Depois de horas de recuos fortes, os ativos domésticos passaram a experimentar do meio da tarde adiante uma tentativa de diminuição das perdas. Uma parcela do mercado passou a apostar que as ideias do governo eleito para a PEC da Transição, apresentadas na véspera, poderiam ter uma espécie de "gordura" para ser diminuída no debate do Congresso. A conta de R$ 200 bilhões extrateto poderia, segundo fontes de Brasília, ser diminuída a R$ 160 bilhões. Ainda assim, o efeito da notícia foi pontual. Foi depois das 16h30, portanto depois do fechamento da sessão regular do DI e nos minutos finais do pregão à vista do câmbio, que a tentativa de alívio no mercado doméstico ganhou força. Em coletiva, o ex-ministro Aloizio Mercadante evitou fazer comentários sobre a PEC, dizendo que quem tratará do assunto é o coordenador da transição, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). Quase ao mesmo tempo, houve relatos da renúncia do ex-ministro Guido Mantega à transição de governo. Assim, entre o silêncio de um sobre um tema de alta tensão (Mercadante) e a renúncia de outro (Mantega), o mercado viu espaço para reponderar alguns dos movimentos recentes. No fundo, a aposta é na diminuição da ascendência de economistas heterodoxos sobre os rumos do novo governo. Com o relógio colaborando mais, o dólar à vista, que chegou a mirar os R$ 5,53 pela manhã, terminou quase na mínima, aos R$ 5,4017 (+0,37%). Mais resistentes, os DIs devolveram pouco do prêmio na sessão estendida. Na Bolsa, o turbilhão do noticiário fez o índice recuperar mais de 1,5 mil pontos nas duas horas finais, ainda que no fechamento (109.702,78 pontos) tenha havido baixa (-0,49%). Quase ausente mais cedo, o sinal positivo foi visto no encerramento em 24 dos 92 papéis que compõem a referência da B3. Lá fora, o dia foi de certa cautela, diante de nova rodada de comentários hawkish de dirigentes do Federal Reserve. O S&P 500 cedeu 0,31% e o Nasdaq perdeu 0,35%.
•CÂMBIO
•JUROS
•BOLSA
•MERCADOS INTERNACIONAIS
CÂMBIO
O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira (17), a primeira após a apresentação da minuta da chamada PEC da Transição ao Congresso Nacional, acima da linha de R$ 5,40, mas longe dos níveis observados pela manhã, quando chegou a superar R$ 5,50 e registrou máxima a R$ $ 5,5298 (+2,75%).
Depois de rodar entre R$ 5,44 e R$ 5,45 pela maior parte da tarde, a moeda spot renovou mínimas na reta final do pregão, quando desceu até 5,4012 (+0,36%), em meio a uma pressão vendedora no mercado futuro, que levou o contrato da divisa para dezembro a operar pontualmente em baixa. No fechamento, o dólar à vista era cotado a R$ 5,4017, em alta de 0,37%.
Segundo profissionais do mercado, após um rearranjo de posições mais forte no início dos negócios, investidores buscaram uma acomodação e promoveram ajustes para realização de lucros pela tarde. Também pode ter tirado fôlego da moeda americana a possibilidade crescente de desidratação da PEC ao longo da tramitação no Congresso.
No fim do dia, veio a notícia de que o ex-ministro Guido Mantega, de credenciais desenvolvimentistas e um dos pais da Nova Matriz Econômica no segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff, pediu renúncia do grupo técnico de Orçamento e Planejamento do governo de transição. Mantega apontou a intenção de adversários em "tumultuar" e "criar dificuldades para o novo governo" como uma das razões para o seu afastamento. Outro ponto que chamou a atenção dos operadores nos últimos minutos de negociação foi o fato de o coordenador de grupos temáticos da equipe de transição, o ex-ministro Aluizio Mercadante, ter acenado, em entrevista, com revisão de subsídios e redução de despesas.
Na PEC, o governo propôs um 'waiver' de R$ 175 bilhões para o Bolsa Família e de cerca de R$ 23 bilhões de "receitas extraordinárias" para investimentos - levando as despesas fora do teto de gastos a R$ 198 bilhões. Mais: os R$ 105 bilhões que estavam no orçamento (dentro do teto) para dar conta do Auxílio Brasil de R$ 400 neste ano agora vão para aumento do salário mínimo e outros programas sociais. Cotado para ser relator da PEC, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) defende que os recursos para bancar o Bolsa Família fiquem fora do teto de gastos só em 2023, segundo apurou o Broadcast Político.
