MERCADO VÊ CORTE PELO FED JÁ EM JULHO E DI RECUA, INFLUENCIADO TAMBÉM POR CAMPOS NETO

Blog, Cenário

A nova leva de dados da economia dos Estados Unidos disparou o alerta de recessão na maior economia do planeta, levando para baixo os rendimentos dos Treasuries. A percepção é de que o mercado de trabalho por lá arrefeceu e que o importante setor de serviços está perdendo força, corroborando números fracos da indústria e desaceleração do núcleo da inflação. Desta forma, o mercado viu espaço para uma reprecificação da trajetória da política monetária do Federal Reserve. A aposta de manutenção dos Fed Funds na faixa de 4,75% a 5,00% se manteve majoritária nos meses de maio e junho, mas a maioria do mercado vê corte já em julho, segundo a ferramenta da CME. Até janeiro, há um corte embutido nas taxas de 1 ponto porcentual. Assim, o yield da T-note de 2 anos cedeu a 3,808% e a de 10 anos recuou a 3,297% - na mínima intraday (3,271%) tocou o menor nível em sete meses. Esse forte movimento teve reflexos na renda fixa local, cujo alívio também veio na esteira de acenos do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo distensionamento da relação com o governo federal. Ele disse que a avaliação do BC sobre o arcabouço fiscal é "superpositiva" e reconheceu o "esforço enorme" do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aprovar a medida. Assim, a curva local projeta corte de 3 pontos porcentuais da Selic até o fim de 2024. A despeito disso, a visão dos agentes do mercado local é que o Brasil segue atrativo para operações de 'carry trade', o que derrubou o dólar à mínima de R$ 5,0175 no segmento à vista. No encerramento, a moeda americana marcava R$ 5,0499 (-0,64%), seguindo no menor valor de fechamento desde 2 de fevereiro. Na Bolsa, o Ibovespa reduziu bastante as perdas ao longo do dia, à medida que a Petrobras voltou para o positivo. A estatal disse não ter recebido nenhuma proposta do Ministério de Minas e Energia sobre alteração na política de preços. Pela manhã, o ministro do MME, Alexandre Silveira, disse que o governo atuava para alterar o PPI, o que alimentou o temor de ingerência na companhia. À tarde, o próprio Silveira voltou a público e disse que a nova política de preços não vai afetar a rentabilidade da companhia. A ação ON da estatal subiu 0,15% e a PN, 0,33%. O Ibovespa recuou aos 100.977,85 pontos, queda de 0,88%.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

•BOLSA

•CÂMBIO

MERCADOS INTERNACIONAIS

A continuidade da perspectiva de uma desaceleração na atividade econômica dos Estados Unidos ampliou apostas por cortes nos juros do Federal Reserve (Fed) a partir de julho, na esteira de dados fracos do mercado de trabalho e do setor de serviços. Assim, o sentimento de risco fragilizado impulsionou a demanda por ativos de segurança, como dólar e os Treasuries, e de ações defensivas, com destaque para papéis do setor de utilidades. Nesse cenário, a T-note de 10 anos teve o rendimento mais baixo desde setembro do ano passado. Ainda, no campo geopolítico, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, e a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, se encontraram em Washington, apesar dos protestos do governo chinês.

No fim da tarde em Nova York, o monitoramento do CME Group indicava 43,9% de chances de corte em 25 pontos-base (pb) e 8,6% de corte em 50 pb na decisão monetária até julho, contra 39,9% de probabilidade de manutenção na faixa atual. Já em dezembro, o mercado precificava 39,4% de chances de que os juros estarão na faixa de 4,00% a 4,25%, seguida pela possibilidade (27,4%) de recuo maior até a faixa de 3,75% a 4,00%.

Apesar da expectativa de relaxamento monetário, o sentimento de aversão ao risco prevaleceu nas negociações em Nova York, em meio à perspectiva de arrefecimento da economia americana, após dados. A S&P Global informou hoje que o índice de gerentes de compras do setor de serviços subiu de 50,6 em fevereiro a 52,6 em março, mas analistas previam crescimento a 53,8. Já o PMI de serviços, medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM), recuou de 55,1 em fevereiro a 51,2 em março, quando a expectativa era de queda menor, a 54,3. Com relação ao mercado de trabalho, o setor privado dos Estados Unidos criou 145 mil empregos em março, segundo pesquisa da ADP - analistas esperavam geração de 210 mil postos de trabalho.

