ATIVOS LOCAIS SE APEGAM A FATORES INTERNOS E ESCAPAM DE MAU HUMOR VISTO EM NY

Blog, Cenário

Ainda sob efeito da PEC de Transição "desidratada", os ativos domésticos voltaram a performar melhor do que os pares externos. Até porque, os nomes anunciados para os ministérios de Lula, incluindo o vice Geraldo Alckmin na pasta de Indústria e Comércio Exterior, e para o restante das secretarias do Ministério da Fazenda, além de já esperados, não trouxeram arrepios ao investidor. Com isso, o Ibovespa conseguiu, mesmo que nos minutos finais, escapar da espiral externa negativa e engatar uma sequência de quatro ganhos consecutivos, ao terminar com leve alta de 0,11%, aos 107.551,52 pontos. Lá fora, a aversão ao risco se desenhou desde cedo, depois que o PIB dos EUA acima do previsto e a revisão em alta da inflação medida pelo PCE trouxe a percepção de que o Fed será obrigado a manter a política monetária restritiva por mais tempo. Com isso, o Dow Jones cedeu 1,05%, o S&P 500, 1,45%, e o Nasdaq, o pior de todos, 2,18%. Os mercados de câmbio e de juros, no entanto, deram de ombros para esse quadro externo e continuaram a toada de baixa, diante da melhora de percepção de risco fiscal com a PEC de Transição e o Orçamento de 2023 resolvidos. Como resultado, o dólar engatou a terceira sessão de queda diante do real, com desvalorização de 0,33%, a R$ 5,1858. Enquanto isso, os juros futuros devolveram prêmios pelo quarto pregão consecutivo, com o mercado em já na expectativa pelo IPCA-15 de dezembro amanhã.

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BOLSA

A dois dias do fim de semana de Natal, o Ibovespa mantinha até o início da tarde uma sessão de relativa quietude, oscilando em torno da estabilidade mesmo quando as perdas em Nova York superavam a barreira dos 3% (Nasdaq). Pouco depois das 14h, o mercado local respondeu com tranquilidade ao anúncio, pelo próximo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dos futuros secretários do Tesouro (Rogério Ceron), de Política Econômica (Guilherme Mello) e da Receita Federal (Robinson Barreirinhas), recebidos de forma neutra, sem alterar o curso da Bolsa na sessão.

Com grande expectativa por quem seria o titular do Tesouro sob Haddad, Ceron é auditor fiscal de carreira, já presidiu o SP Parcerias, órgão vinculado à Prefeitura de São Paulo, e ocupou, na gestão Haddad na cidade de São Paulo, a secretaria de Finanças do município, que tem o quarto maior orçamento da República. "Transformou capital endividada em credor líquido", disse o futuro ministro na apresentação dos escolhidos, acrescentando ter sido o único caso no País.

No meio da tarde, contudo, com o blue chip Dow Jones e o amplo S&P 500 nas mínimas da sessão em NY, com perdas então superiores a 2% acompanhando o dia de forte ajuste também no Nasdaq ('moderado' a 2,18% no fechamento), o Ibovespa virou e se firmou em baixa após três dias de ganhos, mas encontrou fôlego para fechar a sessão pouco acima da estabilidade, aos 107.551,52 pontos, em leve alta de 0,11%, no maior nível de encerramento desde 7 de dezembro, então na casa dos 109 mil pontos.

Na mínima de hoje, foi aos 106.509,70, saindo de máxima a 108.382,66 - maior nível intradia desde 9 de dezembro - e de abertura aos 107.436,30 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 24,9 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa ainda cede 4,39%, apesar do avanço de 4,57% até aqui na semana. No ano, sobe 2,60%.

O cenário externo ainda é marcado pela desaceleração da atividade nas maiores economias em meio ao processo de elevação de juros na maioria delas. E, na China, pela resiliência da covid-19, com acentuação do número de casos e de internações pela doença, o que coloca em xeque a revogação das políticas de controle até há pouco ainda em vigor no país de maior população no mundo. Dessa forma, a China segue como um dos maiores pontos de interrogação para a economia global em 2023.