O real entrou em rota ascendente nos últimos dias à medida que se consolidava a ideia de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva está disposto a furar o teto para garantir promessas de campanha sem propor agora uma nova âncora fiscal. Do Egito, onde participa da COP27, Lula voltou a defender hoje meta de crescimento e minimizou o azedume dos mercados, que atribui à ação de especuladores. "Você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e não tira um centavo do sistema financeiro", disse Lula. "Se eu falar isso, vai cair a Bolsa, o dólar vai aumentar? Paciência."
"Embora a questão da retirada do Auxílio Brasil (que será rebatizado de Bolsa Família) do teto de gastos por tempo indeterminado já estivesse no radar, o texto da PEC foi visto com maus olhos", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, ressaltando que o mercado recebeu mais uma vez com desconforto declarações do presidente eleito.
Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, o texto da PEC, embora apresente um 'waiver' maior que o esperado pelo mercado, "não tem nada de absurdo" e está "em linha com a sustentabilidade do Estado" brasileiro. "É algo que, embora não seja palatável no curto prazo pelo mercado, é palatável para a economia brasileira e é necessário para a economia brasileira", disse Argenta, que vê esse período de queda dos preços dos ativos domésticos como uma correção após o rali no pós-eleições, com especulação sobre quem ocuparia o ministério da Economia.
Segundo Argenta, o mercado tem consciência de que se trata de um movimento especulativo. "E esses movimentos acontecem no superlativo, tanto para cima, quanto para baixo. Até nós termos um desenho dessa política fiscal que acontece a partir de 2024, esse período de incógnita, de esquizofrenia no mercado, tente a continuar", disse a economista.
É de se levar em conta que, pelo menos hoje, a moeda brasileira não apanhou sozinha. Tampouco amargou as piores perdas entre seus pares. O dólar subiu em relação à ampla maioria de moedas fortes e emergentes, em meio a novo tombo dos preços das commodities. Voltaram à baila temores de uma recessão nos países desenvolvidos em 2023 em razão do aperto monetário para conter a inflação.
O índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro avançou 10,6% na comparação anual em outubro, novo recorde, após 9,9% em setembro. Nos EUA, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, falou duro e tratou de esfriar apostas de que o BC americano, além de desacelerar o ritmo de alta dos juros para 50 pontos-base em dezembro, estaria se preparando para uma pausa no aperto monetário. Com base na chamada Regra de Taylor, Bullard disse que a taxa de juro ideal para conter a inflação nos EUA pode estar entre 5% e 7%. (Antonio Perez - [email protected] / com Cícero Cotrim)
18:32
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.40170 0.3716 5.52980 5.40120
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5445.000 0.48907 5548.000 5404.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5441.000 0.0312 5451.000 5441.000
JUROS
O pessimismo sobre o futuro das contas públicas manteve os juros futuros pressionados ao longo da tarde, com o mercado precificando um cenário de descontrole fiscal a partir da PEC da Transição, embora tenham encerrado o dia bem distantes das máximas vistas pela manhã. O pedido de "waiver" de quase R$ 200 bilhões para gastos com programas sociais assustou o mercado, que agora se apega na esperança de que o Congresso atue para tornar a proposta menos heterodoxa. Ainda, declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na COP27, atribuindo o movimento recente do mercado a especuladores e não a "pessoas sérias", foram mal recebidas, num dia em que o ambiente internacional também não ajudou. Nesse contexto, o mercado continuou reduzindo apostas no ciclo de queda da Selic e o Tesouro trouxe novamente volumes diminutos para o leilão de prefixados.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a 14,15% (regular) e 14,03% (estendida), de 14,08% no ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2025, em 13,57% (regular) e 13,40% (estendida), de 13,37% ontem nos ajustes. A taxa do DI para janeiro de 2027 avançou para 13,30% (regular) e 13,13% (estendida), de 13,08%. A diminuição da alta na sessão estendida veio após a confirmação da renúncia do ex-ministro Guido Mantega ao grupo de trabalho da transição que tratava das áreas de orçamento e planejamento.
