Uma sinalização mais heterodoxa na economia por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conduziu os juros futuros a alta firme nesta segunda-feira, pesando na Bolsa no fim dos negócios. Comentários favoráveis a uma participação mais ativa do BNDES em financiamentos para empresas brasileiras no exterior rememoraram no mercado a política intervencionista do segundo mandato de Lula e do primeiro de Dilma Rousseff, trazendo apreensão. O debate sobre uma moeda comum para transações comerciais com a Argentina traz certo incômodo também. Pesaram ainda nas taxas futuras revisões para cima do IPCA no Relatório Focus e certa cautela antes dos números do IPCA-15 de janeiro, a serem conhecidos amanhã na hora da abertura. Na Bolsa, houve alta em boa parte do pregão, amparada pelo salto das ações da Petrobras (ON +2,31% e PN +1,59%) na esteira da subida do petróleo. Mas o índice sucumbiu nos últimos minutos da sessão com comentários de Lula e baixa forte do setor financeiro, ainda penalizado sobre os efeitos da crise da Americanas. Todas as principais ações do setor cederam forte - Bradesco ON caiu 3,19% e PN, 4,23%; Itaú Unibanco perdeu 3,07%; Santander recuou 4,08%; e Banco do Brasil, pressionado por anúncio de linha de crédito para importadores da Argentina, teve queda de 0,75%. O índice terminou o dia aos 111.737,28 pontos, baixa de 0,27%. Em Nova York, a hora final do pregão foi marcada por um arrefecimento dos ganhos vistos mais cedo. Ainda assim, o dia foi de subida firme - Nasdaq saltou 2,01%, S&P 500 avançou 1,19% e Dow Jones ganhou 0,76% - com a consolidação da aposta de redução da intensidade da alta dos juros pelo Federal Reserve. O dólar teve um dia sem muita força no exterior, com alta ante o iene, mas baixa ante o euro, na esteira de comentários hawkish de membros do Banco Central Europeu (BCE). Aqui no Brasil, a moeda americana à vista terminou em R$ 5,2000 (-0,15%), com algum respiro depois da subida firme da semana passada.
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JUROS
Descolados do comportamento positivo do câmbio e do apetite ao risco no exterior, os juros futuros subiram nesta segunda-feira, dando sequência ao aumento da inclinação visto na semana passada, com os longos avançando em ritmo mais forte que os demais. Em dia de agenda esvaziada aqui e no exterior, o fôlego de alta foi renovado por mais uma pesquisa Focus mostrando aumento nas medianas de IPCA e cautela com os acordos do governo fechados com a Argentina na área de comércio e também com a perspectiva de financiamentos a projetos do país vizinho. Tais fatores se somam às preocupações com relação às críticas do presidente Lula ao trabalho do Banco Central e ao risco de aumento da meta de inflação que já afetavam a curva nas últimas sessões.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,58%, de 13,50% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,77% para 12,85%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,91%, de 12,80% no último ajuste, e a do DI para janeiro de 2029, em 13,15%, de 12,97%.
Após terem mostrado alguma volatilidade ao longo da manhã, as taxas firmaram trajetória ascendente no período da tarde, computando piora do risco trazido pelos acordos fechados entre o Brasil e a Argentina. Num contexto já de forte preocupação com as contas públicas enquanto não se sabe qual será a nova âncora fiscal, o apoio comercial é visto com ressalvas, dado o historio de default do país vizinho. Houve um ruído inicial com relação à criação de uma moeda comum entre os dois países, que não será nos moldes do euro, como chegou-se a imaginar, mas sim destinada a transações comerciais e financeiras.
O governo brasileiro argumenta que as restrições cambiais a que a Argentina está sujeita prejudicam os exportadores do Brasil, na medida em que companhias argentinas têm dificuldades para se financiar. Tal papel de ofertar crédito a importadores tem sido feito pela China, condicionado à compra dos produtos do país. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirma que com isso não há pretensão de superar o dólar no comércio internacional. "Mas me parece fazer pouco sentido que a região seja constrangida no comércio por um terceiro país que não está envolvido na transação", disse. Segundo ele, a operação estruturada é pensada para retomar as trocas sem que o governo corra algum risco de default e que os financiamento serão concedidos com garantias reais, com ativos que possam ser liquidados no comércio internacional.
