Os mercados cambial e acionário brasileiro encerraram a sessão desta terça-feira descolados de seus pares americanos, uma vez que foram pressionados de novo por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto o Banco Central hasteou a "bandeira branca" com o governo ao reconhecer que o pacote fiscal proposto deveria atenuar o risco fiscal, Lula criticou outra vez o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e disse que ele deve explicações ao Congresso. Lá, por sua vez, deputados aliados do governo disseram que vão apresentar requerimentos para ouvi-lo a respeito da taxa de juros. O PSOL, da base do governo, quer ainda um projeto de lei para revogar a autonomia da instituição. Por mais que tenham pouca adesão entre os parlamentares, o fato de ideias como essas circularem trazem incômodos para os agentes do mercado, que prefeririam ver o governo e o Congresso debatendo temas fiscais, por exemplo. Nas falas de hoje ainda, Lula atacou o mercado e disse ser necessário construir uma narrativa contrária. Assim, o dólar à vista subiu a R$ 5,1998 (+0,50%) e o Ibovespa desceu aos 107.829,73 pontos (-0,82%). Nos juros futuros, as taxas de curto e médio prazo mantiveram a queda da manhã, ainda sob efeito dos acenos do BC ao governo. As taxas mais longas, contudo, ficaram pressionadas pelo ambiente que arrastou para baixo o real e a Bolsa. No exterior, depois de um titubeio mais cedo, a tarde foi de corrida ao risco com o investidor assimilando o primeiro discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após o payroll forte de janeiro. Ele reconheceu que o vigor do mercado de trabalho pode retardar a desinflação nos Estados Unidos, mas salientou que o processo já começou. O índice DXY caiu aos 103,427 pontos (-0,19%) e o da T-note de 2 anos subiu para 4,479%. Nas bolsas de Nova York, Dow Jones subiu 0,78%, S&P 500 ganhou 1,29% e Nasdaq avançou 1,90%.
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•BOLSA
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•MERCADOS INTERNACIONAIS
CÂMBIO
Em dia marcado por instabilidade e troca de sinais, o dólar se firmou em terreno positivo ao longo da tarde e emendou nesta terça-feira, 7, a terceira sessão consecutiva de valorização no mercado doméstico de câmbio. Entre mínima a R$ 5,1335 e máxima a R$ 5,2077, a divisa encerrou o pregão em alta de 0,50%, cotada a R$ 5,1998 - maior valor de fechamento desde 23 de janeiro. Em fevereiro, a moeda já acumula ganhos de 2,42%.
Segundo operadores, os ataques ao Banco Central promovidos pelo presidente Lula, que voltou a criticar hoje o nível da taxa de juros e a gestão de Roberto Campos Neto à frente do BC, mais uma vez impediram que o real acompanhasse o sinal de baixa da moeda americana frente a divisas emergentes pares, como peso mexicano, chileno e rand sul-africano, e de países exportadores de commodities.
Termômetro do desempenho do dólar frente a moedas fortes, em especial o euro e o iene, o índice DXY ameaçou romper o piso de 103,000 pontos, em meio à fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Quando o mercado local fechou, marcava 103,459 pontos, queda de 0,13%. Embora tenha ponderado que pode elevar os juros além do esperado pelo mercado caso a economia americana continue dando sinais fortes, Powell repetiu que processo de desinflação está em curso mesmo o mercado de trabalho ainda bastante aquecido e disse esperar que 2023 seja um ano de "quedas significativas" da inflação.
"Lá fora, o mercado ficou mais positivo depois da fala de Powell, mas aqui continuou pesado. A ata do Copom pela manhã foi mais amigável ao governo, mas Lula falou novamente contra o BC, o que causou certo estresse", afirma líder de renda variável da Manchester Investimentos Marco Noernberg.
Em entrevista coletiva, Lula pediu a Campos Neto "responsabilidade com o País" e disse que o presidente do BC deve explicações ao Congresso Nacional. Em alusão à substituição do diretor de Política Monetária da autarquia, Bruno Serra, cujo mandato termina em 28 de fevereiro, Lula disse que o governo tem "mais gente para indicar" e jogou a bola no colo de Fernando Haddad, ministro da Fazenda. "Eu espero que o Haddad esteja vendo, esteja acompanhando e esteja ansioso do que tem que fazer".
O presidente disse que Campos Neto tem mais responsabilidade do que Henrique Meirelles quando comandava o BC, em alusão a sua primeira passagem pela Presidência da República. "Porque naquele tempo que o Meirelles era do Banco Central, era fácil de jogar a culpa no presidente da República. Agora não. Agora a culpa é do Banco Central", afirmou.
