Os investidores demoraram para encontrar um consenso a respeito da decisão do Federal Reserve, que elevou os juros em 75 pontos-base, sinalizou taxas acima de 4% no fim do ano e projetou impacto forte do aperto na atividade econômica. Mas depois de instabilidade, a curva de juros americana foi a que melhor capturou a leitura final dos agentes: o juro curto subiu forte, com a T-note de 2 anos mantendo-se acima dos 4% e nos mais altos níveis desde 2007; já os longos (10 e 30 anos) cederam, em meio aos alertas sobre a atividade econômica. Contribuiu para firmar essa tendência a entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell. Ele disse que os dirigentes da instituição querem agir de "modo agressivo e manter rumo até concluir a tarefa" de reduzir a inflação, mesmo reconhecendo que a batalha contra os preços altos deixará marcas na economia. Vale destacar ainda que nas projeções dos dirigentes do Fed para o PIB aparecem, no piso, cenário de estagnação em 2022 e recessão leve (-0,3%) em 2023. "Estamos focados em levar inflação à meta e não podemos fracassar", disse ele. Assim, depois de muita volatilidade, os mercados acionários cederam forte em Nova York, terminando próximos das mínimas. O Dow Jones recuou 1,70%, o S&P 500 perdeu 1,71% e o Nasdaq caiu 1,79%. No câmbio, o índice DXY, que mede o dólar contra seis divisas fortes, subiu à faixa de 111,25 pontos, o que pressionou as commodities. Internamente, o mercado brasileiro espelhou o comportamento de ativos internacionais correlatos, com exceção feita somente ao juro de curtíssimo prazo, que corrigiu apostas de alta para o Copom de hoje e de outubro - em ambos, as chances majoritárias são de Selic a 13,75%. O Ibovespa caiu aos 111.935,86 pontos, baixa de 0,52%, ao passo que o dólar à vista subiu aos R$ 5,1730, alta de 0,40%. Houve ainda no cenário doméstico ajuste no otimismo com a reaproximação do ex-ministro Henrique Meirelles ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mercado local ainda se prepara para a decisão do Copom de logo mais, com atenção redobrada aos recados do comunicado.
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•BOLSA
•CÂMBIO
MERCADOS INTERNACIONAIS
Sem surpresas ao mercado, o Federal Reserve (Fed) elevou os juros básicos em 75 pontos-base (pb) nesta quarta-feira e sinalizou que novas altas devem vir. O foco mudou, então, para o gráfico de pontos e as projeções do BC. Com a sinalização de estagnação econômica neste ano e revisão para cima na inflação, a maioria dos dirigentes passou a prever que a taxa dos Fed Funds esteja igual ou acima de 4% ao fim de 2022. Para os próximos dois anos, as projeções para avanço do Produto Interno Bruto (PIB) foram reduzidas, enquanto para a inflação, elevadas. Em coletiva à imprensa, o presidente Jerome Powell reforçou o foco no combate aos preços e mostrou certa disposição para desaceleração da economia como um mal necessário no atual contexto. As bolsas de Nova York oscilaram, mas terminaram o dia no negativo, enquanto os juros dos Treasuries ficaram sem sinal único. O rendimento da T-note de 2 anos encerrou a sessão acima de 4%, atingindo máximas desde 2007. O dólar subiu ante rivais, enquanto o petróleo fechou em queda.
A taxa dos Fed Funds passou à faixa de 3,00% a 3,25% ao ano, em linha com as expectativas. Este é o maior patamar desde 2008, com alta de 3 pontos porcentuais desde o início do ano, observa a economista do C6 Bank, Claudia Rodrigues. De acordo com o gráfico de pontos da instituição, dos 19 dirigentes presentes na reunião desta semana do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), 17 esperam juros igual ou acima de 4% até dezembro. "Por ora, a trajetória de juros indicada pelo Fed não nos parece suficiente para trazer a inflação para a meta de 2% ao ano num horizonte próximo", avalia Rodrigues.
Apostas monitoradas pelo CME Group mostram que, para a última reunião deste ano, o cenário mais provável (64,5% de chance) é de juros entre 4,25% e 4,5%. Em segundo lugar, está a taxa de 4% a 4,25%, com 30,8% de probabilidade. A aposta majoritária é a mesma de ontem, mas ela ganhou força com as novas informações.
