A discussão em torno da meta de inflação entrou de vez no noticiário nesta quinta-feira, levando a uma deterioração forte dos ativos domésticos. Desde a manhã circulavam nas mesas de operação informações da imprensa que davam conta de que o Banco Central estaria disposto a debater sobre o alvo a ser perseguido pela autoridade monetária. À tarde, o Broadcast publicou que a equipe econômica recebeu uma sinalização do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, para uma análise sobre a meta de 2024, embora o tema não esteja previsto na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) da quinta-feira que vem (16). A possibilidade foi levada por Campos Neto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antes mesmo da elevação do tom nas críticas ao BC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e prevê um eventual aumento da meta de 2024 de 3% para 3,5%. O que preocupou os agentes é que a informação sobre essa discussão veio a público em um momento de pressão total sobre o BC, especialmente por parte de parlamentares da base aliada. Teme-se ainda que o assunto domine a opinião pública, em um momento em que o mercado preferiria ver o arcabouço fiscal e a reforma tributária no centro das atenções de governo e Congresso. Nos juros, os vencimentos médios e longos tiveram um salto, vitaminado ainda pela escalada dos Treasuries no exterior, enquanto a ponta curta acabou sendo beneficiada pelo IPCA de janeiro e as vendas no varejo abaixo do consenso. Desta forma, a curva acabou se inclinando e o diferencial entre as taxas de janeiro 2029 e janeiro 2025 saltou a 56 pontos, de 38 pontos-base no ajuste de ontem. O real teve de longe a pior performance entre as principais divisas negociadas no mundo. A moeda americana à vista subiu a R$ 5,2788 (+1,58%), maior cotação de fechamento desde 5 de janeiro. O Ibovespa terminou o dia aos 108.008,05 pontos (-1,77%). A queda do mercado acionário local foi amplificada pela piora dos índices de Nova York, que terminaram com recuo de 0,73% (Dow Jones), 0,88% (S&P 500) e 1,02% (Nasdaq). A liquidação lá foi impulsionada pela baixa dos papéis de tecnologia, após falhas em testes de inteligência artificial do Google. Alphabet, empresa controladora do buscador, cedeu 4,39% (classe A) e 4,54% (classe C). Além disso, cautela e perspectivas de manutenção de juros em níveis elevados ajudaram a aprofundar a inversão na curva de rendimentos de Treasuries de 2 e 10 anos à maior amplitude desde 1981.
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•CÂMBIO
•BOLSA
•MERCADOS INTERNACIONAIS
JUROS
A curva de juros continuou ganhando inclinação nesta quinta-feira, tendo como principal condutor o debate sobre mudanças nas metas de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que hoje teve novos capítulos e vem ganhando força dentro do governo e no mercado financeiro. As taxas curtas recuaram, com ajuda ainda do IPCA de janeiro e as vendas do varejo de dezembro abaixo do consenso. As demais subiram, tendo como fator extra a escalada dos juros dos Treasuries e o leilão do Tesouro com aumento do risco.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou en 13,44%, de 13,55% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 12,89%, de 12,83% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2027 saltou a 13,14%, de 12,92% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 encerrou em 13,45%, de 13,21%. O spread entre os contratos para janeiro de 2029 e janeiro de 2025 vem se alargando paulatinamente, saindo de zero na quinta-feira pós Copom para fechar hoje em 56 pontos-base.
O movimento coincide com a subida de tom do presidente Lula e da ala mais heterodoxa do governo contra a autonomia do Banco Central (BC), os atuais níveis da Selic e das metas de inflação. Enquanto uma possível mudança no status autônomo do BC vai se enfraquecendo na bolsa de apostas, por outro lado, ganha força a ideia de alteração dos níveis das metas. Circularam nas mesas de mercado mais cedo informações de que o CMN anteciparia a discussão para a reunião da semana que vem e também que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, teria sinalizado a integrantes do governo aumento do objetivo para este ano, de 3,25% para 3,5%.
