolsa está sendo negociada a 7 vezes o lucro, com preços depreciados em relação aos fundamentos. Um 'trigger' para a recuperação seria uma clareza maior sobre a âncora fiscal, o que ajudaria muito o BC com relação à política monetária. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse em Davos que poderia ter novidades para abril, e não agosto, o que ajudaria demais, especialmente se até abril tivermos mais sinais sobre como será esta âncora”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, observando que a melhora do Ibovespa, após uma primeira semana do ano comprometida por indicações contraditórias do governo sobre as contas públicas, volta a ser cortada por ruídos políticos, no momento em que o cenário externo ainda se mostra complexo.
Nesta segunda-feira, o presidente Lula voltou a mirar o BC ao afirmar que “não tem explicação” para o nível atual da Selic. “O problema não é de banco independente”, disse, em discurso na cerimônia de posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. “O problema é que este País tem uma cultura de juro alto”, completou Lula, que tratou da política monetária em dois momentos do discurso.
Ele citou especificamente a “carta” do Comitê de Política Monetária do BC, numa referência ao comunicado da decisão da semana passada sobre a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, para sustentar que não haveria motivos para os juros básicos estarem nos níveis atuais.
“É só ver a ‘carta’ (sic) do Copom para ver que é uma vergonha esse aumento (sic) de juros”, afirmou Lula, que ironizou os efeitos negativos de suas críticas à política monetária e à independência do BC sobre as cotações dos ativos no mercado de capitais. “Se eu, que fui eleito, não posso falar, quem pode? O catador de materiais recicláveis?”, questionou o presidente.
“O Copom mudou o tom do comunicado, mais duro na semana passada, e amanhã tem a ata da reunião. Na sexta, a leitura sobre a geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos foi mais do que o triplo do esperado, o que fez o mercado virar (para o negativo) depois de o Powell (presidente do Fed, Jerome Powell), suave, não ter feito na quarta-feira nenhum esforço para interromper o rali que se via em Nova York desde o começo do ano, numa tendência bem forte no Nasdaq como também no S&P 500”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
“O payroll da sexta-feira, e também o PMI de serviços de janeiro nos Estados Unidos, fez mudar o sinal, com pressão também nos juros dos Treasuries, além da queda nas Bolsas”, acrescenta o economista, apontando que o mercado volta a “levantar a lebre” quanto à possível extensão do ciclo de juros altos na maior economia do mundo.
No Brasil, o boletim Focus desta semana trouxe a "oitava alta consecutiva nas expectativas do mercado para o IPCA, com queda na projeção do PIB", observa Gabriel Matesco, especialista em renda variável da Blue3. “O mercado ainda reage negativamente a falas do presidente Lula, bem incisivas, sobre os juros altos e a independência do Banco Central”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 108721.58 0.18255
Máxima 108743.77 +0.20
Mínima 107415.53 -1.02
Volume (R$ Bilhões) 2.15B
Volume (US$ Bilhões) 4.15B
18:33
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 109000 0.12861
Máxima 109245 +0.35
Mínima 107710 -1.06
MERCADOS INTERNACIONAIS
À medida que Goldman Sachs, a secretaria do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, e agentes do mercado engrossam a narrativa de que a economia americana caminha para evitar um quadro de recessão, investidores reduzem as apostas de que o Federal Reserve (Fed) chegará ao final deste ano em posição para cortar juros. Até porque, apesar de demissões em empresas de tecnologia como a Dell, emprego e salário demonstram persistentes sinais de resiliência. Assim, os rendimentos dos Treasuries avançaram e o dólar se fortaleceu ante rivais e emergentes nesta segunda-feira. As bolsas de Nova York fecharam em queda, com os índices S&P 500 e Nasdaq sob pressão mais forte que o Dow Jones, diante das vendas no setor tecnológico. Já o petróleo resistiu à cautela geral e encerrou a sessão no azul, depois que um terremoto na Turquia alimentou dúvidas sobre a oferta global, em um momento de demanda impulsionada pela reabertura chinesa.
O Goldman Sachs cortou de 35% para 25% as chances de que a maior economia do planeta entre em recessão nos próximos 12 meses. Segundo o relatório, a revisão reflete as evidências de que o mercado de trabalho continua forte e as perspectivas de que a recuperação na China e na Europa sustentem o comércio exterior. A avaliação é consistente com a análise de Yellen, que disse hoje à ABC News enxergar um caminho pelo qual a inflação pode ser controlada sem uma contração acentuada da atividade. “Esse é um caminho que acredito ser possível e é o que espero que possamos alcançar", disse.