O Wells Fargo diz que a mediana do gráfico de pontos sugere que os dirigentes planejam novos aumentos "grandes demais" para as próximas duas decisões do ano. A Capital Economics notou que deve precisar revisar para cima suas projeções para os Fed Funds, que atualmente têm o pico na faixa entre 4,00% e 4,25%. Os riscos negativos para o crescimento econômico dos Estados Unidos, porém, também subirão, afirma a consultoria.
Em coletiva, Powell disse que os juros serão elevados até nível "suficientemente restritivo" para conter a inflação. "Para cortar juros, é preciso estar muito confiante de que a inflação desacelera", afirmou o banqueiro, que reforçou não poder haver fracasso no combate à inflação. O ING, entretanto, diz ainda ser favorável ao debate de corte de juros como tema no ano que vem. Apesar da postura hawkish do Fed hoje, o mercado está precificando provisoriamente quase 50 pb de cortes de taxas em 2023, observa o banco holandês, que acredita que o BC norte-americano pode mudar para a flexibilização da política no segundo semestre do próximo ano. Dados os riscos ao crescimento e a possibilidade de inflação mais baixa, o ING projeta taxa de Fed Funds entre 3,00% e 3,25% ao fim do ano que vem - mais de 100 pb abaixo da indicação do Fed.
Quanto às medianas das projeções, a estimativa para PIB em 2022 passou de avanço de 1,7% para 0,2%. Em 2023, de 1,7% para 1,2%, e em 2024, de 1,9% para 1,7%. Já para o índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida favorita de inflação do Fed, a mediana subiu de 5,2% para 5,4% neste ano, de 2,6% para 2,8% em 2023, e de 2,2% a 2,3% em 2024. As estimativas anteriores haviam sido publicadas junto à decisão de junho.
Após se comportarem com volatilidade nesta tarde, os principais índices de Wall Street ficaram no negativo: o Dow Jones caiu 1,70%, a 30.183,78 pontos, o S&P 500 perdeu 1,71%, a 3.789,93 pontos, e o Nasdaq teve baixa de 1,79%, a 11.220,19 pontos. Já na renda fixa, no fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos subia a 4,010%, nos maiores níveis ao menos desde outubro de 2007, enquanto o da T-note de 10 anos caía a 3,510% e o do T-bond de 30 anos cedia a 3,489%.
No que tange à geopolítica, em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, Joe Biden fez duras críticas à Rússia e disse que o país viola "descaradamente" a Carta da ONU. Além do anúncio de mobilização de tropas por Vladimir Putin, Biden disse ainda que Moscou ameaçou nuclearmente a Europa hoje.
Com Fed e líderes globais no radar, o dólar ganhou força ante rivais. Na marcação, a divisa subia a 144,02 ienes, o euro caía a US$ 0,9847 e a libra recuava a US$ 1,1272. O índice DXY registrou alta de 0,39%, a 110,642 pontos.
Por sua vez, a força do dólar pressionou o petróleo, que fechou em queda. Pela manhã, a commodity chegou a subir 3% em reação à notícia de Putin, mas acabou perdendo fôlego. A declarada disposição do Irã em retomar o acordo nuclear com os EUA e a Europa também esteve no radar, assim como alta menor que esperada nos estoques de petróleo norte-americanos. Na Nymex, o petróleo WTI para novembro caiu 1,19% (US$ 1,00), a US$ 82,94 o barril o barril, enquanto o Brent para o mesmo mês recuou 0,87% (US$ 0,79), a US$ 89,83 o barril, na ICE. (Ilana Cardial - [email protected])
JUROS
A sinalização do Federal Reserve para a política monetária nos próximos meses colocou os juros futuros em forte queda, acompanhando a virada para baixo da curva dos Treasuries longos no meio da tarde, com o mercado computando os riscos de recessão da economia americana vindos de uma postura agressiva do banco central americano. As demais taxas também recuaram, com destaque para os contratos de curtíssimo prazo com ajustes de última hora nas apostas para a Selic no encontro do Copom, que termina logo mais. O mercado reduziu a probabilidade de um aumento adicional para a taxa nesta e na próxima reunião.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023, que embute as apostas para a Selic nas reuniões do Copom restantes em 2023, fechou em 13,735% (mínima), de 13,77% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2024 também encerrou na mínima, de 13,085%, de 13,239% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,917% para 11,74%. A do DI para janeiro de 2027 devolveu 20 pontos-base, saindo de 11,56% para 11,36%.
