Veio do exterior o gatilho para que os ativos domésticos tivessem uma sessão de leve valorização. Depois de tocar máximas em mais de uma década ao longo da semana, os juros longos dos Treasuries hoje cederam, trazendo um relativo alívio nas condições financeiras globais. A T-note de 10 anos chegou ao fim da tarde projetando taxa de 4,247%, de 4,291% ontem. De todo modo, as dúvidas com o crescimento da China e o aperto monetário dos Estados Unidos ainda inspiram cautela e inibem uma tomada mais contundente de risco - refletida na queda majoritária das bolsas americanas. Aqui, o Ibovespa quebrou a sequência recorde de quedas e terminou o dia aos 115.408,52 pontos, valorização de 0,37%. Foi o primeiro pregão a encerrar em alta em agosto. Na semana e no mês, contudo, a queda é pronunciada - de 2,25% e 5,36%, respectivamente. No mercado de câmbio, o dólar à vista bateu os R$ 5 na máxima do dia, mas a pressão se dissipou em meio à valorização das commodities, e a moeda desceu a R$ 4,9680 no fechamento (-0,27%). A valorização semanal é de 1,30% e no mês de agosto, de 5,04%. Nos juros futuros, a curva aponta para um leve viés de baixa, embora tenha acumulado prêmios durante a semana e inclinado. Na semana que vem, atenções voltadas aqui dentro para eventos com a participação de membros do Banco Central, o IPCA-15 e a votação final do arcabouço fiscal. Lá fora, destaque ao Simpósio de Jackson Hole, nos EUA.
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MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York finalizaram o pregão perto da estabilidade, neutralizando as perdas de mais cedo, mas sem perder de vista as incertezas na China, alimentadas por notícias sobre a reestruturação da incorporadora Evergrande e por inadimplências envolvendo a Zhongrong International Trust. Os juros dos Treasuries devolveram parte das altas dos últimos dias, enquanto o dólar cedeu ante rivais fortes, com o dólar blue estendendo as perdas de ontem ante o peso argentino enquanto o governo anuncia novas medidas econômicas e Javier Milei conversa com o Fundo Monetário Internacional. O câmbio mais fraco ajudou a levar fôlego ao petróleo, que também surfou nas expectativas de aperto na oferta da commodity com a redução da atividade em poços e plataformas nos EUA na última semana.
O setor de energia ajudou a tirar pressão dos mercados acionários em Nova York, que fecharam sem direção única, perto da estabilidade. Ações da ExxonMobil subiram 1,51%, da Chevron tiveram alta de 0,72% e da Baker Hughes avançaram 1,12%.
Na visão da Oanda, Wall Street também está “ansiosa” com o simpósio de Jackson Hole, marcado para semana que vem e que contará com discurso do presidente do BC americano, Jerome Powell, na sexta-feira. Segundo análise, investidores temem que o evento diminua as expectativas de um “pouso suave”. “O pano de fundo macro pode justificar um Powell hawkish, mas os movimentos recentes dos rendimentos dos Treasuries podem permitir que suavize a luta contra a inflação”.
A Navellier também aponta para a influência do pedido de proteção de ativos da Evergrande nos Estados Unidos, visto que a ação está “alimentando preocupações de um efeito dominó de outros desenvolvedores problemáticos, e a resposta da China para alívio foi considerada insuficiente até agora, colocando pressão em empresas com grandes vendas na China. Hoje, o índice Dow Jones teve alta de 0,07%, o S&P 500 cedeu 0,01% e o Nasdaq recuou 0,20%.
Analistas ainda mencionavam a possibilidade de o Federal Reserve não ter terminado o ciclo de aperto monetário. Segundo o Brown Brothers Harriman (BBH), dados recentes sugerem que a chance de uma pausa nos juros em setembro é provável. “No entanto, há claramente algumas preocupações subjacentes à inflação e, portanto, ainda não achamos que o Fed tenha parado de subir [os juros]”.
Já o Danske Bank cita a possibilidade de que o corte de juros demore a ocorrer, devido à resiliência das economias ocidentais e do mercado de trabalho, “o que aumenta o risco de a política monetária ter que permanecer apertada por mais tempo do que nós e o mercado esperamos atualmente”.