A busca por segurança levou os juros dos Treasuries a cair pela quarta sessão seguida. No final da tarde, o retorno da T-note de 2 anos cedia a 3,808%, a de T-note de 10 anos recuava a 3,297% - após registrar menor nível intraday desde setembro do ano passado - e a do T-bond de 30 anos baixava a 3,559%.

A Oxford Economics analisa que as recentes instabilidades no sistema bancário dos EUA poderiam ampliar a severidade e duração de uma possível recessão econômica no terceiro trimestre. "Os custos do estresse no sistema bancário não serão completamente sentidos por diversos meses, à medida que bancos apertam condições e reduzem a disponibilidade de crédito", avalia.

No câmbio, o dólar ganhou força no exterior contra rivais, em especial sobre as moedas europeias. O iene, porém, avançou ante a divisa americana com renovação das expectativas de que o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) elimine sua política da curva de juros, seguindo comentários de um ex-funcionário à <i>Bloomberg</i>. Em relatório, o Wells Fargo projeta que alterações na política monetária do banco central japonês só devem acontecer à partir do quarto trimestre. Por volta das 17 horas (de Brasília), o dólar caía a 131,26 ienes, o euro recuava a US$ 1,0907 e a libra tinha baixa a US$ 1,2461. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,26%, a 101,852 pontos.

Por outro lado, o sentimento de risco fragilizado promoveu uma rotação no mercado acionário, fortalecendo ações defensivas, como os setor de utilidades públicas, em detrimento de tecnologia. As bolsas de Nova York encerraram o pregão mistas, com o índice Dow Jones subindo 0,24%, o S&P 500 baixando 0,25% e a Nasdaq caindo 1,07%. Entre as ações de destaque, o Western Alliance derreteu 12,38%, após informar ter registrado queda de 11% nos depósitos na comparação trimestral dos três meses encerrados em março. Na divisão de setores da S&P, o setor de utilidades avançou 2,57%.

Entre as commodities, os contratos futuros do petróleo também fecharam mistos, com o WTI para maio recuando 0,12%, a US$ 80,61, e a o Brent para junho avançando 0,06%, a US$ 84,99, em meio a ponderações sobre perspectivas de demanda. Investidores digeriram os sinais de desaceleração na economia americana e o relatório de estoques de petróleo do Departamento de Energia dos EUA, que apontou redução de 3,739 milhões de barris na semana encerrada em 31 de março.

Ainda nesta tarde, o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, e a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, se encontraram em Washington. A reunião sofreu forte oposição pelo governo da China. Segundo o Navellier, o encontro aumenta tensões entre as duas potências, em um momento no qual os EUA parecem deixar a posição de "líder mundial" à medida que aliados tradicionais - como Brasil, França e Arábia Saudita - "abraçam a China" e recusam a se envolver nos conflitos entre ambos. (Laís Adriana - [email protected])

JUROS

A sessão foi de queda para os juros futuros, mais firme nos contratos de longo prazo, diante de um ambiente externo pró-risco e de declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, elogiosas ao arcabouço fiscal na tentativa de dissipar os ruídos em torno da relação entre BC e Fazenda. Lá fora, nova leva de dados abaixo do previsto nos Estados Unidos reforçou não só as apostas de manutenção dos juros pelo Federal Reserve em maio, como também de corte na virada do semestre, às vésperas da divulgação do payroll na sexta-feira, derrubando mais um pouco a curva dos Treasuries e com reflexos por aqui.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,22%, de 13,23% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,99% para 11,96%. A taxa do DI para janeiro de 2027 encerrou em 11,92% - menor desde os 11,90% de 9/11/2022 -, de 11,98% ontem. A do DI para janeiro de 2029 passou de 12,38% para 12,30%.

O movimento de "bull flattening" se estabeleceu na curva da B3 logo cedo, combinada a leitura de fatores internos e externos que levou sobretudo a ponta longa fechar de forma mais expressiva, embora com um pouco menos de força no período da tarde. Os indicadores de hoje nos Estados Unidos enfraqueceram ainda mais as apostas de alta de juro pelo Fed e colocaram na mesa apostas de queda já no encontro de julho, no total de 100 pontos-base até janeiro de 2024. O PMI de Serviços (51,2) de março caiu mais do que o esperado (54,3), de 55,1 em fevereiro. Os números da pesquisa ADP também decepcionaram, com abertura de 145 mil empregos no mês passado, ante previsão de 210 mil. A taxa da T-Note de dez anos, maior referência para os juros locais, estava em 3,30% no fim da tarde.

