Depois de uma manhã de ganhos, a Bolsa brasileira voltou no começo da tarde à toada que vem marcando o mês de agosto. O Ibovespa virou para o vermelho e viu a queda ampliar-se gradualmente. Faltando uma hora para encerrar a sessão, o indicador acionário perdeu o nível dos 115 mil pontos e terminou o dia nos 114.982,30 pontos, com desvalorização de 0,53%. Desta forma, o índice emendou a 13ª queda consecutiva, novo recorde histórico de baixas sequenciais, superando os 12 recuos de 1970. E mesmo com certa cautela interna antes da reforma ministerial e às vésperas da votação final do arcabouço fiscal na Câmara, foram questões externas que definiram a jornada de perdas. A pressão veio mais uma vez da curva de juros americana, onde o investidor precifica, ao mesmo tempo, postura mais conservadora do Federal Reserve para debelar as pressões inflacionárias e necessidade maior de endividamento do Tesouro dos Estados Unidos. Assim, o yield da T-note de 10 anos, referência global de retorno de investimentos, tocou a máxima desde 2007 ao longo do dia, aos 4,326%. Ao fim da tarde em Nova York, o papel projetava taxa de 4,291%. Entre as bolsas americanas, o Dow Jones perdeu 0,84%, o S&P 500 recuou 0,77% e o Nasdaq cedeu 1,17%. De volta ao Brasil, a subida dos retornos dos Treasuries motivou impulso também dos juros futuros, gerando inclinação na curva. O câmbio, ao fim, foi o mercado que menos sentiu o peso do dia de aversão ao risco. Com recuperação das commodities em meio à percepção de novos estímulos econômicos na China, o dólar à vista cedeu aos R$ 4,9814 (-0,10%).
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BOLSA
O Ibovespa enfim cumpriu a profecia desenhada aos poucos a partir de 1º de agosto e colheu, hoje, a maior sequência de perdas de que se tem registro no índice, em série histórica que retrocede ao início de 1968. Nesta quinta-feira, sem ainda marcar ganho diário desde a abertura do mês, a referência da B3 chegou ao 13º revés seguido, uma sequência sem precedentes. Dessa forma, supera as 12 perdas entre maio e junho de 1970 conforme o AE Dados, série que havia sido igualada ontem pelo índice. Antes, o Ibovespa, em ritmo bem gradual de ajuste, vinha se equiparando a outras séries marcantes, de 1998, 1995 e 1984.
Hoje, fechou em baixa de 0,53%, aos 114.982,30 pontos, agora no menor nível de encerramento desde 6 de junho (114.610,10), entre mínima de 114.859,21 (-0,63%) e máxima de 116.610,49 pontos na sessão, saindo de abertura aos 115.592,14 pontos. Em agosto, o índice acumula perda de 5,71%, limitando o avanço do ano a 4,78% - no fim de julho, estava em 11,13% para 2023, então bem perto dos 122 mil pontos. Na semana, recua 2,61%. O giro desta quinta-feira ficou em R$ 27,4 bilhões, ainda relativamente alto para o padrão recente, após ter sido muito reforçado ontem pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa.
Entre as ações de maior peso na B3, o setor financeiro foi o vilão - ou protagonista - para que o Ibovespa alcançasse a nova marca, com os grandes bancos mais uma vez em bloco no negativo, à exceção de BB (ON +0,93%). Na sessão, a recuperação parcial em Vale (ON +1,41%), que ainda acumula perdas de 3,08% na semana e de 8,20% no mês, foi o único contraponto significativo, insuficiente para segurar o pequeno avanço que o índice sustentava no início da tarde. Petrobras, outro peso-pesado da carteira, não conseguiu preservar os ganhos vistos mais cedo e fechou em baixa de 0,75% (ON, na mínima do dia no encerramento) e de 0,32% (PN).
Na ponta do Ibovespa nesta quinta-feira, Cielo (+2,67%), Eletrobras (ON +2,15%), Minerva (+1,53%) e Fleury (+1,48%), com Via (-6,15%), São Martinho (-5,40%), Magazine Luiza (-5,05%) e Cyrela (-4,25%) no canto oposto.
Desde ontem, a cautela externa foi reforçada pelos sinais que chegaram da ata da reunião de política monetária do Federal Reserve, divulgada à tarde. "A ata deu pistas sobre a possibilidade de a taxa de juros dos Estados Unidos voltar a subir em setembro", diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos. "Certos trechos da ata foram considerados importantes, com alguns dirigentes considerando a inflação em nível um pouco alto, ainda inaceitável, e que é preciso mais evidências para acreditar que as pressões sobre os preços estão perdendo força. O que pode exigir novos aumentos de juros", acrescenta.
