MERCADO VÊ FED AGRESSIVO, BOLSA TEM 6ª QUEDA E DÓLAR SE APROXIMA DE R$ 5

Blog, Cenário

A aceleração da inflação ao consumidor dos Estados Unidos em maio ao maior nível em mais de 40 anos continuou a induzir nesta tarde a reprecificação de ativos nos mercados financeiros, em sintonia com a atualização das expectativas para o processo de aperto monetário nos Estados Unidos. No CME Group, que acompanha as chances de aumento das taxas dos Fed funds, o quadro para o Fomc na semana que vem continuou a mostrar aposta majoritária em 50 pontos-base de aumento, porém incorporou a probabilidade de 75 pontos em julho. Entre instituições, o Barclays passou a trabalhar com 75 pontos já para a reunião da próxima quarta-feira. Nos ativos, o juro da T-note de 2 anos bateu 3,056% na máxima do dia, no maior nível desde dezembro de 2007. As bolsas de Nova York recuaram - Dow Jones, -2,73%, S&P 500, -2,91% e Nasdaq, -3,52%, fechando a semana com perdas entre 4,5% e 5,6%. O movimento levou em conta, ainda, o tombo da confiança do consumidor americano. Na esteira do exterior, o Ibovespa chegou a operar abaixo dos 105 mil pontos, recuperando, no entanto, esse nível, para fechar com queda de 1,51%, aos 105.481,23 pontos, na sexta baixa consecutiva, com perdas de 6,15% nesse período e de 5,06% no acumulado semanal. No câmbio, o efeito do CPI americano puxou a cotação do dólar para cima, após baixa nos primeiros negócios como reflexo da perspectiva de entrada de capital externo ligada à privatização da Eletrobras. Inclusive, no leilão de swap cambial tradicional para rolagem, o Banco Central vendeu parcela pequena da oferta total. Ao final, o dólar à vista fechou cotado a R$ 4,9886, com alta de 1,49% no dia e ganho de 4,39% na semana. Foi a maior alta semanal desde semana encerrada em 26 de março do ano passado. Na renda fixa, após começarem a sexta-feira bem comportados, sob efeito da trégua do IPCA, ontem, os juros passaram a andar com os Treasuries, mas devolveram o avanço no fim do dia com ajustes técnicos. Já para o Copom, o mercado está bem posicionado para uma alta de 0,5 ponto porcentual da Selic na próxima quarta-feira. A semana termina com forte aumento da inclinação da curva a termo.

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•BOLSA

•CÂMBIO

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

O avanço além do esperado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em maio reforçou a perspectiva de um aperto monetário mais agressivo do Federal Reserve (Fed), e agora parte do mercado já prevê que o BC americano terá de elevar o juro básico em 75 pontos-base em pelo menos uma das próximas três reuniões, a primeira marcada para a semana que vem e as duas seguintes para os meses de julho e setembro. Atentas a isso, as bolsas de Nova York fecharam em forte baixa de 2% a 3% e os juros dos Treasuries dispararam, especialmente na ponta curta, com o rendimento da T-note de 2 anos batendo a sua maior máxima diária desde dezembro de 2007. Já os retornos dos títulos de 5 e 7 anos ultrapassaram os dos Treasuries de 10 e 30 anos, invertendo a curva. No câmbio, o dólar marcou forte alta ante o euro e a libra. A força da divisa americana pressionou o petróleo, que encerrou a sessão em baixa diária, mas ainda sustentou ganho semanal.

Após o CPI dos EUA de maio vir mais forte que o esperado e contrariar a expectativa de desaceleração do mercado, analistas passaram a projetar um aperto monetário mais forte do Fed. A Capital Economics e o Barclays, por exemplo, indicam a possibilidade de que o BC dos EUA aumente o juro em 75 pontos-base em breve, com chance de isso ocorrer já na quarta-feira (15), dia de reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

As perspectivas para a taxa dos Fed funds medidas pelo CME Group apontavam no fim da tarde chance de 78,7% de aumento de 50 pontos-base do juro nos EUA, à faixa entre 1,25 e 1,50% ao ano, enquanto alta de 75 pontos-base, ao patamar de 1,50% a 1,75%, tem probabilidade de 21,3%. Para julho, no entanto, as probabilidades são mais parelhas, com 45,9% de chance para a faixa entre 1,75% e 2,00% - o que implicaria duas altas de 50 pontos, dentro das perspectivas atuais - e 45,8% de chance para juro de 2,00% a 2,25% - o que sugere ao menos um aumento mais alto de 0,75 ponto porcentual.