A visão de que o Fed seja mais rígido que o esperado pelo mercado até ajudou os juros dos Treasuries a renovarem máximas de mais de 10 anos ontem, mas hoje os rendimentos caíram, seguindo o quadro de cautela que pairou durante grande parte do dia. Na visão do Julius Baer, os retornos deverão se consolidar e ficar estáveis na faixa atual até novas pistas sobre as decisões futuras do BC americano em Jackson Hole. No fim da tarde em Nova York, o rendimento da T-note de 10 anos caía a 4,923%, o da T-note de 10 anos recuava a 4,247% e o do T-bond de 30 anos baixava a 4,375%.
Já o dólar operou em baixa ante rivais fortes e emergentes, ante as incertezas sobre a política monetária americana. O iene, por sua vez, ajustava parte das perdas recentes. No geral, a semana foi positiva para o dólar, com o índice DXY finalizando a semana no positivo pela quinta vez consecutiva, “devido a mais más notícias da China, pressão contínua sobre o sentimento de risco e um novo ciclo de alta nos rendimentos de longo prazo do Tesouro dos EUA”, avalia a Capital Economics. Por volta das 17h (de Brasília), o dólar recuava a 145,36 ienes, o euro tinha alta a US$ 1,0879 e a libra recuava a US$ 1,2740. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, tinha queda de 0,19%, a 103,375 pontos, o que representa um aumento de 0,52% na variação semanal.
O dólar blue, no mercado paralelo da Argentina, caiu 5,26%, a 720 pesos argentinos, segundo o jornal Ámbito Financiero. Segundo o jornal, o candidato mais votado nas primárias, Javier Milei, se reuniu com o FMI hoje, de forma virtual, e falou um pouco sobre suas propostas, caso eleito. Segundo fontes ao jornal, o encontro foi "uma oportunidade para trocar opiniões sobre as atuais perspectivas econômicas da Argentina e entender suas prioridades de política econômica".
Enquanto isso, o governo argentino anunciou um acordo para congelar os preços de combustíveis no país e confirmou que haverá aumento nas contas de luz, diante da desvalorização recente do peso. Para o Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras (OMFIF, na sigla em inglês), a dolarização da Argentina pode acabar sendo uma estratégia sem saída e que não irá consertar a economia do país.
A desvalorização do dólar frente a moedas fortes ajudou o petróleo a fechar em alta, que também reagiu à queda do número de poços e plataformas de petróleo em operação nos EUA, sugerindo mais aperto na oferta pela commodity. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para outubro fechou em alta de 0,95% (US$ 0,76) a US$ 80,66 o barril. O petróleo Brent para o mesmo vencimento, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em alta de 0,80% (US$ 0,68), a US$ 84,80 o barril. (Natália Coelho - [email protected])
BOLSA
Mesmo com a cautela ainda dando o tom aos negócios com ativos de risco - pelas incertezas em torno das economias americana e chinesa, as duas maiores do mundo -, o Ibovespa quebrou hoje sua mais longa sequência de perdas, na série histórica iniciada em 1968, e subiu nesta sexta-feira 0,37%, aos 115.408,52 pontos.
Após os 13 recuos iniciados em 1º de agosto, a referência da B3 oscilou hoje dos 114.423,28 aos 115.728,91 pontos, saindo de abertura aos 114.973,40 pontos. Na semana, o índice caiu 2,25% - a quarta retração semanal consecutiva -, o que coloca as perdas do mês a 5,36%, e restringe o avanço acumulado no ano a 5,17%. Fraco, o giro ficou em R$ 21,8 bilhões nesta primeira sessão de agosto com fechamento positivo para o Ibovespa.
Na B3, as ações de grandes bancos, com perdas no mês que chegam a 9,84% para Bradesco ON, subiram moderadamente hoje (Bradesco ON +0,83%, Itaú PN +0,79% , BB ON +0,40%), conferindo suporte, pela ponderação do setor financeiro no índice, para que o Ibovespa fechasse a sessão com leve ganho, em dia negativo para a ação de maior peso individual na carteira, Vale ON, que encerrou em baixa de 1,11%, cedendo 4,16% na semana e 9,22% no mês, cotada agora a R$ 61,22. Em 2023, o papel da mineradora acumula perda de 27,82% - enquanto Petrobras ON e PN avançam, respectivamente, 43,47% e 52,57% no mesmo intervalo.