Porém, segundo apuração do Broadcast, a alteração ainda não está na pauta da reunião do dia 16, mas há, de fato, disposição de Campos Neto para tal debate. Não para 2023, mas para 2024. Ele teria indicado um aumento do alvo de 3% para 3,5%, mudança que contribuiria para uma eventual reancoragem das expectativas, que não param de piorar. O Bank of America (BofA), por exemplo, elevou sua projeção para o IPCA de 2023, de 4,8% para 6,0%, acima dos 5,79% registrados em 2022.
"A sensação é que o Roberto Campos aquiesceu", resumiu o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal, para explicar o desenho da curva. Para ele, tal percepção afeta a estrutura a termo como um todo, DIs curtos e longos, "mas mais o longo". "Tem que aumentar o prêmio. Fica o risco de mais revisões à frente."
Em meio ao debate sobre as metas, o Santander Brasil aumentou hoje "no atacado" suas projeções para o IPCA ao longo dos próximos quatro anos: 2023 (5,4% para 5,9%), 2024 (3,5% para 3,7%), 2025 (3,0% para 4,0%) e 2026 (3,0% para 4,5%). Com isso, espera que a inflação do País supere o centro da meta até 2025, enquanto o alvo para 2026 ainda não foi definido.
O operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, André Alírio, afirma que o debate está permeado por questões políticas e ideológicas, mas começam a surgir estudos apontando fundamentação técnica para embasar uma possível elevação as metas. "Acredito que a discussão está se aproximando de um denominador comum para elevar. A meu ver, não teria grandes consequências. As metas em todo o mundo estão em xeque", diz. O ponto é para qual patamar o objetivo vai subir e se haverá uma contrapartida fiscal que também não pressione a atividade. Alírio alerta que já é nítido o efeito da escalada dos juros, por exemplo, no mercado de crédito. "Os fundos de crédito 'high grade' estão sentindo", conta.
A política monetária mais restritiva também já é percebida nos indicadores econômicos, como as vendas do varejo que saíram hoje. Houve queda de 2,6% em dezembro, na margem, no conceito restrito e alta de 0,4% no ampliado, ambas abaixo dos consensos de -0,8% e +0,8%. Sete das oito atividades do varejo recuaram.
Já o IPCA de janeiro (0,53%) subiu menos do que apontava a mediana das estimativas (0,57%), com desaceleração ante dezembro (0,62%) e leitura favorável dos preços de abertura. Por outro lado, é praticamente unânime a retomada do fôlego da inflação em fevereiro, em função dos ajustes de preços em combustíveis e Educação.
O exterior estava acomodado na primeira parte do dia, mas à tarde os yields dos Treasuries passaram a renovar máximas em sequência, elevando a pressão sobre os DIs. O da T-Note de dez anos, referência para a curva local, que pela manhã estava em baixa, virou para cima, tocando 3,68%, de 3,63% ontem. O movimento se deu após leilão de US$ 21 bilhões em T-Bond de 30 anos, que teve demanda abaixo da média.
E, enquanto no Brasil cresce a pressão do governo para o BC cortar os juros, o Banco Central do México (Banxico) elevou sua taxa básica em 50 pontos-base, surpreendendo o mercado, que esperava aperto de 25 pontos. Com isso, a taxa agora está em 11%, abaixo ainda da Selic brasileira de 13,75%.
Na gestão da dívida, o Tesouro foi bem sucedido na oferta de prefixados, vendendo integralmente os lotes de 10 milhões de LTN e 2 milhões de NTN-F, com risco para o mercado em DV01 de US$ 468 mil, ante apenas US$ 88 mil na semana passada, segundo a Necton Investimentos. As taxas saíram dentro do consenso, com exceção à do papel mais longo, a NTN-F 2033, que ficou abaixo. Em boa medida, o êxito está relacionado ao fim do período de hiato das instituições dealers, que vinha influenciando a colocação de lotes menores nas últimas operações. (Denise Abarca - [email protected])
CÂMBIO
O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 9, em alta de 1,58%, cotado a R$ 5,2788 - maior valor de fechamento desde 5 de janeiro (R$ 5,3523). Lá fora, a moeda caiu em relação a pares fortes e teve comportamento misto na comparação com as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, tendo o real apresentado de longe o pior desempenho entre seus pares.