O movimento em reação ao CPI foi forte especialmente na curva dos juros dos Treasuries, que se inverteu hoje após os rendimentos das T-notes de 5 e 7 anos superarem os dos títulos com prazo para uma e três décadas. Já o retorno da T-note de 2 anos atingiu máxima intraday a 3,056%, maior nível desde dezembro de 2007. Por volta de 17h00 (de Brasília), o juro da T-note de 2 anos subia a 3,044%, o da T-note de 10 anos avançava a 3,158% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 3,194%. Já os das T-note de 5 e 7 anos aumentavam a 3,251% e 3,234%, respectivamente.

Mais cedo, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que o núcleo do CPI moderou, mas não no ritmo desejado pela Casa Branca. "Mesmo enquanto continuamos nosso trabalho para defender a liberdade na Ucrânia, devemos fazer mais - e rapidamente - para baixar os preços aqui nos Estados Unidos", afirmou o mandatário.

No mercado acionário de Nova York, o Dow Jones fechou em queda de 2,73%, o S&P 500 baixou 2,91% e o Nasdaq teve recuo de 3,52%. Na semana, os índices cederam entre ao redor de 4% a 5%. Não só o CPI pesou sobre as ações, como também o recuo ao menor nível histórico do índice de sentimento do consumidor americano, a 50,2, segundo a leitura preliminar de junho do dado.

Estrategista da Guide, Alex Lima destaca a queda do sentimento do consumidor como a grande "novidade" de hoje. Para ele, uma recessão da economia americana já está "contratada" após o dado. "Se de fato uma diminuição da confiança do consumidor cristalizar uma recessão nos EUA, talvez haja espaço para trades relativos dentro do próprio S&P 500. O mercado já se adiantou e precificou uma desvalorização no setor de materiais do índice. Mas o atual preço ainda está longe da média dos recuos anuais em ciclos de desaceleração, de cerca de 25%", avalia.

No câmbio, o dólar operou em forte alta ante o euro e a libra, que caíam a US$ 1,0524 e US$ 1,2313, respectivamente, no fim da tarde em Nova York. Já o índice DXY, que mede a variação da divisa americana ante seis pares, fechou em alta de 0,90%, aos 104,148 pontos.

O avanço do dólar no exterior pesou sobre o petróleo, que também foi pressionado pela aversão ao risco global. O barril do WTI para julho fechou em queda de 0,69% na Nymex, a US$ 120,67, enquanto o do Brent para o mês seguinte baixou 0,86% na ICE, a US$ 122,01. Na semana, porém, os contratos marcaram avanço de 1,51% e 1,91%, respectivamente. "Alguns traders estão entrando no modo de redução de risco à medida que as perspectivas para a economia pioram, mas ninguém realmente quer abandonar o melhor negócio do ano, que são os contratos de petróleo e ações do setor de energia", diz o analista Edward Moya, da Oanda.

Do lado da oferta, a Líbia - uma das nações que integram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) - reduziu sua produção no campo de Sarir, de acordo com fontes ouvidas pela Reuters, apesar da Opep ter elevado suas cotas de produção para os próximos dois meses. Já nos EUA, o número de poços e plataformas da commodity em operação subiu 6 na semana, a 580, informou hoje a Baker Hughes. (Gabriel Caldeira - [email protected])

Volta

BOLSA

O Ibovespa colheu apenas perdas nesta primeira semana completa de junho, estendendo a série negativa pelo sexto dia e elevando a 5,06% a queda acumulada nas últimas cinco sessões, após retração de 0,75% na semana anterior. O intervalo é o pior desde as sete perdas seguidas observadas na segunda quinzena de abril. Hoje, a inflação a 8,6% ao ano nos Estados Unidos em maio, no maior nível desde 1981, derrubou os mercados no exterior, que já vinham de aversão a risco ontem, quando prevaleceram sinais mais duros do Banco Central Europeu (BCE) quanto à orientação da política monetária na zona do euro para os próximos meses.

