A coletiva com o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a decisão do BC americano de elevar os juros em 25 pontos-base trouxe mais dúvidas do que certezas aos investidores, o que contribuiu para a volatilidade e interpretações divergentes de cada um dos segmentos do mercado. Do lado mais "dovish", o Fed incluiu um parágrafo citando a possível restrição no crédito devido às turbulências bancárias e indicou que o ciclo de aperto está perto do fim. Aliás, o próprio Powell admitiu que uma pausa foi debatida nesta reunião, já antecipando um conteúdo que só virá a ser conhecido na ata do Fomc, daqui a três semanas. Por outro lado, numa abordagem um pouco mais "hawkish", Powell lembrou que a inflação nos EUA ainda segue em nível alto e que o Fed pode elevar os juros de novo, caso seja necessário. "Não estamos de mãos atadas", disse. Além disso, o chairman do BC americano reforçou que os dirigentes não preveem corte das taxas este ano se o cenário projetado por eles se confirmar. Com possibilidades múltiplas de interpretação, os ativos correram para direções distintas. As bolsas de Nova York fecharam em queda firme - Dow Jones cedeu 1,63%, S&P 500 perdeu 1,65% e Nasdaq recuou 1,60% - e o Ibovespa foi na mesma linha. O índice brasileiro recuou aos 100.220,63 pontos (-0,77%), nova mínima de fechamento do ano. Nos juros e no dólar, tanto lá fora quanto aqui, o que prevaleceu foi o sinal de baixa. A T-note de 2 anos cedeu a 3,947% e o DXY recuou a 102,346 pontos. O DI para janeiro de 2025 chegou a operar abaixo da faixa de 12%, mas terminou em 12,03%. E o dólar à vista foi para R$ 5,2370 (-0,17%). Com a expectativa quanto ao tom a ser adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) daqui a pouco em meio à cena externa e ao tiroteio de alas do governo contra a Selic alta, os agentes locais também observam o debate em torno do arcabouço fiscal.
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MERCADOS INTERNACIONAIS
O ímpeto de alta nos mercados acionários de Nova York logo após o Federal Reserve (Fed) manter o ritmo de aperto monetário, conforme o esperado por analistas, durou pouco, à medida que comentários do presidente da instituição, Jerome Powell, frearam o apetite ao risco. Já a busca pela segurança dos Treasuries aumentou, ao passo que a do dólar arrefeceu. O banqueiro central ressaltou que a inflação nos Estados Unidos ainda está muito acima da sua meta de longo prazo e afastou as chances de cortes de juros ainda este ano, apesar de, segundo ele, o BC americano ter chegado a cogitar a possibilidade de pausar o aperto monetário por conta da turbulência bancária.
O BC americano decidiu elevar a taxa dos Fed Funds em 25 pontos-base (pb), para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Ademais, o gráfico de pontos trouxe que a maioria dos dirigentes espera que os juros nos EUA estejam na faixa entre 5,00% e 5,25% em 2023. A Oxford Economics destaca que no comunicado o Fed alterou a sua orientação futura para uma postura menos agressiva que a vista na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) de dezembro, a partir da substituição da frase "aumentos em curso na meta da faixa de juros" para "algumas políticas adicionais podem ser apropriadas", representando uma atitude mais dovish no comunicado. Para a Oxford, mais dois aumentos de 25 pontos-base devem ocorrer nas próximas duas reuniões. Monitoramento do CME Group mostrava há pouco possibilidade de 55,5% de manutenção dos juros no início de maio pelo Fed. Há ainda 44,5% de chance de alta de 25 pontos-base (pb).
Neste cenário, o Dow Jones fechou em baixa de 1,63%, em 32.030,11 pontos, o S&P 500 recuou 1,65%, a 3.936,97 pontos, e o Nasdaq teve queda de 1,60%, a 11.669,96 pontos. Entre alguns bancos, JPMorgan recuou 2,58%, Citigroup caiu 3,02% e Bank of America, 3,32%. Na renda fixa, no fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 3,947%, o da T-note de 10 anos tinha queda a 3,461% e o do T-bond de 30 anos recuava a 3,651%.
