A aversão ao risco global, diante do avanço da covid-19 em diversos países, inclusive na China, encontrou na desconfiança dos investidores com a situação fiscal do Brasil, bem como em relação aos planos de vacinação, um campo fértil para que os ativos locais fossem ainda mais penalizados. Como resultado, o dólar superou R$ 5,50, mesmo com um leilão de swap do Banco Central, os juros futuros dispararam e o Ibovespa, com a mesma rapidez com a qual vinha subindo, tombou, ao perder cerca de 2 mil pontos nesta segunda-feira. Os mercados ao redor do mundo, após os recordes recentes de diversas bolsas, parecem ter precificado uma piora da pandemia antes que haja melhora, como o próprio presidente eleito dos EUA, Joe Biden, admitiu hoje. Até porque, um dos riscos, comentados hoje pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é o surgimento de mutações da covid-19, enquanto os programas de vacinação nas principais economias ainda não decolaram. Para completar, as tensões políticas nos Estados Unidos seguem no radar, o que contribuiu para a cautela dos agentes. Mas a situação no Brasil é ainda mais delicada. Em meio à disputa pela presidência da Câmara, investidores monitoram declarações sobre estender o auxílio emergencial ou fortalecer o Bolsa Família num momento de contas públicas debilitadas. Ao mesmo tempo, os sinais sobre a vacinação no País não são os mais auspiciosos. Afinal, enquanto o governo de São Paulo segue trocando farpas com o federal sobre a vacina produzida pelo Instituto Butantan, hoje o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que a imunização no Brasil começará "no dia D, na hora H". Nesse ambiente, o BC vendeu US$ 500 milhões em swap e conseguiu, no máximo, um alívio momentâneo para o dólar, que subiu 1,61%, a R$ 5,5036 no mercado à vista - bem perto da máxima na casa de R$ 5,51 e maior valor desde 5 de novembro. Com a moeda dos EUA pressionada e a incerteza fiscal, o movimento dos juros não poderia ser outro: disparada das taxas longas e inclinação da curva a termo, num claro sinal de piora de percepção em relação ao Brasil. E até o Ibovespa, que vinha passando ao largo das desconfianças domésticas, sucumbiu, ao cair 1,46%, aos 123.255,13 pontos. Houve queda generalizada das ações, desde exportadoras até aquelas voltadas à atividade doméstica.
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