Para o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, o mercado assumiu uma postura bastante "compradora" com recomposição técnica de posições defensivas após o dólar ter furado o piso de R$ 5,00, nível que não era visto como sustentável diante das incertezas no campo político e fiscal. "O ministério da Fazenda está fazendo seu trabalho, mas Lula segue na briga com o mercado. Parece que escolheu a figura de Campos Neto como bode expiatório", afirma Caciano, que vê um teto de R$ 5,22 para a taxa de câmbio no curto prazo.
Pela manhã, Haddad disse que a ata do Copom "veio melhor" que o comunicado divulgado no dia 1º, colocando pontos importantes sobre o trabalho da Fazenda. Ontem à noite, o ministro chegou a dizer que o comunicado do Copom na semana passada "poderia ter sido mais generoso", justamente em razão das medidas anunciadas para redução o rombo fiscal deste ano.
Na ata, o Copom observou que projeções de déficit primário feitas pelo mercado para 2023 "são sensivelmente menores do que o previsto no orçamento federal, possivelmente incorporando o pacote fiscal" de Haddad. "O Comitê manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei, mas reconhece que a execução de tal pacote atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação", afirmou o BC.
Em relatório intitulado "Hawkish e construindo pontes", o economista do BTG Pactual Alvaro Frasson afirma que é possível interpretar a ata como "tentativa de buscar pontos em comum com o governo", mas "mantendo a análise que está a cargo da política fiscal as sinalizações positivas para que as expectativas de inflação voltem a convergir para o centro da atual meta de inflação".
Economistas da XP observam que a taxa de câmbio brasileira apresentou volatilidade e desempenho inferior aos pares emergentes nas últimas semanas, em meio à "piora das perspectivas fiscais e ruídos no ambiente político doméstico".
"Considerando tanto fatores estruturais quanto cíclicos, nossos modelos sugerem que a taxa de câmbio poderia estar entre R$/US$ 4,50 e R$/US$ 4,85", afirmam os economistas da XP. "Há espaço para fortalecimento do real ao longo de 2023. No entanto, isso depende, em grande medida, de uma menor percepção de riscos domésticos, sobretudo no campo fiscal". (Antonio Perez - [email protected])
18:27
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.19980 0.5045 5.20770 5.13350
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5232.500 1.23827 5237.000 5151.500
DOLAR COMERCIAL 5236.804 02/02
BOLSA
O Ibovespa acompanhou a alguma distância a melhora dos índices de Nova York, que se ajustaram em parte da tarde a novos comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, bem recebidos a princípio pelos investidores globais. Por lá, os ganhos não se sustentaram em parte da etapa vespertina, mas as três referências de NY, após terem oscilado para mínimas da sessão no meio da tarde, também com Powell, conseguiram fechar o dia ainda em alta, de 0,78% (Dow Jones), 1,29% (S&P 500) e 1,90% (Nasdaq).
Aqui, sem ter mudado de sinal, o Ibovespa encerrou esta terça-feira em baixa de 0,82%, aos 107.829,73 pontos, em sessão, como ontem, de volume financeiro enfraquecido, hoje a R$ 22,5 bilhões. Entre a mínima e a máxima do dia, o Ibovespa oscilou entre 107.233,94 (-1,37%), menor nível intradia desde 5 de janeiro, e 109.037,00 pontos, saindo de abertura aos 108.726,78. Na semana, o índice cede 0,64%; no mês, 4,94% e, no ano, 1,74%. O nível de fechamento também foi o menor desde o último dia 5 (107.641,32 pontos), vindo o Ibovespa, ontem, de leve ganho de 0,18% que havia interrompido série de três perdas, todas acima de 1%.
Se, nos Estados Unidos, Powell falou em alguns momentos o que o mercado gostaria de ouvir, a pressão em base diária do presidente Lula sobre o "cidadão" Roberto Campos Neto não passa despercebida aqui, mantendo os investidores na defensiva com relação à política monetária vis-à-vis a política fiscal, no que vai ganhando aspecto de queda de braço - e junto a alguém que, como Lula, tem mandato temporalmente definido.
Hoje, o PSOL, partido próximo ao governo, indicou que apresentará, ainda nesta terça, proposta para pôr fim à independência do BC. Líder do PSOL na Câmara, o deputado Guilherme Boulos (SP) afirmou hoje que o presidente do Banco Central é um "infiltrado" do ex-presidente Jair Bolsonaro - e que faria "boicote" à economia com a manutenção da Selic em nível alto.
