EXTERIOR NEGATIVO, DE OLHO EM RECESSÃO E JUROS, AMPLIA PERDA SEMANAL DE ATIVOS LOCAIS

Blog, Cenário

Com mais um pregão de aversão ao risco global, os ativos de risco chegaram ao fim do dia com perdas, piorando ainda mais o desempenho negativo acumulado na semana. E o gatilho para o mau humor de hoje não é necessariamente novo: o temor de uma recessão em meio a um processo de aumento de juros que ainda deve perdurar por mais um tempo. Pelo menos foi isso que indicadores fracos, tanto na Europa quanto nos EUA, e declarações de dirigentes de bancos centrais sinalizaram para o mercado. Como resultado, as commodities recuaram e as bolsas de Nova York voltaram a cair mais de 1%, ampliando a perda semanal para mais de 2%. Só que a performance dos ativos domésticos foi ainda pior ao longo dos últimos dias, achatados pela cautela dos agentes em relação a nomes escolhidos pelo governo eleito, pela política fiscal que será adotada e com as incertezas sobre os rumos que a PEC de Transição terá na Câmara dos Deputados. Assim, ainda que o Ibovespa tenha caído menos do que os pares em Wall Street ontem e hoje, quando fechou a 102.855,70 pontos (-0,85%), a perda acumulada na semana foi substancialmente mais alta, de 4,34%. Os juros futuros também não escaparam dessa espiral negativa e renovaram máximas na reta final, resultado das incertezas fiscais, de olho em rumores sobre nomes para a equipe econômica e com a possibilidade de o Senado, mesmo que não agora, alterar ainda mais a Lei das Estatais para acomodar a nomeação de sindicalistas. Na semana, todos os vértices da curva a termo acumularam prêmios. A exceção desta sexta-feira foi o câmbio, com o real na contramão externa diante de relatos de fluxo. Mas apesar da desvalorização de 0,41% do dólar no mercado à vista, a R$ 5,2941, a moeda terminou a semana com alta de 0,92%.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•JUROS

•CÂMBIO

MERCADOS INTERNACIONAIS

O aperto monetário nas economias desenvolvidas seguiu pressionando ativos de risco nesta sessão, com dirigentes do Federal Reserve (Fed) reforçando o comprometimento no combate à inflação, sugerindo que ainda há um longo caminho a ser percorrido e que os juros podem ficar ainda mais altos do que se espera. Neste cenário, a possibilidade de uma recessão é observada e gera cautela entre os investidores. Assim, as bolsas de Nova York tiveram mais um dia de queda, encerrando uma semana com baixas próximos a 2% para os principais índices. O petróleo também recuou, caindo mais de 2%, em meio a preocupações com a demanda por conta de uma possível desaceleração da atividade. Já o dólar e os juros dos Treasuries ficaram sem sinal único, observando ainda a postura dos principais bancos centrais europeus, que também aumentaram juros e sinalizaram maior aperto.

Potencialmente estendendo o ciclo de aperto monetário global, aumentos de 50 pontos base (pb) nas taxas de juros é o "novo 75 pb" dos maiores bancos centrais do mundo, analisa o Goldman Sachs. O banco ressalta as decisões nesta semana do Fed, Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) e Banco Central Europeu (BCE) de aumentar em meio ponto porcentual suas respectivas taxas de juros. Hoje, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que o BC americano está longe do seu objetivo de estabilidade de preços. "Inflação é 'tóxica', e precisamos chegar na meta de 2%. Estamos resolutos em desacelerar a inflação até a meta", destacou. Já o dirigente da distrital de Nova York, John Williams, afirmou que "medidas suficientemente restritivas para baixar a inflação" podem exigir juros mais altos do que as previsões de 5% a 5,5% para o próximo ano.

Na visão de Edward Moya, analista da Oanda, as ações estão caindo porque os investidores não conseguem se livrar de toda a retórica agressiva que veio dos banqueiros centrais esta semana e porque o setor privado claramente entrou em uma forte desaceleração. O Goldman Sachs planeja demitir até 4 mil funcionários enquanto luta para atingir as metas de lucratividade e se retira de sua aposta no Main Street Banking, segundo fontes disseram ao Semafor. Os gerentes de toda a empresa foram solicitados a identificar pessoas de baixo desempenho para o que poderia ser um corte de até 8% em sua força de trabalho no início do próximo ano. Hoje, as ações do banco recuaram 0,98%. Entre os índices, Dow Jones recuou 0,85%, aos 32.920,46 pontos, S&P 500 caiu o S&P 500 caiu 1,11%, aos 3.852,36 pontos e Nasdaq teve baixa de o Nasdaq recuou 0,97%, aos 10.705,41 pontos. Na Europa, o cenário também foi de quedas, com o FTSE 100 recuando 1,27% e o CAC 40 com baixa de 1,08%.

