CENÁRIO-2: DÓLAR SOBE A MAIOR NÍVEL DESDE DEZ/2021 ANTE TEMOR GEOPOLÍTICO E COM ATIVIDADE GLOBAL

Cenário

Depois de uma manhã em que alternou movimentos de alta e baixa, o dólar teve uma tarde de forte valorização ante o real. A moeda americana saltou 1,41%, aos R$ 5,7350, o maior nível desde 21 de dezembro de 2021. Mas diferentemente dos picos recentes, o grosso do movimento teve causa externa. A escalada da crise que coloca, de um lado, Israel e, de outro, Irã e os grupos Hezbollah e Hamas é o gatilho para um forte movimento de aversão ao risco no mercado internacional. Adicionalmente, há temor com crescimento mundial, em particular, dos Estados Unidos, onde os dados fracos divulgados hoje acenderam o alerta para a atividade. Esse combo acabou anulando os efeitos favoráveis à tomada de risco do aceno do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ao corte de juros em setembro, bem como a baixa das taxas na Inglaterra. No exterior, houve corrida para o dólar e fuga de commodities e bolsas. O Nasdaq foi o índice mais prejudicado em Nova York, com baixa de 2,30%. Aqui no Brasil, o Ibovespa só não caiu mais por causa de ações como Bradesco (ON +1,07% e PN +1,29%) e de segmentos de consumo e frigoríficos. O índice terminou o dia em 127.395,10 pontos (-0,20%). Na curva de juros, o ajuste de baixa após o mercado queimar prêmios com o comunicado do Copom acabou perdendo força com o aumento da cautela externa. Na pesquisa do Projeções Broadcast, é unânime a visão de que o Banco Central manterá a Selic em 10,50% em setembro, embora na curva de juros ainda há apostas de uma alta.

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•JUROS

CÂMBIO  

O dólar disparou ao longo da tarde e superou a barreira psicológica de R$ 5,70, encerrando o dia no maior valor de fechamento desde fins de dezembro de 2021. As divisas emergentes latino-americanas foram as que mais sofreram com a onda de aversão global ao risco deflagrada por temores de desaceleração mais forte da economia americana e, em menor medida, pelo avanço das tensões geopolítica no Oriente Médio. O real apresentou as piores perdas entre as principais moedas, seguido por um de seus pares, o peso chileno.  

Após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, abrir a porta ontem para início de corte de juros em setembro, investidores hoje receberam dados sugerindo perda de fôlego maior da atividade nos EUA. O índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês), medido pelo ISM, caiu em julho, na contramão da previsão de alta, e se manteve abaixo da linha de 50 pontos, o que sugere contração. Os números de pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram mais do que as expectativas.

A leitura de economia aquecida e resiliência inflacionária deu lugar ao temor de uma desaceleração econômica abrupta, com até eventual recessão nos EUA. Não à toa o Banco Central americano, embora tenha repetido ontem que precisa de maior confiança no processo de desinflação para reduzir os juros, alertou que está atento a riscos para os dois lados de seu mandato duplo: controle de inflação e pleno emprego.

Lá fora, as bolsas americanas despencaram, com tombo das big techs, as taxas dos Treasuries recuaram e a moeda americana ganhou força na comparação com o euro e a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O iene subiu mais um degrau na comparação com o dólar, o que pode ter contribuído para a depreciação mais aguda de divisas latinas. O petróleo recuou com receio de enfraquecimento da demanda se sobrepondo a riscos à oferta vindos de possível conflito entre Israel e Irã.

Com máxima a R$ 5,7430, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 1,41%, cotado a R$ 5,7350 - maior valor de fechamento desde 21 de dezembro de 2022 (R$ 5,7388). Principal termômetro do apetite para negócios, o contrato de dólar futuro para setembro teve giro forte, acima de US$ 17 bilhões, o que sugere mudanças relevantes de posicionamento. Operadores citaram busca por hedge e ordens de "stop loss" de agentes que carregam posições vendidas em derivativos cambiais.  