Internamente, as atenções estiveram voltadas à participação de Campos Neto em evento organizado pelo Bradesco BBI e almoço do Grupo Esfera. Ele exaltou o novo marco fiscal - segundo ele, a avaliação do BC é "superpositiva" - e pediu parcimônia do mercado nas cobranças por maior ênfase do governo no corte de despesas. "Reconhecemos o esforço. Vamos observar como vai passar o processo de aprovação no Congresso, se vai ter modificação", acrescentou o presidente do BC. De imediato, porém, julgou que o risco de explosão da dívida saiu do radar.

Mas isso não necessariamente representou para o mercado uma sinalização de afrouxamento da política monetária, uma vez que ao mesmo tempo ele voltou a enfatizar que o custo de combater a inflação é alto no curto prazo, mas o de não fazê-lo é ainda pior. Repetiu ainda que o arcabouço não tem relação mecânica com juros e defendeu a autonomia do BC como instrumento importante contra pressões políticas.

"Embora ele tenha reforçado a necessidade de se manter a Selic em 13,75% e a importância da ancoragem das expectativas, o mercado está se posicionando de outra maneira. De que o arcabouço poderá ser suficiente para o BC começar a sinalizar o afrouxamento", afirmou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

Também presente ao evento do Bradesco BBI, o ex-diretor do BC e diretor de investimentos da Ibiuna, Rodrigo Azevedo, disse que a leitura dos que apostam em cortes na Selic neste ano é a de que a reação da autoridade monetária para combater a inflação não é a mesma que Campos Neto está indicando até o momento. "O mercado tem interpretação de que o ciclo de crédito vai apertar mais e, na hora que isso ficar claro, a atividade vai afundar e o BC vai reagir cortando juros mais cedo", explicou. "Mas existe inconsistência entre o que Roberto Campos Neto diz e o que o mercado está vendo", emendou o ex-BC.

Na curva do DI, a precificação de Selic continua apontando manutenção para o Copom de maio e entre 35% e 40% de chance de queda para junho. "Para agosto e setembro está praticamente dado o corte de 25 pontos-base", informou o economista da BlueLine Asset Flávio Serrano. A curva projeta taxa básica em torno de 12,25% no fim de 2023 e de 10,75% no fim de 2024.

Para o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio, a fala de Campos Neto foi lida pelo mercado "como um voto de confiança" para a política fiscal, com chances reduzidas de discussões muito acaloradas no Congresso, na medida em que a peça é importante para reduzir a Selic.

Os ruídos envolvendo a política de preços da Petrobras não chegaram a mexer com a curva de juros. O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, confirmou que o governo vai discutir a política de preços de paridade internacional, que atrela os preços internos à variação das cotações do petróleo. Segundo Abdelmalack, da Veedha, a retomada dessa discussão já era de certa forma esperada depois da decisão da Opep+ de reduzir em 1,6 milhão de barris por dia a produção a partir de maio, anunciada na segunda-feira. "Estava meio adormecida pela forte queda do petróleo, mas voltou à tona com a medida da Opep. É fato que vai acontecer, pois [a mudança] é uma promessa de campanha", disse a economista. (Denise Abarca - [email protected])

BOLSA

O Ibovespa conseguiu reduzir, ainda que moderadamente, perdas à tarde e chegou a manter a linha dos 101 mil pontos até perto do fechamento desta quarta-feira, em sessão majoritariamente negativa também no exterior. Aqui, a referência da B3 cedeu 0,88%, a 100.977,85 pontos, tendo tocado na mínima os 99.897,78 pontos, abaixo do limiar dos seis dígitos no intradia pela primeira vez desde 28 de março. Na máxima, foi a 101.960,48 pontos, não muito distante do nível de abertura, aos 101.869,09 pontos. Na semana e no mês, o Ibovespa acumula agora perda de 0,89% e, no ano, de 7,98%. O giro financeiro desta quarta-feira foi de R$ 23,5 bilhões.

Contribuindo para a contenção de perdas do Ibovespa na sessão, as ações da Petrobras viraram para o positivo à tarde após a empresa informar ao mercado que não recebeu nenhuma proposta do Ministério das Minas e Energia para alterar a política de preços, rumor que havia direcionado as ações da estatal ao negativo.

