Ainda que o mergulho dos ativos brasileiros tenha sido um pouco mais suave do que se desenhava pela manhã, a queda de quase 6 mil pontos do Ibovespa, com Petrobras perdendo mais de 20%, a intervenção do Banco Central para suavizar a alta do dólar e o aumento das apostas em um aperto de 0,50 ponto da Selic em março não deixam dúvidas: a troca de comando na estatal petroleira minou uma parte da confiança dos investidores no Brasil. Até porque o presidente Jair Bolsonaro deixou claro que uma das razões para tirar Roberto Castello Branco do comando da Petrobras foi o aumento mais recente dos preços dos combustíveis, que ele diz não conseguir entender. O mercado, por sua vez, precificou que isso pode significar um distanciamento ainda maior dos preços internos ante os internacionais, o que já vinha ocorrendo em algumas situações, segundo analistas e importadores de combustíveis. Como Bolsonaro também ameaçou "meter o dedo" no setor elétrico e disse que mais mudanças virão, reforçando temores sobre uma troca na presidência do Banco do Brasil, as estatais tombaram em bloco e o Ibovespa terminou o dia com baixa de 4,87% - maior queda para um único dia desde 24 de abril, com o desembarque de Sérgio Moro do governo - aos 112.667,70 pontos. E os temores de uma guinada intervencionista trouxeram à tona a possibilidade de um ciclo vicioso, onde o investidor estrangeiro reduz exposição em Brasil, como já sugeriram várias casas hoje, o dólar segue em alta diante do real, pressiona ainda mais a inflação em um cenário de alta das commodities, o que gera um aperto monetário mais rápido e/ou intenso do que se previa. Diante disso, considerando a delicada situação das contas públicas brasileiras e as incertezas sobre medidas populistas que custem ainda mais aos cofres públicos, os investidores não veem outra saída que não o andamento da agenda de reformas. E foi justamente a promessa de que isso ocorrerá, feita pelo presidente da Câmara, Artur Lira, que tirou um pouco do ímpeto dos juros longos. Mesmo assim, essas taxas subiram 20 pontos ou mais. No caso do dólar, que depois de bater em R$ 5,53 pela manhã, terminou com valorização mais discreta, ao subir 1,27%, a R$ 5,4539 no mercado à vista, além da venda de US$ 1 bilhão em swaps pelo BC, os agentes relataram um movimento de realização de ganhos e correção dos exageros de mais cedo. Vale notar que a melhora dos mercados em Wall Street também contribuiu para amenizar o mau humor no Brasil. Ainda assim, as bolsas de Nova York fecharam sem sinal único. Embora a pandemia continue como risco importante no radar, há a perspectiva de retomada da atividade, o que ajudou o petróleo a subir mais de 3%.
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