"Há um movimento global de aversão ao risco que ganhou impulso forte hoje, sobretudo após indicador industrial mais fraco nos EUA e na China. Alguns indicadores estão apontando para uma desaceleração mais forte da economia mundial, o que leva a uma reprecificação dos ativos financeiros", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, ressaltando que o índice VIX - conhecido com termômetro do medo - disparou e atingiu os maiores níveis desde abril.  

O quadro externo deixou em segundo plano a reação ao comunicado da decisão de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano. A avaliação da maioria dos economistas foi a de que, apesar de vir menos duro que o esperado, o comunicado abriu uma fresta para uma eventual alta da taxa Selic caso haja piora do câmbio e deterioração maior das expectativas de inflação.  

Para Oliveira, o comunicado trouxe um tom mais duro do que os anteriores, com aumento das projeções para o IPCA de 2024 e 2025 e dos riscos de alta da inflação. Apesar de adotar uma postura cautelosa, o comitê não sinalizou alta de juros em sua próxima reunião e parece ter como plano de voo manter a Selic em 10,50% por período prolongado, avalia.  

O economista do Pine não vê motivos para uma alta dos juros por aqui mesmo com a depreciação do real, uma vez que a tendência é de queda das taxas globais. "O mercado já começa a aumentar a precificação de corte de 50 pontos-base nos EUA em setembro", observa Oliveira, ressaltando que um retorno da visão de 'soft landing' da economia americana pode beneficiar divisas emergentes, como o real.  

17:49  

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima   

Dólar Comercial (AE) 5.73500 1.4093 5.74300 5.63290  

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0      

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5764.500 1.5950 5770.500 5651.500  

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5779.000 1.4216 5779.000 5722.500  

MERCADOS INTERNACIONAIS  

A rodada de indicadores nos Estados Unidos hoje reforçou as apostas por cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) na próxima reunião, enquanto lançou preocupações sobre a possibilidade de recessão, agora com investidores aguardando a divulgação do payroll de julho, que deve apresentar a terceira desaceleração consecutiva. O cenário de cautela também foi intensificado pelas tensões geopolíticas no Oriente Médio, conforme Irã e Hezbollah prometem retaliação a Israel após o assassinato de um líder militar do grupo extremista - pela tarde, Israel interceptou foguetes lançados do Líbano. Com a aversão ao risco instaurada, os principais índices de Nova York tiveram forte queda, e os retornos da ponta curta dos Treasuries caíram ao menor nível desde fevereiro, diante da alta demanda, com o da T-note de 10 anos abaixo de 4%. No câmbio, o dólar se fortaleceu, e a força da moeda americana prejudicou a atratividade das commodities, com o petróleo caindo também diante de uma possível demanda americana fragilizada.

Pela manhã, os pedidos de seguro-desemprego da última semana nos Estados Unidos atingiram o maior valor desde agosto de 2023, enquanto o custo unitário de mão de obra ficou abaixo do esperado no segundo trimestre, e o Índice de Gerentes de Compras (PMI) industrial dos EUA, medido pelo instituto ISM, indicou contração na atividade durante julho. Os investimentos em construção caíram em junho, enquanto era esperada alta. Diante de tantos sinais de enfraquecimento da economia, a ferramenta de monitoramento do CME Group agora precifica 25,5% de chance de corte de 50 pontosbase pelo Fed na reunião de setembro. No agregado do ano, as apostas do mercado para cortes de 25 ou 50 pontos-base estão zeradas e, embora a chance majoritária ainda seja de corte de 75 pb, com 66,3% de chance; houve forte alta da chance de redução de 100 pontos-base até o fim de 2024, agora com 30,4% de probabilidade.  

Segundo Ian Lyngen, do BMO Capital Markets, a sequência de dados negativos motivou a queda dos rendimentos dos Treasuries, e a interpretação dos dados pode indicar que o perfil do emprego americano está se movendo excessivamente para o lado negativo.  

Somado a isto, investidores monitoraram hoje o desenrolar da nova escalada das tensões no Oriente Médio. Durante a tarde, foram ouvidas sirenes no sul israelense perto das fronteiras com o Líbano. O Hezbollah, então, confirmou a autoria de ataques, que foram contidos pelo domo de ferro do país, conforme a imprensa local. Há preocupações com a possibilidade de uma escalada, enquanto um ataque iraniano ao país também é possível.