Em encontro com a "mídia independente" hoje, ao mencionar a perspectiva de crescimento "pífio" este ano, Lula pareceu atribuir a situação a Campos Neto. Hoje, a ata do Copom, mais branda do que o comunicado sobre a decisão de política monetária da semana passada, quando o BC manteve a Selic em 13,75% ao ano, foi interpretada por parte dos analistas como um gesto de contemporização ao governo.
Mas não o suficiente para aplacar as críticas de Lula, que retomou a ofensiva nesta terça-feira, sugerindo que pode interferir na instituição. Lembrou que "temos duas pessoas no Conselho Monetário Nacional e tem mais gente para a gente indicar no Banco Central". Os mandatos de dois diretores expiram no fim do mês - o de Política Monetária, Bruno Serra, e o de Fiscalização, Paulo Souza.
"A ata do Copom não veio em tom tão duro quanto a impressão deixada pelo comunicado da semana passada", observa Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Contudo, "a ata mostra ainda preocupação com a orientação da política fiscal e a responsabiliza pela manutenção da taxa de juros elevada por período prolongado", acrescenta.
"Há muita incerteza com relação à coordenação entre as políticas fiscal e monetária, elevando a percepção de risco sobre a economia brasileira, o que se agrava com as críticas do presidente Lula sobre a independência do BC e o sistema de metas de inflação, refletindo-se nos prêmios para o financiamento da dívida do Tesouro", conclui a economista.
"O mercado segue atento aos palpites de Lula sobre o Banco Central, o que traz volatilidade. No meio da tarde, tivemos a fala do Powell, em que reforçou, em dado momento, que aumentos de juros podem ainda se fazer necessários, caso a inflação e a economia se mantenham fortes", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Entre as empresas e os setores na B3, ele chama atenção para Petrobras na sessão, descolada da alta de mais de 3% para o Brent, refletindo o anúncio, pela estatal, de redução no preço do diesel A nas refinarias, de 8,8%, o que o "mercado interpretou como um começo de interferência do novo presidente", levando em conta que o petróleo se mantém em patamar elevado, assim como o dólar frente ao real. "Não faria tanto sentido essa redução agora", aponta Moliterno.
Para Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3, a fala de Powell "foi um banho de água fria quanto à expectativa para os juros lá fora", depois da forte leitura da sexta-feira passada sobre a geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos em janeiro, muito acima do esperado para o mês. "Powell disse hoje que se os dados do mercado de trabalho seguirem fortes, o pico das taxas de juros terá de ser mais alto", acrescenta Esteves, o que contribuiu também, aqui, para o avanço do dólar frente ao real na sessão, em alta de 0,50%, a R$ 5,1998.
No Brasil, além do prosseguimento das críticas de Lula apesar do tom "amigável" da ata do Copom, Esteves enfatiza o corte do diesel, interpretado por analistas como "precipitado" e sinal de "intervenção" do governo nos preços da Petrobras.
Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque nesta terça-feira para Locaweb (-6,90%), BRF (-6,83%) e Marfrig (-5,15%), com Embraer (+3,10%), Minerva (+1,48%) e Gerdau (+1,43%) na ponta oposta. Petrobras ON e PN cederam respectivamente 0,52% e 0,62%, enquanto Vale ON avançou 0,66%. As ações de grandes bancos encerraram o dia com perdas até 2,31%, em Itaú PN, antes da divulgação do balanço trimestral da instituição financeira. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 107829.73 -0.82031
Máxima 109037.00 +0.29
Mínima 107233.94 -1.37
Volume (R$ Bilhões) 2.25B
Volume (US$ Bilhões) 4.35B
18:27
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 108045 -0.87615
Máxima 109695 +0.64
Mínima 107445 -1.43
JUROS
Os juros futuros de curto e médio prazos fecharam a terça-feira em queda, enquanto os longos terminaram em alta. A leitura da ata do Copom trouxe alívio até os contratos intermediários, mas o restante da curva ficou sujeito à volatilidade em dia de discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e nova bateria de críticas do presidente Lula ao Banco Central (BC) e ao mercado financeiro. A novidade da ata foi o aceno do BC à Fazenda, ajudando a distensionar o clima de confronto entre o governo e autoridade monetária, o que trouxe algum conforto, embora pouco tenha alterado as apostas para a Selic nos próximos meses.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,68%, de 13,80% ontem, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 13,22% para 13,15%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 13,19% (13,08% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 terminou em 13,41%, de 13,24%.