Moya destaca que os rendimentos dos títulos públicos globais estão subindo depois que os bancos centrais realizaram outra rodada de aperto e principalmente sinalizaram que mais aumentos nas taxas estavam chegando. Os índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) europeus mostraram que a zona do euro está presa em território de contração, mas as leituras foram melhores do que o esperado, o que pode permitir que o BCE permaneça agressivo com sua campanha de aumento de taxas, avalia. Hoje, os rendimentos dos Treasuries ficaram sem sinal único. Ao fim da tarde, a T-note de 2 anos caia a 4,211%, a de 10 anos tinha baixa a 3,484% e o T-bond de 30 anos recuava a 3,539%.

No câmbio, a Convera destaca que o dólar continua sendo a moeda de escolha quando os temores de uma recessão global se intensificam e levam os mercados a um colapso. Hoje, o ativo americano se desvalorizou ante o iene, com o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) realizando sua última decisão de política monetária na próxima semana. Ao final da tarde, o dólar caia a 136,58 ienes. Já o euro desvalorizava a US$ 1,0602 e a libra recuava a US$ 1,2175. O DXY teve alta de 0,14%.

Para o petróleo, segundo a Reuters, o Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) dos EUA anunciou que irá retomar as compras de barris de petróleo para as Reservas Especiais de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) do país, o que, de acordo com o Commerzbank, deverá neutralizar a queda do preço do WTI. Já hoje, o WTI para fevereiro de 2023 fechou em queda de 2,22% (US$ 1,69), a US$ 74,46 o barril, enquanto o Brent para o mesmo mês teve queda de 2,67% (US$ 2,17), a US$ 79,04 o barril. Na semana, a commodity teve alta de 4,84% e 3,86%, respectivamente. (Matheus Andrade - [email protected])

BOLSA

O dia e a semana chegam ao fim com o mesmo tom negativo que tem prevalecido para a renda variável. Passada a primeira quinzena de dezembro, e faltando duas semanas para o encerramento do ano - com fluxo que tende a se enfraquecer nessa reta final de 2022 -, o Ibovespa acompanhou nesta sexta-feira o passo dos mercados externos, com quase todas as principais bolsas, no exterior, em baixa nesta sexta-feira, como também no acumulado da semana e do mês. Dentre as maiores bolsas de fora, apenas Hong Kong, na Ásia, subiu hoje (0,42%) e avança em dezembro (4,59%).

Na B3, o índice de referência cedeu hoje 0,85%, aos 102.855,70 pontos, acumulando perda de 4,34% na semana e, até aqui, de 8,56% em dezembro - a caminho, por enquanto, de seu pior desempenho mensal desde o mergulho de 11,5% em junho, até agora o pior para o Ibovespa desde o ponto mais baixo da pandemia de covid-19, em março de 2020, quando cedeu 29,90%. Na semana, a queda de 4,34% sucede outro recuo, de 3,94%, após duas semanas de leves ganhos para o Ibovespa, respectivamente de 2,70% e 0,10%.

O nível de fechamento para o Ibovespa nesta sexta-feira foi o menor desde 1º de agosto, então aos 102.225,08 pontos. Hoje, oscilou entre mínima de 102.248,42 e máxima de 104.017,56, saindo de abertura aos 103.737,17 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro desta sexta-feira foi a R$ 39,3 bilhões. No ano, o Ibovespa, que virou para o negativo na última terça-feira, cede agora 1,88%.

Entre as ações de maior liquidez, o desempenho ao final misto no setor de commodities (Petrobras ON +0,28%, PN +0,05%; Vale ON -1,71%) impôs-se, durante a sessão, ao majoritariamente positivo entre os grandes bancos, com destaque para prolongamento da recuperação em BB (ON +2,03%), para Santander (Unit +1,40%) e para Itaú (PN +1,11%). Na ponta do Ibovespa, destaque, além de BB (terceira maior alta do dia), para Cemig (+2,91%) e Dexco (+2,62%). Do lado oposto, Magazine Luiza (-8,85%), Americanas (-7,89%) e CVC (-7,58%).