O economista-chefe da Barra Peixe Investimentos, Rafael Leão, afirma o esclarecimento do governo de que não se tratará de uma moeda única reduziu um pouco os ruídos, trazendo um certo alívio, e que a proposta faz sentido do ponto de vista comercial. Mas, ao mesmo tempo, a questão dos financiamentos do BNDES estimulam uma postura mais defensiva do investidor. "O mercado assume, a priori, que os fundings vão pressionar ainda mais o fiscal", disse.
O governo pretende voltar a financiar projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior, citando por exemplo o projeto do gasoduto Néstor Kirchner, que pretende levar o gás de xisto da região de Vaca Muerta ao Brasil. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou hoje que seu país tem "inveja" do banco público brasileiro, ao qual classificou de "uma ferramenta de crescimento sensacional".
"O BNDES estava pré pagando a União e agora vai voltar a ser instrumento de governo, e em país com histórico de calotes", diz uma fonte.
O Boletim Focus trouxe, como esperado, piora nas estimativas de inflação, e o impacto na curva só não foi pior porque o movimento já havia sido em parte antecipado na sexta-feira. A mediana de IPCA para 2023 subiu de 5,39% para 5,48%, acima do teto da meta de 4,75%, e a de 2024 saiu de 3,70% para 3,84%, acima do centro da meta de 3%. Para 2025, cujo centro da meta é também 3%, manteve-se em 3,50%. Para 2026, que ainda não tem meta definida, ficou em 3,47%, de 3,22%.
Também avançaram as medianas para a Selic no fim de 2024 (9,25% para 9,50%) e 2025 (8,25% para 8,50%). Para 2023, seguiu em 12,50%. "O mercado já considera nas suas projeções o risco elevado de uma política monetária mais dura por período mais prolongado. Os próximos comunicados do Copom serão essenciais para a percepção da posição do Banco Central quanto aos impactos efetivos da política fiscal na política de juros", avalia a analista da Tendências Consultoria Luiza Benamor.
A deterioração das medianas de IPCA é vista como efeito direto do risco de aumento da meta de inflação, sobretudo após as críticas de Lula, que defendeu um alvo de 4,5%. A escolha do substituto do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, que deixa o cargo no fim de fevereiro, também traz apreensão ao mercado. O governo quer um nome para "mudar a cara do Copom" e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, busca alguém de consenso, mas enfrenta resistências e dificuldades como por exemplo salário incompatível com o oferecido pelo mercado (veja detalhes em matéria publicada às 15h24). (Denise Abarca - [email protected])
BOLSA
O Ibovespa caiu 0,27% hoje, aos 111.737,28 pontos. As ações de bancos foram novamente o destaque negativo da sessão, penalizadas pela exposição ao rombo bilionário da Americanas. Embora o índice tenha sustentado ganhos ao longo do dia, embalado pelo aumento dos preços de petróleo, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o papel do BNDES reforçaram para o mercado o temor com a política econômica do governo e levaram a Bolsa brasileira à segunda baixa seguida.
Após encontro com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, Lula disse a empresários do país que o banco de fomento voltará a financiar projetos de engenharia para ajudar países vizinhos e empresas brasileiras que operam no exterior. A política foi adotada pelo banco de fomento nos governos petistas e é mal vista pela maior parte do mercado. Na esteira das declarações, o Ibovespa tocou a mínima de 111.541,82 pontos, em queda de 0,45%. Durante a manhã, chegou à máxima de 113.061,34 pontos (+0,91%).
"As falas de Lula sugerem uma intervenção estatal direta nas empresas, e isso deixa o mercado em polvorosa, porque volta o filme antigo da Petrobras, dos fundos de pensão, na cabeça do investidor", diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. "Esse fantasma continua assombrando a cabeça dos investidores, então o pessoal fica com um pé atrás, principalmente com as empresas que têm participação estatal."
Principal responsável pela baixa do Ibovespa, o setor financeiro caiu 2,04% hoje, pressionado pela exposição dos bancos ao rombo bilionário das Americanas e pela percepção de um aumento da concessão de crédito público via BNDES. Críticas feitas na semana passada pelo presidente à autonomia formal do Banco Central também incomodam. Os papéis do Bradesco PN (-4,23%) e Santander (-4,08%) representaram, respectivamente, a maior e a terceira maior baixa do índice.
