Se a piora externa, reforçada a partir do meio da tarde, já se refletia nos ativos domésticos, as primeiras informações sobre o vídeo da reunião ministerial em que o presidente Jair Bolsonaro teria demonstrado interesse em fazer ingerência na Polícia Federal, mostrado hoje a investigadores, azedaram de vez o humor com o Brasil, provocando virada em todos os mercados. O conteúdo da gravação, na avaliação desses investigadores, é "devastador" para o presidente. "Escancara a preocupação do presidente com um eventual cerco da PF a seus filhos", destacou um dos presentes. Bolsonaro se defendeu, mas os mercados ignoraram. Ele disse que não citou a palavra investigação ou Política Federal no vídeo e que o "vazador" está desinformado. Em nota, o advogado do ex-ministro Sérgio Moro, que disse que o vídeo confirma exatamente o que seu cliente havia dito, defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública. Em meio a tudo isso, o risco político, que já vem deixando os ativos locais descolados do exterior em diversos momentos, voltou a se sobrepor, fazendo com que o real, por mais um dia, tenha tido um dos piores comportamentos ante o dólar dentro de uma cesta de 34 moedas. A divisa americana, depois de bater na mínima de R$ 5,74 pela manhã, não apenas virou, como renovou máxima nominal de fechamento, ao subir 0,82%, a R$ 5,8686 no mercado à vista, novo recorde. Agora, o dólar avança 46,28% no ano. O movimento no câmbio consolidou, por sua vez, o avanço dos juros futuros em toda a curva. Se os mais curtos já demonstravam esse viés em meio à discussão de patamar mínimo para a Selic, consolidando a percepção de que o afrouxamento de junho pode ser o último, o aumento do risco político e do dólar contaminaram de vez as taxas longas, em mais um pregão de inclinação da curva a termo. No fim, com o movimento da tarde, os juros precificavam 48% de chances de corte de 50 pontos-base na próxima reunião, ante 52% de possibilidade de 25 pontos. O Ibovespa tentou mostrar alguma resiliência, mas também acabou sucumbindo à piora generalizada do humor, após ter recuperado o nível de 80 mil mais cedo. Terminou na mínima, mas, ainda assim, recuou menos que seus pares em Wall Street, ao ceder 1,51%, aos 77.871,95 pontos. Em Nova York, informações de que senadores republicanos planejam apresentar um projeto de lei que prevê sanções dos EUA à China levaram os principais índices a encerrarem em queda, depois de mais um pregão de muitas idas e vindas. Até porque, investidores ainda avaliam as possíveis consequências dos processos de reabertura econômica em estados americanos e na Europa.
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