Logo após a decisão sair, Powell reforçou que os membros do Fomc não trabalham com a expectativa de corte de juros neste ano. Ademais, ele ponderou que o BC chegou a avaliar a possibilidade de pausar o processo de aperto monetário por conta da turbulência bancária nas últimas semanas. No entanto, os dados da inflação e do mercado de trabalho nos Estados Unidos vieram mais fortes do que o esperado antes mesmo dos eventos recentes, afirmou. Segundo Powell, o Fomc também avaliou que os eventos das duas últimas semanas provavelmente resultarão em algum aperto nas condições de crédito para famílias e empresas e, portanto, pesarão na demanda, no mercado de trabalho e na inflação. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, por sua vez, afirmou hoje que é preciso focar em melhorar a confiança do público na solidez do sistema bancário neste momento, após intervenção no Signature Bank e no Silicon Valley Bank (SVB).
Gustavo Sung, da Suno, destaca que, apesar dos episódios recentes envolvendo os bancos nos Estados Unidos, ainda é cedo para compreender o verdadeiro tamanho do problema. "E, diante da atividade econômica resiliente, mercado de trabalho aquecido e uma inflação ainda dando alguns sinais de alerta, acreditamos que o Fomc tomou a atitude correta", concluiu. Já o Credit Suisse avalia que o resultado da reunião de hoje mostra um compromisso desconfortável sob incerteza. O Fomc entregou alta para não decepcionar o mercado e perder credibilidade no combate à inflação. "Ao mesmo tempo, porém, a declaração, o gráfico de pontos e a conferência de Powell diminuíram as expectativas de taxas terminais", analisa.
No câmbio, o dólar recuou ante rivais, pressionado pela decisão do Fed e com expectativa de maior aperto monetário pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco da Inglaterra (BoE), que fortaleceu as moedas europeias. Por volta das 17 horas (de Brasília), o dólar recuava a 131,27 ienes, o euro avançava a US$ 1,0874 e a libra subia a US$ 1,2288. O índice DXY teve queda de 0,88%, aos 102,346 pontos.
O arrefecimento da divisa americana deu fôlego aos contratos futuros de petróleo, que também recebeu apoio após o dado semanal de estoques nos Estados Unidos do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês). O óleo WTI para maio fechou em alta de 1,76% (US$ 1,23), a US$ 70,90 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês avançou 1,82% (US$ 1,37), a US$ 76,69 o barril, na Intercontinental
BOLSA
A coletiva do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a decisão do BC americano de elevar, conforme esperado, a taxa de juros de referência em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano, foi como um giro de montanha-russa para Wall Street e a B3. Os índices de ações, lá e aqui, atingiram máximas da sessão nos trechos mais favoráveis ao apetite por risco e despencaram depois para mínimas do dia, em sinal negativo mantido no fechamento, ante a percepção de que a inflação ainda é preocupação maior, para o Fed, do que os efeitos de eventual crise bancária sobre as condições de crédito, já dificultadas pelo nível dos juros.
Ao final, o Ibovespa mostrava perda de 0,77%, aos 100.220,63 pontos, em novo piso de fechamento do ano - também a menor leitura de encerramento desde 26 de julho (então aos 99.771,69 pontos). Em NY, o sinal que prevaleceu no encerramento também foi negativo, em grau de correção maior do que o visto aqui, com o Dow Jones em baixa de 1,63%, o S&P 500, de 1,65%, e o Nasdaq, de 1,60%, após as três referências terem seguido em renovação de mínimas até perto do fechamento.
Aqui, o Ibovespa oscilou entre mínima de 100.128,79 e máxima de 101.887,72 pontos, saindo de abertura aos 100.997,54. Foi o terceiro fechamento consecutivo abaixo dos 101 mil pontos para o índice da B3, que acumula agora perda de 1,73% na semana; de 4,49% no mês e de 8,67% no ano. Ainda muito fraco, o giro financeiro ficou em R$ 20,2 bilhões na sessão.
A ciclotimia dos índices de ações derivou da ponderação do mercado sobre momentos distintos da fala do presidente do Fed. Por um lado, ele enfatizou que a inflação nos Estados Unidos ainda está muito acima da meta de longo prazo, de 2% ao ano. "A inflação moderou um pouco desde meados do ano passado, mas a força dessas leituras recentes indica que as pressões inflacionárias continuam altas", disse Powell, ainda que tenha reconhecido haver um processo de desinflação em curso no país.
