O pessimismo com relação aos efeitos do aperto monetário global na atividade e as incertezas fiscais domésticas fizeram o Ibovespa voltar a perder a marca de 100 mil pontos, que o índice mantinha nas duas últimas sessões. Do exterior, uma declaração do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que o processo de alta de juros provavelmente envolverá "alguma dor" do ponto de vista econômico, no mesmo dia que houve uma revisão baixista para o PIB dos EUA do primeiro trimestre, trouxe azedume a ativos de risco em Nova York em boa parte da sessão e reverberou no Brasil. Internamente, confirmou-se a intenção de decretação de estado de emergência, dentro do pacote dos combustíveis, para dar segurança jurídica aos reajustes do Auxílio Brasil e do vale-gás e a criação do 'bolsa-caminhoneiro'. O impacto fiscal das medidas será de R$ 38,7 bilhões fora do teto de gastos. O conjunto de fatores, somado a mais uma sessão de liquidez mais restrita, levou o Ibovespa a fechar em 99.621,58 pontos, queda de 0,96%. Até agora, dia 29, a queda supera os 10%, o que faz de junho o pior mês para a Bolsa desde março de 2020. Voltando ao exterior, Dow Jones subiu 0,27% enquanto Nasdaq e S&P 500 terminaram em queda, de 0,07% e 0,03%, respectivamente, bem longe dos piores momentos da sessão. E enquanto os rendimentos dos Treasuries cederam, espelhando cautela, o dólar subiu ante as moedas principais. Tal sinal, contudo, não foi visto no Brasil. Um dia depois de escalar à cotação mais alta desde 4 de fevereiro, a moeda americana à vista cedeu a R$ 5,1930, baixa de 1,39%. Analistas atribuíram a apreciação do real a fluxo positivo, sobretudo no segmento comercial, e a movimentos técnicos no mercado futuro, na véspera da formação da última Ptax de junho e da rolagem de posições. Nos juros futuros, os contratos exibiam estabilidade ou recuo em relação ao dia de ontem, com o combo dólar e Treasuries dando espaço para algum alívio às taxas. Ainda assim, os agentes relatam incômodo com o futuro das contas públicas.
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MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York fecharam sem sinal único, com pouco impulso mesmo após a queda forte do dia anterior. A perspectiva de aperto monetário seguiu como foco importante, em uma quarta-feira com novas declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, renovando a intenção de elevar juros para controlar a inflação nos Estados Unidos. No câmbio, o índice DXY do dólar exibiu ganhos, mas entre os Treasuries a cautela levou os retornos dos bônus para baixo. Em meio a dúvidas sobre a demanda futura, o petróleo registrou baixa.
Ainda antes da abertura do mercado acionário americano, uma revisão mostrou que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA encolheu 1,6% no primeiro trimestre, em números anualizados. O resultado fraco, abaixo da previsão, manteve vivos os temores de recessão na maior economia do mundo (leia mais na reportagem especial publicada às 16h09). Nesse contexto, as bolsas americanas mostraram volatilidade e pouco fôlego. O Dow Jones fechou em alta de 0,27%, em 31.029,31 pontos, o S&P 500 caiu 0,07%, a 3.818,83 pontos, e o Nasdaq registrou queda de 0,03%, a 11.177,89 pontos. Entre os setores, energia puxou as quedas e o financeiro também recuou, enquanto tecnologia e serviços de comunicação tiveram altas modestas.
Já no câmbio o dólar voltou a ganhar força em geral, com a perspectiva de aperto monetário no radar. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, avançou 0,57%, a 105,106 pontos. No fim da tarde em Nova York, o dólar subia a 136,55 ienes, o euro recuava a US$ 1,0443 e a libra tinha baixa a US$ 1,2118.
O ANZ comenta que o presidente do Fed reafirmou sua visão de que o BC americano pode retornar à meta de 2% da inflação e manter o mercado de trabalho forte. Entre os dirigentes, Loretta Mester (Cleveland) pediu nova alta de 75 pontos-base, mas também sem prever recessão adiante. Para o banco, até que a inflação mostre moderação sustentável, é "arriscado" olhar para dados mais fracos e decretar que o pico no ciclo de altas de juros já está precificado. "A inflação pode ser duradoura, e até agora se mostra persistente, em máximas em várias décadas", avalia.