Apesar dos sinais de desaceleração da inflação, reforçados hoje pela divulgação do IPCA de janeiro, cresce a apreensão com a desancoragem das expectativas inflacionárias, em meio ao debate cada vez mais candente sobre as metas de inflação. Com o avanço de hoje, o dólar já acumula alta de 3,98% em fevereiro e praticamente zerou as perdas no ano, que agora são apenas 0,02%.
Afora uma troca de sinais nas primeiras horas de negócios, quando desceu até a mínima a R$ 5,1734 (-0,44%), a divisa operou em alta ao longo de toda a sessão, com picos de estresse no fim da manhã e na meia hora final do pregão, quando voltou a superar a linha de R$ 5,27 e registrou máxima a R$ 5,2793 (+1,59%).
Causou desconforto pela manhã a notícia de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sob ataque cerrado do presidente Lula e da ala política do governo, cogitaria defender uma alteração na meta de inflação deste ano, de 3,25% para 3%. A próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) está marcada para 16 de fevereiro, mas há rumores de antecipação. No fim da tarde, investidores digeriram nova investida da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, contra a meta de inflação e o nível da taxa Selic.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a depreciação do real reflete o aumento dos prêmios de risco em razão da crescentes incerteza sobre a política econômica causada pelo ataque do governo ao Banco Central. Lima vê com estranheza a notícia de que Campos Neto estaria disposto a mudar a meta para 2023, o que só faria sentido em um debate mais amplo de alteração de objetivo para todo o horizonte relevante da política monetária.
"Quando se eleva a meta, tem que se tentar ancorar as expectativas nos novos patamares. Se for mudar a meta de acordo com o desenho político expressado pelo presidente, o custo para reancorar a expectativa será muito maior", afirma Lima, ressaltando que, no passado, mudanças de meta foram acompanhadas de postura mais dura do BC e até alta de juros, justamente para evitar deterioração das expectativas. "Mas agora o governo parece acreditar que vai mudar a meta e isso pode abrir espaço para queda dos juros, o que não faz sentido".
Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam, que antes mesmo de Lula subir o tom contra a política monetária, Campos Neto e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, haviam tratado reservadamente da necessidade de alterar as metas para 2024 e 2205. Campos Neto teria até sinalizado que eventual mudança da meta para 2024, de 3% para 3,5%, que seria menos danosa para a economia e contribuiria para ancoragem das expectativas.
Após encontro com o ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Gleisi disse hoje à tarde que meta de inflação de 3% é "inexequível" e questionou: "Nós vamos aceitar uma taxa de juros de 13,75%? Ela defendeu que Campos Neto vá ao Congresso explicar o nível da taxa Selic e disse que a política monetária não pode "jogar contra" o crescimento econômico e a geração de empregos.
Já visto como bombeiro de ocasião, Padilha disse desconhecer qualquer discussão no governo sobre mudar as metas de inflação e que, nos encontros que teve com Campos Neto, em nenhum momento o assunto veio à tona. Padilha observou, no entanto, que no mundo inteiro "autoridades monetárias vão ao Congresso Nacional" e que "não há tabu" sobre o tema. No meio do morde-e-assopra dentro do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) marcou posição a favor da autonomia do BC ao dizer que "com relação à independência do Banco Central, esse assunto não retroagirá".