Neste contexto, houve alta demanda por Treasuries hoje, o que derrubou os rendimentos da T-note de 2 e 10 anos para o menor nível desde fevereiro; com o juro da T-note de 10 anos abaixo de 4%. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos cedia a 4,166%, de 4,253% perto do fechamento da sessão do mercado acionário ontem. O da Tnote de 10 anos recuava a 3,987%, de 4,050% e o do T-bond de 30 anos baixava a 4,284% de 4,339%.

Enquanto isso, o dólar se fortaleceu contra euro e libra, embora o iene continue se fortalecendo diante do quadro de cautela. Hoje a libra recuou mais forte do que os pares, com fuga da moeda após o Banco da Inglaterra (BoE) dar início ao seu ciclo de flexibilização monetária. No fim da tarde em Nova York, o índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou valorização de 0,31%, a 104,421 pontos. A libra cedia a US$ 1,2746 e o euro, a US$ 1,0797. A moeda japonesa seguiu firme e o dólar recuava a 149,74 ienes.

A força do dólar americano hoje prejudicou a atratividade do petróleo, que pela manhã chegou a subir na esteira das preocupações com perturbações na oferta no Oriente Médio. Porém, os preços viraram e passaram a cair diante dos sinais de enfraquecimento econômico nos EUA, que apontam para uma demanda menor. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em queda de 2,05% (US$ 1,60), A US$ 76,31 o barril, enquanto o Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), retraiu 1,63% (US$ 1,32), a US$ 79,52 o barril.

No mercado acionário de Nova York, a fuga do risco deixou a temporada de balanços no segundo plano, enquanto investidores aguardavam balanços de importantes empresas do setor de tecnologia após o fechamento. O índice Dow Jones fechou em queda de 1,21%, a 40.347,97 pontos; o S&P 500 perdeu 1,37%, a 5.446,68 pontos; o Nasdaq recuou 2,30%, a 17.194,15 pontos. O índice VIX subia 13,69% perto do fechamento, tendo atingido maior nível desde abril na máxima do dia. Exceção, Meta subiu 4,82%, após informar lucro acima do esperado.  

Agora, os olhos se voltam para a leitura do payroll dos Estados Unidos em julho. Segundo a mediana de 30 analistas ouvidos pelo Broadcast, o país gerou 180 mil vagas no mês, o que sinalizaria a terceira desaceleração consecutiva e, segundo o Citi, deixaria o mercado de trabalho "à beira de um desconforto". "Qualquer combinação de um crescimento mais fraco do emprego ou aumento na taxa de desemprego pode aumentar as expectativas por cortes maiores pelo Fed, de 50 pontos-base", projeta o banco americano

BOLSA  

O Ibovespa lutou até o meio da tarde por sinal positivo neste primeiro fechamento de agosto, após a recuperação vista nos dois meses anteriores, especialmente em julho, quando subiu 3%. Mas, do meio para o fim da tarde, o índice da B3 não conseguiu resistir à forte correção em Nova York nesta abertura de mês e também à pressão no câmbio, que foi negociado a R$ 5,74 na máxima desta quinta-feira. Assim, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 0,20%, a 127.395,10 pontos, entre mínima de 127.149,63 (-0,39%) e máxima de 128.761,54 pontos (+0,87%) na sessão, em que saiu de abertura aos 127.652,02 pontos.

O giro financeiro foi a R$ 23,8 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa recua 0,08% e, no ano, acumula perda de 5,06%.

A aversão global que prevaleceu nesta quinta-feira colocou o ouro - um típico ativo defensivo, buscado em momentos de risco econômico e geopolítico - no maior nível histórico intradia na Comex, de Nova York, a US$ 2.506,60 por onça-troy. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam com perdas entre 1,21% (Dow Jones) e 2,30% (Nasdaq) a sessão, em que o índice de volatilidade (VIX) atingiu o maior nível desde abril, refletindo o aumento da percepção de risco.  