Na opinião do BMO Capital, Powell reafirmou hoje o compromisso 'hawkish', ao dizer que o Fed não permitirá um "ambiente de alta inflação" se enraizando nos EUA. O banco de investimentos também menciona o fato de o presidente do BC americano ter dito que a inversão da curva de juros "não é uma grande preocupação neste momento", com o que o BMO concorda.
No mercado de Treasuries, porém, influiu mais hoje a busca por segurança, com altas nos preços dos bônus e consequente queda nos retornos. No horário citado, o juro da T-note de 2 anos caía a 3,069%, o da T-note de 10 anos recuava a 3,096% e o do T-bond de 30 anos tinha baixa a 3,212%. Para o BMO, a reação do mercado de dívida americana à declaração de hoje deve ter agradado Powell.
Entre as commodities, o petróleo WTI para agosto fechou em queda de 1,77%, em US$ 109,78 o barril, na Nymex, e o Brent para setembro caiu 1,17%, a US$ 112,45 o barril, na ICE. A commodity ajustou ganhos recentes, em dia também de dólar forte e dado misto de estoques na semana dos EUA. Para o Citi, o preço deve seguir em "nível forte" no terceiro trimestre, perto de US$ 100 o barril do Brent, mas projeta queda no preço ao longo de 2023, com a perda de fôlego no crescimento global e maior oferta de países de fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) (leia mais na entrevista publicada às 15h55).
Ainda no noticiário, tensões geopolíticas seguiam no radar, com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, afirmando que as relações com a Rússia estão nos piores níveis desde a Guerra Fria. A China, por sua vez, acusou o G7 de incentivar "divisão e confronto" no cenário global, em sua comunicação após cúpula do grupo realizada na Alemanha.
Já na frente da saúde global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que a resposta à varíola dos macacos exige "esforços intensos" e afirmou que o Comitê de Emergência da entidade deve reavaliar o quadro da doença em breve. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), por sua vez, destacou subida de 13,9% nos casos de covid-19 na última semana, em relação à anterior, com alta nos registrados da doença por toda a região, inclusive na América do Sul e nos EUA. (Gabriel Bueno da Costa - [email protected])
BOLSA
Após dois fechamentos na linha dos 100 mil pontos, o Ibovespa voltou a se acomodar nesta quarta-feira abaixo do limiar psicológico de seis dígitos, faltando apenas a sessão de amanhã para o fechamento do mês em que acumula perda de 10,53%, a segunda pior desde o mais baixo momento da pandemia, em março de 2020, quando cedeu 29,90%. Hoje, a referência da B3 oscilou entre os 99.218,13 e 101.313,08, saindo de abertura aos 100.592,38 pontos. Ao final, mostrava queda de 0,96%, aos 99.621,58 pontos, com giro bem fraco na sessão, a R$ 20,1 bilhões. Na semana, ainda avança 0,96%, e as perdas no ano estão agora em 4,96%.
O enfraquecimento do giro observado na B3 tem refletido o grau de cautela, tanto no plano interno como no externo. Lá fora, permanecem as dúvidas quanto ao grau de aperto monetário ainda a ser promovido pelo Federal Reserve, no momento em que a revisão do PIB do primeiro trimestre nos Estados Unidos, pior do que antecipado, e especialmente a divulgação dos primeiros dados econômicos de junho sugerem desaceleração da atividade no país, enquanto na segunda maior economia do mundo, a China, a retomada ainda é dificultada pelo surto de covid.
“O PIB americano veio um pouco pior do que o esperado, e como já é a última revisão do dado, acaba produzindo menos impacto, pensando também no médio e longo prazo. A leitura talvez seja a de que os Estados Unidos já não estivessem tão bem no primeiro trimestre, com possível efeito sobre os planos do Fed - mas não parece ser o que o BC americano, de fato, fará. O Fed tem reiterado que, entre atividade e inflação, prefere pesar a mão contra a inflação, prosseguindo com as altas de juros para que ela convirja para a meta”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, antecipando a possibilidade de desaceleração econômica este ano nos EUA, mas sem uma “recessão forte adiante”.
Em linha com esta visão, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reconheceu hoje que o processo de aperto monetário muito provavelmente envolverá "alguma dor" do ponto de vista econômico, mas que ameaça ainda mais grave seria fracassar em controlar a inflação. "É importante que as pessoas entendam o quão estamos comprometidos em retornar inflação à meta de 2%", disse Powell, durante participação em fórum do Banco Central Europeu (BCE), em Portugal. A fala foi considerada mais dura do que as de autoridades da zona do euro no mesmo evento, o que resultou em avanço do índice DXY, que contrapõe o dólar a outras seis referências, como euro, iene e libra.