Tal preocupação com a demanda externa se refletiu, hoje, em baixa de 0,72% para o índice de materiais básicos (IMAT) - recuo que mais cedo se aproximava de 2%. Um ajuste bem mais agudo, ao longo da sessão, do que os observados no Ibovespa e no índice de consumo, o ICON (+0,18% no fechamento), mais correlacionado à economia doméstica. Com o minério e o petróleo em baixa nesta quinta-feira, Petrobras (ON +1,15%, PN +1,78%) conseguiu se descolar do ajuste negativo que predominou entre as ações de commodities, mas tanto a preferencial como a ordinária ainda acumulam perdas na casa de 10% no mês - na semana, ambas recuperam cerca de 8,8%.

Assim, Petrobras foi o contraponto ao dia majoritariamente negativo para as ações e os setores de maior liquidez, com destaque para perda de 0,57% em Vale (ON), muito moderada perto do fechamento, e de 1,87% para Gerdau (PN), também em ajuste bem mais discreto do que o observado ao longo da tarde. O dia também era ruim para os grandes bancos, que viraram perto do fim da sessão, com ganhos que chegaram então a 1,64% (Santander Unit, na máxima do dia no encerramento). A mudança de sinal observada no setor financeiro foi decisiva para o leve ganho do Ibovespa, que durante a sessão contava, essencialmente, com o suporte das ações de Petrobras.

Na ponta negativa do índice da B3, destaque para devolução parcial em IRB (-5,94%) após o salto de quase 25% ontem com o lucro líquido de outubro, hoje à frente de Locaweb (-4,14%), Positivo (-2,28%) e Braskem (-1,99%) na sessão. No lado oposto do Ibovespa, Marfrig (+6,74%), JBS (+3,21%) e Americanas (+2,72%).

Parece ganhar força, no mercado, a visão de que o próximo presidente da Petrobras será mesmo o senador Jean-Paul Prates (PT-RN), informação antecipada na última terça pelo Broadcast e confirmada hoje por novas fontes. "Aparentemente o mercado gostou do nome, o preço da ação sobe hoje", diz Pedro Galdi, analista da Mirae Asset. "Acho que por isso a ação segue firme", aponta Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Asset.

No exterior, o resultado final do PIB americano no terceiro trimestre e a forte leitura sobre o núcleo da métrica preferida do Federal Reserve para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, o índice PCE, contribuíram para reforçar a percepção quanto ao viés restritivo para a política monetária do país, pressionando os índices de ações por lá. Aqui, a aprovação do Orçamento de 2023 e a passagem final da PEC da Transição, tanto pela Câmara como pelo Senado, é um fator a menos de incerteza, o que ajuda a entender o relativo descolamento ante a correção lá fora.

O ajuste em Nova York vem no dia seguinte a uma "série de sinais de resiliência no consumo americano, desde estimativas de 'guidance' mais robustas para Nike e Fedex até o salto no índice de confiança do consumidor (Conference Board), além de uma queda nas expectativas de inflação", o que contribuía para ganhos superiores a 1% nos principais índices americanos ontem, observa em nota a Guide Investimentos.

"No entanto, a manutenção de um cenário desafiador, com juros mais altos (nos países desenvolvidos), continuidade da guerra na Ucrânia e inflação persistente, mantém as bolsas no vermelho em dezembro", um mês que costuma ser de “sazonalidade positiva” na maioria dos mercados, acrescenta a Guide.

Com o desempenho desta quinta-feira, aqui e em Nova York, as perdas por lá nas três referências superam agora o desempenho, também negativo, do Ibovespa no mês, com o Dow Jones em queda de 4,52%, o S&P 500, de 6,32%, e o Nasdaq, de 8,65%, em dezembro. (Luís Eduardo Leal - [email protected], com Amélia Alves)

18:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 107551.52 0.11019

Máxima 108382.66 +0.88

Mínima 106509.70 -0.86

Volume (R$ Bilhões) 2.49B

Volume (US$ Bilhões) 4.80B

18:33

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 109425 0.02285

Máxima 110220 +0.75

Mínima 108200 -1.10

MERCADOS INTERNACIONAIS

A aversão ao risco predominou nos mercados acionários de Nova York, à medida que dados fortes do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre aumentaram a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed) pode manter os juros em níveis mais altos por um tempo maior. Dessa forma, os rendimentos dos Treasuries e o dólar ganharam força. Já as commodities, pressionadas pelo fortalecimento da divisa americana, caíram, mesmo com a intensificação das medidas de relaxamento da política de "covid zero" da China. No front político, senadores dos EUA chegaram a um acordo sobre emendas que abre caminho para a aprovação de um projeto de lei de gastos públicos no valor de US$ 1,65 trilhão.

