NOTICIÁRIO CORPORATIVO SE SOBREPÕE A PAYROLL EM NY E NO BRASIL, PRESSIONANDO BOLSAS

Cenário

O otimismo do mercado com a possibilidade de o Federal Reserve paralisar o aperto monetário com base nos números mais fracos do que o esperado do relatório de emprego (payroll) se esvaiu na tarde desta sexta-feira, levando os mercados acionários a uma queda diária e semanal. Não que o diagnóstico sobre o Fed tenha mudado, e a prova disso é o dólar para baixo globalmente e a baixa dos rendimentos dos Treasuries de curto prazo. Mas resultados corporativos decepcionantes fizeram o mau humor emergir. Nos Estados Unidos, o risco de a receita da Apple atingir mais um trimestre de baixa pressionou a ação da companhia, que desceu 4,80%. Aqui, a sensação é de que o balanço do Bradesco aponta para um ponto de inflexão ainda mais distante, com desafios em inadimplência e crescimento da carteira. O papel PN do banco mergulhou 6,65% e o ON, 4,77%. Na Petrobras, além das cifras trimestrais, atenções voltadas para a pressão contínua da escalada recente do petróleo no caixa da companhia e a resistência dos executivos em reajustar preços. A ação ON cedeu 4,20% e a PN, 2,98%. Como resultado, entre os índices americanos, Dow Jones caiu 0,43%, S&P 500 perdeu 0,53% e Nasdaq recuou 0,36%. Na semana, as quedas foram, respectivamente, de 1,11%, 2,27% e 2,85%. O Ibovespa terminou em 119.507,68 pontos, baixa diária de 0,89% e semanal de 0,57%. A cautela externa fez o investidor vender ações e comprar títulos de longo prazo dos Estados Unidos, garantindo queda firme dos juros dos Treasuries e ajudando a aliviar os vértices mais distantes na curva local. No curto prazo, internamente, o movimento foi marginal hoje, com os agentes à espera da ata do Copom, na terça-feira. Por fim, no câmbio doméstico, o dólar aproveitou a cena externa e devolveu parte do avanço de ontem. A moeda americana à vista caiu para R$ 4,8753 (-0,48%), mas subiu 3,05% na semana.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•JUROS

•CÂMBIO

MERCADOS INTERNACIONAIS

As bolsas de Nova York perderam força após o fôlego recebido, pela manhã, com o payroll e encerraram o pregão em queda. Destaque para a queda de 4,80% da Apple e a alta de 8,27% da Amazon, ambas motivadas por balanços divulgados ontem. As avaliações de que o Federal Reserve pode pausar o aperto monetário diante da menor geração de vagas nos EUA ganharam reforço de falas de dirigente do Federal Reserve (Fed) reconhecendo a desaceleração do mercado de trabalho, pressionando os juros dos Treasuries e o dólar. O câmbio favoreceu o petróleo, que reagiu também a notícias sobre demanda e oferta. Na Argentina, o dólar blue avançava ante o peso, enquanto o governo se movimenta para cumprir com compromissos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), dias antes das eleições primárias do país.

A semana foi de queda para as bolsas de Nova York, que acabaram prejudicadas pelo rebaixamento do rating dos Estados Unidos pela Fitch e fecharam em baixa hoje, mesmo após terem ganhado fôlego com o relatório de empregos de julho. O tombo nas ações da Apple contrasta com a força do número de assinantes pagantes de serviços digitais da empresa, que ultrapassou um bilhão em todo o mundo, destaca a AJ Bell. "Sem esse sucesso, o mercado teria ficado muito mais preocupado com seus ganhos, uma vez que as vendas de iPhone e iPad foram fracas". A Apple perdeu a marca de US$ 3 trilhões em valor de mercado e fechou em queda de 4,80. Já o Dow Jones caiu o,43%, o S&P 500 cedeu 0,53% e o Nasdaq teve queda de 0,36%.