“O Ibovespa já vinha um pouco mais pressionado com a indicação do Fed de que o principal objetivo nesse momento é controlar a inflação, o que aumenta as apostas, para elevação de 0,75 ponto porcentual (nos juros de referência dos EUA), na próxima reunião de política monetária. As ações de commodities estavam segurando um pouquinho aqui. Mas o relator da PEC dos Combustíveis (senador Fernando Bezerra, MDB-PE), aprovando estado de emergência para que o governo possa fazer subsídio em ano eleitoral, pesou no humor geral. Tem impacto direto sobre o fiscal apesar do alívio de curto prazo para os consumidores, na cesta de bens, em que os combustíveis são altamente representativos”, diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos.
Mesmo com a possibilidade de o governo, a pouco mais de três meses da eleição, recorrer a estado de emergência para ampliar gastos e transferências sociais - como o Auxílio Brasil de R$ 600, o vale-gás dobrado e o voucher de R$ 1 mil aos caminhoneiros autônomos -, o dólar, embora ainda volátil, fechou hoje em baixa de 1,39%, a R$ 5,1930, no segmento à vista, após ter chegado a R$ 5,2596 na máxima da sessão. Tanto o câmbio como a curva de juros, pressionados, têm espelhado também a deterioração da perspectiva fiscal do Brasil, em mais uma temporada eleitoral.
“O que começa como temporário acaba virando direito adquirido - Lula, se vitorioso, reduziria o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil)?”, questiona Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo. “Desde 1994, com a adoção do real, as séries longas mostram que o CDI acaba batendo a Bolsa. E no momento, com a perspectiva de que os juros ficarão altos por mais tempo, de que levará mais tempo para o BC começar a cortar a Selic de novo, o CDI é 'free lunch' (almoço grátis)”, acrescenta o gestor.
“Mais uma vez se frustra a expectativa de que pudesse ocorrer um 'decoupling' (descolamento) que favorecesse a Bolsa, em razão de o aperto (nos juros) ter começado bem mais cedo no Brasil (em relação ao exterior), com o ciclo de elevação agora já perto do fim por aqui”, diz Knudsen. “A Bolsa está barata, sim, mas a tendência é de que continue assim. Nem dados melhores, como o IGP-M de hoje, abaixo do esperado, têm ajudado. Quem faz posição para prazo mais longo está parado, observando, e quem 'treida' olhando logo à frente, quem tinha de sair, saiu. O fiscal veio como uma pá de cal. E Ibovespa abaixo de 100 mil pontos mostra isso.”
Ainda assim, uma parte dos componentes do índice de referência conseguiu escapar a mais um dia negativo, com destaque para MRV (+3,41%), SLC Agrícola (+2,86%), Rede D´Or (+2,83%) e Sul América (+1,72%). Na ponta oposta, Qualicorp cedeu 8,38%; CVC, 6,36%; Positivo, 5,52%, e Marfrig, 5,10%. As perdas se espalharam também pelas empresas e setores de maior liquidez, como Petrobras (ON -1,37%, PN -0,88%), Vale (ON -0,83%) e Bradesco (ON -1,47%, PN -1,73%). (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 99621.58 -0.96413
Máxima 101313.08 +0.72
Mínima 99218.13 -1.37
Volume (R$ Bilhões) 2.00B
Volume (US$ Bilhões) 3.83B
17:29
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 101020 -1.05779
Máxima 103180 +1.06
Mínima 100665 -1.41
CÂMBIO
O dólar à vista encerrou o pregão desta quarta-feira (29) em queda firme, na casa de R$ 5,19, descolado do movimento global de fortalecimento da moeda americana, em dia de aversão ao risco no exterior. Analistas atribuíram a apreciação do real a fluxo positivo de recursos, sobretudo no segmento comercial, e a movimentos técnicos no mercado futuro, na véspera da formação da última Ptax de junho e da rolagem de posições. Do lado fiscal, não houve novidades relevantes no pacote de benesses sociais contido na PEC dos combustíveis, cujo impacto fiscal é estimado em R$ 38,7 bilhões fora do teto de gastos. Essa cifra, contudo, veio abaixo da estimativas mais altas, o que pode ter contribuído para desinflar apostas em depreciação mais aguda do real no curto prazo.
Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar acentuou o ritmo de queda ao longo da tarde e registrou sucessivas mínimas nas duas últimas horas da sessão, até tocar R$ 5,1895 já perto do fechamento. No fim do dia, a moeda recuava 1,39%, a R$ 5,1930 - menor cotação desde o último dia 22 (R$ 5,1771). Com isso, o dólar passa a acumular queda de 1,14% nesta semana. Os ganhos em junho, que até ontem superavam 10%, agora são de 9,27%.
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que o dólar subia nos últimos dias apesar de fluxo positivo no segmento spot em razão da forte pressão compradora no mercado futuro, seja para zeragem de posições vendidas, seja para hedge (proteção). "O dólar casado (que abrange a diferença entre spot e à vista) estava bastante pressionado. Isso mostra que a demanda está no mercado futuro, e não no mercado à vista", diz Weigt. "Carregar posição comprada [em dólar] custa muito caro com os juros altos. No curto prazo, se o fluxo continuar positivo, é difícil ver o dólar subindo muito".
Amanhã, é formada a última Ptax de junho, que serve de parâmetro para confecção de balanços corporativos em fim de trimestre e liquidação de derivativos. Haverá a rolagem de posições em contratos futuros, com os investidores migrando para o vencimento de agosto. Esse contexto faz com que o movimento destoante do dólar no mercado à vista reflita ajustes, rearranjo de posições e operações para realização de lucros.
Como já esperado, o parecer da PEC dos Combustíveis trouxe aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, com meta de zeragem da fila de espera. O vale-gás permaneceu bimestral, com subsídio de um botijão. O voucher para caminhoneiros será mesmo no valor de R$ 1 mil mensais. A PEC vai reconhecer estado de emergência no País, abrindo espaço legal para que o governo aumente os gastos sociais perto da eleições. A justificativa é a elevação "extraordinária e imprevisível" dos preços do petróleo e dos combustíveis e seus impactos sociais.
A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, vê certo alívio no mercado local de câmbio com o fato de custo estimado com a PEC dos Combustíveis ter ficado abaixo do esperado. "O mercado se animou um pouco com isso. Mas o desconforto com o quadro fiscal continua. Esse alívio deve ser momentâneo", diz Quartaroli, acrescentando que há também relatos de entrada de fluxo comercial, após a China ter relaxado medidas de restrição contra a Covid-19.
Economista para o Brasil do Barclays, Roberto Secemski observa que as medidas terão impacto limitado sobre o resultado primário no curto prazo, mas minam a credibilidade fiscal. "Esta provavelmente se tornará a segunda emenda à única âncora fiscal do Brasil desde dezembro (quando a PEC dos Precatórios artificialmente aumentou o teto em R$ 115 bi) e a terceira desde março de 2021 (quando a PEC Emergencial autorizou um gasto adicional de R$ 44 bi)", afirma Secemski, em relatório.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente - operou em alta ao longo de todo o pregão, ao redor dos 105 mil pontos, sobretudo em razão dos ganhos ante ao euro. A moeda americana também ganhava força em relação à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities.
Crescem os temores de recessão nos EUA conjugada com inflação ainda em níveis elevados, a chamada estagflação. A terceira leitura do PIB americano no terceiro trimestre foi de -1,6% (taxa anualizada), queda acima de leituras anteriores e da expectativa de analistas (-1,5%). O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, falou novamente duro contra a inflação e alertou que o processo de aperto monetário provavelmente envolverá "alguma dor econômica". Powell disse também que os mercados preveem uma trajetória para a taxa de juros semelhante à projetada por dirigentes do BC americano, com pico de cerca de 4%. É grande a expectativa pela divulgação amanhã do índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida pelo Fed. Saem também dados dos gastos com consumo e renda pessoal. (Antonio Perez - [email protected])
17:29
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.19300 -1.3863 5.25960 5.18950
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL 5191.500 -1.59227 5261.500 5189.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5234.500 -1.50532 5300.500 5232.000
JUROS
O mercado de juros percorreu a sessão dividido entre corrigir parte do avanço nas três últimas sessões e adicionar mais prêmios na curva pela elevação do risco fiscal, e o resultado foi uma alternância dos sinais de alta e baixa durante o dia. No fechamento, estavam perto dos ajustes de ontem, com viés de queda na ponta longa. As taxas chegaram a cair pela manhã, testando um ajuste à escalada recente após o relatório da PEC dos Combustíveis confirmar a maioria dos pontos já conhecidos e com ajuda do câmbio, mas voltaram a subir. Na última hora de negócios, com o dólar abaixo de R$ 5,20, zeraram a alta.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou estável em 13,79% e a do DI para janeiro de 2024 passou de 13,581% para 13,57%. O DI para janeiro de 2025 ficou estável em 12,875% e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 12,82% para 12,775%.