Lima, da Western Asset, ressalta que o debate em torno da meta vem no momento em que, dados os sinais de desinflação e de arrefecimento da atividade, o mercado já trabalhava com início da redução da taxa Selic em meados deste ano, o que agora parece menos provável. "Havia o risco fiscal, já incorporado nos preços. Agora tem a questão da meta, que acaba elevando o risco da política econômica. O ambiente externo é mais favorável para moedas emergentes, basta ver o desempeno do peso mexicano, que voltou a níveis pré-pandemia. Mas o real não consegue acompanhar", afirma.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve queda ao longo do dia e registrou mínima aos 102,641 pontos. Quando o mercado local fechou, era negociado aos 103,233 pontos, em baixa de 0,17%. Entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities o desempenho foi misto. Destaque para o peso mexicano, que ganhou quase 1% em relação ao dólar, após o Banco Central do México (Banxico) elevar a taxa básica de juros em 50 pontos-base, a 11%, em decisão que contrariou a expectativa majoritária do mercado de subida de 0,25 ponto porcentual. (Antonio Perez - [email protected])
18:28
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.27880 1.5838 5.27930 5.17340
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5303.500 1.60935 5309.500 5189.500
DOLAR COMERCIAL 5341.500 1.77025 5341.500 5341.500
BOLSA
O Ibovespa devolveu o avanço de quase 2% do dia anterior e zerou a recuperação da semana (agora -0,47%), vindo de perda de 3,38% no intervalo entre os dias 30 de janeiro e 3 de fevereiro, na abertura do mês. Hoje, acentuando mínimas ao longo da tarde, a referência da B3 cedeu 1,77%, aos 108.008,05 pontos, entre piso de 107.766,59 (-1,99%) e máxima de 110.045,92 na sessão, saindo de abertura aos 109.951,97 pontos. Após a recuperação vista ontem, o giro financeiro voltou a se enfraquecer nesta quinta-feira, limitado a R$ 23,9 bilhões. Com o desempenho de hoje, o Ibovespa eleva as perdas do mês a 4,78% e volta a ceder terreno no ano (-1,57%), após a oscilação positiva do dia anterior.
Na Bolsa, após a retomada de ontem, o dia foi de perdas distribuídas pelas ações e setores de maior peso no Ibovespa, como as de commodities e as do setor financeiro. Na ponta negativa do índice, além de Azul (-11,85%), exposta à pressão sobre o câmbio, destaque para Gerdau (PN -7,93%) e para Gerdau Metalúrgica (-7,80%), após o Goldman Sachs rebaixar a ação PN da Gerdau, de compra para neutro, e cortar o preço-alvo, de R$ 38,00 para R$ 31,00. Entre as perdedoras da sessão, destaque também para Soma (-8,81%). No lado oposto, Pão de Açúcar (+1,49%), à frente de Natura (+1,46%), WEG (+0,85%) e Suzano (+0,76%) - apenas sete ações do Ibovespa fecharam a sessão no positivo.
Depois do respiro de ontem - quando o presidente Lula não fez comentários sobre o nível da Selic, nem críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto -, a aversão ao risco doméstico voltou a dar o tom nesta quinta-feira, afetando também o câmbio e os juros futuros. Assim, ficou totalmente no retrovisor a desaceleração do IPCA em janeiro, divulgada pela manhã, em leitura também abaixo da mediana das expectativas para o mês.
Após a trégua da sessão anterior, quando o mercado tomou nota de declarações em tom apaziguador do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) sobre a disputa entre governo e BC quanto a metas de inflação e taxa de juros, o tema dominante voltou a ser a queda de braço dos últimos dias, ao que parece se inclinando a favor do Executivo, não da autarquia. Relatos da imprensa apontam que Campos Neto estaria disposto a antecipar a revisão do centro da meta, levemente para cima (de 3,25% para 3,50%), em tentativa de acomodação com o governo, que detém a maioria de assentos no Conselho Monetário Nacional (CMN).