A espera pelo desfecho do Comitê Federal de Mercado aberto (Fomc, em inglês) colocou o mercado de juros em banho-maria até o meio da tarde. Logo que saiu o comunicado, a reação dos DIs foi neutra, com a decisão de elevar os fed funds em 75 pontos-base, para a faixa entre 3,00% e 3,25%, sendo o consenso do mercado. Mas num segundo momento embalaram um movimento de queda, inicialmente nos vencimentos longos. "O Fed veio mais hawk que o mercado esperava, com números piores de crescimento. Quanto mais o Fed apertar, mais ajuda o Banco Central na luta contra inflação", afirma um gestor, destacando que os rendimentos dos Treasuries longos tinham virado para baixo. A leitura decorre da atualização das projeções dos dirigentes para os próximos anos, que passaram a apontar um cenário de desaceleração forte da atividade nos EUA. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos estava em 3,51%, de 3,56% ontem.
"Juros mais altos e PIB mais fraco colocam os preços de commodities para baixo", lembra o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier. Na sequência do comunicado, a entrevista de Jerome Powell consolidou a trajetória de queima de prêmios, dada a indicação de que a ideia é apertar a política monetária até que a inflação volte à meta de 2%, ainda que com o risco de abalar a atividade. "Avaliamos que será preciso levar juros a nível restritivo e mantê-los ali", destacou Powell. "Estamos fortemente comprometidos em conter a inflação e temos instrumentos para isso". Em outro ponto hawkish da fala, ele afirma que "o crescimento mais fraco pode levar a alta no desemprego, mas precisamos ter isso".
Junto com a confiança de que a postura hawkish do Fed será efetiva contra a inflação, agentes também ajustaram apostas para o Copom, hoje e na reunião de outubro. "A percepção é que caiu o risco de o BC subir a Selic em 25 pontos", disse o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. Nesta tarde, a curva apontava apenas 6,5 pontos-base de alta para a Selic nesta quarta-feira, ou 25% de chance, de 30% ontem e 40% anteontem. Em contrapartida, a probabilidade de manutenção de 13,75% era de 75%, de 70% e 60%. Para o Copom de outubro, havia apenas 15% de chance de alta de 25 pontos. Para o fim de 2023, a curva apontava Selic em 11,25%, com quedas a partir de maio. (Denise Abarca - [email protected])
17:26
Operação Último
CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 13.72
Capital de Giro (%a.a) 6.76
Hot Money (%a.m) 0.63
CDI Over (%a.a) 13.65
Over Selic (%a.a) 13.65
BOLSA
A volatilidade se impôs ao Ibovespa desde o comunicado sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve, às 15h, mas especialmente durante a entrevista do presidente do BC americano, Jerome Powell, a partir das 15h30, que contribuiu para recuperação de ânimo, ainda que transitória, em Nova York e por extensão na B3. Em primeiro momento, prevalecia o susto decorrente do gráfico de pontos, com as projeções atualizadas do Fed para fatores como juros e PIB. Ao fim, a referência da B3 mostrou ajuste menos amplo do que os de Nova York, mas também em terreno negativo, com perda de 0,52%, a 111.935,86 pontos na sessão, vindo de duas altas.
O giro financeiro desta quarta-feira foi a R$ 31,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa ainda sobe 2,43%, com ganho a 2,20% no mês e a 6,79% no ano.
Apesar da deterioração das projeções divulgadas nesta tarde pelo Fed, Powell chegou a dizer, durante a coletiva, haver "razões para acreditar que a economia seguirá razoavelmente forte". "Crescimento mais fraco pode levar a alta no desemprego, mas precisamos ter isso", observou também o presidente do Fed. Apesar de alguns comentários que contribuíram para mitigar parte do susto com o gráfico de pontos, outras declarações tiveram viés decididamente hawkish, que cortaram o entusiasmo que chegou a inspirar o mercado, aqui e fora, em parte da coletiva de Powell.
Ele deixou clara a disposição de "agir de modo agressivo agora". "Queremos chegar rapidamente à política monetária restritiva", afirmou, sem dar indicação do ritmo exato das altas futuras. E ressaltou, mais uma vez, que a trajetória dependerá "da situação da economia". "Tomamos decisão a cada reunião, as próximas não foram fechadas hoje. É difícil prever exatamente a trajetória da política monetária neste momento", disse. Além disso, para Powell, ainda não é possível saber se a política do BC americano levará a uma recessão, o que é uma preocupação atual do mercado.