Além dos temores relacionados à possibilidade de aumento adicional nos custos de crédito na maior economia do mundo, o mercado segue atento também à China, especialmente pela exposição que o Brasil e a B3 têm a commodities, o que já coloca a saída de investimento estrangeiro da Bolsa a quase R$ 8,5 bilhões no mês, considerando dados disponíveis até o dia 15. Conforme nota outro observador do mercado local, os resultados no segundo trimestre foram "bons, mas não excelentes", especialmente entre os bancos, setor que responde por cerca de 30% a 40% da Bolsa - o que pressiona o desempenho do Ibovespa e ajuda a entender o "banho de sangue" que tem sido visto desde o começo do mês, acrescenta a fonte.
No Estados Unidos, o destaque de hoje ficou por conta dos rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro americano, que atingiram o maior nível em 15 anos, com reflexos na demanda por ativos de risco em todo o mundo, especialmente nas bolsas de Nova York, que fecharam o dia em baixa (Dow Jones -0,84%, S&P 500 -0,77%, Nasdaq -1,17%), aponta André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
"Os 'yields' chegam assim aos maiores níveis desde outubro passado, equivalentes aos de 2007, quando houve a grande crise do 'subprime', com reflexo direto sobre as Bolsas", acrescenta Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, referindo-se à crise global deflagrada então, há 16 anos, no segmento de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos.
Com ainda menos catalisadores internos do que os disponíveis ontem, os investidores continuam a monitorar sinais externos, que têm pautado mais os negócios do que, em geral, o noticiário doméstico nas últimas sessões.
"Os investidores seguem atentos ao noticiário corporativo chinês, que trouxe como destaque o plano de reestruturação da gestora Zonghzi, que deixou de remunerar diversos ativos nos últimos dias. Além disso, também se avalia a notícia de que Pequim deve intensificar a intervenção no câmbio nos próximos dias, buscando aliviar as perdas registradas pelo yuan recentemente", observa a Guide Investimentos, em nota.
No mês, com a queda de 5,71% acumulada até aqui pelo Ibovespa, e avanço de 5,33% para o dólar frente ao real, o Ibovespa retrocede agora a 23.082,32 pontos, comparados ao final de julho quando, na moeda americana, o Ibovespa chegou ao patamar de 25.783,48 pontos. Em 2023, em dólar, após ter atingido, no final do primeiro trimestre, os 20.100.65 pontos, o Ibovespa foi a 21.355,22 pontos no fechamento de maio e, no fim de junho, chegou aos 24.654,87 pontos, refletindo então não apenas o avanço nominal do índice da B3 naquele mês, de 9%, mas também a apreciação do real frente ao dólar no período.
Um ano atrás, na moeda americana, o Ibovespa havia fechado julho de 2022 a 19.937,90 pontos, e no mês seguinte, um agosto de recuperação (em que havia avançado 6,16% em termos nominais), o índice foi aos 21.056,01 pontos - pouco mais de 2 mil pontos abaixo do nível em que se encontra agora, em dólar. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:32
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 114982.30 -0.52705
Máxima 116610.49 +0.88
Mínima 114859.21 -0.63
Volume (R$ Bilhões) 2.73B
Volume (US$ Bilhões) 5.49B
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Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 117245 -0.48803
Máxima 118850 +0.87
Mínima 116990 -0.70
MERCADOS INTERNACIONAIS
O impulso sobre os juros dos Treasuries se intensificou ao longo da tarde, com o retorno da T-note de 10 anos na máxima desde novembro de 2007 e o do T-bond de 30 anos no maior nível em 12 anos. O movimento amplificou a pressão sobre as bolsas de Nova York, que reverteram os ganhos do início da manhã e encerraram o pregão perto das mínimas intraday. O cenário reflete as evidências de resiliência da economia dos EUA, que levanta dúvidas sobre a aposta majoritária no mercado de fim do ciclo de aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed). Esses fatores também apoiaram o dólar ante rivais, embora a libra tenha sustentado o fôlego dos últimos dias, à medida que o mercado especula um Banco da Inglaterra (BoE) mais hawkish. Ante emergentes, por outro lado, o câmbio tinha sinal misto, com alívio no peso argentino após a forte desvalorização recente. Já o petróleo surfou nas expectativas por novos estímulos econômicos na China.