Assim, em dia de moderada leitura positiva sobre as vendas do varejo no Brasil - ainda em expansão na margem, mas em desaceleração de ritmo frente aos três resultados anteriores a abril, agora 4% acima do nível pré-pandemia -, a referência da B3 acompanhou o mal-estar externo e fechou em baixa de 1,51%, aos 105.481,23 pontos. Nas últimas seis sessões, a perda acumulada chega a 6,15% ante o último dia 2, data em que o Ibovespa, a 112.392,91 pontos, obteve seu melhor nível de fechamento desde 20 de abril.

Nesta sexta-feira, oscilou entre mínima de 104.647,59, menor nível intradia desde 12 de maio (103.578,58), e máxima de 107.092,37, quase equivalente à abertura do dia (107.091,09). Em relação ao fechamento de maio, o índice tem agora retração de 5.869,28 pontos, acumulando perdas diárias acima da marca de 1% nas últimas três sessões. O nível de fechamento, hoje, foi o menor desde 11 de maio (104.396,90 pontos). Mostrando evolução desde ontem, o giro financeiro subiu hoje para R$ 30,6 bilhões. No mês, o Ibovespa acumula queda de 5,27%, limitando o ganho do ano a 0,63%. A perda desta semana foi a maior desde outubro passado, quando o Ibovespa havia cedido 7,28% entre os dias 18 e 22 daquele mês.

“A inflação acumulada em 12 meses nos Estados Unidos, a 8,6% em maio, veio acima da expectativa do mercado, com mediana ao redor de 8,2%. Quando se olha para o núcleo, que exclui itens mais voláteis, como alimentação e energia, a leitura foi de 6% em 12 meses, ainda bem acima da meta de inflação no país. O núcleo mostra que, para além da guerra no leste europeu, que acentuou a inflação global pelo efeito sobre commodities agrícolas e de energia, há uma atividade econômica forte nos Estados Unidos, com inflação de 5,2% no setor de serviços, excluindo o setor de energia, no acumulado em 12 meses”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

“O dado de inflação nos Estados Unidos, com alta de 1% no mês, foi horrível, pior do que o esperado, e os mercados, como era de se esperar, azedaram ainda mais” neste fechamento de semana, observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Inflação rodando a 8% ao ano nos Estados Unidos e na Europa não é qualquer coisa: estamos falando de inflação em dólar, em euro. Os BCs estão reagindo. Semana que vem tem a reunião do Federal Reserve, com aumento de meio ponto (nos juros de referência) já precificado pelo mercado.”

"A inflação americana preocupa, e isso impactou todas as bolsas hoje. A perspectiva é de juros ainda mais altos nos Estados Unidos, o que é muito ruim para ativos de Bolsa", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

No front corporativo, as ações da Eletrobras passaram hoje por correção (ON -4,74%, PNB -6,59%) após o fechamento da oferta da estatal, ontem. As ações foram vendidas aos investidores a R$ 42, desconto de 3,4% em relação ao preço de fechamento do dia 27 de maio, a R$ 43,46, quando a transação foi protocolada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Securities and Exchange Comission (SEC), dos EUA. A operação atraiu grandes fundos internacionais, respondendo por 45% da demanda. Foram movimentados R$ 33,7 bilhões nesta que foi a maior oferta de ações em bolsa neste ano no Brasil, reportam Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt, do Broadcast.

“A expectativa do mercado é de que as ações da Eletrobras cheguem a um preço médio de R$ 50, R$ 55 por unidade, o que representa valorização de 20% em 2022, até dezembro. E por que caiu hoje? Investidores que não estão confortáveis com esse preço, os que duvidam do ganho de 20% neste ano, mostram desconforto e vendem os papéis. Dada sua posição, optam por se retirar”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, acrescentando que, de forma geral, a precificação foi bem recebida no mercado.

