DÓLAR CONTRARIA EXTERIOR E CAI ANTE REAL, COM MOVIMENTOTÉCNICO E FLUXO AO BRASIL

Cenário

Na contramão da valorização externa, do dia ruim para commodities e do comportamento dos demais ativos domésticos, o dólar caiu ante o real nesta segunda-feira. Dois motivos foram mencionados nas mesas de operação para esse movimento. O primeiro é uma antecipação do ajuste de posições típicas de fim de mês. O segundo é o relato de entrada de fluxo de exportadores, depois de a divisa americana bater no nível de R$ 5,65, atrativo para a internalização de recursos. O dólar à vista fechou o dia em R$ 5,6255, baixa de 0,57%. No Ibovespa, o índice foi penalizado principalmente pela queda da Petrobras (ON -2,52% e PN -2,02%), sob temor de a política de dividendos ser prejudicada por investimentos na Namíbia, uma das novas fronteiras de exploração de petróleo. O indicador acionário encerrou a sessão em 126.953,86 pontos (-0,42%). Os juros futuros fecharam o dia em alta, diante das preocupações com o cenário fiscal e com a desancoragem das expectativas de inflação - foco da atenção do investidor na decisão do Copom de quarta-feira. No exterior, a valorização do dólar ocorreu na contramão da baixa dos rendimentos dos Treasuries. A ampliação da queda dos retornos à tarde veio na esteira do anúncio do Tesouro dos Estados Unidos de tomar menos empréstimos do que o esperado no terceiro trimestre.

Câmbio

O dólar aprofundou o ritmo de queda ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 29, em terreno negativo no mercado doméstico, abaixo da linha de R$ 5,65, na contramão da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior em semana marcada por reunião de política monetária do Banco Central brasileiro, do Federal Reserve e do Banco do Japão.

Operadores ouvidos pelo Broadcast atribuíram a recuperação do real a questões técnicas e a eventual entrada de fluxo de exportadores. Investidores já estariam antecipando ajuste de posições típicas de fim de mês. Além disso, como a moeda brasileira apresenta a maior queda no ano entre as principais divisas globais e foi uma das que mais sofreu com o rali recente do iene, havia espaço para uma recuperação, com provável realização de lucros.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que, com o dólar já perto de R$ 5,65, não compensa a investidores estrangeiros sustentarem níveis tão elevados de posições "compradas" (que apostam na valorização da moeda americana). "Os estrangeiros estão já se antecipando ao fim do mês e zerando posições, já que não compensa promover a rolagem na virada do mês, e isso acaba ajudando a derrubar o dólar mesmo com a cautela lá fora", afirma.

Com mínima a R$ 5,6240 à tarde, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,6255, em baixa de 0,57%, o que reduziu os ganhos em julho a 0,67%. No ano, a moeda americana acumula valorização de 15,91% em relação ao real.

"O dia é para ser ruim para o real, com commodities em baixa e outras divisas emergentes se desvalorizando. Provavelmente, tivemos fluxo de exportadores e também já um movimento tendo em vista a ptax", afirma o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, em referência a preparações para a disputa pela formação da última taxa ptax de julho na quarta-feira, 31.

Pela manhã, investidores assimilaram também as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem à noite em cadeia nacional, de que não abrirá "mão da responsabilidade fiscal". Amanhã, sai o detalhamento da contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano - bloqueio de R$ 11,2 bilhões e contingenciamento de R$ 3,8 bilhões.

Hoje, o Banco Central informou que o setor público consolidado (governo central, estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) teve déficit primário de R$ 40,873 bilhões em junho - um pouco acima da mediana de Projeções Broadcast (-R$ 39,4 bilhões).

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em alta ao longo do dia e voltou a superar os 104,500 pontos. Na outra ponta da gangorra, as commodities recuaram, com as cotações do petróleo em baixa de mais de 1,5%.

Investidores tendem a adotar uma postura mais cautelosa à espera da decisão de política monetária do Fed na quarta-feira, 31. É dada como certa a manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%, mas há expectativa de sinais de corte nos próximos meses, provavelmente em setembro, no comunicado da decisão e na entrevista coletiva do presidente do Banco Central americano, Jerome Powell.

Espera-se também mudanças de comunicação na reunião do Banco do Japão (BoJ) na passagem da madrugada de terça-feira para quarta, com sinalização de alguma elevação de juros à frente ou até mesmo um aumento da faixa da taxa básica - o que pode levar a uma valorização adicional do iene em relação ao dólar e, por tabela, prejudicar divisas emergentes.

Por aqui, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncie manutenção da taxa básica em 10,50%, em um comunicado com tom duro, dada a deterioração recente das expectativas de inflação. No Boletim Focus divulgado hoje, aumentaram a mediana das projeções para o IPCA deste ano (de 4,05% para 4,10%) e do próximo (de 3,90% para 3,96%).

Em tese, a combinação de provável manutenção de Selic no nível atual por período prolongado com eventual corte de juros nos EUA tende a favorecer o real, ao aumentar a atratividade das operações de carry trade. Analistas alertam, porém, que o ceticismo com o cumprimento das metas fiscais e o mau humor recente com divisas emergentes inibem apostas na moeda brasileira.

Dólar (spot e futuro)

ÚltimoVar. %MáximaMínima
Dólar Comercial (AE)5.62550-0.57275.66870
Dólar Comercial (BM&F)5.58660
Dólar Comercial Futuro5623.500-0.79395671.000
Dólar Comercial Futuro5639.500-0.81785688.000

Bolsa

Após a alta de 1,22% na sexta-feira, que havia interrompido série de três perdas diárias, o Ibovespa retoma trajetória negativa neste começo de semana, abaixo dos 127 mil pontos - mas cerca de mil pontos acima do encerramento da última quinta, quando foi ao menor nível desde 3 de julho. Hoje, fechou em baixa de 0,42%, aos 126.953,86 pontos, entre mínima de 126.605,66 e máxima de 127.657,17, com giro a R$ 17,6 bilhões na sessão. No mês, que termina na quarta-feira, o índice avança 2,46% - no ano, cede 5,39%.

O desempenho desta segunda-feira foi condicionado em especial por Petrobras (ON -2,52%, PN -2,02%), antes do relatório de produção da estatal. Ao fim, o dia foi levemente positivo para Vale (ON +0,18%) e também para os grandes bancos, com destaque para Itaú (PN +0,73%) e Santander (Unit +1,13%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, Klabin (+3,21%) e 3R Petroleum (+2,80%), apesar do ajuste negativo do petróleo, ambas à frente de Suzano (+1,91%) no fechamento. No lado oposto, Magazine Luiza (-5,80%), Usiminas (-4,42%), Vamos (-4,36%) e Petz (-4,31%).

Os contratos futuros de petróleo fecharam em queda forte, entre 1,53% (Brent) e 1,75% (WTI), em meio à incerteza sobre a demanda da China e diante da valorização do dólar no exterior, nesta segunda-feira. "A desvalorização do petróleo exerceu pressão sobre as ações e, além disso, a Petrobras anunciou, na última sexta-feira, plano para adquirir 40% da participação da Galp no campo de Mopane, na Namíbia", aponta Frederico Nobre, head de análises da Warren Investimentos, referindo-se a uma aquisição avaliada em cerca de US$ 4 bilhões.

"Embora a Petrobras precise aumentar suas reservas de petróleo, a empresa tem um histórico fraco de operações fora do Brasil, o que gera um certo ceticismo entre os investidores", acrescenta. Tal aquisição, juntamente com a recompra de refinarias que haviam sido vendidas anteriormente, pode reduzir a "margem de segurança" nas projeções de dividendos da

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