Os mercados brasileiros voltaram a se descolar do exterior e, mais uma vez, negativamente. O tom mais duro usado pelo Banco Central após sua decisão de manter a Selic em 2%, ontem, até chegou a melhorar o desenho da curva de juros, com queda das taxas longas, e a jogar o dólar para baixo ante o real. Mas esses ajustes não resistiram à piora de percepção em relação ao rumo das contas públicas neste ano. Isso porque os candidatos às presidências de Câmara e Senado apoiados pelo governo - e favoritos na disputa até agora - voltaram a defender a prorrogação do auxílio emergencial. Mas Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que busca suceder Davi Alcolumbre no Senado, foi além: disse que o teto de gastos não pode ser algo intocável, a depender da necessidade, e que a privatização da Eletrobras não é seu foco. Ou seja, duas pautas caras à equipe econômica e ao ministro Paulo Guedes não parecem ter tanto apreço assim por parte daqueles que o governo quer colocar no comando do Legislativo. Em um cenário de incerteza em relação ao processo de vacinação, ainda que o governo tenha finalmente conseguido, à tarde, liberar a importação de 2 milhões de doses do imunizante vindo da Índia, o resultado foi alta generalizada dos juros, dólar com ganho importante diante do real e Ibovespa em queda hoje e, agora, também no ano. No caso das taxas dos DIs, os vencimentos curtos, em ajuste pós-Copom, precificam 76% de chance de um aperto de 25 pontos-base em março, com o restante das apostas (24%) em uma elevação ainda maior, de 50 pontos. Entre os analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, alguns também acreditam em aperto em março e a maioria, ainda no primeiro semestre. Já os vencimentos longos, ainda que abaixo das máximas, também subiram, refletindo a piora de sentimento em relação ao Brasil. A moeda dos EUA, que chegou a ceder para R$ 5,23 mais cedo, com a expectativa de antecipação de alta de juros no Brasil, bateu em R$ 5,40 no meio da tarde, auge do estresse dos investidores, e desacelerou para R$ 5,3641 no fechamento do mercado à vista, mas ainda com valorização firme de 0,98%. Enquanto isso, na renda variável, o Ibovespa chegou a cair para o nível de 117 mil pontos, com as ações da Eletrobras tombando mais de 5% após as declarações de Pacheco ao Broadcast Político. Mas a Bolsa recobrou um pouco de espaço, até terminar com baixa de 1,10%, aos 118.328,99 pontos. Tal desempenho, contudo, contrasta com a renovação de recordes do S&P 500 e do Nasdaq em Wall Street, que ainda repercutem a possibilidade de mais estímulos pelo novo governo de Joe Biden e antecipam movimentos diante de alguns balanços importantes a serem divulgados nos próximos dias.
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