Embora as taxas já tivessem ontem subido "no boato", antecipando os R$ 175 bilhões que serão retirados do teto para pagar os custos do Bolsa Família de R$ 600 mais R$ 150 por criança até 6 anos, houve renovação do fôlego de alta. O relator-geral do Orçamento de 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), disse que a minuta inclui ainda uma autorização para que o governo use o "excesso de arrecadação" para financiar investimentos públicos fora da regra, a um custo que pode atingir R$ 23 bilhões em 2023.
Quanto à questão de como os gastos serão financiados, o mercado segue praticamente no escuro, com menções genéricas de membros da equipe de transição falando em corte de despesas, venda de ativos e revisão de subsídios, sem detalhes, que, alegam, estarão presentes na Lei Orçamentária Anual (LOA). Para o sócio-fundador da Oriz, Carlos Kawall, a PEC "é desastrosa". "A única esperança parece ser que o bom senso venha do Congresso e adie uma discussão tão complexa e profunda para a próxima legislatura e não a faça a toque de caixa meramente visando o interesse político, não fundamentado pelo lado técnico", afirmou.
Segundo apurou o Estadão, os negociadores da PEC já teriam recebido a indicação de lideranças de outros partidos do Congresso de que o limite de alta de gastos de R$ 200 bilhões deve cair na tramitação que começa a partir de agora, e que aceitariam um valor em torno de R$ 160 bilhões.
Outro fator a gerar desconforto foi a fala de Lula, mais cedo, dobrando a aposta contra o mercado financeiro. "Para cumprir teto fiscal, geralmente é preciso desmontar políticas sociais e não se mexe com o mercado financeiro. Mas o dólar não aumenta ou a Bolsa cai por causa das pessoas sérias, e sim dos especuladores", disse. Além disso, membros da equipe de transição estariam atribuindo o nervosismo dos agentes a uma "aposta errada" durante a campanha, segundo fontes consultadas pelo Broadcast.
"Ninguém do mercado financeiro esteve com a gente na campanha. Eram todos bolsonaristas. Agora estão reclamando de algo que estava sendo falado desde o início da campanha de Lula", disse um técnico.
Começa também a ganhar força a tese de que o expansionismo fiscal pode comprometer a política monetária e a gestão da dívida pelo Tesouro, com explosão do custo. A economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, acredita ser grande o risco de o País entrar em um cenário de dominância fiscal. "É muito provável que com esse descontrole venha a desaceleração intensa da atividade, então quando BC começar a agir, irá colocar um novo custo fiscal que são os juros mais altos - que já estão muito ruins do ponto de vista de sustentabilidade da dívida", alerta.
Na curva, as apostas majoritárias eram nesta tarde, grosso modo, de mais três altas da Selic nas próximas reuniões do Copom e início dos cortes só em agosto. No fim de 2023, a taxa básica fecharia nos atuais 13,75%.
Na gestão da dívida, o Tesouro, diante do estresse nas taxas, se viu mais uma vez obrigado a ofertar lote pequeno de prefixados, mas ainda assim não vendeu integralmente. Das 450 mil LTN, vendeu 300 mil, uma vez que não aceitou propostas para o papel 1º/4/2023. Entre as NTN-F, vendeu apenas as 50 mil para 2029, rejeitando as propostas para a NTN-F 2033. Para Kawall, do jeito que está, a PEC pode levar ao encurtamento dos leilões, seguindo tendência recente. (Denise Abarca - [email protected])
08:30
Operação Último
CDB Prefixado 31 dias (%a.a) 13.66
Capital de Giro (%a.a) 6.76
Hot Money (%a.m) 0.63
CDI Over (%a.a) 13.65
Over Selic (%a.a) 13.65
BOLSA
Embora tenha conseguido moderar o ajuste no fim da tarde, o Ibovespa se manteve em modo de correção pelo segundo dia, reagindo à apresentação da PEC da Transição, na noite anterior, com gasto extrateto acima do que vinha sendo precificado pelo mercado. Hoje, a referência da B3 fechou em baixa de 0,49%, a 109.702,78 pontos, entre mínima de 107.245,13, menor nível intradia desde 29 de setembro, e máxima de 110.241,80, quase idêntica à abertura, aos 110.240,66 pontos. O nível de fechamento desta quinta-feira também foi o menor desde 29 de setembro, então aos 107.664,35.