Em variação acanhada na sessão, Petrobras ON subiu hoje 0,58% e a PN, 0,25% - ambas, como BB ON (+0,65% na semana e +41,98% no ano), foram a exceção positiva da semana entre as ações de maior liquidez, com avanço de 3,05% (ON) e de 3,14% (PN) no intervalo de cinco sessões. Na ponta do Ibovespa na sessão desta sexta-feira, Magazine Luiza (+6,38%) e Carrefour Brasil (+5,24%), com Rede D' Or (-1,85%) e Weg (-1,76%) puxando a fila oposta.
“Tem faltado fluxo, dinheiro novo dos investidores, para a Bolsa - a exceção nesta semana foi a quarta-feira, com o exercício de opções sobre o índice [que reforça o giro no dia]. A queda de juros [Selic] foi importante, mas os movimentos de ingresso têm sido marginais, na B3, com poucos investidores se posicionado em ações, o que piorou agora, em agosto, com a retração do estrangeiro, que virou a mão devido à turbulência externa”, diz Eduardo Cavalheiro, fundador e gestor da Rio Verde Investimentos, destacando em especial a crise no setor imobiliário da China, setor com grande peso no PIB da maior economia asiática.
“Está difícil para a Bolsa sair do lugar, com o juros americanos, em títulos praticamente livres de risco, subindo bastante, na faixa de 4% nos vencimentos de 10 anos, diminuindo assim a atratividade de mercados como o Brasil”, acrescenta.
“A série negativa do Ibovespa foi longa, mas o ajuste relativamente pequeno. Em Nova York, os índices, mesmo numa semana negativa como esta, têm corrigido pouco também, e seguem esticados Apesar dos juros básicos nos níveis em que estão por lá, na faixa de 5%, a economia dos Estados Unidos é uma máquina de produtividade, e os americanos continuam a fazer sua poupança em ações”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, mencionando que o retorno médio do S&P 500 nos últimos 20 anos gira em torno de 10% ao ano.
“O cenário externo tem prevalecido sobre o doméstico - que melhorou e tende a continuar assim, por exemplo, se o arcabouço fiscal vier a ser aprovado como se espera, possivelmente na semana que vem, mesmo com algumas alterações que vieram do Senado. O governo precisa manter a relação com a Câmara, que tem aprovado matérias importantes - e tem outras ainda por vir”, acrescenta.
China, ainda mais que Estados Unidos, pelo papel que tem na formação dos preços de commodities, como o minério, e por ser o principal destino das exportações brasileiras, continua a ser o grande ponto de interrogação deste segundo semestre. “Se pegar a ação da Vale, vinha de R$ 60 e foi a R$ 100 no começo do ano, com a expectativa de normalização da economia chinesa, que não veio - e agora volta a convergir para R$ 60”, diz o gestor da Western Asset.
“O governo de lá - apesar do poder financeiro que tem, em situação fiscal muito mais favorável do que a dos Estados Unidos - não tem agido até agora na intensidade que se esperava - por enquanto, o que tem vindo de medidas, são cosméticas”, acrescenta Mikail, observando também que uma atitude defensiva do governo chinês em relação à disponibilização de dados considerados sensíveis - como o aumento da taxa de desemprego entre a população mais jovem - pode tornar o quadro ainda mais “nebuloso”.
“Uma boa notícia em relação à China seria um gatilho importante”, diz o gestor, que vê chance de o Ibovespa fechar o ano na faixa de 125 mil a 130 mil pontos, considerando também o ritmo de corte da Selic, de meio ponto porcentual, sinalizado pelo Copom.
O mercado financeiro manteve-se dividido sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, entre alta e estabilidade, mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 62,50% esperam avanço da Bolsa na próxima semana, porcentual maior do que os 40,00% da pesquisa anterior. Outros 37,50% preveem variação neutra, de 60,00% no último Termômetro. Mais uma vez, não houve respostas indicando queda. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 115408.52 0.37068
Máxima 115728.91 +0.65
Mínima 114423.28 -0.49
Volume (R$ Bilhões) 2.18B
Volume (US$ Bilhões) 4.39B
17:41
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 117350 0.08529
Máxima 117900 +0.55
Mínima 116575 -0.58
CÂMBIO
Após abrir em alta e registrar máxima a R$ 5,0020 o dólar perdeu força ainda no fim da manhã e operou em terreno negativo ao longo da tarde. Com mínima a R$ 4,9580, fechou cotado a R$ 4,9680, em baixa moderada, de 0,27%. Operadores relataram entrada de fluxo comercial quando o dólar tocou R$ 5,00 e desmonte parcial de posições cambiais defensivas, além de realização de lucros no segmento futuro. Apesar de ter recuado hoje e respeitado a linha dos R$ 5,00 no fechamento nos últimos dias, a moeda encerra a semana com ganhos de 1,30% - o que leva a valorização acumulada em agosto para 5,04%. No ano, a divisa ainda acumula queda de 5,91%.
