CAUTELA COM ARCABOUÇO OFUSCA FÔLEGO EXTERNO APÓS OPERAÇÃO UBS-CREDIT E BOLSA CAI

Blog, Cenário

As dúvidas em torno do arcabouço fiscal acabaram predominando nos negócios locais desta segunda-feira, em especial no segmento de ações, impedindo que a Bolsa surfasse na recuperação externa após a compra do Credit Suisse pelo UBS afastar, por ora, o temor de contágio sistêmico. O investidor doméstico pôs o pé no freio à medida que espera sinais mais claros de como ficará a nova regra para os gastos públicos, cujos detalhes ainda são mantidos em segredo absoluto pelo governo. De concreto o que se sabe é que ela conjugará a trajetória da dívida, a busca por superávit e o controle das despesas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que ela foi bem-recebida pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas nos bastidores há pressão de ministros da área política e setores do PT avessos a uma maior disciplina fiscal. A este ambiente se somam as dúvidas quanto a situação do crédito para companhias locais, dada a Selic alta, a economia em desaceleração e a crise bancária lá fora, ainda que o sistema financeiro brasileiro seja bem regulado. Assim, o Ibovespa cedeu 1,04%, aos 100.922,89 pontos, o menor nível de fechamento desde 26 de julho. Em Nova York, por sua vez, a aparente solução dos problemas de liquidez do Credit Suisse animou os investidores pela ação rápida dos reguladores. Foi bem-recebida ainda a resposta coordenada do Federal Reserve e outros bancos centrais, com apoio e aumento da liquidez, incluindo acordos de linhas de swap de dólar americano. O mercado segue de olho na situação de instituições médias americanas, mas a Casa Branca reiterou nesta tarde que o sistema bancário dos Estados Unidos permanece estável. E autoridades como a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, continuam reforçando que está pronta para responder para preservar a estabilidade financeira. O Dow Jones fechou em alta de 1,20% e o S&P 500 ganhou 0,89%. Mais tímido, o Nasdaq subiu 0,39%, em meio à subida dos Treasuries, nesta antevéspera de decisão do Federal Reserve. Aqui no Brasil, em meio à expectativa do Copom também na quarta-feira, os juros futuros de prazo mais curtos subiram um pouco, na esteira da piora das projeções de inflação na Focus. O debate fiscal incomoda, mas não foi determinante na formação de preços hoje. No câmbio, a despeito do cenário de incerteza, a moeda americana à vista desceu a R$ 5,2430 (-0,52%), acompanhando a baixa do DXY no exterior.

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

•CÂMBIO

BOLSA

O Ibovespa iniciou a semana como encerrou a última sessão da anterior, em baixa, desconectado, hoje, do sinal positivo do exterior, na Europa como nos Estados Unidos. O anúncio, no fim de semana, da aquisição do Credit Suisse pelo UBS trouxe algum alívio quanto à chance de disseminação de crise bancária, embora a questão permaneça como principal fator de risco no momento. Em Nova York, nesta segunda-feira, a negociação de papéis do First Republic Bank chegou a ser suspensa, com relato do The Wall Street Journal de que o JPMorgan está liderando negociações com outros grandes bancos, em novo esforço para estabilizar a instituição financeira.

Na B3, o Ibovespa tocou na mínima do dia os 100.678,84 pontos, perfurando a marca de quarta-feira passada, de 100.692,04, e atingindo assim novo piso intradia desde 27 de julho (99,7 mil pontos). Saindo de abertura nesta segunda-feira aos 101.981,53 pontos, e chegando na máxima da sessão aos 102.328,44 pontos, o índice fechou em baixa de 1,04%, a 100.922,89 pontos, nova mínima de encerramento em 2023 - e também o menor nível de fechamento desde 26 de julho. Modesto, o giro foi de R$ 19,1 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa cai 3,82% e, no ano, cede 8,03%.

No front doméstico, o investidores acompanham os desdobramentos em torno do novo arcabouço fiscal. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou hoje "linhas gerais" da proposta aos chefes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Após as reuniões, disse a jornalistas que dará a Lula um retorno sobre o que ouviu nos encontros.