A mudança nas expectativas ganhou fôlego na última sexta-feira, quando o relatório payroll apontou criação surpreendente de cerca de meio milhão de postos de trabalho nos EUA no mês passado. Os dados foram suficientes para mudar a opinião até mesmo dos mais céticos: meses após ter minimizado as chances de um “pouso suave” no país, o ex-secretário do Tesouro americano, Lawrence Summers, afirmou ontem à CNN que é cada vez mais possível que o retorno da inflação à meta de 2% não demande danos graves à atividade.
O horizonte menos nebuloso no mercado de trabalho, no entanto, traz também preocupações sobre juros. Afinal, os desequilíbrios entre oferta e demanda nessa área é um dos vilões da inflação elevada, como têm reforçado dirigentes do Fed. Nesta tarde, o presidente da distrital do BC americana em Atlanta, Raphael Bostic, comentou que o payroll de janeiro torna possível que as taxas de juros tenham que subir a um pico maior para controlar os preços. Nesse cenário, a plataforma de monitoramento do CME Group mostra que, pouco antes do fechamento dos negócios em Wall Street, a probabilidade de que o Fed relaxe a política monetária já neste ano havia caído a 10%, de cerca de 60% na semana passada.
Diante disso, os retornos dos Treasuries avançaram durante toda a sessão: por volta das 18h (de Brasília), o da T-note de 2 anos aumentava a 4,466%, o do T-bond de 30 anos se elevava a 3,669% e a da T-note de 10 anos subia a 3,641%. O ambiente também se provou beneficiário ao dólar, que subia a 132,637 ienes no fim da tarde, enquanto o euro caía a US$ 1,0725. O índice DXY - que mede a divisa dos EUA ante seis rivais fortes - subiu 0,69%, a 103,621 pontos.
Para o ING, quando o atual movimento se estabilizar, a moeda americana deve retomar a fraqueza. “Nossa expectativa é que o núcleo da inflação dos EUA desacelere acentuadamente no segundo trimestre e abra espaço para que o Fed corte as taxas a partir de setembro”, prevê, na contramão da precificação do mercado.
O economista-chefe do Banco da Inglaterra (BoE), Huw Pill, ressaltou hoje que, embora tenham ocorrido “boas notícias” no campo da inflação recentemente, os preços ainda estão em alta no Reino Unido.
De volta aos EUA, em Wall Street, o pregão foi marcado por perdas, principalmente entre os papéis de tecnologia. No fim, o índice Dow Jones fechou em baixa de 0,10%, a 33891,02 pontos; o S&P 500 recuou 0,61%, a 4111,08 pontos; e o Nasdaq cedeu 1,00%, a 11887,45 pontos. A ação da Dell caiu 3,02%, depois que a empresa se tornou a mais recente a anunciar demissão em massa. Conforme mostrou reportagem publicada no Broadcast em 23/01, às 15h23, a redução de equipe tem sido caracteristico do setor e não se espraiou por outras áreas da economia
Para o analista Edward Moya, da corretora Oanda, o recrudescimento das tensões entre EUA e China também espalha nervosismo entre investidores. No final de semana, o governo americano derrubou um balão que, segundo Washington, era um dispositivo de espionagem chinês.
Apesar da cautela, o petróleo encerrou uma sessão volátil com ganhos. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para março fechou em alta de 0,98% (US$ 0,72), a US$ 74,11 o barril. Já na Intercontinental Exchange (ICE), o barril do Brent aumentou 1,31% (US$ 1,05), a US$ 80,99. A reabertura da economia chinesa ajuda a criar um descompasso entre oferta e demanda, no momento em que exportações da Rússia são limitadas. Hoje, as operações em um oleoduto que exporta petróleo da Turquia teve operações suspensas, após o terremoto que matou pelo menos 2,3 mil pessoas no país. (André Marinho - [email protected])
JUROS
O mercado de juros buscou uma melhora no período da tarde, com as taxas zerando a alta inicial e fechando com queda moderada a partir dos vencimentos intermediários, em movimento considerado essencialmente técnico, uma vez que o noticiário não trouxe novidades que justificassem maior alívio na curva. Tampouco houve melhora no comportamento dos Treasuries, com a taxa da T-Note de dez anos rodando acima dos 3,60%, refletindo uma correção das apostas de corte de juros nos Estados Unidos em 2023 pelo Federal Reserve. Internamente, a cautela se justifica pela nova piora nas medianas do Boletim Focus e mais uma rodada de críticas do presidente Lula ao trabalho do atual Banco Central.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,79%, de 13,77% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2025 passou de 13,22% para 13,19%. A taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 13,12% para 13,06% e a do DI janeiro de 2029, de 13,29% para 13,21%.