Mais cedo, o ministro Alexandre Silveira havia reiterado que o governo deve atuar para mudar o preço de paridade de importação, o chamado PPI. No fechamento, Petrobras ON e PN mostravam, respectivamente, leve alta de 0,15% e 0,33%, após terem renovado máximas do dia no fim da tarde, apesar de novas declarações do ministro no sentido de que o governo Lula manterá "linha clara, de acionistas majoritários" e que a política de preços da Petrobras, de fato, será discutida pelo governo.

"Esperamos que a diretoria da Petrobras já comece estudos para ver como contribuir na política de preços", disse Silveira, acrescentando que a "nova política não vai afetar a rentabilidade" da empresa - um acréscimo recebido com muitas pitadas de sal pelo mercado, que prevê volatilidade adiante para as ações da estatal, muito "largadas em valuation", como observa uma fonte, mas com dificuldade para recuperar preço mesmo com a recente melhora nas cotações do Brent e do WTI.

Além de Petrobras, as ações de varejo estiveram no foco dos investidores na sessão, com um relatório do BTG chamando atenção para setores que contam com benefícios fiscais significativos - e que eventualmente podem entrar na mira do governo, que precisa elevar a arrecadação para fechar conta que resulte em zeragem do déficit e liberação de espaço para superávits primários nos anos à frente.

"O dinheiro precisa sair de algum lugar, e tudo indica que será das empresas. A conversa é essa: quem pagará a conta do governo, que quer gastar, não cortar despesas - e precisa ampliar receita em até R$ 150 bilhões. Já se falou no setor de petróleo e o de varejo volta a chamar atenção. Há insegurança, o que afeta diretamente o Capex, o quanto as empresas se dispõem a investir à frente. E isso já se refletiu ontem, na teleconferência da Assaí", com efeito sobre as ações da companhia nesta quarta-feira, observa Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.

"No primeiro trimestre, o Nasdaq subiu 16% e o S&P 500, 7%, enquanto aqui, completamente descolado, o Ibovespa caiu 7% - e há razão para isso", complementa.

Nesta quarta-feira, o índice de consumo, correlacionado à economia doméstica, cedeu 1,36%, e o de materiais básicos, exposto ao cenário externo, caiu 2,20%. O dia foi negativo para as ações de mineração (Vale ON -1,47%) e siderurgia (Gerdau PN -2,99%), assim como para a maioria das de grandes bancos, à exceção dos ganhos em Bradesco (ON +0,17%, PN +0,84%).

Na ponta do Ibovespa, Via subiu 6,36% à frente de Ecorodovias (+5,51%) e Braskem (+3,55%). No lado oposto, Alpargatas (-9,73%), Natura (-9,61%), Petz (-5,69%), Embraer (-5,24%), Arezzo (-5,09%), Hapvida (-4,84%) e Assaí (-4,77%).

"O custo de capital hoje está muito elevado no País", o que ficou evidente na repercussão negativa, sobre a ação da Assaí, de informações passadas pela empresa em teleconferência no dia anterior, reforça Paulo Luives, economista da Valor Investimentos.

"A companhia anunciou que pode cortar alguns investimentos e vender alguns ativos, entre eles, lojas próprias", diz. "Há 22 obras em andamento, de conversão de lojas Extra em Assaí, e isso está mantido por enquanto. Mas, dado o elevado custo de capital, e se houver ainda aumento da Selic, a empresa deve cortar investimentos. Hoje a questão é se pode ter mudança no 'guidance' para 2023 e 2024", acrescenta.

Lá fora, o dia foi predominantemente negativo desde cedo, refletindo a fraqueza, maior do que se antecipava, para dados econômicos como o índice de atividade de serviços nos Estados Unidos (do Instituto para Gestão da Oferta, ISM), a 51,2 em março, ante previsão de 54,3 para o mês.