Também acompanhando o payroll, os juros dos Treasuries cederam, com a ponta longa perdendo parte dos ganhos de ontem. Entretanto, na visão do BMO, a queda foi uma "reação exagerada", visto que o dado não deve justificar cortes de juros pelo Fed até 2024. Entretanto, segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, as chances de corte de juros em 25 pontos-base (pb) pelo Fed em dezembro chegou a bater 10% após a divulgação do payroll, e no fim da tarde, estava em 8,8%.

Para o presidente da distrital do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, o payroll já sinaliza uma desaceleração ordenada do mercado de trabalho e da economia americana. Já para o dirigente Austan Goolsbee, os números aumentam a possibilidade de o Fed conseguir conter a inflação sem provocar grande piora da economia.

A Oxford Economics avalia que o payroll, entretanto, já aponta para desaceleração suficiente para uma pausa nos juros americanos, apesar de alertar que surpresas poderia fazer com que mais altas de juros fossem uma possibilidade. A possibilidade de o Fed pausar os juros na decisão de setembro também não é consenso entre analistas, visto que o CIBC mantém sua projeção de alta de 25 pontos-base (pb), devido a força do salário e a queda do desemprego. Já o C6 Bank destaca que o BC americano poderá aumentar as taxas mais uma vez este ano.

Na visão da Oxford Economics, as ações agora se voltam para o índice de preços ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês), que será publicado na quinta-feira. "Dados de inflação mais baixos seriam uma vantagem para os títulos do Tesouro de prazo mais longo, é claro. E um aumento do CPI maior do que o esperado aumentaria as expectativas de aumento da taxa do Fed, estimulando uma liquidação na ponta curta", destaca a consultoria britânica. Perto do fechamento das bolsas de Nova York, o rendimento da T-note de 2 anos caía a 4,782%, o da T-note de 10 anos baixava a 4,052% e o do T-bond de 30 anos cedia a 4,205%

A Capital Economics volta a destacar a força do dólar após o rebaixamento do rating americano, o que "sugere que os participantes do mercado dão pouca importância aos riscos de longo prazo para a qualidade de crédito dos EUA". Entretanto, no dia, o dólar caiu ante moedas fortes, pressionado pelo payroll. No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 141,83 ienes, o euro avançava a US$ 1,1008 e a libra tinha alta a US$ 1,2746. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou queda de 0,51%, a 102,017 pontos, mas na comparação semanal subiu 0,39%.

O cenário favoreceu o petróleo, que conseguiu subir mais de 1% no pregão, seguindo notícia sobre ataque da Ucrânia em um dos maiores portos da Rússia, além da reunião do Comitê de Monitoramento Ministerial Conjunto (JMMC, na sigla em inglês) da Opep+, que reafirmou a contenção da produção da commodity do cartel, ao passo que a Rússia reforçou crescimento da demanda. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em alta de 1,55% (US$1,27), a US$ 82,82 o barril, enquanto o Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), registrou ganho de 1,29% (US$1,10), a US$ 86,24 o barril. Na semana, o WTI subiu 2,77%, e o Brent, 2,16%.

Na Argentina, o dólar blue subiu ante o peso, em meio a notícias de que o país irá pagar US$ 765 milhões hoje ao FMI, por meio de um empréstimo anunciado com o Catar, evitando que o país recorra a suas reservas. O anúncio ocorre pouco antes das eleições primárias do país, com dois principais candidatos: o atual ministro da Economia Sergio Massa, e a oposição da extrema direita, Javier Milei.