"A discussão do momento não deveria ser essa, sobre a política monetária, o que afeta diretamente as expectativas na medida em que a meta é um balizador. Não deveria haver discussão sobre a meta em si. Mas já que a discussão foi colocada, melhor que se decida logo do que esperar até junho (quando a revisão seria avaliada, conforme o cronograma)", diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.
Ainda assim, "seria melhor se, em vez de questionar a política monetária, o governo estivesse olhando para seu lado: o fiscal, os gastos. A discussão até agora, antes de o governo entrar no assunto, era sobre quando a Selic começaria a ser cortada", acrescenta a economista.
"Uma das grandes vitórias do último governo foi aprovar a independência do Banco Central, que resguarda a autarquia de não ter os seus poderes tolhidos, mesmo com troca de parte dos diretores. Depois do ataque recebido de Lula, a indicação de que Campos Neto pode rever meta de inflação é algo complicado, ainda que pequena, de 25 pontos-base. Mostra que pode estar começando a ceder (às pressões). É preocupante, uma luz amarela, mas ainda é preciso esperar para ver (o que de fato acontecerá)", diz Rodolfo Carneiro, especialista da Valor Investimentos.
"Há disputa de narrativas, com muita coisa contratada (em promessas), do que o presidente Lula faria, e uma taxa de juros de dois dígitos, que prejudica a estratégia do governo. O grande fator agora é o rumor de que o presidente do BC vai elevar um pouco a meta de inflação, o que causa desconforto especialmente para os ativos de risco, como os da Bolsa", diz Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3, observando que o governo parece "querer entregar, cada vez mais rápido, o que prometeu".
"Ontem teve alívio com o ministro Padilha, um pouco na linha do 'deixa disso', de que não há fritura do Banco Central e de que a autonomia será mantida. E de que não há movimento também para reverter a privatização da Eletrobras, o que contribuiu para acalmar então o mercado", diz o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, referindo-se à descompressão tanto em câmbio e juros como também à recuperação do Ibovespa, no dia anterior.
Pela manhã, o IBGE divulgou hoje a pesquisa mensal do varejo referente a dezembro, em queda forte (-2,6%) ante novembro, quase no piso das expectativas para o mês, observa Gala, corroborando percepção de desaceleração do nível de atividade, com efeito para o PIB e também para a inflação, acrescenta o economista.
"A tendência de queda no setor (de varejo) observada nos últimos meses é um sinal de que a taxa de juros já começa a influenciar, além do aumento do endividamento e da inadimplência das famílias, o que vem diminuindo o ímpeto por gastos em consumo", observa em nota Rafael Perez, economista da Suno Research, que projeta que a tendência de desaceleração do varejo tende a se manter nos próximos meses. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:28
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 108008.05 -1.76754
Máxima 110045.92 +0.09
Mínima 107766.59 -1.99
Volume (R$ Bilhões) 2.39B
Volume (US$ Bilhões) 4.57B
18:28
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 108070 -2.14153
Máxima 110880 +0.40
Mínima 107925 -2.27
MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York devolveram os ganhos da abertura e fecharam o pregão desta quinta-feira no vermelho, à medida que o segundo tombo consecutivo da Alphabet agravou a liquidação de ações de tecnologia. Incertezas sobre os esforços do Google na área da inteligência artificial mantiveram a pressão sobre a ação, que contrapôs um impulso gerado por balanços positivos de Walt Disney e PepsiCo. O movimento amplificou a cautela pelas perspectivas de manutenção de juros em níveis elevados, que pesou sobre petróleo e ajudou a aprofundar a inversão na curva de rendimentos de Treasuries de 2 e 10 anos à maior amplitude desde 1981. À tarde, os retornos da ponta longa viraram para cima, após leilão de demanda aquém da média recente de T-bonds de 30 anos. Já no câmbio, o dólar reduziu perdas ante rivais e emergentes, com o peso mexicano impulsionado por aperto monetário mais firme que o esperado do BC local.