A perspectiva de que o arcabouço fiscal leve ainda algum tempo para ser anunciado pelo governo, o que poderá atrasá-lo em relação à deliberação do Copom sobre a Selic na quarta-feira, contribuiu para manter os investidores na B3 na defensiva nesta largada de semana, em que o Federal Reserve também irá decidir sobre juros, no mesmo dia 22.

"A expectativa ainda é de que o Copom mantenha juros altos por mais tempo, olhando para 2024, que é o horizonte relevante para trazer a inflação à meta. Porém, uma nova variável veio, com essa crise nos bancos lá fora, e também o crédito caindo muito aqui no Brasil, com dificuldade para as empresas renegociarem", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, acrescentando que "a estabilidade do sistema financeiro também é umas das premissas (do BC)". "Prioridade à estabilidade do sistema financeiro, até mais do que às metas (de inflação) como se vê nos BCs de fora, é fundamental para que a economia continue girando."

"Como resultado do aumento da oferta de crédito, a relação crédito/PIB aumentou sensivelmente nos últimos anos, principalmente a partir do final de 2020, quando os juros atingiram níveis mínimos históricos. O ponto negativo disto é que parece ter havido algum exagero nas concessões, o que é corroborado pelo aumento na inadimplência: diversos casos de atrasos de pagamentos e pedidos de RJ [recuperação judicial] vêm sendo noticiados ultimamente. Outro ponto negativo é que com o forte aumento dos juros, o refinanciamento de dívidas atualmente está proibitivo, o que pode acelerar os pedidos de RJ", aponta em relatório a Guide Investimentos.

"Uma 'parada abrupta' no crédito pode ser mais relevante atualmente que em 2014/15, dado que o crédito se tornou mais relevante. Além disso, a contração deve vir mais rápido. A deterioração do cenário econômico em 2014/15 foi gradual. O pedido de RJ da Americanas foi uma surpresa, assim como a intervenção em instituições como Portocred e BRK. Estes eventos estão levando os bancos a serem mais criteriosos na concessão de crédito e o mercado de capitais está vendo mais resgates que captação, reduzindo bastante o fôlego para novas operações", acrescenta a Guide.

Com o cenário doméstico e externo na mesma chave desafiadora, o Ibovespa inicia a penúltima semana do mês com poucas ações de primeira linha conseguindo escapar à nova correção. Das principais blue chips, Vale ON ainda mostra leve perda em março, de 0,10%, após ter fechado esta segunda-feira em alta de 0,82%. Petrobras ON e PN cedem, respectivamente, 10,47% e 9,15% no mês, tendo fechado hoje em baixa de 2,35% e 2,47%. Entre os grandes bancos, as perdas chegam a 7,91% (Itaú PN) ou mesmo 9,60% (Unit do Santander) no mês, com Bradesco ainda mostrando ganho de 0,31% em março, após encerrar hoje em baixa de 1,73%, na ponta negativa da sessão entre as maiores instituições financeiras.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para São Martinho (+4,03%), CSN Mineração (+1,52%), Cielo (+1,23%) e Bradespar (+0,89%). No lado oposto, Hapvida (-8,02%), JBS (-7,27%), Alpargatas (-6,96%) e Eztec (-6,69%). (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 100922.89 -1.03807

Máxima 102328.44 +0.34

Mínima 100678.84 -1.28

Volume (R$ Bilhões) 1.91B

Volume (US$ Bilhões) 3.64B

18:03

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 101650 -0.95006

Máxima 103075 +0.44

Mínima 101330 -1.26

MERCADOS INTERNACIONAIS

Ações de grandes bancos mostraram resiliência hoje, assim como as bolsas de Nova York, ainda que os temores de crise bancária não tenham sido completamente dissipados. A compra do Credit Suisse pelo UBS, apesar de ter trazido certo alívio, levantou dúvidas entre investidores sobre um risco maior do que previam em relação à confiança de algumas instituições financeiras. Por outro lado, autoridades como a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, continuaram a reforçar a prontidão para agir a fim de preservar a estabilidade financeira. A melhora do sentimento por risco, por sua vez, pesou contra o dólar ante rivais, ao mesmo tempo que impulsionou os rendimentos dos Treasuries, à medida que o mercado precifica alta de 25 pontos-base pelo Federal Reserve (Fed), na quarta-feira.