O Citigroup prevê vitória de Milei, destacando a "desordem" da economia do país, "enfrentando um crescimento negativo ao lado de uma inflação desenfreada". O dólar blue subiu a 574 pesos argentinos. (Natália Coelho - [email protected])

BOLSA

O Ibovespa chegou a ensaiar reação nesta quarta sessão de agosto, mas não conseguiu evitar o sinal que prevaleceu nas três anteriores, negativo, pressionado hoje, em especial, pela má recepção aos balanços trimestrais de dois pesos-pesados do índice, Petrobras (ON -4,20%, PN -2,98%) e Bradesco (ON -4,77%, PN -6,65%). Ao final, a referência da B3 mostrava perda de 0,89%, a 119.507,68 pontos, tendo chegado no melhor momento, no começo da tarde, a 121.442,02 pontos, então em alta moderada na sessão. O dia foi misto e ao final também negativo em Nova York, onde os índices acumularam perdas entre 1,11% (Dow Jones) e 2,85% (Nasdaq) na semana, com cautela reforçada desde o rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Fitch.

Aqui, o Ibovespa encerrou o intervalo de cinco sessões em baixa de 0,57%, após ter fechado a semana anterior bem perto da estabilidade (-0,02%). Com perdas ao longo das quatro primeiras sessões de agosto, o índice recua 2,00% nesta abertura de mês, limitando o avanço do ano a 8,91%. Reforçado como ontem, o giro financeiro foi a R$ 30,3 bilhões nesta sexta-feira, em que o Ibovespa saiu de abertura aos 120.585,58 e tocou, na mínima do dia, 119.215,02 pontos. Pouco acima disso, aos 119,5 mil pontos, teve hoje o menor nível de fechamento desde 20 de julho, então aos 118 mil.

De certa forma, o pós-Copom foi uma decepção relativa, tendo em vista que o BC, mesmo que dividido, entregou redução de juros no limite superior da expectativa do mercado, com o corte da Selic em meio ponto porcentual, o que deve se repetir na próxima reunião do Comitê conforme a sinalização dada no comunicado. O apetite por risco, contudo, não veio, e isso ficou evidente desde ontem, em particular no comportamento das ações de grandes bancos. Hoje, houve recuo na curva de juros, mas ontem o sinal havia sido misto, com os curtos em retração e os longos em avanço.

Além da cautela externa, que dificulta o apetite por risco em ativos domésticos, algumas nuances não passaram despercebidas desde a noite da última quarta-feira - o que alimenta, em parte, incerteza sobre a trajetória de queda dos juros à frente. No caso dos bancos, há a questão ainda em aberto quanto ao fim da distribuição de JCP (juros sobre capital próprio), sinal que tem sido reiterado pelo governo recentemente. Mas também pesa sobre o setor o efeito das incertezas sobre o ritmo de redução dos juros, quando ainda pendem dúvidas sobre quanto o governo conseguirá arrecadar, de fato, para fazer frente ao compromisso de equilíbrio fiscal.

Na própria noite em que elogiou a decisão do Copom de cortar a Selic em meio ponto porcentual, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez referência a "problemas de arrecadação", observa Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, notando também que a questão do fim do JCP segue em cima da mesa. "Mesmo com a contratação de novos cortes, indicada pelo Copom, deve-se preservar nos próximos meses um patamar contracionista [para a política monetária]", ressalva o analista.

Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, chama atenção para a retirada, na noite de quarta-feira, de referências à questão fiscal no comunicado pós-Copom, com relação ao balanço de riscos. "Nas comunicações anteriores, o Copom vinha destacando riscos associados à possibilidade de uma inflação acima do esperado e, neste comunicado, diminuiu um pouco as referências nesse sentido. Não se falou mais sobre a questão fiscal, ou sobre a desancoragem das expectativas de longo prazo. Os principais riscos agora, na visão do Copom, estão relacionados à inflação global e à inflação de serviços", acrescenta.

O campo minoritário que emergiu na reunião desta semana, dos diretores que advogavam ritmo mais cauteloso para a queda da Selic - que se iniciaria, no entendimento dessa ala, com uma redução de 0,25 ponto na última quarta-feira -, faz crer que uma perspectiva 'dovish' possa ganhar força ao fim do mandato de dirigentes considerados mais ortodoxos e duros com relação aos juros, como Fernanda Guardado - uma perspectiva que começa a entrar no radar do mercado, e que pode trazer um grau maior de volatilidade para a curva de juros.