"Acredito que foi uma decisão bem 'hawkish' do BC americano. A alta de 0,75 ponto porcentual era a mais esperada pelo mercado para a reunião, mas as projeções do Fed passam uma mensagem mais dura do que boa parte do mercado estava precificando. Se antes estava fragmentada, a expectativa para novembro e dezembro deve alinhar", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. "Outro ponto importante são as projeções menores para o PIB, neste e no próximo ano. Cenário bem mais desafiador que vai exigir taxa de juros mais alta por período prolongado, ninguém está esperando corte de juros no ano que vem. Por enquanto, só projetam corte de juros para 2024, diante de todo o cenário", acrescenta.
"A decisão veio em linha com o esperado, mas a decisão foi lida como dura, pelo sumário das projeções, com mudança bastante grande para a trajetória de juros esperada pelos membros do comitê de política monetária do Fed, e também na expectativa de crescimento para a economia", diz Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital. "Houve na prática endurecimento do discurso, ainda mais firme no combate à inflação", acrescenta.
O Ibovespa mostrava perdas pouco acima de 0,1% antes do comunicado sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve, e, quando detalhes da deliberação vieram a público, às 15h, como o gráfico de pontos com projeções atualizadas do Fed para juros e a economia, a referência da B3 acentuou o sinal negativo ainda mais do que Nova York, então também nas mínimas da sessão. Aqui, o Ibovespa foi aos 111.380,13 no piso do dia, em queda de 1,01%, enquanto as perdas em NY chegavam a 0,57% (Nasdaq) no mesmo momento.
Depois, com Powell, o índice da B3 chegou a renovar máxima da sessão, em alta de 0,69%, aos 113.294,37 pontos, enquanto os índices de Nova York também se firmavam no positivo, nas respectivas máximas do dia. Ao fim, os índices de lá também murcharam, devolvendo a recuperação da tarde e fechando em baixa entre 1,49% (S&P 500) e 1,58% (Nasdaq).
"Para o restante do ano ainda precisamos aguardar mais dados econômicos para saber melhor a magnitude das próximas altas, mas o aperto monetário (do Fed) deve continuar na mesma intensidade. Com isso, esperamos uma desaceleração ainda maior e aumento das chances de uma recessão em 2023", observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Na B3, poucas ações entre as mais líquidas conseguiram se descolar do ajuste desta quarta-feira, como Gerdau (PN +0,17%). Na ponta do Ibovespa, destaque para Magazine Luiza (+6,50%) e Via (+5,02%), com as ações do setor de consumo refletindo o ajuste na curva do DI, além de Soma (+3,47%), Alpargatas (+3,15%) e Lojas Renner (+2,98%). No lado oposto, BTG (-5,17%), CSN (-4,43%) e Cielo (-3,23%). Vale ON fechou o dia em baixa de 1,44%, enquanto Petrobras ON mostrava perdas menores (-0,20%) e a PN oscilou para o positivo no fechamento (+0,26%). Entre os grandes bancos, a queda chegou a 1,05% (Itaú PN) no fechamento desta quarta-feira.
"Juros futuros recuaram por toda a curva, principalmente vencimentos a partir de 2024, precificando um cenário de juros mais baixo em dia de divulgação da decisão do Copom, que impulsionou ações de empresas dos setores de varejo e construtoras", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. Assim, o ICON, índice de consumo, fechou o dia em leve alta de 0,15%, enquanto as perdas no segmento de materiais básicos, que reúne as ações de commodities, chegaram a 1,36% (IMAT). (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 111935.86 -0.51641
Máxima 113294.37 +0.69
Mínima 111380.13 -1.01
Volume (R$ Bilhões) 3.19B
Volume (US$ Bilhões) 6.17B
17:29
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 112730 -0.60398
Máxima 114175 +0.67
Mínima 112040 -1.21
CÂMBIO
A volatilidade tomou conta do mercado doméstico de câmbio ao longo da tarde, com o dólar apresentando trocas constantes de sinal à medida que investidores assimilavam as novas projeções econômicas de integrantes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) e declarações do chairman Jerome Powell em entrevista coletiva.