Na semana, as perdas do índice chegam agora a 2,27% e, no mês, a 5,46%, limitando a alta do ano a 4,66%. Ainda reforçado neste dia seguinte ao vencimento de opções sobre o índice, e véspera de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro foi a R$ 47,6 bilhões na sessão, com um número razoável de papéis da carteira Ibovespa reagindo para chegar ao fim do dia no campo positivo - em certo momento, no meio da tarde, apenas as ações do Bradesco conseguiam se descolar da correção.
Considerando o fechamento da quarta-feira, 9, dia anterior à fala inicial do presidente eleito Lula (PT) contra a estabilidade fiscal, então aos 113.580,09 pontos, o Ibovespa acumula perda de quase 3,9 mil pontos - no pior momento da sessão de hoje, esse ajuste chegava a 6,3 mil pontos. Após o mergulho de 3,35% na quinta passada, sucedido por duas altas e duas baixas até aqui, está agora apenas 72 pontos abaixo do nível de ajuste inicial à fala de Lula - no pior momento da sessão de hoje, a diferença, para baixo, era de 2,5 mil pontos.
Este saldo negativo adicional, embora muito moderado ao longo da tarde após pressão que havia se imposto desde a manhã, é creditado ao desdobramento da noite de ontem, quando foi apresentada a PEC da Transição, trazendo rompimento do teto além do que vinha sendo precificado pelo mercado, o que se refletiu também no câmbio e na curva de juros nesta quinta-feira. Novas declarações de Lula, reiterando a dicotomia entre “responsabilidade fiscal” e “responsabilidade social”, contribuíram para manter o investidor na defensiva, após o benefício da dúvida que havia sido concedido logo após o resultado do segundo turno, em 30 de outubro.
No melhor momento deste período pós-eleitoral, o Ibovespa chegou aos 118.155,46 pontos, com máxima intradia naquela sessão a 120.039,37, no dia 4 de novembro. Considerando a máxima e a mínima intradia desse intervalo de pouco menos de duas semanas, a variação negativa chega a quase 12,8 mil pontos.
“O mercado ficou bastante estressado pela incerteza fiscal, após a apresentação da PEC da Transição. Ainda há falta de clareza em relação aos gastos públicos no ano que vem, o que é agravado pelas falas do presidente eleito Lula sobre responsabilidade fiscal e responsabilidade social, como se fossem incompatíveis" observa Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos. Ele destaca também o contexto externo ainda desafiador, com novas declarações de autoridades do Federal Reserve indicando a continuidade do ciclo de aperto nos juros na maior economia do mundo, além da inflação ao consumidor na zona do euro em máximas históricas, conforme dados divulgados nesta quinta-feira.
O presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, afirmou à Bloomberg que as taxas de juros do Fed devem ser elevadas para a casa dos 5% a 5,25%, para conter a inflação mais alta em quase 40 anos, nos Estados Unidos. "Após os fortes números sobre o varejo americano, com demanda aquecida, as declarações do Bullard foram como um balde de água fria para o mercado, ao observar que os aumentos de juros, até agora, tiveram apenas efeitos limitados na inflação, e que o BC dos Estados Unidos precisa continuar aumentando os juros, em pelo menos mais um ponto porcentual", diz Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3.
Aqui, a expectativa dos investidores se volta agora para a atuação do Congresso, especialmente da Câmara, sobre a PEC, no sentido de que possa haver alguma desidratação, com redução do valor extrateto da casa de R$ 200 bilhões para R$ 160 bilhões, apontaram fontes ouvidas pelo Broadcast nesta quinta-feira. A torcida por desidratação da PEC ao longo da tramitação no Congresso contribuiu para que o Ibovespa moderasse perdas em direção ao fechamento da sessão, de baixa discreta também em Nova York nos três índices de referência. Relato de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, em carta, renunciou a participar do grupo técnico de planejamento e orçamento, da equipe de transição, também contribuiu para reduzir a percepção de risco no fim da tarde - perto do fechamento, houve confirmação oficial.
Cotado para ser o relator da PEC, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) defende que o Bolsa Família fique fora do teto de gastos só em 2023, segundo apurou o Broadcast Político. Pela sugestão de texto da PEC apresentada ontem ao Congresso pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, o programa social seria retirado das regras fiscais por tempo indeterminado. O PT sabe, contudo, que vai ter de negociar um prazo de validade para a medida, e aposta em quatro anos.