Assim, com cautela externa e um grau de incerteza significativo em relação ao horizonte doméstico, o Ibovespa não conseguiu escapar à decepção decorrente, nesta última sessão da semana, em especial dos lucros de segundo trimestre apresentados ontem à noite por Petrobras e Bradesco, que seguraram a ponta negativa do índice, hoje, ao lado de Carrefour Brasil (-6,76%). No lado oposto, destaque para Dexco (+6,37%), BRF (+6,10%), Lojas Renner (+5,77%) e Marfrig (+5,66%).

Um leilão de 49,065 milhões de ações do Carrefour movimentou R$ 600 milhões na B3 na manhã de hoje. O vendedor dos papéis, de acordo com fontes, foi o fundo americano Advent. A ação saiu ao preço inicial de R$ 12,16, em um leilão que durou uma hora, feito pela corretora do Itaú.

"Os resultados de Petrobras e Bradesco não animaram o mercado. O Bradesco revisou para baixo o 'guidance' de receita advinda das operações de crédito, na carteira ampliada, para os próximos trimestres. Petrobras não trouxe resultados tão fora do esperado, mas que tampouco animaram, com o mercado ainda atento à mudança na política de dividendos, com distribuição menor, o que traz certo mau humor com relação ao papel", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

O quadro de distribuição das expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo mostrou poucas mudanças no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira em relação à pesquisa da semana passada. Entre os participantes, a expectativa de alta para o Ibovespa subiu de 57,1% para 63,64%, no melhor nível em três semanas. Os que preveem estabilidade são 27,27%, de 28,57% na pesquisa anterior. A fatia dos que acreditam em queda caiu de 14,29% para 9,09%. (Luís Eduardo Leal - [email protected], com Altamiro Silva Junior)

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 119507.68 -0.89404

Máxima 121442.02 +0.71

Mínima 119215.02 -1.14

Volume (R$ Bilhões) 3.02B

Volume (US$ Bilhões) 6.23B

17:31

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 119925 -0.65032

Máxima 121930 +1.01

Mínima 119545 -0.97

JUROS

Os juros futuros ficaram perto da estabilidade nos vencimentos de curto prazo, enquanto os demais recuaram, com a curva retomando o movimento de "flattening" abandonado ontem. O alívio nos prêmios de risco veio do exterior, mais precisamente do forte fechamento da curva dos Treasuries e da queda generalizada do dólar, após o relatório de emprego nos EUA ter reforçado a percepção de que o Federal Reserve fará uma pausa no ciclo de aperto monetário na reunião de setembro. As taxas curtas tiveram oscilação mais limitada pelo compasso de espera pela ata do Copom, na terça-feira. O mercado quer ser convencido pelo Banco Central do caráter técnico da decisão de reduzir da Selic em 0,5 ponto porcentual.

Às 17h15, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,47%, de 12,447% ontem, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,48%, de 10,46%. Ainda no miolo, a taxa do DI para janeiro de 2026 se mantinha abaixo de 10%, a 9,93% (9,96% ontem). O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,07%, ante 10,10% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2029 cedia de 10,58% para 10,53%. No mercado secundário de NTN-B, as taxas de inflação implícita de curto prazo, que ontem subiram na esteira da reação ao Copom, hoje devolveram parte do movimento, relatam profissionais nas mesas de renda fixa.

No balanço da semana do Copom, os DIs devolveram prêmios mais ou menos em bloco, com longas e curtas caindo em torno de 15 pontos-base, em relação aos níveis da última sexta-feira. Se ontem o ganho de inclinação da curva, especialmente pela pressão de alta na ponta longa, foi provocado em parte pelo exterior, hoje esse mesmo ambiente internacional foi quem ajudou os juros a recuarem por aqui. O yield da T-Note de dez anos mais que devolveu os 10 pontos de alta adicionados ontem e voltava a 4,04% no fim da tarde, enquanto o retorno do T-Bond de 30 anos estava abaixo de 4,20%.