Por outro lado, o presidente do Fed disse que a turbulência bancária nos Estados Unidos deve impactar as condições de crédito. "É muito cedo para determinar a extensão desses efeitos e, portanto, muito cedo para dizer como a política monetária deve responder", ressalvou Powell.
Antes da coletiva do presidente do Fed, "no comunicado, o Fomc [comitê de política monetária] antecipou que aperto adicional na política monetária pode ser apropriado", aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. "Diante da atividade econômica resiliente, mercado de trabalho aquecido e inflação ainda dando alguns sinais de alerta, acreditamos que o Fomc tomou a atitude correta", acrescenta o economista, observando que "apesar dos episódios recentes envolvendo bancos nos Estados Unidos, ainda é cedo para compreender o verdadeiro tamanho do problema". "Fed ressaltou que o sistema bancário é sólido e resiliente", diz Sung.
Com o mercado ponderando prós e contras ao apetite por risco na fala do presidente do Federal Reserve, as ações de grandes bancos perderam fôlego, encerrando em baixa, à exceção de BB (ON +0,24%). O dia foi negativo para Vale (ON -1,25%), após queda no preço do minério na China, e também para Petrobras (ON -0,87%, PN -0,30%), apesar de avanço moderado para o petróleo na sessão. Na contramão, avanço para siderurgia, bem moderado no fechamento, com destaque para CSN (ON +0,64%).
Na ponta de ganhos do Ibovespa na sessão, as construtoras MRV (+4,60%) e Eztec (+4,57%), à frente de CCR (+2,72%) e Natura (+2,22%). No canto oposto, BRF (-6,83%), Vibra (-6,46%) e Assaí(-5,70%).
"A desaceleração da inflação nos EUA, de 6,4% em janeiro para 6% em fevereiro, intensificou a aposta dos investidores de que a taxa de juros ficará mais próxima de 5% do que 6% ao fim do ciclo, o que foi confirmado no quadro de projeções do Federal Reserve", hoje, aponta em nota Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
"O que aconteceu no mercado bancário americano nas últimas duas semanas mudou a ponderação de risco do Fed, ainda que a instituição reafirme que a política monetária precisa permanecer ativa, pela inflação muito elevada e o mercado de trabalho pressionado", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento). "Condições financeiras estão sob reavaliação, mas os membros do comitê (do Fed) não veem queda de juros este ano, diferentemente do que se chegou a especular no mercado."
"O texto da decisão do Fomc e o discurso de Powell foram bastante abertos, optando por uma maior flexibilidade na próxima decisão. Mas fiquei com impressão mais 'dovish' por parte de Powell. Com a decisão de 3 de maio dependente dos próximos dados, ainda é cedo para cravar, mas os eventos de hoje sugerem probabilidade alta de o Fomc ter terminado o ciclo de alta de juros", observa Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:02
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 100220.63 -0.76982
Máxima 101887.72 +0.88
Mínima 100128.79 -0.86
Volume (R$ Bilhões) 2.01B
Volume (US$ Bilhões) 3.83B
18:03
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 100670 -1.12944
Máxima 102645 +0.81
Mínima 100670 -1.13
CÂMBIO
O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 22, em queda de 0,17%, cotado a R$ 5,2370, alinhado ao sinal de baixa da moeda americana no exterior, em dia marcado pela decisão de política monetária do Federal Reserve e falas do chairman Jerome Powell. Além de assegurar apoio aos bancos com problemas de liquidez e ressaltar que o sistema financeiro permanece sólido, o presidente do BC americano deu sinais de que o processo de alta de juros pode estar perto do fim, embora tenha alertado para a inflação ainda elevada.
Apesar de ter se apreciado hoje, o real apresentou desempenho bem inferior a de seus pares emergentes, como peso mexicano, chileno e rand sul-africano. É de se ressaltar que, pela manhã e início da tarde, mesmo em baixa lá fora, o dólar subia por aqui, com máxima a R$ 5,2792 (+0,64%). Já a mínima (R$ 5,2060) foi registrada justamente quando o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana no frente a seis divisas fortes - ameaçou romper a linha dos 102,000 pontos, ao descer até 102,065 pontos. Quando o mercado local fechou, o DXY orbitava os 102,500 pontos.