O Banco Central terá que eventualmente rever a estratégia de manutenção da taxa de juros caso a expectativa de inflação mostre desancoragem à frente, avaliou hoje o sócio-fundador da Oriz, Carlos Kawall, durante participação em evento promovido pelo Estadão. No momento, porém, ainda há bastante indecisão sobre o cenário fiscal, com expectativa de que a PEC da Transição não seja aprovada nos termos atuais pelo Congresso, ponderou Kawall.
A minuta da PEC, detalhada ontem por Alckmin, mostra que o novo governo está "aumentando a aposta" e ignorando a preocupação do mercado com a sustentabilidade fiscal no médio prazo, avalia o Goldman Sachs. "Despesas de R$ 200 bilhões acima do teto de gastos (aproximadamente 2% do PIB estimado para 2023) formam um montante muito significativo, que provavelmente levaria a um déficit primário em 2023 próximo de 2% do PIB", escrevem os analistas Alberto Ramos, Sergio Armella, Santiago Tellez e Renan Muta, em relatório. "Além disso, uma vez isento do teto, o programa poderia, e provavelmente vai, crescer mais nos próximos anos."
“Há um estresse fiscal enorme com a PEC da Transição, que talvez nem seja de transição, mas sim permanente, com gasto bastante elevado acima do teto, em quase R$ 200 bilhões por ano, o que resultaria em aumento de dívida bastante forte”, observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Ainda que não seja líquido e certo, na medida em que precisa ainda passar pelo Congresso, o número veio acima do esperado. O bode foi colocado na sala”, acrescenta o economista, chamando atenção em especial para o efeito sobre a curva de juros, com o mercado já embutindo alta na Selic para o ano que vem, quando antes se esperava corte para 2023.
Assim, na B3, como ontem, setores mais sensíveis a juros estiveram entre os mais penalizados nos piores momentos da sessão de hoje, como os de varejo e construção. Na ponta de perdas nesta quinta-feira, destaque para Qualicorp (-10,60%), Alpargatas (-6,55%), BRF (-6,53%) e 3R Petroleum (-6,19%), em sessão de forte queda para as cotações da commodity. Com o dia negativo tanto na frente doméstica como na externa, o índice de consumo fechou com perda de 1,36% (no meio da tarde, cedia 3,73%) e o de materiais básicos, em baixa de 0,97% (após ceder 2,20% no meio da tarde). Carros-chefes das commodities na B3, Petrobras ON e PN fecharam hoje, respectivamente, em baixa de 0,77% e leve alta de 0,04%, enquanto Vale ON subiu 0,80%.
Entre os grandes bancos, Bradesco ON e PN, ações que haviam sido muito penalizadas desde o balanço trimestral da instituição financeira, subiram hoje 1,46% e 2,17%, e Itaú PN, 0,61%, conseguindo se descolar das perdas do setor, que chegaram a 2,13% (BB ON) no fechamento. As duas ações do Bradesco, por sinal, estiveram entre as poucas do Ibovespa que, desde mais cedo, conseguiam se descolar da aversão a risco, com destaque também no encerramento para Weg (+2,17%), Ultrapar (+1,94%) e Magazine Luiza (+1,80%).
“Volatilidade no câmbio e na Bolsa, com muita coisa acontecendo no cenário doméstico e externo. A PEC da Transição ainda deixa a impressão de cheque em branco para o próximo governo, para cumprir as promessas de campanha sem a âncora fiscal. Gastos públicos que geram preocupação quanto à relação dívida/PIB, no curto como no longo prazo, o que se reflete no dólar e na curva de juros, chegando a 14,50% em alguns pontos, com o mercado já sinalizando cenário de alta (para a Selic)”, diz Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, destacando em particular, na B3, o efeito deletério para ações de empresas com maior necessidade de capital ou muito endividadas. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:32
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 109702.78 -0.49032
Máxima 110241.80 -0.00
Mínima 107245.13 -2.72
Volume (R$ Bilhões) 4.75B
Volume (US$ Bilhões) 8.70B
18:33
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 109955 -0.49321
Máxima 110600 +0.09
Mínima 108110 -2.16
MERCADOS INTERNACIONAIS
Declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed) sobre as altas de juros nos Estados Unidos pesaram em ativos de risco hoje, uma vez que as autoridades reforçaram um maior aperto monetário para tentar conter a inflação. O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, sugeriu que uma alta de taxas entre os 5% e os 7% pode ser necessária, acima das projeções de grande parte dos outros integrantes do conselho do banco central e dos mercados. Neste cenário, as bolsas de Nova York operaram pressionadas, enquanto o dólar e os juros dos Treasuries ganharam força. Entre destaque nas moedas, a libra recuou após a divulgação dos planos do secretário do Tesouro do Reino Unido, Jeremy Hunt, para o orçamento do país. O cenário cambial pressionou ainda o petróleo, que teve forte recuo, também observando perspectivas de continuidade de demanda reduzida na China.