As taxas estiveram em alta desde a abertura até meados da tarde, quando a pressão começou na perder força e os ajustes de posição forçaram uma inversão de sinal, para queda. Nas mesas de renda fixa, profissionais destacam que a taxas subiram muito após o comunicado do Copom e o relatório de emprego nos Estados Unidos, deixando os prêmios atrativos aos aplicadores. Relatório produzido pela Warren Rena mostra que, considerando os preços de fechamento da última sexta-feira, a alocação de recursos na ponta curta trazia retornos positivos em qualquer cenário de queda ou estabilidade da Selic.
O economista-chefe da Barra Peixe Investimentos, Rafael Leão, destaca que nos últimos dias as taxas retornaram ao patamar de um mês atrás em função da incerteza sobre qual será a âncora fiscal a substituir a regra do teto de gastos, da piora das expectativas de inflação e da discussão sobre as metas. "Até que se defina a nova regra, deve haver bastante volatilidade nos trechos intermediário e longo da curva", disse. Além da definição do novo arcabouço, outro potencial vetor de alívio nos prêmios é a melhora do câmbio, com o fluxo esperado para Brasil, segundo ele.
Enquanto isso, mesmo com os prêmios bastante esticados, os movimentos de correção tendem a ser limitados num ambiente fiscal hostil e da escalada das expectativas de inflação. No Focus, a mediana para o IPCA de 2023 subiu para 5,78% e a de 2024, para 3,93%, ainda mais distantes das metas de 3,25% e 3,00%. Para 2025 e 2026 permaneceram em 3,50%. Após o alerta do comunicado do Copom, o mercado postergou a expectativa de corte da Selic este ano de setembro para novembro, para 13,00%, projetando 12,50% para o fechamento do ano.
Ao discursar na cerimônia de posso de Aloizio Mercadante na presidência do BNDES, o presidente Lula voltou à carga em relação às críticas à gestão do Banco Central, dizendo ser "uma vergonha" esse "aumento de juros" e que não há explicação para a taxa Selic estar no atual patamar. Questionou ainda o fim da Taxa de Juros Longo Prazo (TJLP) que balizava os financiamentos do BNDES e era fixada pelo governo federal, posteriormente substituída pela Taxa de Longo Prazo (TLP), definida pelo mercado. Abaixo das taxas de mercado, a TJLP era criticada pelos economistas por enfraquecer a potência da política monetária.
"Querer forçar uma redução de juros no curto prazo pode custar uma taxa mais alta por muito mais tempo. Focus, que já teve Selic 2025 em 7%, agora está em 9%", destacou, no Twitter, a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória.
O recuo das taxas internas não teve respaldo do exterior, onde as curvas abriram. A taxa da T-Note de dez anos rodava a 3,63% no fim da tarde, cerca de 10 pontos-base acima do nível da sexta-feira. O mercado segue aparando otimismo sobre corte na taxa dos fed funds este ano, a partir dos indicadores econômicos nos Estados Unidos, especialmente o payroll forte de janeiro, e antes do discurso, amanhã, do presidente da instituição, Jerome Powell.
Aqui, o destaque nesta terça-feira é a ata do Copom. Analistas acreditam que o documento deve reforçar o alerta do comunicado em relação à desancoragem das expectativas e ao risco fiscal. Na avaliação de Leão, a questão das metas pode estar presente, mas não de forma explícita, "sem muitos detalhes". (Denise Abarca - [email protected])
CÂMBIO
A trinca formada por deterioração das expectativas de inflação, ataques reiterados do presidente Lula ao nível da taxa Selic e nova rodada de fortalecimento global da moeda americana levaram o dólar a emendar o segundo pregão seguido de valorização no mercado doméstico de câmbio. Entre mínima a R$ 5,1533 e máxima a R$ 5,2132, a divisa encerrou a sessão em alta de 0,51%, cotada a R$ 5,1737. Com isso, já acumula avanço de 1,91% em fevereiro.
A moeda já abriu em alta com a piora das expectativas para o IPCA reveladas pelo Boletim Focus e a escalada do dólar no exterior, ecoando ainda o relatório de emprego (payroll) de janeiro nos EUA, divulgado na sexta-feira, 3. Houve um estresse mais forte no início da tarde, quando o dólar renovou sucessivas máximas, em repercussão à fala crítica Lula ao Banco Central durante discurso na cerimônia de posse do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. A onda compradora amainou em seguida e a divisa se afastou de R$ 5,20 nas duras horas finais da sessão, com ajustes técnicos e realização de lucros, em meio à melhora do desempenho do Ibovespa.