A despeito do vaivém, segue válida a leitura de que o cenário para as contas públicas é preocupante, agora com o pedido oficial de reconhecimento do estado de emergência do País na PEC abrindo espaço para gastos acima do limite do teto, apesar do discurso do governo de que as benesses estarão limitadas ao que está no texto. O mercado evita comprar essa ideia a poucos meses da eleição em meio a pesquisas de intenção de voto desfavoráveis à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. O resultado do governo central foi pior do que o esperado, enquanto o IGP-M de junho ficou abaixo do previsto, mas com composição ruim.
O relatório da PEC veio relativamente dentro do que estava embutido nos preços, mas não quer dizer que seja uma boa notícia. "Bezerra trouxe o que estava em linha com o que já se sabia, fazendo questão de frisar que o vale gás continuará sendo bimestral e não mensal, mas essa é a menor das despesas incluídas na PEC", afirmou a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. Todo o resto - Auxílio Brasil de R$ 600, zeragem da fila do programa, gratuidade de transporte coletivo a idosos e Bolsa Caminhoneiro de R$ 1 mil - foi confirmado.
O impacto fiscal será de R$ 38,7 bilhões fora do teto de gastos. "Estamos pedindo licença para gastar, para atender os mais pobres”, declarou o senador, que garantiu "não haver hipótese" de que as medidas sejam prorrogadas para além de 2022. A PEC pode ser votada no Senado ainda hoje.
De todo modo, o Barclays piorou as suas projeções fiscais em 2022, incorporando ao cenário os impactos das desonerações e aumentos de gastos patrocinados pelo governo. Elevou a projeção de déficit primário do Governo Central, de R$ 9,40 bilhões para R$ 20,0 bilhões, e diminuiu a de superávit do setor público consolidado, de R$ 41,60 bilhões para R$ 16,0 bilhões. A previsão para a dívida bruta/PIB passou de 77,0% para 77,7%.
Segundo o economista para Brasil do banco, Roberto Secemski, o impacto sobre o resultado primário no curto prazo será limitado pela boa performance das receitas no primeiro semestre - as estimativas já consideram a arrecadação de R$ 26,4 bilhões com a privatização da Eletrobras. No entanto, a alteração do teto dos gastos para acomodar os dispêndios com a PEC dos Combustíveis pode prejudicar a credibilidade da regra, observa.
Mesmo com o crescimento na arrecadação, as contas do Governo Central registraram déficit primário em maio, de R$ 39,356 bilhões, após superávit de R$ 28,6 bilhões em abril. Foi o pior desempenho para o mês desde 2020, quando houve um rombo de R$ 126,635 bilhões, e também que a mediana das expectativas apuradas pelo Projeções Broadcast, de R$ 30,638 bilhões.
Alfredo Menezes, da gestora Armor Capital, destaca que a NTN-B 2050 negociada com taxa em torno de 6,10% ao ano é um sinal de alerta. "Com essa taxa de juros a dívida pública se torna um problema enorme. O Brasil dificilmente será solvente com os juros reais nesse patamar", anotou, em sua conta no Twitter.
O risco de a expansão fiscal bater na inflação num mercado de trabalho já mais apertado também limita a devolução de prêmios na curva, sustentando a percepção de desinflação lenta nos próximos meses. O IGP-M de junho, de 0,59%, até veio bem abaixo da mediana estimada (0,70%), mas com o IPC saltando a 0,71%, de 0,35% em maio. O INCC-M, pressionado por Mão de Obra (4,79%), subiu de 1,49% para 2,81%. "Ainda que a elasticidade da inflação da mão de obra em junho reflita fatores sazonais, o dado mostrou variação acima do padrão, reforçando indicativos de aquecimento do mercado de trabalho", avalia a equipe do Modalmais, liderada pelo economista Felipe Sichel.
No exterior, os juros dos Treasuries caíram, refletindo movimento de fuga para a qualidade, após leitura final do PIB americano no primeiro trimestre pior que a esperada e discursos duros contra a inflação por parte das autoridades monetárias nos Estados Unidos e Europa. O yield da T-Note de 10 anos estava abaixo de 3,10% no fim da tarde. O dólar ganhou força em termos globais, mas no Brasil fatores técnicos protegeram o real e a moeda americana fechou em R$ 5,1920 (-1,40%). (Denise Abarca - [email protected])
17:26
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