Estendendo o movimento de ontem, os retornos dos Treasuries surfaram em novos questionamentos sobre o quão o Fed estaria disposto a subir os juros para controlar a inflação. Na visão da Capital Economics, a aceleração dos rendimentos, entretanto, são "surpreendentes" visto que o consenso do mercado e de economistas é que o BC americano já teria terminado de elevar as taxas. "Mas ainda esperamos que a queda da inflação até o final do ano pressione os rendimentos para baixo nos próximos meses". No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,931%, o da T-note de 10 anos aumentava a 4,291% e o do T-bond de 30 anos marcava alta a 4,396%.
Já a Navellier destaca que grande parte da razão para o aumento das taxas da ponta longa se deve às novas emissões do Tesouro dos EUA - que teve necessidades reprimidas devido às divergências sobre o teto da dívida americana e a falta de compra do Fed, "que havia sido o principal comprador de todos leilões durante a flexibilização quantitativa (QE) e agora está deixando seu enorme portfólio rolar à medida que amadurece, e que os compradores tradicionais de renda fixa estão relutantes em se contentar com rendimentos mais baixos de vencimentos mais longos, quando podem apenas sentar-se em vencimentos menores e menos voláteis com rendimentos mais altos".
A força dos juros dos Treasuries fez pressão nos mercados acionários de Nova York, com Nasdaq liderando as perdas e fechando em baixa de mais de 1%, com empresas importantes no território negativo, como Meta (-3,13%), Apple (-1,46%) e Tesla (-2,83%). As ações do Walmart recuaram 2,24%, revertendo os ganhos de mais cedo após balanço. Hoje, o índice Dow Jones cedeu 0,84%, o S&P 500 caiu 0,77% e o Nasdaq recuou de 1,17%.
O dólar, por sua vez, manteve alta ante maioria de moedas fortes, também estendendo o movimento após a publicação da ata do Federal Reserve (Fed) ontem. Na visão do Commerzbank, como o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) destacou sua dependência de dados, "os resultados dos dados que aumentam as esperanças de um pouso suave podem sustentar o dólar, mas não tanto por causa da política monetária, mas sim porque a economia dos EUA parece mais resiliente do que outras economias neste ciclo de taxas de juros".
A exceção novamente era para a libra, que ia na esteira de temores por mais aperto monetário pelo BC britânico. Entretanto, na visão da Convera, a moeda corre risco caso as vendas do varejo do Reino Unido tenham se contraído em julho, o que sinalizaria uma desaceleração da atividade. O dado será divulgado amanhã. Hoje, o índice DXY, que mede o dólar ante moedas fortes, subiu 0,14%, a 103,572 pontos, o dólar subia a 146,74 ienes, o euro tinha baixa a US$ 1,0872 e a libra avançava a US$ 1,2745.
Já entre moedas emergentes, o peso argentino inverteu o movimento dos últimos dias e passou a subir ante o dólar blue, no mercado paralelo da Argentina, à medida que a precificação do câmbio após resultado das eleições primárias do país se estabiliza. Segundo o jornal local El Cronista, o dólar blue chegou a seu teto e a previsão agora é de queda, devido ao baixo número de compradores da moeda diante dos preços elevados. Segundo o jornal, o dólar blue caiu 2,56%, a 760 pesos argentinos.
Apesar de certa pressão do câmbio, o petróleo avançou, após três pregões de baixa, "enquanto os mercados tentam traçar uma linha entre o quão forte a demanda chinesa futura provavelmente será, em um cenário de oferta mais restrita", avalia a CMC Markets. Já na visão da Oanda, era "questão de tempo" para que a commodity encontrasse algum suporte, citando esperanças por mais estímulos da China e as expectativas de que o mercado do óleo permaneça apertado.
A Capital Economics, entretanto, destaca que a China corre o risco de passar por uma "década perdida", indicando a necessidade de mais estímulos, principalmente no setor imobiliário, para evitar um crescimento nulo nos próximos trimestres. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em alta de 1,27% (+US$ 1,10), a US$ 80,39 por barril. Na Intercontinental Exchange (ICE), o Brent para outubro avançou 0,80% (+US$ 0,67), a US$ 84,12 por barril. (Natália Coelho - [email protected])
JUROS
O exterior novamente ditou a dinâmica da curva de juros, que ganhou inclinação, com a ponta longa subindo com mais intensidade. Em dia de agenda e noticiário esvaziados no Brasil, a crescente pressão sobre os Treasuries continuou reverberando pelos ativos mundo afora, pressionando as taxas locais, que fecharam em alta pela quarta sessão consecutiva. Diante do clima de cautela, o Tesouro reduziu o volume de prefixados ofertado no leilão, mas ainda assim conseguiu vender integralmente os lotes.