“Há apetite por Eletrobras, a despeito dessa queda de hoje, dos investidores que mostraram incompatibilidade com essa precificação de R$ 42, antes do início da colocação no mercado de capitais”, observa a economista da Reag, casa que projeta avanço de 10% a 15% no ano para as ações da empresa.

"Ontem à noite saiu o preço do 'bookbuilding' nesse lote do governo, de R$ 42. E todos os que trabalharam essa oferta levaram integralmente o valor solicitado. Algumas corretoras e bancos solicitaram talvez valor acima do que gostariam, contando que a oferta poderia ter algum tipo de rateio, para que coubesse todo mundo. Alguns usaram essa estratégia de entrar pedindo mais do que deveria, e acabaram levando tudo. E isso gerou um fluxo grande de venda desse papel hoje para poder ajustar para o valor correto", diz Alves, da Valor Investimentos.

Na ponta negativa do Ibovespa nesta última sessão da semana, além de Eletrobras PNB, destaque também para Americanas ON (-10,63%), Banco Inter (-6,87%) e Azul (-6,62%). No lado oposto, Qualicorp (+7,39%), CSN Mineração (+3,98%) e Raia Drogasil (+0,73%). Entre as blue chips, o desempenho foi amplamente negativo, à exceção de Vale ON (+0,02%). Petrobras ON e PN fecharam, respectivamente, em queda de 1,26% e 1,40%, enquanto as perdas entre os grandes bancos chegaram a 2,19% (Itaú PN).

As expectativas do mercado financeiro estão mais conservadoras sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, mas a previsão de alta para a próxima semana ainda prevalece. Entre os participantes, 50,00% acreditam em ganhos para o Ibovespa; 30,00%, em estabilidade; e 20,00%, em queda. No levantamento da semana passada, a expectativa de alta tinha fatia de 60,00% e a de variação neutra, 26,67%. Os que esperavam baixa eram 13,33%. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 105481.23 -1.50567

Máxima 107092.37 -0.00

Mínima 104647.59 -2.28

Volume (R$ Bilhões) 3.05B

Volume (US$ Bilhões) 6.13B

17:37

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 105655 -1.88968

Máxima 108015 +0.30

Mínima 104690 -2.79

CÂMBIO

A dobradinha formada por alta expressiva da inflação americana em maio e tombo da confiança do consumidor nos EUA ao menor nível histórico detonou uma onda de fuga das Bolsas e corrida global ao dólar na sessão desta sexta-feira (10). A leitura das mesas de operação é que crescem as chances uma desaceleração mais forte da economia americana dada a necessidade de o Federal Reserve, cujo comitê de política monetária se reúne na próxima semana, ser mais agressivo no processo de alta de juros para domar a maior inflação no país em mais de 40 anos.

Tirando uma queda pontual na abertura dos negócios, quando chegou a romper o piso de R$ 4,90, registrando mínima a R$ 4,8856, o dólar trabalhou em alta ao longo de todo o dia. A barreira psicológica dos R$ 5,00 foi rompida ainda pela manhã, com moeda marcando máxima a R$ 5,0121. A febre compradora arrefeceu à tarde, em sintonia com o ambiente externo. No fim do dia, o dólar avançava 1,49%, cotado a R$ 4,9886 - maior valor de fechamento desde 18 maio. Com isso, a divisa encerra a semana com valorização de 4,39%. Foi a maior alta semanal desde a semana encerrada em 26 de março de 2021.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - saltou do patamar de 103,000 pontos para operar acima dos 104,000 pontos, atingindo máxima aos 104,230 pontos. A moeda americana também subiu em bloco frente a divisas emergentes e de exportadores de commodities. As taxas dos Treasuries avançaram com força, com a T-note de 2 anos - mais ligada à perspectiva para os próximos passos do Fed - tocando 3%, no maior nível desde dezembro de 2007. Acompanhamento do CME Group mostra que possibilidade de o BC americano elevar a taxa básica de juros ao menos uma vez em 75 pontos-base até a reunião de julho passou a ser majoritária.