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira apresenta mudanças marginais nas expectativas do mercado para o comportamento do Ibovespa na próxima semana. Entre os participantes, a previsão de alta para o índice ficou em 44,44%, de 50,00% na pesquisa anterior. A fatia dos que esperam queda subiu de 16,67% para 22,22%, enquanto a dos que acreditam em estabilidade manteve-se em 33,33%.

"Muita volatilidade ainda nos mercados, aqui e fora, com a indicação, nesta semana, dos principais BCs de que os juros continuarão subindo, para lidar com a inflação", diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos. Hoje, dia seguinte à elevação de juros na zona do euro e na Inglaterra, os dados de atividade (PMI) vieram fracos no velho continente, ainda em terreno de contração, inclinando os índices de lá a perdas em torno ou acima de 1% na sessão, em acréscimo ao recuo na casa de 3% visto ontem.

Nos Estados Unidos, as leituras preliminares sobre o PMI industrial e de serviços em dezembro, divulgadas nesta sexta-feira, também ficaram abaixo de 50, indicando contração na margem, em ajuste mais forte do que antecipava o mercado - que já esperava leitura negativa para o mês, tanto para a indústria como para os serviços. Em Nova York, as perdas nos três índices de referência para ações ficaram entre 0,85% (Dow Jones) e 1,11% (S&P 500) na sessão, e entre 1,66% (Dow Jones) e 2,72% (Nasdaq) no acumulado da semana.

A correção em curso nas maiores bolsas dos Estados Unidos e da Europa reflete a percepção de que uma profecia, tantas vezes repetida, esteja a caminho de se concretizar em 2023: recessão global. A perda de dinamismo no ritmo de atividade mundial, o abre e fecha na China (por mais que as restrições à covid estejam se flexibilizando), a elevação dos juros ainda em curso em diversas economias e a resiliente inflação em países pouco acostumados a ela, como EUA e Reino Unido, associam-se à persistente guerra na Ucrânia e a incerteza sobre o rumo dos preços de energia.

A presidente do Federal Reserve (Fed) de Cleveland, Loretta Mester, reforçou hoje que a taxa de juros nos EUA deve subir a um nível acima de 5% e permanecer neste patamar ao longo de todo o ano de 2023, durante entrevista à Bloomberg TV. A fala corrobora o que disseram outros dirigentes da entidade e o que indicou as últimas projeções do BC americano, divulgadas na última quarta-feira.

Com o ambiente em Brasília também bastante fluido, ficaram em segundo plano, hoje, desdobramentos positivos, ontem, com relação ao cenário doméstico, após a indicação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que não há pressa, nem consenso, para a votação da mudança na Lei das Estatais aprovada esta semana na Câmara. Mesma falta de pressa e de consenso, vista também na Câmara esta semana, para outra questão pendente e que preocupa os investidores, pelo efeito sobre as contas públicas a partir de 2023: a PEC da Transição.

No exterior, o grau de relaxamento da política de covid-zero na China permanecerá a principal incerteza para o mercado de commodities em 2023, de acordo com a Fitch. Para a agência, reabertura total do país traria "significativo" impacto positivo. Por outro lado, a demanda por commodities também é afetada pela fraca perspectiva para a economia global. "Nossa previsão (de alta) do PIB mundial é de apenas 1,4% em 2023 e de crescimento estável para o PIB dos EUA e da zona do euro. No entanto, os estoques permanecem apertados em petróleo, gás e cobre, o que apoiará os mercados", aponta a Fitch.