Às 17h21, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 era de 12,445%%, de 12,444% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subia de 10,50% para 10,53%. A do DI para janeiro de 2027 avançava para 10,32%, de 10,23%, e a do DI para janeiro de 209, de 10,76% para 10,86%.
As taxas chegaram a testar alguma melhora no período da manhã, oscilando ao redor da estabilidade, ao mesmo tempo em que a Bolsa também operava no azul, renovando a esperança de que finalmente teria sua primeira sessão de ganhos em agosto. Na curva, os prêmios acumulados nos últimos dias até davam espaço para uma correção, mas que, assim como ontem, ficou pelo caminho. O mercado de Treasuries foi piorando ao longo do dia, arrastando as bolsas para o negativo e recolocando as taxas futuras em trajetória de alta.
O yield do T-Bond de 30 anos atingiu 5% nas máximas do dia, no maior nível desde abril de 2011, e o da T-Note de 10 anos, referência de ativo livre de risco, atingiu o nível mais elevado desde 2007, marcando 4,30% no fim da tarde. Na Europa, o juro do Gilt de 10 anos alcançou maior nível em 15 anos, com especulações de que o Banco da Inglaterra (BoE) poderia levar os juros básicos ao pico de 6%, após dados indicarem resiliência de salários e inflação no Reino Unido.
A economista-chefe do TC, Marianna Costa, afirma que não há um fator preponderante para explicar o desempenho do mercado de juros hoje, mas sim um conjunto. "O contexto externo é o que move, mas o fato de a Bolsa estar caindo há 13 pregões também pesa sobre os preços por aqui", destaca.
Segundo Costa, os investidores se preparam para um mundo com atividade mais fraca e juros mais altos por um bom período. "A ata do Fed trouxe mensagem mais dura e um colegiado dividido, mas pelos dados que saíram depois da reunião está claro que o Fed está perto de parar de subir os juros, embora a inflação desacelere devagar", disse. Ao mesmo tempo, a percepção sobre a China é de que os estímulos do governo à economia ficarão abaixo do esperado.
Do lado interno, o quadro também não ajuda muito, com as reformas empacadas no Congresso e sinais de desaceleração da atividade que geram uma série de ruídos sobre como o governo vai lidar com isso, conforme avaliação da área de Tesouraria do Banco Santander.
Por outro lado, a inflação deve continuar surpreendendo positivamente, apesar do aumento dos preços dos combustíveis. "Isso significa que as taxas reais continuarão a subir ou permanecerão elevadas em meio a uma desaceleração do crescimento. Claro que a pressão para que o Banco Central acelere o ritmo de cortes da Selic vai aumentar e por isso a chance é grande. Isso pode, eventualmente, adicionar pressão ao câmbio e à ponta longa da curva", afirma o relatório.
O impacto do ambiente global sobre os ativos domésticos esteve na pauta da reunião dos economistas com diretores do BC nesta quinta-feira, no Rio. Segundo fontes, participantes relataram preocupações sobre possível impacto negativo sobre a ponta longa de juros e sobre o câmbio vindo da política do Federal Reserve, num momento em que o ciclo de queda de juros acabou de começar no Brasil.
Apesar do quadro de cautela global, o Tesouro conseguiu colocar integralmente os lotes de 9,5 milhões de LTN e de 2 milhões de NTN-F, que foram menores que os 10 milhões e 3 milhões da semana passada. As taxas saíram todas abaixo do consenso, com exceção a do papel mais curto, que ficou em linha, segundo a Necton Investimentos.
O lote de 2 milhões de NTN-F voltou a surpreender. "As emissões de NTN-F por semana até agora são as maiores desde 2010. Na média, o ano de 2023 é o maior em emissão por semana sendo bem distribuído entre os 2 benchmarks (2029 e 2033)", afirma o estrategista de renda fixa da instituição Fernando Ferez, que, contudo, diz não acreditar que esse ritmo de emissão do papel se sustente até o final do ano. (Denise Abarca - [email protected])
CÂMBIO
Em pregão marcado por instabilidade e troca de sinais, sobretudo ao longo da tarde, o dólar à vista fechou cotado a R$ 4,9814, em baixa de 0,10%. As oscilações foram contidas, de pouco menos de quatro centavos entre a mínima (R$ 4,9598) e a máxima (R$ 4,9959), ambas registradas pela manhã. Na semana, a moeda acumula valorização de 1,58%, o que leva os ganhos no mês a 5,33%.