"O quadro [externo] vai mudando de desaceleração para expectativa de que possa vir uma recessão, o que afeta diretamente as projeções para o desempenho das empresas, reforçando a aversão a risco e resultando em mais descontos na precificação das ações", diz Alan Dias Pimentel, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 100977.85 -0.87524

Máxima 101960.48 +0.09

Mínima 99897.78 -1.94

Volume (R$ Bilhões) 2.35B

Volume (US$ Bilhões) 4.65B

18:03

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 100905 -1.37328

Máxima 102360 +0.05

Mínima 100055 -2.20

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 5, no mercado doméstico de câmbio em baixa de 0,64%, cotado a R$ 5,0499, na contramão do sinal predominante de alta da moeda americana em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Pela manhã, o dólar chegou a se aproximar do piso de R$ 5,00, ao registrar mínima a R$ 5,0175 (-1,28%).

O desempenho do real é atribuído por analistas, em parte, à menor percepção de risco fiscal, reconhecida hoje pelo próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e à perspectiva de manutenção de diferencial de juros interno e externo em nível elevado - o que estimula entrada de recursos para renda fixa local e operações de 'carry trade'. Além disso, afagos de Campos Neto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em falas em eventos hoje, sugerem união entre equipe econômica e BC contra ataques da ala política do governo.

A despeito de os juros futuros refletirem apostas de que o BC comece a reduzir a Selic em junho, a expectativa é a de que taxa básica fique em dois dígitos por período prolongado. Nos Estados Unidos, dados abaixo do esperado de emprego no setor privado (relatório ADP) e do setor de serviços em março alimentam temores de recessão e, por tabela, apostas não apenas em manutenção dos Fed Funds em maio como em cortes da taxa americana ao longo do segundo semestre.

"O mercado americano está começando a precificar fim de ciclo de alta de juros e (por enquanto) uma recessão leve. Obviamente, tudo terá impactos positivos sobre o nosso ciclo, razão pela qual, a despeito dos 'uber-pessimistas' de plantão, real sobe e juros de mercado estão caindo", escreve, no Twitter, o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon.

No exterior, as taxas dos Treasuries recuaram em bloco. Já o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve alta, em razão da fraqueza do euro, após dados também decepcionantes da economia da zona do euro. À exceção do real e do dólar neozelandês, as divisas emergentes e de países exportadores de commodities recuaram diante de sinais de desaceleração da atividade global.

O economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que o real ainda é negociado com um grande desconto em relação a divisas de outros mercados emergentes. "É basicamente impossível ser pessimista com o real. Claro, o Brasil não é perfeito, mas o resto dos emergentes também não", afirma Brooks, no Twitter.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a perspectiva de manutenção de diferencial elevado entre taxas de juros internas e externa pode ajudar a explicar o fato de o real ter destoado de seus pares hoje. "O Fed pode parar de subir os juros em maio, enquanto, aqui, a taxa Selic, mesmo se houver uma redução na virada do semestre, vai se manter elevada por muito tempo", afirma Abdelmalack, ressaltando que, após o resultado fraco do relatório ADP de março, as atenções se voltam à divulgação, na sexta-feira, 7, o relatório de emprego (payroll).

Após jejum de quase dois anos, o Tesouro captou US$ 2,25 bilhões com emissão de bonds de 10 anos. A demanda chegou a US$ 8,5 bilhões. A emissão do Global 2033 teve taxa de retorno de 6,15% ao ano.

Por aqui, investidores monitoraram falas de Campos Neto. Pela manhã, em evento do Bradesco BBI, o presidente do BC, ao ressaltar o "grande esforço" feito por Haddad, disse que, com a proposta de novo arcabouço fiscal, o "risco de cauda" de "trajetória de dívida descoordenada foi eliminado". Ele repetiu, contudo, que não há relação mecânica entre política fiscal e taxa de juros, embora as medidas anunciadas possam influenciar as expectativas de inflação.

Mais tarde, em almoço com empresários do grupo Esfera, Campos Neto afirmou que sabe da existência "de visões diferentes dentro do governo" e que "isso faz parte". Ele disse que é falsa a leitura que juros altos beneficiam rentistas e que o fato de o Brasil ter a maior taxa de juros reais do mundo não é responsabilidade apenas do BC, jogando parte do problema nas costas da política fiscal. (Antonio Perez - [email protected])

18:02

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.04990 -0.6375 5.07680 5.01750

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5070.000 -0.4516 5097.000 5029.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5139.049 31/03    

Gostou do post? Compartilhe:

Pesquisar

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Categorias

Newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Posts relacionados

Receba nossos conteúdos por e-mail
Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Copyright © 2023 Broker Brasil. Todos os direitos reservados

Abrir bate-papo
Olá!
Podemos ajudá-lo?