Investidores estão cada vez menos confiantes de que o Federal Reserve (Fed) chegará ao fim deste ano em posição para afrouxar a política monetária. Segundo plataforma de monitoramento do CME Group, no final da tarde, o mercado de juros futuros americanos precificava 5,1% de chance de que o BC americano reduza a taxa dos Fed Funds até dezembro, abaixo dos cerca de 7% ontem. "O Fed não vai parar de aumentar as taxas de juros até que o núcleo da [inflação] PCE esteja com uma tendência acentuadamente de baixa e isso pode não acontecer até o verão [no Hemisfério Norte]", explica o analista Edward Moya, da Oanda.
O cenário dificultou a manutenção do rali observado nas bolsas de Nova York pela manhã. Assim, no fechamento, o índice Dow Jones recuou 0,73%, a 33.699,88 pontos; o S&P 500 cedeu 0,88%, a 4.081,50 pontos; e o Nasdaq baixou 1,02%, a 11.789,58 pontos. A ação da Alphabet recuou 4,37%, no segundo dia consecutivo de perdas, após problemas com um teste do serviço de chatbot. Na esteira da controladora do Google, Apple caiu 0,69%, Meta perdeu 3,00% e Amazon cedeu 1,81%. Na contramão, Exxon Mobil ganhou 0,38%, após a notícia de que a petroleira planeja uma reestruturação que ocasionará em perdas de empregos. Já o papel da Disney reverteu o avanço de mais cedo e terminou com baixa de 1,27%.
A aversão ao risco em Wall Street impediu o petróleo de se aproveitar de um dólar mais fraco na sessão. O barril do WTI para março negociado em Nova York encerrou em baixa de 0,52%, a US$ 78,06, enquanto o do Brent para abril perdeu 0,69%, a US$ 84,50, em Londres. Durante a madrugada, as cotações chegaram se beneficiar de incertezas sobre oferta, em meio ao abastecimento irregular no Oriente Médio por conta de um terremoto na Turquia. "Os preços do petróleo estão sendo arrastados para baixo à medida que o novo extremo da inversão da curva de rendimento dos Treasuries sugere que uma desaceleração ampla está chegando", afirmou Moya.
Perto do fechamento das bolsas de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,500%, o da T-note de 10 anos avançava a 3,673%, e o do T-bond de 30 anos aumentava a 3,743%. Os prêmios viraram para cima depois que o Departamento do Tesouro dos EUA leilou US$ 21 bilhões em T-bonds de 30 anos e enfrentou demanda abaixo da média recente, de acordo com o BMO Capital Markets.
No começo da tarde, a distância entre os juros dos papéis de dois e 10 anos chegou a superar 0,85 ponto porcentual, maior amplitude desde 1981, de acordo com a Dow Jones Newswires. Historicamente, esse fenômeno - em que o rendimento de curto prazo supera o de mais longo prazo - é interpretado como uma sinalização de recessão à frente nos EUA, geralmente em um horizonte de 12 a 18 meses. No entanto, o persistente vigor do mercado de trabalho tem levantado dúvidas sobre se, de fato, haverá uma contração na economia.
Seja como for, o quadro de incertezas reduziu as perdas do dólar ao longo deste sessão. No fim da tarde em Nova York, a libra avançava a US$ 1,2114, depois que o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, reforçou expectativa por mais altas de juros. Já o euro aumentava a US$ 1,0735 e a o dólar subia a 131,64 ienes. Tudo somado, o índice DXY - que mede a moeda americana ante seis rivais fortes, fechou em queda de 0,18%, a 103,270 pontos.
Ante emergentes, o dólar recuava a 18,7922 pesos mexicanos, após decisão do BC do México. Para a Capital Economics, o aumento de meio ponto porcentual na taxa básica foi maior que o esperado e reflete o avanço da inflação de serviços. "Cortes de preços provavelmente virão um pouco mais tarde do que havíamos previsto", diz a consultoria. (André Marinho - [email protected])