CENÁRIO-2: CONFIRMAÇÃO DE MERCADANTE NO BNDES DETERIORA ATIVOS LOCAIS, QUE SE DESCOLAM DE NY
A velha máxima do mercado financeiro, de comprar no boato e vender no fato, não valeu desta vez. Os ativos caíram quando Aloizio Mercadante começou a circular como uma possibilidade para presidir e BNDES e recuaram mais ainda quando, nesta tarde, o "boato" foi confirmado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O pregão já era morno por aqui, após a confirmação de Gabriel Galípolo como secretário-executivo do Ministério da Fazenda e a despeito do ambiente positivo no exterior, depois que a inflação ao consumidor dos EUA veio abaixo do previsto. Mas a reação negativa dos investidores ao nome de Mercadante foi imediata. Afinal, não bastasse a leitura de que a política fiscal do próximo governo será mais "expansionista", agora o mercado também vê chance de deterioração nas políticas parafiscais, por meio de subsídios ao crédito. E o pior: essas sinalizações ocorrem no mesmo dia em que o Banco Central alertou, na ata da sua última reunião, que mudanças em políticas parafiscais poderiam "reduzir a potência da política monetária". Ou seja, nesse ambiente, os juros já elevados podem demorar mais a cair, o que incentiva a fuga dos ativos de risco. Assim, a Bolsa, que operava perto da estabilidade, passou a renovar sucessivas mínimas, perdendo rapidamente o nível dos 105 mil e dos 104 mil pontos, até terminar com recuo de 1,71%, aos 103.539,67 pontos. Em movimento naturalmente oposto, os juros futuros subiram ainda mais e foram às máximas, embutindo prêmios de risco e chances de juros mais altos no horizonte relevante. O dólar saiu de queda para alta em relação ao real e só não performou pior porque o exterior ajudou bastante, encerrando com leve alta de 0,07%, a R$ 5,3153. Lá fora, a divisa dos EUA recuou ante a maioria das demais moedas, enquanto as bolsas subiram e os yields dos Treasuries recuaram. O movimento teve origem ainda pela manhã, quando o CPI mais fraco nos EUA configurou um cenário de ritmo menor de aumento de juros pelo Fed amanhã e, em última instância, a possibilidade de uma taxa final menor do que o precificado até então.
•BOLSA
•JUROS
•CÂMBIO
•MERCADOS INTERNACIONAIS
BOLSA
A perda de força dos índices de Nova York no meio da tarde já cortava a recuperação do Ibovespa na sessão, na qual chegou aos 106.689,38 pontos no melhor momento, pela manhã, quando o apetite por risco era instigado pela leitura abaixo do esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos. Após as 16h, contudo, a confirmação, por Lula, de que o economista Aloizio Mercadante será o próximo presidente do BNDES aprofundou as perdas do índice, que passou a renovar mínimas da sessão. Ao fim, a referência da B3 mostrava baixa de 1,71%, aos 103.539,67 pontos, enquanto os índices de Nova York, nesta véspera de deliberação do Federal Reserve sobre juros, variavam entre alta de 0,30% (Dow Jones) e de 1,01% (Nasdaq), recuperando parte do fôlego em direção ao fechamento por lá.
Na mínima desta terça-feira, o Ibovespa retrocedeu aos 103.409,27 pontos, no fim da tarde, saindo de abertura aos 105.345,14 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 30,9 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cede agora 3,70% e, no mês, 7,95%, passando nesta terça-feira a acumular perda de 1,22% em 2022. O nível de fechamento foi o menor para o Ibovespa desde 2 de agosto, então aos 103.361,70 pontos.
Até a confirmação de Mercadante no BNDES, o Ibovespa mostrava perda moderada na sessão, recuando em torno de 0,5% nos piores momentos da tarde. Entre as 16h06, aos 105.299,07 pontos no minuto anterior ao que Mercadante foi anunciado oficialmente para a presidência do BNDES, e o piso do dia, às 16h32, o Ibovespa perdeu o correspondente a 1.889,80 pontos - uma queda de quase 2 mil pontos no intervalo de 26 minutos. O economista é conhecido no mercado pela inclinação heterodoxa, o que faz reviver temores sobre a condução do banco de fomento, marcada nas primeiras gestões do PT pela política das "campeãs nacionais".