Como esperado pela ala majoritária do mercado, o BC americano elevou a taxa de juros em 75 pontos-base, para a faixa entre 3% e 3,25%, e antecipou em seu comunicado que haverá novas elevações. Em um primeiro momento, o dólar ganhou força e correu até a máxima da sessão, a R$ 5,1937, em meio a uma aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior.
A febre compradora rapidamente deu lugar a uma forte instabilidade, com o dólar apresentando trocas constantes de sinal no mercado doméstico, em sintonia com comportamento das bolsas em Nova York e de divisas emergentes pares do real. Nos momentos mais favoráveis a ativos de risco, com queda mais acentuada das taxas dos títulos americanos de 10 e 30 anos, o dólar chegou a trabalhar abaixo de R$ 5,13 e aproximar-se da mínima da sessão (R$ 5,1204).
Entre idas e vindas, no fim do dia prevaleceu o sinal positivo e o dólar encerrou cotado a R$ 5,1730, em alta de 0,40%. Como recuou nos dois pregões anteriores, a divisa apresenta baixa de 1,64% no acumulado da semana. Apesar de tanto vaivém, a liquidez não foi das mais elevadas, com o contrato de dólar futuro para outubro movimento ao redor de US$ 15 bilhões.
"O real parece ter se segurado bem. Os fundamentos locais ainda apontam para um real mais fortalecido quando comparado com seus pares e moedas principais", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, para quem um dólar em R$ 5,10 "parece um patamar mais realista".
Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - chegou atingiu máxima aos 111,578 pontos, mas se acomodou no fim da sessão no limiar dos 111,000 pontos. A taxa da T-note de 2 anos subia mais de 1%, negociada acima de 4%, ao passo que o retorno da T-note de 10 anos caia mais de 1% e operava ao redor de R$ 3,51%.
O quadro desenhado pelo BC americano é de taxa de juros acima de 4% por um período prolongado, desaceleração da atividade econômica e inflação ainda em níveis elevadas. Houve elevação das projeções para a taxa dos Fed Funds no fim deste ano (de 3,4% para 4,4%) e para 2023 (de 3,8% para 4,6%). Na outra ponta, o BC americano trouxe uma retração da mediana das projeções para o PIB americano em 2022 (de 1,7% para 0,2%) e 2023 (de 1,7% para 1,2%). Powell avisou, em coletiva de imprensa, que vai mover a taxa de juros para nível "suficientemente restritivo" para conter a inflação - o que traz custos para a atividade econômica.
"Foi a confirmação de que o Fed vai adotar a estratégia de manutenção de juro elevado por tempo prolongado. E isso aumenta o risco de forte desaceleração econômica nos Estados Unidos", afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Para o economista do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, tanto a decisão de elevar os Fed Funds em 75 pontos-base quanto a revisão das projeções do BC americano para a taxa de juros não surpreenderam os investidores. Apesar de muita volatilidade e da alta global do dólar, não houve uma deterioração aguda dos ativos de risco.
"O juro acima de 4% no fim deste ano está bem em linha com o que vinha sendo precificado pelo mercado nas últimas semanas, com o discurso do Fed nos últimos 30 dias. Hoje, eles apenas chancelaram tudo o que haviam dito antes", afirma Oliveira, ressaltando que o discurso do presidente do BC não trouxe novidade em relação a declarações recentes. "Implicitamente, Powell deu a entender que a precificação do mercado está ok. Não trouxe discurso ainda mais 'hawk' do que comunicado".
Para Oliveira, além das expectativas para o nível de aperto monetário nos EUA, o real tem refletido nos últimos dias questões internas, como a sinalização positiva para a política fiscal em um eventual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o anúncio do apoio formal do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao petista. "Esse gesto do Meirelles acabou ajudando o real. Mas tem outros fatores como a perspectiva de novos estímulos monetários na China", diz.
Para a decisão do Copom hoje à noite, o mercado trabalha quase de forma consensual com manutenção da taxa básica em 13,75% ao ano - o que garante ainda um juro real gordo e serve de barreira ao carregamento de apostas mais contundentes contra a moeda brasileira mesmo em cenário de elevação de juros nos EUA. (Antonio Perez - [email protected])
17:29
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.17300 0.3979 5.19370 5.12040
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL 5186.500 0.55254 5205.000 5131.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5198.000 -0.30687 5234.000 5198.000