No dia seguinte à celebração de sinais mais brandos do Federal Reserve sobre a orientação da política monetária nos Estados Unidos, vieram dados mais fracos tanto sobre a economia americana como sobre a chinesa, as duas maiores do mundo, o que resultou em retomada de temores sobre o nível de atividade global. E, como pano de fundo, as tensões geopolíticas no Oriente Médio que afetam diretamente os preços de commodities, como o petróleo (em baixa de 1,63% no Brent), e reforçam a demanda por dólar, a principal referência entre as moedas.

“Houve realização [de lucros] forte em Nova York após a decisão de ontem do Federal

Reserve. O mercado ansiava muito pela expectativa de o corte de juros se materializar

[em setembro], e foi o que se teve ontem, com o tom ‘dovish’, flexível, mostrado pelo Fed”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Hoje veio um ajuste, em meio a uma temporada de resultados trimestrais volátil, que traz nesta noite dois nomes importantes: Apple e Amazon”, acrescenta.

Na B3, "seis das 10 empresas mais pesadas do Ibovespa tiveram dia negativo", aponta Anderson Silva, sócio da GT Capital, destacando a forte pressão observada no câmbio especialmente à tarde, que lançou o dólar à vista a R$ 5,74 no pico da sessão. Vale ON fechou em baixa de 2,24%, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 1,85% (na mínima do dia no fechamento, a R$ 39,85) e 1,52%. Na ponta perdedora do Ibovespa, Dexco (-4,38%), Embraer (-4,09%) e Cogna (-3,95%). No lado oposto, Vivo (+4,31%), Weg (+4,30%) e Marfrig (+3,71%).

"A manutenção da taxa de juros no Brasil aconteceu - porém, o governo ainda não fez ação que melhore o cenário com relação ao fiscal, o que deixou os vencimentos futuros de DI mistos [na sessão], com parte deles ainda exigindo prêmio maior. O governo diz 'baixe os juros', o mercado diz 'suba os juros', e o Banco Central faz malabarismo para equilibrar tudo isso", acrescenta Silva.

Para Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, a decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom), de manter, conforme esperado para a noite de ontem, a Selic em 10,50% ao ano, foi acompanhada por comunicado "duro, mas inteligente", no qual se reconhece a "deterioração das expectativas, a piora do quadro fiscal e a depreciação do câmbio".

"Os riscos exigem uma política monetária apertada por mais tempo", aponta Boragini em nota, na qual ressalva não ter havido, no comunicado da noite de ontem, "qualquer indicação" de que o Copom planeja aumentar a taxa de juros, ao contrário de receios que vinham sendo precificados na curva de juros futuros.

No câmbio, a superação de níveis como o de R$ 5,70 aciona ordens de 'stop loss', o que resulta em vendas automáticas de ativos denominados em real e em aumento da demanda por dólares, observa em nota Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. "Dados econômicos fracos nos Estados Unidos, como os que mostraram, hoje, desaceleração da atividade industrial e aumento dos pedidos de seguro-desemprego, fortalecem o dólar como ativo de refúgio", acrescenta. No fechamento desta quinta-feira, o dólar à vista mostrava alta de 1,41%, a R$ 5,7350.  

17:34  

 Índice Bovespa   Pontos   Var. %   

Último 127395.10 -0.2011  

Máxima 128761.54 +0.87  

Mínima 127149.63 -0.39  

Volume (R$ Bilhões) 2.38B  

Volume (US$ Bilhões) 4.20B  

17:49  

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %   

Último 127625 -0.3630  

Máxima 129270 +0.92  

Mínima 127520 -0.44  

JUROS 

A curva de juros ganhou inclinação nesta quinta-feira, com taxas em baixa até o trecho intermediário, enquanto as longas chegaram ao fim do dia em alta. A reação ao comunicado do Copom deu o tom principalmente na primeira etapa dos negócios, mas depois o aumento a cautela vinda do ambiente externo foi prevalecendo, com piora na percepção de risco geopolítico, somada a dados abaixo do esperado da economia dos EUA que referendaram o sinal do Federal Reserve de queda de juros em setembro.

Às 17h12, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caiu de

10,724% para 10,685% e a do DI para janeiro de 2026, de 11,62% para 11,56%. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuava a 11,81%, de 11,84%, e a do DI para janeiro de 2029 subia de 11,98% para 12,02%.