Mais cedo, o anúncio de que o economista Gabriel Galípolo será o secretário-executivo da Fazenda sob o futuro ministro Fernando Haddad havia sido recebido de forma neutra pelo mercado. "O ano vai chegando ao fim e os fundos, os grandes investidores, têm mostrado cautela, o que se traduz na redução de fluxo para a Bolsa. Muita expectativa e incertezas ainda com relação à PEC da Transição e a situação fiscal, sobre como as coisas vão ficar. Teve a indicação do Gabriel Galípolo, mas o que dava mais direção, à tarde (até a confirmação de Mercadante no BNDES), era mesmo a perda de fôlego em Nova York, após o entusiasmo inicial com a leitura sobre a inflação", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B. Side Investimentos.
Em Brasília, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou hoje que a Casa pode votar a PEC da Transição somente na semana que vem. A declaração ocorreu horas após encontro do deputado com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no qual havia se comprometido a não barrar a apreciação da PEC. Mas, no encontro, Lira mencionou também insatisfações de seus pares com o novo governo, em especial com as questões relacionadas à indefinição sobre o futuro do orçamento secreto.
Ante as incertezas domésticas e externas, que envolvem também o processo de elevação dos juros nas maiores economias, apenas 12% dos gestores de fundos esperam que o Ibovespa encerre 2023 acima dos 130 mil pontos, segundo a edição de dezembro da pesquisa <i>LatAm Fund Manager Survey</i>, do Bank of America (BofA). Em novembro, 45% dos gestores consultados esperavam que o índice superasse o nível no fim do ano que vem.
Como ontem, o petróleo manteve boa recuperação na sessão, com ganho acima de 3% para o Brent nesta terça-feira, o que recoloca a referência global a US$ 80 por barril. Ainda assim, Petrobras fechou em sinal único, negativo (ON -1,36%, PN -2,47%), após ter permanecido em baixa em boa parte da sessão, desde ontem refletindo a percepção de que o próximo governo deve adotar postura ativa em relação a estatais e às instituições públicas de fomento e crédito, entre as quais BNDES e Banco do Brasil (ON -4,90%, na mínima do dia no fechamento).
"O mercado tem entendido que haverá maior intervenção governamental na estatal (Petrobras) e isso aí traz o preço para baixo. O mercado gosta que a empresa atue com autonomia, quase como uma empresa privada. Essa é uma dor de cabeça que ocorreu ao longo do ano, desde a guerra da Rússia com a Ucrânia (iniciada no fim de fevereiro)", observa Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos. No mês de dezembro, Petrobras ON acumula perda de 11,39% e a PN, de 12,53% - na semana, cedem respectivamente 4,03% e 5,63%.
"Petrobras, com perda de mais de R$ 180 bilhões em valor de mercado, tem correlação com a posição do próximo governo, de histórico conhecido. Com todo o histórico do PT, de interferência (em estatais), o investidor acaba fugindo. A razão Preço/Lucro da Petrobras está hoje em 1,7 vez, enquanto seus pares internacionais rodam na casa de 5, 6, 8 vezes. A empresa está barata, mas, para atrair o investidor, depende de um horizonte tranquilo", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Na B3, além de Petrobras, o dia foi negativo para os bancos em geral (Itaú PN -3,78%, Bradesco PN -2,97%, Santander Unit -3,51%), enquanto Vale (ON) avançou apenas 0,37%, após mais cedo ter contribuído para tirar parte da pressão negativa sobre o índice derivada das blue chips. Até o começo da tarde, os setores de varejo, construção civil e tecnologia subiam também com mais intensidade, em razão da inflação ao consumidor dos Estados Unidos (CPI) abaixo do esperado, divulgada na manhã desta terça-feira e que despertou algum apetite por risco. Ao fim do dia, o índice de consumo (ICON) mostrava sinal oposto, acompanhando a deterioração geral do Ibovespa: o índice setorial cedeu 2,14%, exatamente a mesma retração vista no de materiais básicos (IMAT) no encerramento da sessão.
Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para Petz (+2,69%), Braskem (+1,48%), 3R Petroleum (+0,90%) e PetroRio (+0,72%), com Suzano (-6,43%), Rumo (-5,22%), Banco do Brasil (-4,90%) e Marfrig (-4,82%) no lado oposto.