Como nas sessões anteriores, o comportamento da moeda americana no exterior teve papel preponderante na formação da taxa de câmbio. Na primeira etapa de negócios, o sinal predominante foi de baixa, com realização de lucros e retomada do preços de commodities. Após três dias de queda, o petróleo fechou em alta, com o tipo Brent com valorização de 0,80%, a US$ 84,12 o barril. O governo chinês interveio por meio de bancos para sustentar o yuan, prometeu medidas para amparar o setor imobiliário e reiterou o compromisso com crescimento econômico.
Já havia pela manhã, contudo, um ambiente de mau humor nas bolsas globais, em meio à nova rodada de alta das taxas dos Treasuries longos, que se acentuou à tarde. A T-note de 10 anos superou os 4,30% e atingiu o maior nível desde novembro de 2007. Divulgada ontem, a ata do encontro de política monetária do Federal Reserve de julho reforçou a perspectiva de juros em níveis restritivos por mais tempo nos EUA.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operava praticamente estável no fim da tarde, após tocar máxima aos 103,498 pontos. No mês, sobe, mais de 1,5%. A moeda americana avançou em relação a divisas de países exportadores de commodities desenvolvidos, como o dólar australiano, e apresentou leve recuo na comparação com a maioria das divisas emergentes.
Segundo operadores, após a forte rodada de depreciação das moeda latino-americanas, incluindo o real, houve hoje uma pausa para ajuste de posições com retomada das commodities. Por aqui, o dólar respeitou mais uma vez o nível psicológico de R$ 5,00, visto pela última vez no fechamento em 1º de junho deste ano. Apesar do avanço em agosto, a moeda americana ainda recua 5,66% na comparação com o real em 2023.
"O mercado local está nos últimos dias em clara sintonia com o ambiente externo, com aversão ao risco e busca por dólar nos últimos dias. As taxas dos Treasuries sobem e existe muita descrença com a capacidade do governo chinês de evitar uma desaceleração da economia", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, acrescentando que, após a rodada recente de depreciação do real, o mercado tenta buscar um novo ponto de equilíbrio.
O Banco do Povo da China (PBoC) prometeu apoio financeiro para governos locais endividados e moradia popular, em meio a sinais crescentes de estresse no setor imobiliário, que pode respingar no sistema financeiro. A Zhongzhi Enterprise, conglomerado financeiro que administra mais de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões) e tem grande exposição ao segmento imobiliário, afirmou a investidores que enfrenta problemas de liquidez e que vai realizar uma reestruturação de sua dívida. Fontes afiram que uma das empresas controladas pela Zhongzhi deixou de fazer pagamento de dezenas de produtos de investimento desde o fim de julho.
Em entrevista hoje ao portal Poder 360, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a China é muito importante para o Brasil e o chamado mundo emergente. "Quando a China espirra, os emergentes pegam um resfriado. Temos visto desaceleração da China acima do esperado e um números de deflação completamente inesperados", disse Campos Neto, acrescentando que "empresas grandes da parte imobiliária na China começaram a não fazer pagamentos e entraram em situação falimentar".
"O maior medo dos investidores é que a crise na China traga problemas para os grandes bancos internacionais. A economia chinesa está se deteriorando mais rápido do que se esperava", diz o gerente de câmbio da Treviso, ressaltando que isso levou à busca pela moeda americana e depreciação do yuan nos últimos dias, contida hoje por venda de dólares por bancos estatais chineses.
O economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observa que nos últimos 30 anos a moeda americana se valorizou praticamente em relação a todas as divisas, sejam de mercados emergentes ou desenvolvidos. "É normal que, em momentos de aumento de incerteza, o mercado busque a segurança do dólar, mesmo após o recente downgrade da nota de crédito da dívida americana e aumento do déficit fiscal do país", afirma Oliveira. "Mantenho o cenário de que as economias latinas, e o Brasil em especial, estão muito bem posicionadas. Após os ruídos atuais, o real e outras moedas da região devem voltar à tendência de apreciação". (Antonio Perez - [email protected])
17:34
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