Para a Capital Economics, a compra do Credit Suisse levanta implicações de longo prazo que só ficarão claras "com o tempo". A consultoria aponta, por exemplo, preocupações, como uma possível reavaliação dos títulos adicionais de nível 1 ("additional tier 1" ou AT1, na sigla em inglês), que foram totalmente eliminados. A CMC Markets destaca ainda que o acordo entre o UBS e Credit Suisse deixou os detentores de títulos de AT1 "ressentidos por estarem sendo eliminados, enquanto os acionistas obtêm um preço de 0,75 francos suíços por ação". No entanto, a S&P colocou os ratings A-/A-2 de longo e curto prazo do Credit Suisse Group, incluindo o do Credit Suisse AG, em observação positiva, após anúncio da aquisição pelo grupo UBS. A Moody's também colocou os ratings do Credit Suisse em revisão, podendo ter tanto uma eventual elevação.

Ross Mayfield, analista de estratégia de investimento da Baird, comentou ao Wall Street Journal (WSJ) que é otimista que os governos e autoridades tenham intervindo diante dessa iminente crise de confiança dos bancos. Mas ele pondera que qualquer otimismo do investidor é temperado por temores de que a turbulência ainda não acabou. "Então, acho que é um alívio, mas com uma incerteza iminente e uma angústia sobre o que pode realmente estar por baixo se você realmente continuar cavando", completa.

Hoje, papéis do JPMorgan (+1,06%), Morgan Stanley (+1,73%) e Goldman Sachs (+1,97%) subiram, assim como as bolsas de Nova York: o índice Dow Jones subiu 1,20%, aos 32.244,58 pontos; o S&P 500 teve alta de 0,89%, aos 3.951,57 pontos, e o Nasdaq avançou 0,39%, aos 11.675,54 pontos. Por outro lado, ações do First Republic Bank despencaram mais de 47%, e a negociação chegou a ser suspensa. Reportagem do WSJ noticiou que o JPMorgan está conduzindo discussões com outros grandes bancos sobre novos esforços para estabilizar o banco, que é o mais recente foco em meio aos temores de uma nova crise financeira nos EUA.

Entre as autoridades que estão se pronunciando sobre o assunto, Lagarde garantiu hoje que o BCE está pronto para responder conforme necessário para preservar a estabilidade de preços e a financeira na zona do euro. Já a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que o sistema bancário dos Estados Unidos "permanece estável" e que "americanos podem se sentir seguros e confiantes quanto aos seus depósitos".

Com a melhora do sentimento de risco, retornos dos Treasuries subiram hoje, enquanto o mercado precifica uma chance de uma alta de 25 pontos-base (pb) na próxima decisão de política monetária do Fed. O Goldman Sachs, contudo, acredita que o Fed não deverá elevar juros na decisão desta quarta-feira, em função da recente turbulência no sistema bancário.

"Embora formuladores de políticas tenham respondido agressivamente para fortalecer o sistema financeiro, os mercados parecem não estar totalmente convencidos de que esforços para apoiar bancos pequenos e médios serão suficientes", opina o banco.

Neste cenário, no fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos avançava a 3,957%, o da T-note de 10 anos tinha alta a 3,480% e o do T-bond de 30 anos, a 3,664%.

Já no câmbio, a segurança do iene foi demandada, e com isso o dólar ficou sob pressão, no início de semana que terá decisões BC americano e também pelo Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês). O dólar caía a 131,47 ienes, o euro subia a US$ 1,0721 e a libra tinha alta a US$ 1,2275. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou queda de 0,41%, a 103,281 pontos.

