Se o pé atrás dos investidores com o quadro fiscal no Brasil já ditava certa aversão ao risco, a ata do Fed acabou de azedar o humor, a ponto de trazer o Banco Central para o jogo mais uma vez, em leilão de swap. O banco central dos EUA adotou um tom mais pessimista, ao dizer que a recuperação do PIB americano deve ser menos robusta do que o previsto anteriormente. Além disso, muitos dirigentes pontuaram desaceleração no ritmo de melhora do mercado de trabalho. Essas informações alimentaram a percepção de que a recuperação mais lenta dos EUA limitará o ritmo dos demais países. Para o Brasil, que já sofre com a desconfiança dos agentes em relação à política fiscal e à agenda liberal, a notícia pesa ainda mais, afastando o apetite dos investidores por ativos locais. O real refletiu isso do ponto de vista macro, ao precificar a deterioração dos parâmetros domésticos, e também técnico, precificando a continuidade de políticas monetárias frouxas e, portanto, uma opção de hedge barata. Com isso, o dólar se aproximou de R$ 5,54, quando o BC decidiu agir e ofertou 10 mil contratos de swap (US$ 500 milhões), vendidos integralmente. Em um dos vencimentos, contudo, as taxas foram negativas, o que significa que, na prática, a autoridade monetária está pagando para os agentes tomarem os dólares. Não por acaso, o alívio nas cotações foi pontual e a divisa americana encerrou o dia com alta de 1,16%, a R$ 5,5302 no mercado à vista - maior valor desde 22 de maio e elevando a valorização no ano para perto de 38%. O dólar futuro acelerou ainda mais depois do fechamento do à vista, para perto de R$ 5,55, em meio a declarações do presidente Jair Bolsonaro, de que a Economia sugeriu estender o auxílio emergencial até o fim do ano no valor de R$ 200, mas que ele acha pouco e quer algo intermediário entre isso e os R$ 600 atuais. No mesmo evento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que o timing das reformas é do presidente, "é político". A escalada do dólar fez os juros futuros abandonarem a lateralidade que prevaleceu ao longo do dia e acumularem prêmios, de até 15 pontos-base nos vencimentos longos. Mas os curtos também subiram e zeraram as apostas em corte da Selic em setembro, o que inibiu uma inclinação mais expressiva da curva nesta véspera do leilão de títulos prefixados. O Ibovespa também não escapou incólume à piora dos negócios à tarde, acelerou a queda para mais de 1% e retrocedeu para a casa dos 100 mil pontos. No fim, a perda só não foi maior por causa das exportadoras. Ainda assim, caiu 1,19%, aos 100.853,72 pontos. A baixa dos pares em Wall Street ajudou, sobretudo porque a cautela demonstrada pelos dirigentes do Fed aparece um dia depois de Nasdaq e S&P 500 terem renovado máximas históricas, o que abriu espaço para certa realização de lucros.
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