O fôlego curto do real foi atribuído por analistas ao desconforto com o adiamento da divulgação do novo arcabouço fiscal para abril, após a visita presidencial à China, e a ataques da ala política do governo ao Banco Central. Ecoando falas recentes de Lula, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, presta um "desserviço à nação Brasileira" e que não é necessário "o anúncio de novo marco fiscal para rever isso [nível da taxa de juros]".
"O dólar subia no Brasil até o anúncio da decisão do Fed. O mercado de câmbio ainda está muito pressionado pela incerteza em relação ao novo arcabouço fiscal, que era para ser anunciado nesta semana e ficou para abril", afirma o líder de renda variável da Manchester Investimentos, Marco Noernberg, acrescentando que a saída de capital externo da bolsa em março, já superior a R$ 2 bilhões, mostra que o investidor estrangeiro está receoso com o Brasil, o que prejudica o desempenho da moeda brasileira.
A perspectiva unânime de economistas é que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie hoje no início da noite manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano. Embora ainda não tenha em mãos o texto final da nova regra fiscal, especula-se que o colegiado do BC possa adotar tom mais moderado e até sinalizar redução dos juros ainda neste primeiro semestre.
Nos Estados Unidos, como esperado por ala majoritária do mercado, o Fed elevou a taxa básica em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,75% e 5%. Powell afirmou que o BC americano chegou a avaliar a possibilidade de pausar o processo de alta de juros já nesta reunião, em razão dos problemas de liquidez nos bancos americanos. Dados de inflação e do mercado de trabalho mais fortes que o esperado ampararam nova elevação dos Fed Funds.
Powell ressaltou que o BC americano avalia que haverá provavelmente aperto nas condições de crédito para famílias e empresas nas próximas semanas, o que respingará no mercado de trabalho e na inflação. "Tal aperto nas condições financeiras funcionaria na mesma direção que um aumento nas taxas, ou talvez mais do que isso", disse Powell. "Portanto, nossa decisão foi seguir em frente com uma alta de 25 pontos-base e mudar nossa orientação de altas contínuas para algumas altas adicionais".
"No comunicado, as mudanças foram no sentido 'dovish'. O 'forward guidance' mudou de "aumentos contínuos" para "uma política firme adicional pode ser apropriada". Ou seja, a alternativa à alta de 25 pontos na próxima reunião seria uma pausa", afirma a economista-chefe da Tenax Capital, Debora Nogueira.
"O Fed será ainda mais "data dependent" devido aos eventos recentes de turbulência no setor bancário. Isso determinou para que o tom da mensagem de hoje fosse para o lado 'dovish', com o Fed antecipando que ocorrerá um aperto de crédito na economia com os bancos mais cautelosos", diz a economista-chefe da Upon Global Capital, Nicole Kretzmann.
Monitoramento da CME hoje à tarde mostrava chance de 53,1% de manutenção da taxa básica americana em maio, ante 46,4% de elevação em 25 pontos-base. A despeito de Powell ter refutado novamente a ideia de corte de juros ainda neste ano, a maioria do mercado segue apostando em tal possibilidade.
Para o economista Eduardo Velho, da JF Trust, mais do que a interrupção iminente do processo de alta de juros, o que tende a pressionar o dólar para baixo lá fora é a perspectiva de uma deterioração da atividade econômica nos Estados Unidos, em razão do aperto do crédito provocado pelas dificuldades nos bancos médios do país. "Pode até haver mais um aumento de 25 pontos nos juros. Mas mesmo que o Fed resolva parar, isso não significa melhora da liquidez, porque tem os problemas nos bancos. Por isso, as bolsas em Nova York e o dólar caíram juntos hoje", afirma. (Antonio Perez - [email protected])
JUROS
O mercado de juros fechou a Super Quarta com taxas curtas estáveis e as demais em queda, mais expressiva nos vencimentos longos. A perda de inclinação na curva esteve relacionada ao exterior, com o Federal Reserve endossando a expectativa de uma suavização do discurso após os problemas em bancos nos Estados Unidos. O tom mais dovish do comunicado em relação ao anterior foi reforçado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, na entrevista coletiva, alimentando a ideia de que o ciclo de aperto do juro está próximo do fim. Já para o Copom, o consenso de que a taxa será mantida em 13,75% segue inabalado. Há grande expectativa pela sinalização para maio e os pesos que o comunicado dará à evolução das variáveis do balanço de risco desde a última reunião, em especial as projeções de IPCA e as condições do segmento de crédito, em meio ainda às pressões do governo pela queda da taxa.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou com taxa de 13,00%, a mesma de ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025, que chegou a cair abaixo de 12,00% nas mínimas do dia, fechou em 12,03%, de 12,10%. O DI para janeiro de 2027 projetava 12,28% no fechamento, de 12,42% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 12,88% para 12,74%.