O PIB dos EUA cresceu à taxa anualizada de 3,2% no terceiro trimestre, mostrou a revisão final de hoje, sendo que analistas previam a repetição da leitura anterior, com alta de 2,9%. Para a Oxford Economics, a leitura do PIB é encorajadora, mas a economia deve ser testada em breve devido ao contínuo aperto da política monetária e das altas de juros pelo BC americano. Já a High Frequency Economics (HFE) avalia que a economia americana ainda cresce, com consumidores gastando, mas em 2023 a trajetória será de desaceleração. Porém, para a HFE, o Fed, de qualquer modo, manterá o foco em reduzir a inflação, o que "significa que os juros seguirão mais elevados por mais tempo no próximo ano".

Investidores também monitoraram dados do mercado de trabalho americano: os pedidos de auxílio-desemprego subiram 2 mil, a 216 mil, abaixo da previsão de 220 mil. "As reivindicações continuam muito mais baixas do que eram antes da pandemia e ilustram a rigidez do mercado de trabalho", analisa o Citi. De acordo com o economista Edward Moya, da Oanda, após essa rodada de dados econômicos, a economia dos EUA não parece querer entrar em recessão tão cedo. "Wall Street ainda está precificando mais um aumento de taxa na reunião do Fed de fevereiro, mas se os dados não quebrarem, um aumento de março deve começar a ser precificado", diz Moya.

Neste cenário, o índice Dow Jones fechou em queda de 1,05%, em 33.027,49 pontos, o S&P 500 caiu 1,45%, a 3.822,39 pontos, e o Nasdaq teve perda de 2,18%, a 10.476,12 pontos. Entre os papéis de destaque, estão os da Tesla (-8,88%), que despencaram após a empresa dobrar os descontos oferecidos em seus veículos elétricos Modelo 3 e Modelo Y entregues nos EUA este mês, alimentando a preocupação de que a demanda por automóveis da montadora de Elon Musk possa estar diminuindo. Ações da Microsoft (-2,55%) também caíram. A França multou a empresa de tecnologia em 60 milhões de euros, pelo fato dela impor cookies de anúncios publicitários a seus usuários.

Entre os Treasuries, no fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos subia a 4,256%, o da T-note de 10 anos avançava a 3,679% e o do T-bond de 30 anos, a 3,736%. O DXY subiu 0,26%, a 104,433 pontos. O dólar ainda avançava a 132,41 ienes, o euro tinha baixa a US$ 1,0598 e a libra caía a US$ 1,2044. O fortalecimento da moeda americana, por sua vez, pressionou as commodities, como o petróleo: o óleo WTI para fevereiro fechou em queda de 1,02% (US$ 0,80), a US$ 77,49 o barril na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês caiu 1,48% (US$ 1,22), a US$ 80,98 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

No entanto, os contratos chegaram a subir quase 2%, mais cedo, avaliando notícias da economia chinesa. A Bloomberg reportou que a China pode relaxar mais medidas para conter a covid-19, agora em relação a visitantes do exterior. Por outro lado, há o temor de que possa haver forte onda de casos da doença, o que, para a High Frequency Economics, pesará nos preços do setor de energia num primeiro momento. A Fitch, por sua vez, acredita que o relaxamento das medidas no país asiático deve apoiar as vendas no varejo da China em 2023. A trajetória de recuperação, porém, deve ser "acentuada e lenta" na fase inicial da reabertura.

No âmbito político, senadores dos EUA resolveram um impasse relacionado à imigração, chegando a um acordo sobre emendas que abre caminho para a aprovação do projeto de lei de gastos públicos no valor de US$ 1,65 trilhão. Os legisladores relataram que o atraso nas negociações aconteceu devido aos esforços republicanos para obter aprovação da emenda no Título 42, que permite a expulsão de imigrantes de volta ao México após cruzar a fronteira com os EUA ilegalmente. Já no mundo das criptomoedas, o fundador da exchange FTX, Sam Bankman-Fried, foi libertado sob fiança de US$ 250 milhões nesta quinta-feira e condenado à detenção na casa de seus pais em Palo Alto, Califórnia. (Letícia Simionato - [email protected])

DÓLAR

O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira na terceira queda consecutiva em relação ao real na semana, cotado a R$ 5,1858 (-0,33%). Apesar do fortalecimento do índice DXY, que operou em torno dos 104,5 pontos ao longo do dia, a redução das incertezas domésticas com o anúncio de nomes da equipe econômica do governo e a aprovação do Orçamento de 2023 beneficiaram a divisa brasileira ao longo do pregão.