O comportamento do real esteve mais uma vez ligado à dinâmica global do mercados de moedas, marcado na segunda etapa de negócios por enfraquecimento do dólar na comparação com a maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, embora dois pares do real - peso colombiano e chileno - tenham se depreciado. As taxas dos Treasuries longos, que avançaram com força nos últimos dias, também experimentaram leve recuo, abrindo espaço para uma recomposição parcial dos ativos de risco.
Outro ponto que jogou a favor do real foi recuperação dos preços das commodities, em meio a anúncio de pacote de medidas pela China para atração de investidores estrangeiros. As cotações do minério de ferro subiram quase 3% em Dailan. Os contratos futuros de petróleo avançaram, embora de forma modesta. O tipo Brent para outubro subiu 0,80%, a US$ 84,80 o barril. Investidores estão atentos ao enfraquecimento do setor imobiliário e possível contágio no sistema financeiro internacional. Hoje, a incorporadora chinesa Evergrande entrou, em Nova York, com pedido de proteção de ativos no âmbito do Capítulo 15 do código de falência dos EUA.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, vê o movimento de hoje mais com um ajuste natural após uma rodada de forte de alta do dólar do que um sinal de possível recuperação da moeda brasileira e de outras divisas emergentes. Velho ressalta que, com a agenda americana esvaziada, o anúncio de estímulos do governo chinês ao mercado acionário, embora de resultados duvidosos, interrompeu a sequência de notícias negativas dos últimos dias, como a ata mais dura do Federal Reserve e a crise imobiliária no gigante asiático.
"Tivemos um pequeno alívio, mas não dá para falar em tendência. O mercado chegou a piorar pela manhã, com o dólar atingindo R$ 5,00. O ambiente externo não vai ajudar o real, porque a tendência é de o dólar forte no mundo. A economia europeia dá sinais de enfraquecimento, enquanto nos EUA já não se fala tanto em recessão, e o Fed tende manter os juros altos por mais tempo", afirma Velho, que também vê as dúvidas em torno do cumprimento de metas de resultado primário embutidas no arcabouço fiscal como um dos pontos que pode dar rigidez ao dólar no mercado local.
De fato, embora o vaivém do dólar no exterior tenha sido predominante na formação da taxa de câmbio ao longo da semana, em especial a arrancada das taxas dos Treasuries, há certo desconforto com o quadro político. Após as rusgas entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL), as atenções estão voltadas para a minirreforma ministerial, que vai dar mais espaço do Centrão no governo e pode, em tese, facilitar a tramitação da agenda econômica no Congresso. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast Político, Lula deve esperar deve esperar a volta de sua viagem à África, na próxima semana, para fechar o xadrez na Esplanada.
Ontem, o relator da proposta do marco fiscal na Câmara, Cláudio Cajado (PP-BA), disse que as mudanças nos ministérios podem facilitar a votação final do texto. "Eu consideraria que estaria mais fácil se governo tiver base mais consolidada", afirmou. A ideia, repetiu o parlamentar, é buscar um consenso entre líderes na segunda-feira, 21, para votação no dia seguinte, 22.
Em reunião de economistas com representantes do Banco Central hoje pela manhã, economistas também se mostraram preocupados com o risco de uma desvalorização cambial influenciada pela redução do diferencial de juros entre Estados Unidos e Brasil, reflexo das surpresas positivas com a economia americana.