Pela manhã, na agenda doméstica, destaque para a divulgação da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida na semana passada. "A ata veio praticamente em consonância com o comunicado, então por enquanto não há razão para mudar de opinião sobre a taxa Selic à frente: manutenção em 13,75% até julho do próximo ano, seguida de uma trajetória de queda gradual, terminando [2023] em 11,75%, condicionada à expectativa de inflação em torno da meta central em 2024", aponta em nota o Banco MUFG (Mitsubishi) Brasil. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:20
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 103539.67 -1.71217
Máxima 106689.38 +1.28
Mínima 103409.27 -1.84
Volume (R$ Bilhões) 3.08B
Volume (US$ Bilhões) 5.86B
18:29
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 103725 -1.05881
Máxima 107000 +2.07
Mínima 103110 -1.65
JUROS
No dia em que a ata do Copom alertou sobre os risco que políticas parafiscais podem trazer para a potência da política monetária, a confirmação de que o coordenador técnico do governo de transição e ex-ministro Aloizio Mercadante será o presidente do BNDES na gestão Lula desencadeou no meio da tarde movimento de forte avanço nos juros futuros. Até então, as taxas oscilavam com viés de alta já trazido pelo desconforto com a oficialização do economista Gabriel Galípolo como secretário-executivo da Fazenda. Pela manhã, o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos abaixo do consenso até conseguiu segurar as taxas em queda, mas as incertezas domésticas acabaram se impondo durante a sessão.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 14,06%, de 13,980% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,41% no ajuste para 13,65%. O DI para janeiro de 2027 saltou de 13,11% para 13,33%.
O volume de contratos movimentados foi novamente expressivo, reflexo de zeragem de posições e aumento da postura defensiva na medida em que vai se desenhando um perfil desenvolvimentista na equipe econômica e nomes na linha mais liberal vão sendo descartados. O anúncio de Galípolo como número 2 da Fazenda, abaixo de Haddad, já zerou o sinal de baixa que as taxas exibiam pela manhã em sintonia com a curva americana, por sua vez, em reação ao CPI de outubro, de 0,1%, ante consenso de 0,2%. O núcleo (0,2%) também subiu menos do que o esperado (0,3%). Na véspera da decisão do Federal Reserve, o dado reforçou a expectativa de uma política de juros menos restritiva nos Estados Unidos.
O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, destaca que Galípolo é "muito próximo" ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, cuja linha vai na contramão do que o mercado defende. "O secretário-executivo é quem vai tocar o dia a dia da Fazenda. Vamos ver quem será o secretário responsável pela formulação das políticas, é um cargo-chave. Frustraria muito alguém não-alinhado ao mercado", afirmou.
Haddad, que deve divulgar mais nomes em entrevista coletiva marcada para as 18h30, disse ontem querer uma "pluralidade de vozes no Ministério". Até o momento, porém, o mercado não se animou com os já anunciados. A reação da curva à confirmação de Mercadante no BNDES foi feroz, com a ponta intermediária saltando mais de 30 pontos-base nas máximas do dia. Mercadante falou recentemente em "abrasileirar" os preços da Petrobras e prega mudanças na Taxa de Longo Prazo (TLP), que o Banco Central diz ter ajudado a aumentar a potência da política monetária nos últimos anos.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, se o BNDES adotar crédito subsidiado ou o novo governo acabar substituindo a TLP pela antiga TJLP, há um risco de aumento da taxa neutra de juros no País. "Junto com a questão fiscal mal resolvida, o governo Lula está caminhando para ser um governo no qual o juro neutro fica maior", afirma.
Pela manhã, a ata do Copom alertava que "mudanças em políticas parafiscais ou a reversão de reformas estruturais podem reduzir a potência da política monetária, caso levem a uma alocação menos eficiente de recursos na economia". "Nos diferentes exercícios analisados, avaliou-se que o efeito final, seja sobre a inflação ou sobre a atividade, dependerá tanto da combinação quanto da magnitude das políticas fiscal e parafiscal”, acrescentou o BC.
Ainda na ata, o BC diz ver um "hiato do produto" reduzido e ter notado "com preocupação" elevação na média das expectativas para 2024. "O Copom está descrevendo um cenário de pouca ociosidade na economia e pouca credibilidade na sustentabilidade da dívida que deve tirar potência da política monetária. O recado foi muito claro", diz Olivares.
Tudo considerado, a leitura é que, mesmo com a inflação caindo, os riscos fiscais devem postergar o ciclo de afrouxamento monetário e a Selic deve permanecer em 13,75% por longo período. "A inflação sem dúvida está desacelerando, mas se vai entrar R$ 200 bilhões na economia em 2023 e 2024 o espaço para cortar juro começa a diminuir. Porém, para subir o sarrafo também é alto", acrescentou o economista da Azimut, referindo-se ao impacto fiscal da PEC da Transição.