Bullard observou que a taxa de juros ainda não é "suficientemente restritiva", disse que está mirando um mínimo de outros 125 pontos-base em aumentos de juros, o que levaria a meta para 5,00%-5,25%. Já a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, destacou que é necessário olhar para onde os riscos estão, principalmente com eles sendo causados pelas incertezas econômicas. Enquanto isso, o membro do Conselho do Fed, Philip Jefferson, defendeu que a inflação baixa é "a chave para alcançar uma expansão longa e sustentada - uma economia que funciona para todos".
Na avaliação de Edward Moya, analista da Oanda, as ações nos EUA estão caindo porque o Fed segue o roteiro hawkish que apoia a ideia de que a economia está caminhando rapidamente para uma recessão. "As quedas prolongadas das ações após a última rodada de discursos dos dirigentes nos lembraram que os formuladores de políticas podem permanecer muito agressivos, apesar de uma redução para um ritmo de meio ponto de alta em dezembro", avalia. Para Moya, se ainda tivermos milhões de vagas de emprego e inflação acima das taxas, o Fed pode precisar continuar subindo taxas além de fevereiro. Neste cenário, o Dow Jones recuou 0,02%, aos 33.546,32 pontos, o S&P 500 caiu 0,31% aos 3.946,56 e o Nasdaq teve baixa de 0,35%, aos 11.144,96 . Na Europa, a situação foi parecida, com a maioria dos índices recuando. O CAC 40 teve baixa de 0,47% em Paris, enquanto o FTSE MIB caiu 0,78% em Milão. Na renda fixa, os rendimentos dos Treasuries subiram, e, ao fim da tarde, a T-note de 2 anos avançava a 4,445%, a T-note de 10 anos tinha alta a 3,774% e o T-bond de 30 anos subia a 3,892%.
No caso do câmbio, o dólar subiu ante a maioria das moedas, em sessão que contou com a divulgação de uma inflação na zona do euro levemente abaixo em outubro da leitura preliminar, o que a Convera aponta que sugeriu uma possível diminuição do aperto monetário pelo Banco Central Europeu (BCE). No Reino Unido, o ministro das Finanças Jeremy Hunt apresentou uma atualização orçamentária de emergência com o objetivo de reforçar a credibilidade econômica do governo. "Embora as finanças pareçam estar em um caminho fiscal melhor sob o novo governo de Rishi Sunak, o caminho imediato para a economia continua repleto de 'ventos contrários globais sem precedentes'", aponta a Convera. Neste cenário, no fim da tarde, o euro se desvalorizava a US$ 1,0370 e a libra caía a US$ 1,1865, enquanto o DXY fechou em baixa de 0,39%, aos 106,694 pontos.
A Capital Economics nota que a relação negativa entre o DXY e o petróleo vem ganhando mais força novamente, e projeta que o dólar reverterá sua recente retração e atingirá novas máximas cíclicas em meados do ano que vem. "E, durante esse período, acreditamos que os preços do petróleo continuarão caindo, embora não tão acentuadamente quanto em recessões anteriores, dada a oferta restrita e a demanda resiliente", aponta a consultoria. Além disso, o cenário da covid-19 na China levanta cautela sobre a demanda, uma vez que as indicações são pela continuidade de restrições para conter a doença no país. O WTI para dezembro fechou em baixa de 4,62% (US$ 3,95), a US$ 81,64 o barril, enquanto o Brent para janeiro de 2023 recuou 3,32% (US$ 3,08), a US$ 89,78 o barril. (Matheus Andrade - [email protected])