Até o Banco do Brasil, blindado do estresse nas últimas sessões devido à sua baixa exposição às Americanas, inverteu o sinal e passou a cair após as declarações do presidente sobre o papel do BNDES. As ações do BB cederam 0,75%, também pressionados por falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que disse que o banco financiaria exportações à Argentina por meio da emissão de cartas de crédito.
A fala de Lula ainda pressionou outras empresas com participação pública, como Eletrobras (-0,28% PN, -0,24% ON), Cemig (-1,50%) e Copel (-0,52%), da área de energia. "O grande ponto é que o investidor fica receoso, com a dúvida de até onde o governo vai intervir: vai agir para tentar reduzir uma conta de luz? Vai usar o caixa das estatais para isso?", nota Velloni. O índice de utilidade pública da B3 cedeu 0,74% no pregão, a segunda maior queda entre os setores.
Em contrapartida, o aumento dos preços de commodities continuou a favorecer os papéis de empresas ligadas ao cenário externo. Os contratos futuros do petróleo fecharam com sinais divergentes, em um pregão marcado pela volatilidade com o fechamento dos mercados na China, Coreia do Sul e Taiwan, devido ao feriado de Ano Novo Lunar. Mesmo assim, a subida de 0,64% do Brent para março amparou os ganhos da Petrobras (+2,31% ON, +1,59% PN), que ajudou a limitar as perdas do Ibovespa.
Também na ponta positiva, as ações da Vale subiram 0,33%, amparadas pela perspectiva de reabertura da economia chinesa. Devido ao feriado, não houve negociações na Dalian Commodity Exchange, mas a commodity subiu 0,23% na Bolsa de Cingapura. "O principal driver [para a Bolsa] agora é o fluxo de capital em direção às commodities, dado que o Brasil é um dos principais players globais", nota o especialista em renda variável da Blue 3 Dennis Esteves.
Além dos bancos citados, os papéis da Cosan (-4,14%), Minerva ON (-3,55%) e Hapvida (-3,42%) e ficaram entre as principais baixas do Ibovespa hoje. Na direção oposta, os destaques ficaram com Via (+8,37%) e Magazine Luiza (+5,76%) - beneficiados pela percepção de que podem herdar os clientes da Americanas -, além de Carrefour (+5,64%), Telefônica Brasil (+5,02%) e CNS Mineração (+3,81%). (Cícero Cotrim - [email protected])
18:20
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 111737.28 -0.27076
Máxima 113061.34 +0.91
Mínima 111541.82 -0.45
Volume (R$ Bilhões) 2.37B
Volume (US$ Bilhões) 4.56B
18:22
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 112430 -0.478
Máxima 113870 +0.80
Mínima 112290 -0.60
MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York avançaram nesta segunda-feira, impulsionadas pela continuidade do salto de papéis de empresas ligadas à tecnologia, ao mesmo tempo em que o mercado segue majoritariamente precificando alta de 25 pontos-base pelo Federal Reserve (Fed) na semana que vem. Em meio à melhora do sentimento de risco, os juros dos Treasuries caíram. Já o dólar avançou ante o iene, mas se desvalorizou diante do euro, que é favorecido por uma série de comentários de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE), inclusive da presidente Christine Lagarde, de que a instituição deve continuar subindo juros. Ainda no câmbio, para analistas, uma eventual criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina parece ser uma realidade ainda distante.
No meio da temporada de balanços, o Spotify anunciou hoje que cortará 6% de sua equipe, juntando-se a outras empresas do setor de tecnologia que estão realizando demissões em massa. Reportagem do Broadcast publicada às 15h23 mostra que, para grande parte dos analistas, esse movimento de redução de pessoal é apenas um ajuste após contratações recentes em momento de maior vigor na demanda durante a pandemia. O movimento, segundo eles, pode colaborar para conter a pressão salarial e ajudar o Fed na tarefa de trazer de volta a inflação à meta de 2% ao ano.