Hoje, os contratos futuros de petróleo fecharam em queda na sessão, não apenas pelo temor de recessão global: os investidores permanecem atentos também aos casos de covid-19 na China, uma das maiores importadoras da commodity. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 102855.70 -0.85021

Máxima 104017.56 +0.27

Mínima 102248.42 -1.44

Volume (R$ Bilhões) 3.93B

Volume (US$ Bilhões) 7.44B

18:30

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 104690 -1.08187

Máxima 106010 +0.17

Mínima 104105 -1.63

JUROS

Os juros futuros fecharam a sessão em alta firme, mais acentuada nos vencimentos de médio e longo prazos. Na semana, todas as taxas subiram, também com mais força na ponta longa, configurando ganho de inclinação para curva. Sem nada de concreto hoje no noticiário de Brasília, as taxas retomaram o que é considerada sua tendência natural, ou seja adição de prêmios, com o cenário fiscal incerto, após terem cedido ontem. As preocupações mantêm-se sobre o impacto fiscal da PEC da Transição, futuro da Lei das Estatais e nomeações para ministérios e segundo escalão do novo governo. O exterior, com abertura das curvas, também influenciou a dinâmica por aqui.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,98%, de 13,89% ontem no ajuste e a do DI para janeiro de 2025 avançou de 13,59% para 13,82% (máxima). O DI para janeiro de 2027 saltou a 13,66%, de 13,38% ontem no ajuste. Na semana, subiram, respectivamente, 18, 74 e 80 pontos-base.

"Segue o ambiente de incerteza fiscal para 2023 pressionando as taxas num dia em que os juros globais também estão subindo. O mercado está muito volátil, difícil de acertar tendência, com prêmios de risco já bem elevados", resumiu o economista da BlueLine Flávio Serrano.

O sinal de alta se impôs ainda pela manhã, em sintonia com os Treasuries e bônus europeus, por sua vez pressionados pelas mensagens dos principais bancos centrais na semana, indicando mais elevações de juros e manutenção em níveis elevados por um período prolongado para o combate da inflação. Após o recado claro ontem da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que rechaçou que a instituição esteja moderando o aperto e, sim, está preparada para um "jogo longo", hoje o presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, afirmou que o banco central está comprometido a tomar as "ações necessárias" para trazer a inflação de volta à meta de 2%. "Precisamos ver redução nas pressões do mercado de trabalho e imobiliário [para mudar estratégia de política monetária]."

No Brasil, as dificuldades para a PEC avançar na Câmara, lidas ontem pelo mercado como maior chance de nova desidratação no valor do "waiver" de R$ 168 bilhões ou redução do prazo de dois anos, hoje não conseguiram produzir na curva o mesmo alívio. A previsão é de que o texto seja votado e aprovado na próxima semana.

Do mesmo modo, o efeito positivo da falta de consenso para votação da Lei das Estatais no Senado ficou restrito à véspera, até porque há risco de os senadores flexibilizarem ainda mais a legislação para acomodar lideranças sindicais em cargos nas estatais. Só o que foi aprovado pela Câmara tem potencial de abrir a porteira para indicações políticas para 587 nomeações de alto escalão em companhias públicas federais.

"Toda essa situação expõe o quanto o País é cada vez dependente do Legislativo. Todas as grandes mudanças macro, para o bem ou para o mal, vão depender dessa costura com os parlamentares", afirmou o econonomista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, no podcast diário da instituição. Ele destaca ainda que a resistência parlamentar aos "estouros" só se dá porque outra linha de gestos que interessa à Câmara, o orçamento secreto, poderia ser vetada do jeito que está hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "Aquela ilusão ideológica de que o parlamento ia ajudar a conter as pautas heterodoxas não sobreviveu nem ao período de transição", comentou.

As nomeações para ministérios e segundo escalão também são peças relevantes nesse xadrez e aumentam a preocupação do mercado. Após a oficialização de Fernando Haddad como futuro ministro da Fazenda, a semana foi marcada pela indicação de Gabriel Galípolo como secretário-executivo da pasta e Aloizio Mercadante para o comando do BNDES, que trouxeram desconforto. Só a de Bernard Appy, para a secretaria especial para a reforma tributária, agradou.

Há expectativa agora quanto ao ministro do Planejamento. Nesta tarde, a Arko Advice informou que o ex-governador de Alagoas e senador eleito, Renan Filho, foi consultado por integrantes do próximo governo sobre assumir a pasta. "A bancada do MDB foi consultada mas sinalizou que a intenção do partido é herdar uma pasta 'finalística' e não algo tão técnico e sem capilaridade", afirma a consultoria. (Denise Abarca - [email protected])

CÂMBIO

Ingressos de recursos no Brasil levaram para baixo a cotação do dólar ante o real nesta sexta-feira, com a moeda americana terminando o dia abaixo de R$ 5,30, segundo relatos nas mesas de câmbio. O cenário político também é acompanhado pelos agentes, com resquício de apostas de que a PEC da Transição pode ser descartada caso não haja mesmo consenso entre o governo eleito e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No exterior, a moeda subiu, ainda na esteira de uma postura mais dura do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA). O cenário hawkish da política monetária global e as incertezas políticas levaram a uma desvalorização de 0,92% do real na semana.