A escalada dos juros dos Treasuries parece ter afetado até o leilão de swap cambial realizado pelo Banco Central, segundo avaliação de Antonio Madeira, economista da MCM Consultores. No leilão, que deu continuidade à rolagem dos vencimentos previstos para agosto, o BC vendeu apenas 3.600 contratos (180 milhões) de swap cambial, um volume muito aquém da oferta total de 15.000 contratos (US$ 750 milhões). "O BC não deve ter aceitado diante da dispersão alta nas taxas e do juro mais salgado. É um dia meio complicado para vender swap", afirmou Madeira em entrevista à repórter Thais Barcellos.

O índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA subiu 1% em maio em relação abril, quando o esperado era alta de 0,7%. O núcleo, que exclui energia e alimentos, avançou 0,5%, também acima das expectativas. Na comparação anual, o CPI acelerou de 8,3% em abril para 8,6% em maio, superando as projeções (8,3%) e atingindo o maior nível desde dezembro de 1981. Enquanto a inflação acelera, a atividade dá sinais de fraqueza. O índice de sentimento do consumidor americano caiu de 58,4 em maio a 50,2 na preliminar de junho (expectativa era de 58,5), atingindo o menor valor já registrado, de acordo com pesquisa elaborada pela Universidade de Michigan.

Para o economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia, a inflação americana está disseminada e com padrões típicos de países emergentes, fruto da conjunção de dois choques seguidos de oferta (pandemia e guerra na Ucrânia) e de estímulos monetários gigantescos. "Para trazer a inflação de volta, o Fed vai ter que ser mais agressivo e provocar uma desaceleração da economia americana", diz Miraglia, para quem a onda de volatilidade dos ativos de risco ainda está longe do fim.

Miraglia trabalha com dois cenários. Em um deles, o Fed eleva a taxa em 75 pontos-base na semana que vem. Isso levaria os mercados de risco a sofrer bastante no curto prazo, mas abriria espaço para um reequilíbrio mais rápido na sequência, com as taxas longas dos Treasuries se acomodando em patamares comportados. No segundo, o Fed mantém a política gradualista e o quadro se deteriora continuamente, com o retorno da T-note de 10 anos superando 3,5% e podendo até atingir 4% - o que levaria a perdas agudas em portfólios de renda fixa e de ações, ensejando riscos de uma crise sistêmica.

Seja qual for o caminho do Fed, Miraglia vê um dólar cada vez mais forte no mundo, uma vez que o euro sofre com a fraqueza da economia europeia e o iene perdeu seu papel de refúgio em razão da política monetária frouxa do Banco do Japão. Esse movimento global de valorização da moeda americana vai respingar no mercado doméstico de câmbio nos próximos meses, avalia. "A tendência é de um dólar para cima. Na minha visão, o mercado ainda não está precificando a questão eleitoral. Bolsonaro deve ir de peito aperto para o conflito com o STF (Supremo Tribunal Federal)", diz o economista, que prevê dólar a R$ 5,50 no fim deste ano.

Para o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, o real ainda têm fôlego para uma nova rodada de apreciação, descolando-se da tendência de alta da moeda americana no exterior, uma vez que a economia mostra fôlego maior que o esperado e a inflação dá sinais de arrefecimento. "O caso da Eletrobras mostrou que tem apetite por Brasil. E temos ainda taxas de juros domésticas elevadas", diz Rolha, que vê possibilidade de o dólar retornar ao patamar de R$ 4,80. "O que prejudicou muito o real na última semana foi esse problema fiscal, com a questão do pacote para segurar os preços de combustíveis". (Antonio Perez - [email protected])

17:37

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.98860 1.4851 5.01210 4.88560

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 5015.000 1.65197 5041.500 4914.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4971.769 23/03    