Monitoramento do CME Group trazia, no começo da tarde, que a probabilidade de o Fed subir a taxa básica da faixa atual de 4,25% - 4,50% em 25 pontos-base, ou seja, para 4,50% e 4,75%, chegou em 99,9%. Ontem, a chance de um avanço nessa magnitude era de 99,3% e, há uma semana, era de 93,7%.
Dessa forma, o índice Dow Jones registrou alta de 0,76%, aos 33.629,56 pontos, o S&P 500 subiu 1,19%, aos 4.019,81 pontos, e o Nasdaq avançou 2,01%, aos 11.364,41 pontos. Papéis da Microsoft (+0,98%), Netflix (+4,36%), Spotify (+2,07%), Apple (+2,35%) e Alphabet (+1,81%) continuaram seu rali. Descontada, a ação da Tesla saltou 7,74%.
O analista da Oanda Edward Moya comenta que as ações dos EUA estão subindo enquanto Wall Street aguarda uma movimentada semana de balanços, bem como os principais dados do Produto Interno Bruto (PIB) e índice de preços de gastos com consumo (PCE)no final desta semana, "que devem confirmar outra redução no ritmo de aperto das taxas de juros pelo Fed".
Sobre a temporada de balanços, o Bank of America diz que "mais de 30% dos ganhos [dos setores] Industriais, Tecnologia e Materiais estão sendo divulgados esta semana, setores fortemente expostos à China. Pode ser muito cedo para ver a reabertura da China em números, mas estamos atentos para saber se as empresas podem corresponder ao crescente otimismo do mercado em relação à segunda maior economia do mundo".
Com toda essa melhora no sentimento de risco, na renda fixa, no fim da tarde em Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,227%, o da T-note de 10 anos avançava a 3,524%, e o do T-bond de 30 anos aumentava a 3,692%. Já o dólar subia a 130,62 ienes, o euro avançava a US$ 1,0867, e a libra tinha queda a US$ 1,2374. O índice DXY subiu 0,12%, aos 102,138 pontos.
O euro foi fortalecido por uma rodada de comentários de membros do BCE. Hoje, a presidente da instituição, Christine Lagarde, reiterou que as taxas de juros ainda terão que subir "significativamente e em ritmo constante para atingir níveis suficientemente restritivos".Já o dirigente do BCE e presidente do BC da Eslováquia, Peter Kazimir, afirmou que, embora a queda da inflação seja uma boa notícia, não há razão para diminuir o ritmo das altas das taxas de juros. "Acredito que precisamos implementar mais duas altas de 50 pontos-base", escreveu, em comentário.
Também no front cambial, o mercado reagiu à notícia de que os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Argentina, Alberto Fernández, querem criar uma moeda comum sul-americana para transações comerciais e financeiras. Para a Fitch, a criação de uma moeda comum teria muitas implicações nas análises de crédito de ambos os países. "Não temos muito o que dizer por enquanto. Acredito que os dois países ainda estão explorando a ideia", disse o diretor sênior de soberanos da Fitch, Todd Martinez, em evento organizado pela agência de risco sobre América Latina.
Já a Eurasia enfatiza que a chance de uma iniciativa como essa prosperar é baixa. A consultoria aponta que as instabilidades fiscais das economias dos dois países, o grave problema inflacionário da Argentina e a depreciação do peso nos últimos anos são alguns dos principais obstáculos para sustentabilidade de uma moeda comum.
Entre as commodities, na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para março de 2023 fechou em queda de 0,02% (US$ 0,02), a US$ 81,62 o barril, enquanto o Brent para o mesmo mês, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em alta de 0,64% (US$ 0,56), a US$ 88,19 o barril. Investidores continuam reagindo ao possível aumento na demanda da China após o feriado. Para o Swissquote, o frio na Europa e altas do preço do gás natural também devem apoiar mais os preços do óleo.(Letícia Simionato - [email protected])
CÂMBIO
Após uma manhã de instabilidade, o dólar à vista se firmou em terreno negativo no mercado doméstico de câmbio ao longo da tarde, alinhando-se ao sinal predominante de baixa da moeda americana em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities. Com agenda de indicadores esvaziada e liquidez reduzida, em meio ao feriado de Ano Novo Lunar na China, a divisa fechou a sessão desta segunda-feira, 23, em leve queda (0,15%), cotada a R$ 5,20, após oscilar entre mínima a R$ 5,1655 e máxima a R$ 5,2210.