Na agenda, a queda de 0,6% no volume de serviços em outubro, na margem, trouxe alívio moderado nas taxas no começo da sessão, com o mercado mais interessado nos nomes do governo e à espera do CPI americano. Na gestão da dívida, o Tesouro colocou pouco mais de 650 mil NTN-B da oferta de 800 mil, com risco para mercado (DV01) de US$ 285 mil, ante US$ 923 mil no leilão da semana passada, segundo a Necton. (Denise Abarca - [email protected])
Volta
CÂMBIO
A confirmação de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES reduziu o ímpeto de queda do dólar no mercado local, em meio à deterioração dos demais ativos domésticos. A moeda americana, que havia começado a tarde na casa de R$ 5,25 fechou o dia no segmento à vista em R$ 5,3153 (+0,07%). A alta só não foi mais intensa por causa da forte baixa da divisa dos Estados Unidos no exterior, em meio a dados mais fracos da inflação ao consumidor (CPI) e à valorização das commodities.
Anunciado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o nome de Mercadante para o BNDES reaviva no mercado os temores de uma inclinação heterodoxa no terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além da própria visão econômica pessoal, o ex-ministro é visto pelos agentes como "sócio" da gestão de Dilma Rousseff, de quem foi chefe da Casa Civil, que desaguou na crise de 2015-16.
O mercado também acompanha a formação do restante da equipe econômica, no aguardo dos ministros do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. Há ainda um olhar atento com as escolhas que o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará para o seu secretariado. Hoje, foi anunciado o ex-presidente do Banco Fator Gabriel Galípolo como secretário-executivo, o número dois da pasta. Haddad faz coletiva às 18h30, e novos nomes podem surgir.
Para o analista de câmbio da corretora Ourominas Elson Gusmão, pode haver até um equilíbrio nos próximos nomes a serem anunciados por Haddad. "A escolha do Galípolo ajudou um pouco, mas o mercado ainda está em alerta verificando os nomes que virão. O de Guilherme Mello [professor da Unicamp e provável secretário de Haddad], por exemplo, não há tanto receio, porque ele defende um arcabouço fiscal. O mercado tem receio de nomes extremamente políticos em cargos-chave em vez de nomes técnicos", afirma.
Toda a movimentação em torno da escalação da equipe econômica hoje acabou se sobrepondo, nos minutos finais, à pressão de queda externa.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA subiu 0,1% em novembro, na comparação com outubro. A mediana dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast apontava para alta maior, de 0,2%. Também ficou abaixo do consenso o núcleo do CPI, que veio em 0,2% ante expectativa de 0,3%.
Os números chancelam a provável desaceleração no ritmo de aumento de juros pelo Federal Reserve amanhã, além de colocar pressão sobre o discurso de Jerome Powell, que em suas mais recentes falas soou mais dovish, apesar de declarações hawkish de dirigentes que compõem o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc).
Os dados do CPI fizeram com que o DXY operasse em queda firme, na casa de 104 pontos, o que impulsionou as cotações de commodities. O petróleo Brent voltou a romper a marca de US$ 80 por barril, perdida na semana passada. Com os materiais básicos em alta, as moedas dos países que os exportam também se valorizam.
No mercado futuro, perto das 18h20, o dólar para janeiro recuava aos R$ 5,3215 (-0,53%). O giro financeiro estava em torno de US$ 14 bilhões.
Em sua atualização mensal sobre o mercado de câmbio, o banco holandês ING constata que, a despeito da atratividade dos juros, a moeda brasileira só não performa melhor pelas dúvidas quanto aos fundamentos fiscais. "Acreditamos que 2023 será um ano difícil para os mercados emergentes e qualquer erro de política econômica será punido", ponderam os analistas, que preferem o peso mexicano em sua carteira.