As taxas chegaram a operar em alta durante a manhã, com algum respingo das avaliações sobre os nomes supostamente escolhidos para as diretorias do Banco Central e com a volatilidade na curva dos Treasuries. No começo da tarde, porém, os retornos dos títulos do Tesouro norte-americano se firmaram em baixa colocando as taxas locais no mesmo rumo. O mercado antecipava um discurso mais suave do Fed, que acabou se confirmando, ainda que Powell tenha colocado sobre a mesa o pacote de incertezas que ronda o futuro da política monetária. A decisão em si, alta de 25 pontos-base, levando o juro para entre 4,75% e 5,00%, ratificou as apostas majoritárias.
"De maneira geral, o statement foi levemente dove e a entrevista coletiva foi dove", avaliou o economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont. Para ele, pela linguagem do comunicado, é provável que o aperto das condições financeira por causa dos bancos a afetem emprego, atividade e renda. "Olhando pelos dots para o fim deste ano, sugerem apenas mais uma alta em maio. Mas na hora de escrever o comunicado, não garantiram que vai ter, dizendo que talvez seja 'apropriado' ter mais uma alta", destaca.
Já na coletiva, destaca Chermont, a sensação é de que o Fed está mais preocupado com o problema dos bancos do que ele supunha. "Sugeriu até que o aperto nas condições financeiras poderiam substituir o trabalho do Fed", lembrou, considerando que nesse contexto "a leitura para juros e dólar é para baixo".
Resta saber agora como e se as sinalizações dos bancos centrais das economias principais sobre o sistema financeiro e seus impactos no crédito, dadas hoje pelo Fed e Banco da Inglaterra, e ontem pelo Banco Central Europeu (BCE), vão pesar sobre o Copom. Até porque o mercado de crédito no Brasil também está enfraquecido pelo ciclo de altas da Selic.
O operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, André Alírio, reconhece que o ambiente é desafiador para os diretores, com as expectativas de inflação bastante desancoradas, mas vê como importante que o Copom faça a ponderação. "Mesmo que não seja uma crise bancária que precise de estímulos à economia, o BC deve fazer esse alerta. Desconsiderar isso seria temerário", afirmou. Caso se confirme essa previsão, o Copom poderá já estar preparando o terreno para começar a cortar a taxa, se o arcabouço fiscal, que ficou para abril, ajudar. "O BC vai telegrafando", disse.
Dados os riscos para o mercado de crédito aqui e no exterior, haveria argumentos críveis para suavizar o discurso sem parecer que o Copom está começando a ceder às pressões do governo para cortar a Selic. "Mesmo parados, os juros já têm um efeito restritivo na atividade", diz Alírio.
Na esteira das críticas ontem do presidente Lula ao nível da Selic e ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), disse hoje que Campos Neto, presta um "desserviço" à população ao manter a taxa Selic em 13,75% e que o governo já tem uma reação ensaiada caso o juro não caia: redobrar as críticas e os ataques.
Sobre os nomes que teriam sido escolhidos por Lula para as diretorias de Política Monetária e de Fiscalização, a reação do mercado foi diversa. Os mandatos dos atuais ocupantes Bruno Serra e Paulo Souza terminaram no fim de fevereiro. Cotado para a Política Monetária, Rodolfo Fróes, ex-Fator, ex-Bank of America e co-fundador da Flow Corretora, admitiu que tem seu nome entre os que estão sendo analisados. Para a Fiscalização, o nome seria o de Rodrigo Monteiro, servidor de carreira do BC. (Denise Abarca - [email protected])