Segundo operadores, depois de uma sequência de três pregões de alta e de uma valorização de 1,98% do dólar na semana passada, havia espaço para um respiro do real, dado o ambiente externo propício ao risco. O vaivém das versões em torno da criação de uma suposta moeda única entre Brasil e Argentina (na verdade uma unidade de troca para fins comerciais) foi monitorado, mas não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio. Falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Buenos Aires sobre papel mais ativo do BNDES em financiamento a outros países, contudo, trouxeram preocupações.
Parte da alta do dólar pela manhã foi atribuída ao desconforto com a piora das expectativas de inflação reveladas pelo Boletim Focus, o primeiro após as críticas do presidente Lula ao nível das metas de inflação e à autonomia do Banco Central. A mediana das projeções para o IPCA deste ano subiu de 5,39% para 5,48% (de 5,23% há um mês). Houve também deterioração das estimativas para 2024 (de 3,70% para 3,84%), ao passo que a expectativa para 2005 se manteve em 3,50%. Amanhã, sai o IPCA-15 de janeiro. A mediana de Projeções Broadcast é de 0,52%, idêntica à variação registrada pelo índice em dezembro.
Os altos e baixos do dólar por aqui também estiveram ligados ao comportamento do índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis pares fortes. Não por acaso, a mínima do dólar, na casa de R$ 5,16, se deu quando o índice tocou território negativo, aos 101,589 pontos. E a divisa voltou ao nível dos R$ 5,20 na reta final dos negócios justamente quando o DXY flertou com o patamar dos 102,200 pontos.
O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, observa que, a despeito do soluço hoje, o DXY vem perdendo força com a perspectiva de aperto monetário menos intenso pelo Federal Reserve, o que favorece a moeda brasileira.
"O pano de fundo local não mudou, tem muita preocupação como fiscal. Mas o sentimento global melhorou, com alta das commodities. O Brasil também continua muito atrativo para 'carry trade' porque os juros não vão cair tão cedo", diz Rolha, para quem o dólar, após o estresse no início do ano, passa por uma acomodação. "Tem gordura para queimar ainda, mas quando caia baixo de R$ 5,10, aparece uma demanda grande de compra".
Após declarações de diversos dirigentes do BC americano sugerindo desaceleração do ritmo de elevação dos juros, plataforma de monitoramento do CME Group mostrou hoje 99,9% de chances de o Fed anunciar alta da taxa básica - atualmente na faixa entre 4,25% e 4,50% - em 25 pontos no dia 1° de fevereiro.
"O dólar vem se depreciando recentemente em relação a outras moedas globais em resposta de sentimento de inflação mais benigna nos Estados Unidos, o que abre espaço para Fed mudar ritmo de alta e se aproximar do fim ciclo de normalização monetária", afirma a sócia da Legend Investimentos Fabiana Cataldo.
Por aqui, causou rebuliço declaração do ministro da Argentina, Sergio Massa, ao Financial Times, no domingo, dando conta de que há conversas para criação de moeda única entre Brasil e Argentina, que poderia ser adotada por outros países da região, à semelhança do euro.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressalta que há muitos anos é discutida a intenção de construir uma moeda (digital ou não) que possa ser usada como unidade de pagamentos para o comércio dentro do Mercosul e que há até discursos do ex-ministro Paulo Guedes sobre o tema. "Ao que tudo indica, o governo argentino quis 'ganhar' em cima da notícia de que os dois governos vão iniciar estudos e acabou falando em moeda comum. A Argentina tem eleições em 2023 e o apoio de Lula é visto como relevante", afirma Oliveira, em nota.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Massa assinaram memorando conjunto para simplificação e modernização de acordo de pagamentos em moedas locais. O documento, como antecipado pelo Broadcast Político, dá início a estudos para criação de unidade com de troca entre os dois países restrita a transações comerciais e financeiras. (Antonio Perez - [email protected])
18:22
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.20000 -0.1479 5.22100 5.16550
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5211.000 -0.19153 5230.500 5172.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5225.000 0 5235.000 5222.000