O dólar à vista terminou o dia cotado em R$ 5,2941, queda de 0,41%. A alta semanal é a segunda consecutiva. Às 18h17, o dólar para janeiro cedia aos R$ 5,3250 (-0,18%), com giro de negócios pouco acima de US$ 11 bilhões e ganho de 1,21% ante a sexta-feira passada.

Desde cedo, o fluxo para o Brasil segurou a cotação do dólar ante o real. A moeda americana subiu no exterior tanto ante divisas fortes quanto emergentes, com os agentes de olho nos desdobramentos da política monetária dos Estados Unidos. Desde que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) elevou os juros na quarta-feira para a faixa de 4,25% a 4,50%, falou em mais aumentos e sinalizou que as taxas permanecerão altas por mais tempo do que o previsto, os agentes passaram a reprecificar os ativos. Dados fracos da economia americana e da China endossaram a tese de o aperto monetário levará o mundo a uma era de baixo crescimento, ou até mesmo de recessão.

Esse cenário disparou a aversão global ao risco ontem, reverberando no mercado hoje. Mas o real permaneceu blindado. Além dos relatos de entrada de recursos para o Brasil pela via comercial e até mesmo pelo mercado de ações, há também aposta de que a PEC da Transição, que autoriza uma expansão fiscal de ao menos R$ 168 bilhões por dois anos, não prospere na Câmara e seja descartada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mesmo se o orçamento secreto for declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira, 19.

"Enquanto a maioria das principais moedas opera estável, o real se valoriza nesta sexta-feira, evidenciando o peso do ambiente político para o mercado no momento", diz o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes.

O fator que ainda emperra votação da PEC na Câmara na terça-feira, 20, é a resistência do PT em ceder espaço ao Centrão no próximo governo. Há ao menos 30 ministros ainda a serem apresentados. Pastas cobiçadas pelo grupo, como Integração Nacional, Cidades e Minas e Energia, também são alvo de aliados de primeira hora de Lula - como o entorno do senador Renan Calheiros (MDB-AL), inimigo político de Lira.

"O dólar acabou dando uma recuada até porque a sinalização de uma dificuldade maior do governo para aprovar a PEC acabou deixando o mercado mais otimista, pensando que, se a Câmara não conseguir na terça-feira, pode ser que a PEC não passe e o fiscal fique um pouco mais contingenciado em relação ao que se esperava", avalia o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

Ainda assim, o calendário da próxima semana, atipicamente cheio para esta época do ano, inspira cautela. "A tendência é o mercado continuar com volatilidade forte com muita atenção aos gastos públicos. Isso ainda vai tirar o sono do mercado até que tenhamos uma sinalização clara para onde vão as contas públicas", acrescenta Velloni.

A despeito dessas incertezas, em relatório sobre suas estimativas anuais, o banco americano Wells Fargo espera queda da taxa de câmbio do Brasil ao longo de 2023, em posição de a instituição chama de "cautelosamente otimista". A projeção é que o preço do dólar ante o real vire o ano na faixa de R$ 5,30 e assim permaneça até o fim do primeiro trimestre. Daí adiante a queda é gradual: R$ 5,20 no encerramento do segundo trimestre de 2023; R$ 5,10 no encerramento do terceiro; R$ 5,00 no quarto; e R$ 4,90 no primeiro tri de 2024.

Dois fatores embasam a projeção do Wells Fargo: a questão fiscal e os juros no País. Do ponto de vista das contas públicas, a aposta é de que o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exerça um grau de prudência que não permita uma deterioração substancial das finanças do Brasil. Quanto à Selic, a despeito de esperar queda a partir do segundo trimestre, o banco americano considera que as taxas de juros reais devem permanecer bastante altas e relativamente atrativas, o que manteria o fluxo de recursos para o País. (Mateus Fagundes, colaborou Gabriel Caldeira - mateus.fagundes @estadao.com)

18:30

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.29410 -0.4063 5.33200 5.26350

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5331.000 -0.06561 5347.500 5277.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5340.000 0.09372 5354.000 5325.000

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