JUROS

Os juros até começaram a sexta-feira bem comportados, ainda sob o impacto do IPCA de maio ontem abaixo do consenso, mas acabaram sucumbindo, à medida em que a aversão global a risco crescia e catapultava os rendimentos dos Treasuries. As taxas locais passaram a maior parte do dia para cima, corrigindo parte do movimento de ontem e alinhadas à reação dos ativos ao salto da inflação ao consumidor nos Estados Unidos em maio maior do que o esperado e que pode levar a uma ação mais agressiva do Federal Reserve já na reunião da semana que vem. No fim da sessão regular, porém, ajustes técnicos junto com uma melhora no câmbio levaram à zeragem da alta nas taxas locais. Já para o Copom, o mercado está bem ajustado para uma alta de 0,5 ponto porcentual da Selic na próxima quarta-feira. No balanço da semana, a curva teve forte aumento de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,37%, de 13,385% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 fechou em 12,99%, estável. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,495%, mesmo nível de ontem, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 12,47% para 12,49%. Na semana marcada pela piora do risco fiscal, cautela no exterior e IPCA aquém da mediana das estimativas, as taxas curtas ficaram estáveis e as longas avançaram cerca de 20 pontos-base em relação ao fechamento da última sexta-feira.

A reação negativa dos DIs ao que acontecia no exterior foi se dando ao longo do dia. Num primeiro momento, as taxas se estabilizavam perto dos ajustes anteriores até meados da manhã, mas passaram a subir na medida em que os Treasuries começaram a renovar máximas, por sua vez, na esteira do aumento das apostas que o Federal Reserve poderá elevar o juro em 75 pontos-base já no encontro da semana que vem.

O índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) saltou de 0,3% em abril para 1% em maio, ante consenso de 0,7%. "Número altíssimo. Padrão brasileiro", destacou Alexandre Póvoa, da Meta Asset. Em termos anuais, chegou a 8,6%, pico desde 1981. "Os mercados sofrerão enquanto esse processo de ajuste (do Fed) não ficar definido. Ruim para as bolsas e para as curvas de juros e dólar fortalecido no mundo", acrescentou.

Na reta final da sessão regular, com o dólar voltando à casa de R$ 4,97, distante da máxima acima de R$ 5 atingida mais cedo, e com os yields das T-Notes longas saindo também das máximas, a abertura da curva doméstica perdeu fôlego com ajustes técnicos de posição. De todo modo, em termos estruturais, a taxa das T-Notes estão em níveis elevadíssimos, rodando a 3,15% no caso da de dez anos.

A curva dos Treasuries também apresenta inversão em alguns trechos, o que ilustra o tamanho da preocupação do mercado. Como alternativa à aceleração no ritmo de alta dos fed funds, o mercado trabalha com a possibilidade de um aumento de 50 pontos-base acompanhado de um comunicado ultra hawkish que deixe claro a necessidade de se levar a taxa para o terreno contracionista.

Para a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, mais do que ficar acima do consenso, o que mais impressionou no CPI foi o ritmo de alta de um mês para outro, dando a dimensão do desafio do Federal Reserve. "Os ativos traduzem a dúvida do mercado sobre se o Fed conseguirá controlar a inflação e as expectativas. E, se conseguir, seja pelas ações e seja pelo discurso, será muito positivo para o Brasil", afirma. "A inflação alta nos EUA é ruim para o mundo todo", disse.

Caso as ações e a comunicação, não somente do Fed como dos outros BCs, sejam efetivas para reduzir a inflação global, o Copom não precisaria esticar tanto o aperto da Selic. Na pesquisa do Projeções Broadcast com 50 instituições, 46 preveem elevação de 0,5 ponto na quarta-feira, o que levaria a taxa básica para 13,25%, que também é a mediana para o fim de 2022.

A piora do risco fiscal, porém, deve levar o Copom a deixar ao menos a porta aberta para mais altas à frente, como precificado na curva do DI, mesmo com a surpresa positiva com o IPCA de ontem. "O pacote para combustíveis é mais inflacionário do que desinflacionário, porque devolve a inflação para 2023, e ainda pressiona o câmbio", disse Veronese.

A investida do governo para baratear os preços de combustíveis e o quadro de inflação ainda pressionada puxaram a revisão de Selic do JPMorgan, de 13,25% para 13,75%. O banco adicionou à sua projeção de taxa Selic no fim do ciclo uma elevação de 0,5 ponto porcentual dos juros em agosto, após uma alta de 0,5 ponto na reunião da próxima semana. (Denise Abarca - [email protected])

17:36

 Operação   Último 

CDB Prefixado 31 dias (%a.a) 13.08

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 12.65

Over Selic (%a.a) 12.65

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