Com o enfraquecimento do dólar, na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do petróleo WTI para maio fechou em alta de 1,33% (US$ 0,89), a US$ 67,82, enquanto o Brent para igual mês, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), subiu 1,12% (US$ 0,82), a US$ 73,79. (Letícia Simionato - [email protected])

JUROS

O mercado de juros começou a semana com pouca inspiração para os negócios, refletindo o compasso de espera pelos eventos no desenrolar dos próximos dias, em especial a decisão do Copom e a apresentação do novo arcabouço fiscal. A sinalização de que a proposta não vai sair antes de quarta-feira causou uma certa frustração, mas não chegou a ter efeito propriamente negativo. A solução para o caso do Credit Suisse - vendido ao rival UBS - e a ação coordenada dos bancos centrais para assegurar liquidez ao sistema financeiro global é boa notícia e impulsionou o apetite ao risco lá fora, mas não teve grandes repercussões na curva local. No fechamento, as taxas curtas e intermediárias preservavam o viés de alta visto ao longo de toda a sessão, trazido pela piora das medianas de IPCA no Boletim Focus, e as longas mostravam queda discreta, na contramão do avanço dos rendimentos dos Treasuries.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a 13,01%, de 12,96% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, a 12,11%, de 12,06%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 12,46%, de 12,47%, e a do DI para janeiro de 2029 passou de 12,93% para 12,91%.

Não somente as taxas percorreram a sessão oscilando entre margens estreitas, como também o volume de contratos movimentados foi baixo, sugerindo disposição limitada do investidor para assumir posições. Normalmente o mais líquido, o DI para janeiro de 2025 girou hoje 485.483 contratos, ante média diária dos últimos 30 dias de 746,2 mil.

"A tendência é o mercado andar de lado até quarta-feira", avalia o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo Oliveira, lembrando que naquele dia tem, ainda antes do Copom, reunião do Federal Reserve.

O mercado esperava começar a semana com sinais mais firmes sobre o novo arcabouço fiscal, mas o pedido do presidente Lula para que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conversasse com o Congresso antes do anúncio oficial provavelmente vai empurrar o anúncio para depois do Copom. O ministro cumpriu a agenda de apresentação para os líderes da Câmara e do Senado, além dos presidentes das duas casas. Segundo ele, a ideia é se reunir ainda hoje com o presidente para apresentar o que ouviu dos parlamentares, cuja reação, diz, teria sido muito boa.

Outro fator que parece estar segurando o avanço das etapas é uma decisão de possível anúncio simultâneo de um novo regramento sobre parcerias público privadas (PPPs) que, nas palavras de Haddad, vão alavancar investimentos. O ministro assegurou que o arcabouço fiscal será divulgado antes da viagem à China. "Não tem ninguém no escuro."

Apesar da impaciência do mercado, a preocupação de Lula em inserir os parlamentares nas discussões é válida na medida em que deles depende a tramitação do processo, que deve ser longo e com ajustes no texto inicial. Se a proposta realmente não for divulgada antes de quarta-feira, pode representar um fator a menos de pressão, sobretudo de dentro do PT, sobre o Copom por cortes imediatos da Selic.

Às vésperas da decisão, no Boletim Focus, as medianas de IPCA para 2024 (4,02% para 4,11%) e 2025 (3,80% para 3,90%) mostraram piora, ficando ainda mais desancoradas das metas que, para ambos, é de 3,00%. Para 2026, para o qual ainda não há meta definida, a mediana disparou de 3,79% para 4,00%.

"O descolamento das atuais metas de inflação, de 3,0%, e o contínuo ajuste altista das expectativas refletem não apenas as incertezas no campo fiscal, mas também uma antecipação a um possível aumento das metas de inflação para os próximos anos", afirma a economista da Tendências Luiza Benamor.

Para ela, tanto o quadro inflacionário ainda adverso e quanto as expectativas futuras desancoradas permanecem como limitações ao corte da Selic no curto prazo, embora a desaceleração da economia e o recente evento ligado a bancos no exterior, que deve levar os principais bancos centrais a subirem menos os juros, tragam argumentos na direção do afrouxamento.

Para o economista da MAG, na questão das apostas para a Selic, há conflito entre o que está precificado na curva e o que pensam os economistas. Enquanto a curva aponta chance de início do ciclo de afrouxamento a partir de maio, nos Departamentos Econômicos prevalece a ideia de que o processo é para o segundo semestre. "Nesse contexto, estes DIs do miolo estão fora do lugar", diz ele, para quem os vértices intermediários estão com prêmios muito baixos.