Ao contrário dos últimos dias, hoje a curva ganhou inclinação, com as taxas curtas e intermediárias em queda firme, enquanto as longas alternaram estabilidade e alta. Até chegaram a inverter para queda em reação pontual às falas de Powell e acompanhando a virada do dólar para baixo, mas que também não se sustentou. O spread entre os contratos para janeiro de 2029 e janeiro de 2025 voltou a abrir, a 26 pontos-base, de cerca de apenas 2 pontos ontem.
O mercado gostou da opção do BC de fazer um gesto político ao governo, mas sem flexibilizar sua convicção de buscar a convergência da inflação às metas ainda que a desancoragem das expectativas esteja se ampliando. Na ata, o BC diz que a revisão do arcabouço fiscal reduz a visibilidade das contas públicas adiante, mas, de outro lado, também que alguns membros notaram que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda deveria atenuar o risco fiscal e que “será importante acompanhar os desafios na sua implementação".
A mensagem vem um dia depois do ministro Fernando Haddad, dizer que o BC "poderia ter sido mais generoso" com o governo no comunicado do Copom. E hoje ele pareceu ter se dado por satisfeito. "A ata foi mais amigável em relação aos próximos passos que precisam ser tomados. Considero que a ata deu um passo e é melhor que o comunicado", disse Haddad.
Para Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, a ata trouxe a mesma mensagem dura do comunicado. Ela destaca que, para justificar a desancoragem das expectativas, uma das hipóteses levantadas pelo BC é a de que ele pode estar sendo interpretado como leniente, à qual o BC responde reafirmando seu compromisso de perseguir a convergência da inflação para as metas. Na avaliação da economista, se o BC perceber esse movimento, já está com uma postura mais dura.
"Então o que vale daqui para frente são três pontos: o apontamento do próximo diretor do BC e qual é a postura dele, se de alinhamento técnico; o próprio arcabouço fiscal e como consegue desenhar ambiente de redução dívida/PIB e a discussão da meta, se vai ter mudança ou não", listou.
Haddad admitiu ter conversado esta manhã com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, sobre uma possível mudança. Entretanto, ele não confirmou se tema estará na pauta da próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que ocorrerá em 16 de fevereiro.
À tarde, novas declarações de Lula reforçaram a percepção de tentativa de ingerência política sobre o trabalho do Banco Central na figura do presidente Campos Neto, à qual recomendou que o Senado fique "vigilante". Lula desferiu ainda comentários críticos ao mercado - "nunca vi essa gente (mercado) falar em política social" e "a gente tem que construir narrativa contrária à do mercado".
Mais cedo, Campos Neto defendeu a autonomia do BC e afirmou que visa principalmente desvencilhar o ciclo de política monetária do ciclo político, porque os dois ciclos têm “diferentes lentes e diferentes interesses”.
No exterior, o destaque da agenda foi o discurso de Powell, muito aguardado após o choque do payroll na sexta-feira, com criação de vagas em janeiro bem acima do esperado. Ele reconheceu que todos foram surpreendidos e, no geral, a leitura do mercado é a de que o plano de voo está mantido.
Nogueira, da Tenax, ressalta a sinalização de Powell de que é possível um cenário em que ainda há moderação do emprego combinando com processo de desinflação. "Ele não desqualificou as projeções que colocam a taxa terminal a 5,1% com mais duas altas de 25 pontos. De maneira geral, o discurso não traz novidade ante a semana passada. É um BC que caminha para o fim do ciclo", afirma a economista, para quem o cenário mais provável após as duas altas de 25 pontos é que os juros fique parados por bastante tempo. "Não vão ter espaço para flexibilização."
De todo modo, os juros dos Treasuries subiram, com a taxa da T-Note batendo máximas em 3,67%.