A moeda americana oscilou entre a mínima de R$ 5,1598 (-0,83%) e a máxima de R$ 5,2238 (0,40%), ambas alcançadas durante a manhã, com a leitura final do PIB do terceiro trimestre nos Estados Unidos, acima do esperado. A partir do meio-dia, após o anúncio dos novos ministros pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o dólar permaneceu em queda em relação ao real, cotado entre R$ 5,1626 (-0,78%) e R$ 5,1911 (-0,23%).

"O real tem funcionado descolado das moedas lá fora, em função de toda a incerteza gerada pela PEC da transição, e essa incerteza diminuiu", afirma o gestor da Kínitro Capital Maurício Ferraz. "Nos últimos dias, os ativos brasileiros têm devolvido parte da má performance que tiveram, por causa dessa incerteza, e, à medida que o ano vai chegando ao fim, as pessoas vão reduzindo as apostas contra."

Durante a tarde, dois destaques do noticiário político ajudaram a consolidar a baixa do dólar em relação ao real, segundo Ferraz. Em primeiro lugar, o mercado recebeu positivamente a nova leva de nomes que vão compor a equipe do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) - especialmente o futuro secretário do Tesouro, Rogério Ceron, visto como de perfil técnico.

O desempenho da moeda brasileira ainda foi favorecido pela aprovação do Orçamento de 2023, diante da avaliação de alguns parlamentares de que a matéria só seria votada na semana que vem. O desfecho encerra uma série de imbróglios em torno da política fiscal do próximo governo, em um momento no qual o mercado ainda se beneficia da redução das incertezas após a promulgação da PEC da transição, ontem.

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal, a composição do ministério foi bem recebida pelo mercado, sobretudo devido à escolha de Ceron, ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo, para comandar o Tesouro. "A secretaria ficou na mão de alguém que o mercado considera que pode fazer um bom trabalho", resume o analista.

Durante a manhã, o mercado já recebera positivamente a nomeação dos novos ministros do governo Lula, especialmente com a indicação do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) para o recriado Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O saldo desse ambiente favoreceu o fortalecimento do real, comenta o operador da Fair Corretora Hideki Iha.

"Na época das eleições, tivemos muita antecipação de saída de dividendos, para fugir de um eventual resultado. Agora, aquela tensão passou, todo mundo se defendeu, e a saída, que é normal no final de ano, acabou antecipada", diz Iha. "Eu acredito que o dólar fica como está até o fim do ano, mas não vai derreter. Abaixo de R$ 5,20 é uma taxa de compra, e não de venda."

Com o resultado de hoje, o dólar à vista recua 2,05% na semana, ao menor nível em mais de um mês, desde 9 de novembro, quando encerrou o dia cotado em R$ 5,1821. Para Leal, do Alfa, o cenário corrobora a projeção para a moeda no fim do ano, de R$ 5,20 - abaixo da mediana do último relatório Focus, que indicava uma cotação de R$ 5,25 para a divisa americana no período. (Cícero Cotrim - [email protected])

18:32

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.18580 -0.3306 5.22380 5.15980

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5178.000 -0.50917 5230.500 5165.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5226.000 -0.09558 5226.000 5205.000

JUROS

Os juros futuros completaram nesta quinta-feira quatro sessões seguidas em queda, ainda se ajustando à melhora na percepção de risco fiscal com a aprovação da PEC da Transição que abriu caminho para a proposta do Orçamento, após semanas de muito vaivém nas negociações. As taxas estiveram ainda alinhadas ainda ao bom comportamento do câmbio, com valorização de boa parte das moedas emergentes, enquanto os nomes divulgados para os ministérios e secretarias da área econômica foram bem recebidos, embora sem surpresas. O exterior, hoje marcado pela aversão ao risco, ficou em segundo plano. As taxas até o miolo da curva foram as que cederam mais, cerca de jjj pontos, com o mercado em boa medida já na expectativa pelo IPCA-15 de dezembro, amanhã.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,63%, de 13,77% ontem, e a do DI para janeiro de 2025, em 13,00%, de 13,24% ontem. Novamente abaixo dos 13%, a taxa do DI para janeiro de 2027 caiu de 13,08% para 12,91%.