"As surpresas com a atividade nos Estados Unidos podem levar o Fed a subir mais o juro, e à medida em que o BC está flexibilizando a política monetária, isso pode resultar em uma pressão sobre o real e o cenário de inflação", disse um analista sob reserva às repórteres do Broadcast Mariana Gualter e Thaís Barcelos. Outra fonte afirmou que houve questionamentos sobre o tamanho do ciclo de corte que o BC vai conseguir implementar diante da possibilidade de impacto sobre a moeda por uma queda mais forte do diferencial. (Antonio Perez - [email protected])
17:41
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.96800 -0.269 5.00200 4.95800
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4983.000 -0.14028 5014.500 4970.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5025.475 16/08
JUROS
Após subir nas últimas quatro sessões, os juros futuros tiveram um pequeno alívio nesta sexta-feira na esteira do recuo dos Treasuries, mas no fim da tarde a queda das taxas por aqui dava sinais de esgotamento. Ainda que permaneçam em níveis preocupantes, os yields americanos cederam, permitindo algum respiro para a curva local, que se beneficiou ainda da melhora do câmbio. No Brasil, a movimentação em Brasília deu alguma esperança de que a pauta das reformas se desenrole, o que também contribuiu para o bom comportamento da curva doméstica. No balanço da semana, houve ganho de inclinação, com as longas subindo bem mais que as curtas em função da aversão ao risco no exterior e piora na percepção de risco fiscal.
Às 17h22, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,435%, de 12,438% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 em 10,53%, estável. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,33% (10,34% ontem) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 10,84%, de 10,88%.
A China voltou hoje a ficar em primeiro plano, após o pedido de falência da incorporadora Evergrande acirrar os temores sobre a situação do setor imobiliário do país, resgatando o fantasma da crise do subprime em 2008, dado que outras empresas do setor, como a Country Garden, também têm quadro delicado. Ao mesmo tempo, o governo anunciou detalhes sobre como planeja implementar um pacote de medidas para fortalecer mercados acionários e de títulos no país, de forma a impulsionar a confiança do investidor. Assim, as commodities ganharam fôlego, pressionando o dólar para baixo ante moedas de países exportadores emergentes. No Brasil, o dólar à vista fechou a R$ 4,9680.
Com a melhora do real e o fechamento da curva americana, houve uma tentativa de ajuste nas taxas brasileiras, que vinham subindo desde o começo da semana. "Acredito que hoje houve oportunidade para alguma correção, com dólar e Treasuries em queda puxando o movimento", afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
A trajetória baixista, porém, se mostrou frágil e as taxas chegavam ao fim da sessão mais perto da estabilidade, com a proximidade do fim de semana também trazendo um pouco de cautela. "Vejo como um movimento pontual, sem fôlego, dado que os problemas lá fora permanecem. O 'flight do quality' para os Treasuries tem sido forte e prejudica emergentes", afirma André Alírio, gerente de Renda Fixa e Distribuição de Fundos da Nova Futura Investimentos.
Enquanto as incertezas no front externo sugerem retomada da postura defensiva nos próximos dias, no âmbito doméstico a semana termina com uma percepção um pouco mais construtiva sobre as pautas econômicas que estão no Congresso. Aparentemente superadas as rusgas entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com a reforma ministerial se desenhando, é possível acreditar que tanto o texto da tributária quanto o do arcabouço avancem no Congresso.
A ideia de Lira é discutir o arcabouço na terça, 22, dia em que também na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado deve haver a leitura do relatório do projeto de lei que altera as regras do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Quanto à tributária, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que a meta é que o texto comece a ser apreciado no início de outubro.
"A tendência é a tensão do lado político arrefecer nos próximos dias, com a negociação para a reforma ministerial. Vai haver uma farpa aqui e ali, mas a agenda básica não será comprometida", previu Alírio.
As taxas curtas se moveram mais lateralmente, com a possibilidade de uma aceleração no ritmo de cortes da Selic para 75 pontos-base no Copom de setembro agora vista com uma série de ressalvas. Uma delas é pelo comportamento do câmbio, pois não se sabe o quanto a pressão do juro americano vai comprometer a arbitragem com as taxas domésticas, num contexto de queda do juro básico. O risco de uma desvalorização cambial influenciada pela redução do diferencial foi tema na reunião de diretores do Banco Central com economistas hoje em São Paulo. Segundo fontes que estavam no encontro, houve questionamentos sobre o tamanho do ciclo de corte que o BC vai conseguir implementar. (Denise Abarca - [email protected])