Na gestão da dívida, o leilão de títulos públicos foi novamente fraco, a exemplo das últimas operações. O Tesouro vendeu apenas cerca de 170 mil NTN-B, das 450 mil ofertadas, e, no leilão de LFT, foram 341.350 títulos do lote de até 500 mil. Vale destacar que os dealers estão no chamado período de hiato, no qual a participação nos leilões não é considerada para a manutenção de seu status. (Denise Abarca - [email protected])
Volta
MERCADOS INTERNACIONAIS
Declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, imprimiram volatilidade às bolsas de Nova York, que se acomodaram após um forte impulso inicial. Powell reiterou que a tendência desinflacionária começou nos EUA, mas alertou que o vigor do mercado de trabalho pode retardar o processo. No fim, depois da dificuldade em firmar um direcionamento, as bolsas de Nova York conseguiram fechar no azul, com ações de techs e bancos em destaque. O sinal negativo predominou no dólar ante rivais e emergentes, embora a queda do índice DXY tenha sido enviesada pela particular força do iene. O movimento do câmbio amplificou o impulso que o petróleo vinha recebendo das restrições de oferta, ainda que a retomada de um terminal de petróleo na Turquia tenha arrefecido parte das preocupações sobre o impacto do terremoto na região. Em segundo plano, as expectativas para o discurso do presidente americano, Joe Biden, sobre o Estado da União no Congresso, hoje à noite, será monitorado.
"Os mercados parecem aliviados por Powell não ter aproveitado a oportunidade para enviar um sinal mais agressivo", resume a ANZ Research, em referência à participação do líder do Fed em evento do Clube Econômico de Washington D.C. Na ocasião, Powell adotou tom similar ao da coletiva de imprensa após a decisão de política monetária da semana passada. No primeiro pronunciamento após a surpresa na criação de empregos indicada pelo relatório payroll de janeiro, o banqueiro central comentou que os dados fortes podem levar a mais aumentos de juros.
De qualquer forma, a ênfase nos "progressos" na estabilização dos preços indica que os números de emprego não foram suficientes para convencer Powell a endurecer a retórica sobre as perspectivas de juros, segundo o ING. De fato, a plataforma CME Group apontou mudanças marginais na probabilidade de relaxamento monetário ainda este ano, de volta à casa dos 7% no fim da tarde.
Assim, na ausência de indicações de aperto, as bolsas de Nova York terminaram uma jornada de altos e baixos de forma positiva. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,78%, a 34.156,69 pontos; o S&P 500 avançou 1,29%, a 4.164,00 pontos; e o Nasdaq subiu 1,90%, a 12.113,79 pontos. O papel da Bed Bath & Beyond despencou 48,63%, depois que a companhia informou que tentará levantar US$ 1 bilhão com a oferta de ações, em um esforço para evitar a falência.
Na renda fixa, os juros dos Treasuries ganharam fôlego em meio às falas de Powell. Contudo, um leilão de US$ 40 bilhões em T-notes de 3 anos do Departamento do Tesouro dos EUA teve demanda abaixo da média, conforme o BMO Capital Markets, e conteve o avanço dos rendimentos. No fim, por volta das 18h (de Brasília), o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,479%, o da T-note de 10 anos aumentava a 3,669% e o do T-bond de 30 anos avançava a 3,710%. Pela manhã, o presidente da distrital do Fed em Minneapolis, Neel Kashkari, comentou que espera manutenção do aperto monetário após o payroll.
No câmbio, o dólar se deteriorou na comparação com rivais e emergentes nos primeiros minutos dos comentários de Powell, mas também registraram uma acomodação subsequente. No fim da tarde em Nova York, a divisa dos EUA recuava a 131,09 ienes, diante de especulações sobre a sucessão do Banco do Japão (BoJ). Já euro subia a US$ 1,0729 e libra, a US$ 1,2047 Tudo somado, o índice DXY - que mede o dólar ante seis rivais fortes - recuou 0,19%, a 103,427 pontos, no ajuste de fechamento.
O dólar enfraquecido forneceu apoio ao petróleo, que já era sustentado por incertezas sobre oferta, em um momento de demanda aquecida pela reabertura chinesa. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para março fechou em alta de 4,09% (US$ 3,03), a US$ 77,14 o barril, enquanto o Brent para abril, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), subiu 3,33% (US$ 2,07), a US$ 83,69 o barril. Nesta tarde, um navio petroleiro atracou no terminal petrolífero de Ceyhan, na Turquia, o primeiro a fazê-lo desde que o terremoto de ontem fechou o porto.
Agora à noite, o presidente dos EUA, Joe Biden, faz pronunciamento anual no Congresso do país. Segundo a Casa Branca, o democrata anunciará proposta para quadruplicar o imposto sobre recompras de ações que entrou em vigor em janeiro, atualmente de 1%. "O Estado da União pode não movimentar o mercado, mas será importante, pois definirá as expectativas sobre como será a potencial campanha de reeleição de Biden", diz o analista Edward Moya, da Oanda. (André Marinho - [email protected])