Ao contrário das sessões anteriores, a de hoje teve uma liquidez mais baixa, na medida em que muitos players já desaceleram o ritmo com a proximidade das festas de fim de ano e com o ciclo da PEC concluído. A agora Emenda Constitucional permite ampliação do teto de gastos em R$ 145 bilhões e que até 6,5% das receitas extraordinárias fiquem fora da regra fiscal, o que pode chegar a R$ 23 bilhões. Assim, abre uma brecha de R$ 168 bilhões.

"O mercado ainda segue corrigindo excessos com o risco fiscal agora menor", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. O mercado valoriza o fato de que, ainda que o resultado não tenha sido o ideal, os acordos fechados conseguiram tornar o texto menos expansionista do ponto de vista fiscal se considerada a proposta inicial, que pedia um "waiver" por quatro anos, e caiu para dois e depois ficou em um ano. O prazo menor, segundo o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai acelerar a construção da nova regra fiscal, que deve ser feita por lei complementar e entregue até agosto - mas, de acordo com Haddad, poderá sair antes.

Além da PEC, outra grande expectativa eram os nomes que vão compor a área econômica do governo e que foram recebidos de forma positiva, mas sem euforia, até porque boa parte já vinha sendo ventilada.

Um dos mais esperados era o do comando do Tesouro, que ficará a cargo de Rogério Ceron. Auditor fiscal de carreira, ele já presidiu o SP Parcerias, vinculado à Prefeitura de São Paulo. "Transformou capital endividada em credor líquido", disse Haddad sobre o escolhido, afirmando que foi o único caso no País.

Havia expectativa em torno do nome de Felipe Salto, especialista em contas públicas e atual secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo. Em coletiva nesta quinta, ele disse que continua conversando com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, mas que a formação da nova equipe econômica “é uma questão política”.

O ex-procurador-chefe da Fazenda da capital paulista Robinson Barreirinhas comandará a Receita Federal e o economista Guilherme Mello foi confirmado como secretário de Política Econômica. Mais cedo, o presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva anunciou Alckmin como ministro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio (MDIC).

Entre os nomes anunciados, Guilherme Mello é visto com ressalvas, por seu perfil desenvolvimentista. "Mas ele fez parte de toda a campanha. Honestamente, acho que já estava dado e precificado. Os demais são mais técnicos. O do Tesouro, por exemplo, é auditor fiscal desde sempre e nomes mais técnicos sempre agradam. Na média, o saldo é positivo", diz uma fonte que prefere o anonimato.

Especialistas da área de renda fixa ressaltam que o movimento de alívio da curva também decorre de questões técnicas e coincide com um período de ausência do grande tomador de recursos do mercado, o Tesouro Nacional, que encerrou seu cronograma de leilões de 2022 na semana passada. "O mercado está bem leve de risco", diz um gestor.

No fim da tarde, as taxas tocaram as mínimas do dia em vários pontos da curva, levando os vértices do trecho intermediário, que vinha sendo bastante penalizado pelo impacto da piora da percepção de risco fiscal nas expectativas de inflação, a fecharem mais de 20 pontos-base. Profissionais não identificam um gatilho específico, atribuindo o movimento à montagem de posições antes do IPCA-15 de dezembro, a ser divulgado nesta sexta-feira. A mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast é de 0,55%, ante 0,53% em novembro.

Rostagno lembra que a curva já devolveu boa parte das apostas de alta da Selic em 2023. "Praticamente não tem mais alta precificada, só 0,25 ponto. O pico seria Selic em 13,97% em maio", afirma. Para o Copom de fevereiro, são só 10 pontos-base. Por outro lado, a precificação de cortes também é pequena e a curva indica início em agosto, com -11 pontos, e taxa no fim do ano que vem em 13,25%. (Denise Abarca - [email protected])

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