Segundo analistas, pelo menos dois dos três pilares que sustentavam a perspectiva de que o dólar se firmasse abaixo de R$ 5,00 - barreira pontualmente rompida durante o pregão de quinta-feira, 2 -, sofreram um abalo nos últimos dias. A possibilidade apreciação maior do real vinha na esteira da aposta em enfraquecimento adicional da moeda americana no exterior, escorada na visão de um encerramento iminente do aperto monetário pelo Federal Reserve - uma tese que perdeu força após o payroll. Investidores limitam exposição a emergentes à espera do discurso do presidente do BC americano, Jerome Powell, amanhã.
Havia também certo otimismo com sinais vindos da equipe econômica do governo, em especial declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com promessa de redução do déficit primário deste ano e de anúncio do novo arcabouço fiscal até abril. Mas o mercado voltou a se acautelar diante da sequência de ataques de Lula à condução da política monetária e ao nível das metas de inflação. Dos pontos que sustentavam a tese de um real abaixo de R$ 5,00 no curto prazo, restou apenas a reabertura da economia chinesa, que abandonou a política de covid zero, e seus possíveis efeitos sobre os preços das commodities.
Na semana passada, o Banco Central, no comunicado da decisão de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, traçou um cenário alternativo em que a manutenção da taxa básica inalterada no cenário relevante da política monetária (2023 e 2024) levaria a inflação à meta. Hoje, Lula voltou a dizer que "não tem explicação" para o atual nível da taxa de juros. O problema, disse o presidente, "não é de banco (central) independente, mas o fato de o país ter uma cultura de juro alto". E foi além: "É só ver a 'carta' (sic) do Copom para ver que é uma vergonha esse aumento (sic) de juros", afirmou, em referência ao comunicado do comitê, publicado na última quarta-feira, 1º.
O presidente também exortou o empresariado a pedir redução dos juros. "A classe empresarial precisa aprender a reclamar dos juros altos. Quando o BC era dependente de mim, todo mundo reclamava de juros altos", disse Lula, que criticou o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que balizava os financiamentos do BNDES desde 1994. "Por que acabaram com a TJLP?", questionou.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que a sequência de falas de Lula contra a atuação do BC sugere que há um discurso politicamente orquestrado por parte do presidente, que tem um perfil mais populista, direcionado especificamente para o seu eleitorado.
"Há o risco de interferência política no BC, mas não parece que vai se materializar. Em todo caso, o mercado acaba reagindo e de maneira bem racional", diz Velho, para quem os agentes também olham com cautela também a perspectiva de mudança do perfil do BNDES, embora Mercadante adote um tom moderado. "A sensação é que o BNDES vai mudar o perfil e isso preocupa do lado fiscal. Esse contexto de incerteza mantém o dólar acima de R$ 5,00 e mais próximo de R$ 5,20".
O boletim Focus desta segunda-feira confirma a deterioração das projeções de inflação e alimenta a tese de desancoragem das expectativas, atribuída em parte à ofensiva do governo contra os níveis atuais da meta de inflação. Há receio em torno dos nomes que o governo vai indicar para substituição dos diretores do BC Bruno Serra (Política Monetária) e Paulo Souza (Fiscalização), cujos mandatos vencem no fim deste mês. A mediana das projeções para o IPCA deste ano passou de 5,74% para 5,78%. Para 2024, subiu de 3,90% para 3,83%. Foram mantidas em 3,50% as expectativas para 2025 e 2026.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em alta firme, com fortes ganhos frente ao iene e o euro, superando os 103,700 nas máximas do dia. As divisas emergentes e de países exportadores de commodities sofreram hoje.
O CIO e sócio da Armor Capital, Alfredo Menezes, minimiza a influência do quadro político local sobre o vaivém do dólar por aqui. "Aqueles que falaram que o dólar bateu abaixo dos R$ 5,00 por causa do Lula. Espero que fique claro quem a valorização anterior da moeda e nem a desvalorização de hoje tem a ver com o governo. E sim com o DXY. Dólar contra as outras moedas", escreve Menezes, no Twitter. (Antonio Perez - [email protected])
18:32
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.17370 0.507 5.21320 5.15330
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5168.500 -0.03868 5233.000 5160.000
DOLAR COMERCIAL 5100.000 02/02