Na outra ponta, Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel de economia em 2001 e professor da Universidade de Columbia (EUA), disse hoje que a taxa de juros Brasil equivale a uma “pena de morte”, a qual o País tem sobrevivido em função da atuação de bancos públicos. "Uma taxa de 13,7%, ou 8% real, é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte", disse, no seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI”, promovido pelo BNDES em parceria com o Cebri e com a Fiesp. (Denise Abarca - [email protected])

CÂMBIO

Após acumular alta de 1,19% na semana passada, o dólar encerrou a sessão desta segunda-feira, 20, em queda de 0,52%, cotado a R$ 5,2430 no mercado doméstico de câmbio. Segundo operadores, agentes aproveitaram o sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior, em meio à diminuição dos temores de uma crise de crédito mais aguda nos Estados Unido e na Europa, para realizar lucros e ajustar posições. Por aqui, há certa cautela diante das negociações, em Brasília, em torno do novo arcabouço fiscal, com queda de braço entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ala política do governo.

Afora uma pequena alta na primeira hora de negócios, quando registrou máxima a R$ 5,2847 (+0,28%), o dólar operou em baixa ao longo de todo o pregão, com mínima a R$ 5,2342. A liquidez foi reduzida, com o contrato de dólar futuro para abril movimentando pouco mais de US$ 10 bilhões, o que mostra pouco apetite por apostas mais contundentes na abertura da semana que traz a "Super Quarta", com decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos.

Lá fora, investidores digeriram hoje a compra do Credit Suisse pelo UBS, com amplo apoio do Banco Central suíço, e a ação orquestrada de bancos centrais desenvolvidos para prover liquidez em dólares, com a possibilidade de operações diárias de swap cambiais com o Federal Reserve. Embora ainda haja dúvidas sobre os desdobramentos do caso Credit Suisse e desconfiança em relação aos bancos médios nos EUA, cuja bola da vez parece ser o First Republic Bank, houve certa recuperação do apetite ao risco. Uma corrente minoritária do mercado aposta que, diante do aperto das condições financeiras provocado pelos problemas no mercado de crédito, o Fed vai interromper o processo de alta dos Fed Funds na quarta-feira, 22.

Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, os negócios no mercado de câmbio foram claramente pautados pelo comportamento do dólar no exterior. "A ação dos BCs ajudou a dissipar parte da névoa, mas ainda existe muita incerteza no horizonte. O mercado vai olhar com lupa a situação dos bancos médios nos Estados Unidos e novas vítimas podem aparecer. A questão é saber se o Fed errou ao olhar apenas para emprego e inflação todo esse tempo, sem dar atenção à saúde do sistema financeiro", diz Galhardo.

Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em baixa ao longo do dia, furando os 103,300 pontos, com fortalecimento do euro e do iene. No Parlamento Europeu, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, como era de se esperar, disse que o sistema financeiro da zona do euro está sólido. E acrescentou que a estabilidade de preços segue sendo o que guia as decisões de política monetária.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a fraqueza do DXY reflete, em parte, as mudanças nas apostas para a taxa terminal de juros nos EUA para uma faixa mais perto de 5% do que 6%. "Vemos alguma recomposição do real hoje, mas sem tanta força por conta da cautela com a apresentação do novo arcabouço. O risco fiscal continua sendo o grande empecilho para uma recuperação mais expressiva do real", afirma Abdelmalack.

Sob o chamado "fogo amigo" da ala política do governo, o ministro da Fazenda cumpriu determinação de Lula e visitou hoje os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para apresentar a proposta do novo arcabouço. Na saída de encontro com Pacheco, Haddad afirmou que a recepção das lideranças partidárias e dos presidentes da Câmara e do Senado "foi muito boa" e que pode se reunir ainda hoje com Lula para relatar o que ouviu nas reuniões com parlamentares. O ministro garantiu que o anúncio do novo arcabouço será feito antes da visita presidencial à China, no dia 26.

Não se sabe, contudo, se o texto virá á público antes do desfecho da reunião do Copom, no início da noite de quarta-feira, 22. A aposta unânime é de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. As expectativas giram em torno do comunicado do colegiado, que pode, sob o impacto da decisão do Fed e, talvez, da proposta do novo arcabouço fiscal, trazer sinais sobre início de processo de corte da Selic ainda neste primeiro semestre. (Antonio Perez - [email protected])

18:02

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