O banco trabalha com a hipótese de o dólar chegar a R$ 6 dentro de um ano. (Mateus Fagundes - [email protected])
18:29
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.31530 0.0697 5.33500 5.24400
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5321.000 -0.54206 5355.500 5262.000
5374.658
MERCADOS INTERNACIONAIS
O apetite por risco se sustentou no exterior ao longo da tarde, após a inflação ao consumidor dos EUA mostrar mais desaceleração em novembro, indicativo para o mercado de que o aumento dos juros do Federal Reserve (Fed) será mais brando. As bolsas de Nova York, contudo, moderaram bastante os ganhos em relação ao início do pregão e terminaram o dia com alta em torno de 1%. O petróleo, por outro lado, acelerou o ritmo e fechou com ganhos superiores a 3%, puxado pela fraqueza do dólar, cujo índice DXY cedeu por volta de 1%. Desta forma, o barril do Brent alcançou US$ 80 pela primeira vez em uma semana. Na renda fixa, os juros dos Treasuries terminaram o dia em baixa, sob influência do CPI americano e na véspera da reunião do Fed, que deve elevar os juros em 50 pontos-base.
Após avançarem até 3% mais cedo, as bolsas de Nova York perderam força mas mantiveram-se em patamar positivo no horário de fechamento, com o Dow Jones subindo 0,31%, o S&P 500 em alta de 0,73% e o Nasdaq com ganhos de 1,01%.
Entre ações específicas, destacou-se o setor de tecnologia, com Meta subindo 4,77% e Alphabet, 2,49%. A Moderna, por sua vez, saltou 19,63%, após sua vacina contra câncer reduzir mortes de pacientes com melanoma.
Na outra ponta, aéreas como United Airlines (-6,94%) e American Airlines (-5,21%) estiveram entre as maiores baixas no S&P 500, pressionadas por alerta da JetBlue (-7,67%) acerca de enfraquecimento da demanda.
Na véspera da última reunião do Fed em 2022, o índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA desacelerou pelo segundo mês seguido em novembro, alimentando expectativas de que o BC americano seja mais cauteloso ao subir juros nas próximas decisões e pause o aperto monetário antes do esperado.
O dado vem em um contexto de ampla expectativa de que o Fed desacelere sua alta de juros amanhã, com uma elevação de 50 pontos-base após quatro seguidas de 75 pontos-base (ver matéria publicada às 13h01).
Apesar das boas notícias no âmbito inflacionário, a Capital Economics acredita que as ações em Wall Street devem cair nos próximos meses por conta de temores de recessão nos EUA e no mundo. "Não esperamos que as bolsas entrem em uma recuperação sustentada antes da primavera de 2023 (no Hemisfério Norte), um pouco antes da economia global começar a se recuperar", projeta a casa.
Na renda fixa, os juros dos Treasuries mantiveram a movimentação descendente impulsionada pelo CPI, embora também em ritmo menor. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,222%, o da T-note de 10 anos cedia a 3,513% e o do T-bond de 30 anos recuava a 3,535%.
No câmbio, o índice DXY fechou em baixa de 1,09%, a 103,980 pontos, com o euro subindo a US$ 1,0634 e a libra, a US$ 1,2367 no período citado. Já o dólar baixava a 135,56 ienes.
Para o economista-chefe do Instituto para Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Robin Brooks, a alta do euro por conta da desaceleração da inflação americana não faz sentido.
"Os EUA estavam muito mais próximos de um sobreaquecimento [econômico] do que a zona do euro, que está em recessão. Se a inflação está se esvaindo nos EUA, com certeza vai se esvair na zona do euro", estima Brooks, que completa ao projetar uma "grande queda" do euro em breve, em postagem no Twitter.
A fraqueza da divisa americana foi o principal fator a impulsionar os preços do petróleo hoje, também por conta da expectativa de que o Fed reduza o ritmo de alta de juros, o que em tese deve tirar fôlego do dólar à frente.
Na Nymex, o barril do petróleo WTI com entrega prevista para janeiro saltou 3,03%, a US$ 75,39, enquanto o do Brent para fevereiro subiu 3,45% na ICE, a US$ 80,68 - fechando acima de US$ 80 pela primeira vez desde a segunda-feira da semana passada (5).
Mais cedo, o mercado ainda reagiu ao relatório mensal da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que manteve suas projeções para o crescimento da demanda global, mesmo após o teto ao preço do óleo da Rússia tomar efeito no último dia 5.
Segundo a Hedgepoint, a medida adotada pelos países do G7 e aliados arrisca provocar efeitos indesejados, como a diminuição da oferta russa e consequente elevação dos preços.
A consultoria alerta ainda que o teto de US$ 60 por barril pode não ter efeito significativo sobre as receitas de Moscou, já que a principal referência do petróleo russo tem operado um pouco abaixo disso. (Gabriel Caldeira - [email protected])