O giro de contratos foi expressivo, especialmente no trecho curto, refletindo os ajustes nas apostas para a Selic nos próximos meses, pela leitura do comunicado do Copom. Na Pesquisa do Projeções Broadcast, 39 de 43 casas preveem que a Selic deve permanecer em 10,50% até o fim de 2024. Nas demais quatro, duas estimam taxa em 10,25% e duas em 10,00%. Na curva, a precificação de aumento da taxa básica perdeu força, mas os DIs seguem apontado nível acima de 11%.

No texto, o Copom atualiza o balanço de riscos para a inflação, destacando a desancoragem das expectativas por período mais prolongado, maior resiliência da inflação de serviços e o risco vindo do câmbio. Pelo lado baixista, cita o de desaceleração da atividade econômica global e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global.

Parte do mercado esperava um tom mais "hawkish" e até um sinal mais claro sobre a possibilidade de subir os juros, o que os diretores evitaram fazer dadas as grandes incertezas do cenário. "Apesar do esperado endurecimento do tom do Copom, não há sinalização de um novo ciclo de alta, apesar de as portas não estarem fechadas. O Comitê buscou ganhar tempo para avaliar se as trajetórias das expectativas e do câmbio são temporárias ou mais persistentes", afirma o estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein. Destaca ainda que a projeção de inflação para o primeiro trimestre de 2026, no cenário de Selic constante, ficou em 3,2%, "o que é um desvio aceitável em relação à meta (3%) e não baliza um aperto monetário".

Para o economista-chefe da Azimut Wealth Management, Gino Olivares, o Copom acertou no tom, sendo assertivo sobre a necessidade de vigilância à escalada dos riscos de alta, sem indicar aperto porque o cenário está muito aberto. "Prefiro olhar o filme do que a foto. O Copom cortou a Selic em 0,5 ponto em março, depois reduziu a dose para 0,25 e depois manteve, conforme o cenário foi se deteriorando. É um processo que tem mesmo de ser gradual. O ritmo do Copom é diferente do ritmo do mercado, pois só poderá eventualmente corrigir a rota daqui a 45 dias. Não pode se precipitar", afirma.

De todo modo, as taxas curtas e intermediárias devolveram prêmios, especialmente pela manhã quando caíam mais de 10 pontos-base. O fôlego de baixa arrefeceu à tarde, acompanhando o aumento da cautela nos mercados como um todo e com o dólar rompendo os R$ 5,70. O comportamento do câmbio é visto como variável ainda mais chave nas decisões do Copom nos próximos meses.

A ponta longa esteve em baixa pela manhã, mas menos pronunciada do que as demais, acompanhando o fechamento da curva dos Treasuries, por sua vez, conduzido por indicadores fracos da atividade nos EUA, que endossou a aposta de alívio monetário pelo Federal Reserve.  

Posteriormente, os yields aceleraram as perdas, com a escalada das tensões no Oriente Médio, envolvendo Israel, Líbano e o Irã acentuando o temor sobre a atividade global. Na ponta longa doméstica, o efeito foi o contrário. Com o aumento da aversão ao risco, os juros passaram a subir.  

A taxa da T-Note de dez anos furou os 4% pela primeira vez desde fevereiro, refletindo a busca pela segurança que também impulsionou o dólar contra moedas emergentes. O índice VIX, conhecido como "termômetro do medo" em Wall Street, saltava 18% no meio da tarde, ao maior nível desde abril. No fim da tarde, a T-Note de dez anos projetava 3,979%. Na Europa, os juros dos bônus britânicos também cederam, em reação ao corte de juros pelo Banco da Inglaterra (BoE).

Na gestão da dívida, o Tesouro realizou leilão de prefixados com a mesma quantidade ofertada na semana passada, 4 milhões de LTN e 300 mil NTN-F, vendendo respectivamente 2,145 milhões e 177 mil. Os lotes seguem pequenos, refletindo a falta de interesse dos investidores potencializada pelo início do período de hiato dos dealer, que começou hoje e vai até o dia 10.  

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