"O gatilho é externo, com o payroll surpreendendo para baixo pelo segundo mês consecutivo", resume o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, lembrando que o Federal Reserve vinha colocando muito peso nos dados de mercado de trabalho em seus discursos "hawkish". "A chance de alta de juro nos EUA em setembro já era baixa e caiu mais. A leitura é que os bancos centrais dos países desenvolvidos estão chegando ao teto", complementou.

Foram criados 187 mil postos de trabalho nos EUA em julho, ante consenso de 205 mil, e dados dos meses anteriores foram revisados para baixo. Do ponto de vista das apostas para a política monetária, esse recorte parece ter prevalecido ante o do aumento acima do esperado dos salários e da queda do desemprego.

Nesse contexto, o mercado acabou deixando hoje em stand by o desconforto visto ontem com a piora de percepção de risco inflacionário após o corte de 0,5 ponto porcentual, que muitos no mercado consideraram "mal explicado" no comunicado. Por isso, é grande a expectativa pela ata do Copom, na qual os agentes querem ver argumentos sólidos que os convençam de que não houve viés político, especialmente no voto de Minerva do presidente Roberto Campos Neto. Além disso, a percepção é de que o colegiado tende a carregar nas tintas conservadoras para estancar a migração das apostas na aceleração do ritmo para 0,75 ponto porcentual na próximas reuniões, o que traz o indesejado movimento de aumento nos juros longos.

"A despeito do comunicado ser enfático ao se comprometer com a manutenção no mesmo ritmo de 50 pontos, a aposta de 75 pontos para alguma decisão do Copom entre setembro e dezembro ficará na curva", estima o sócio gestor e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que vê probabilidade mais elevada de que a taxa básica possa atingir um dígito até o final de junho de 2024, dada a previsão de chegada de mais dois diretores para intensificar a ala dovish. "Ao contrário da curva curta, esse movimento pode pontualmente, dar um 'gás' na ponta média e longa de alta dos juros, mas por enquanto, parece que o 'namoro de menor taxa de juros' vai se sobrepor à ameaça inflacionária", observa. (Denise Abarca - [email protected])

CÂMBIO

Após três pregões consecutivos de valorização, em que ameaçou fechar acima de R$ 4,90, o dólar à vista recuou na sessão desta sexta-feira, 4. Segundo operadores, houve um movimento natural de ajuste de posições e realização de lucros em meio ao enfraquecimento da moeda americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes pares do real como pesos mexicano e colombiano.

Dados mistos do relatório de empregos (payroll) nos EUA, mas com geração de vagas abaixo do esperado em julho, deram força a apostas de que não haverá nova alta dos juros pelo Federal Reserve em setembro. As taxas dos Treasuries recuaram após a escalada dos últimos dias. O anúncio de estímulos monetários pelo Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) reverberou nas mesas de operação pela manhã, embora não tenha sido suficiente para provocar valorização das commodities metálicas.

Com mínima a R$ 4,8471 na primeira etapa de negócios, o dólar diminui o ritmo de perdas ao longo da tarde em sintonia com o comportamento da moeda americana lá fora e a piora das bolsas em Nova York. No fim do dia, a divisa era cotada a R$ 4,8753, em baixa de 0,48%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro teve giro razoável, acima de US$ 12 bilhões.

Apesar do refresco hoje, o dólar à vista encerra a semana com valorização de 3,05%. Nos quatro primeiros pregões de agosto, houve ganhos de 3,08%, após queda de 1,25% em julho. Em relação aos pares, o real sofreu mais que os pesos mexicano e chileno na semana, mas teve desempenho superior ao registrado por peso colombiano e rand sul-africano.

Analistas veem um movimento de realização de lucros com divisas emergentes de países latino-americanos, que já embarcaram - caso de Brasil e Chile - ou estão prestes a embarcar em um ciclo de redução de juros, na contramão da tendência para a política monetária nos países desenvolvidos. Por aqui, a decisão do Copom na quarta-feira, 2, de reduzir a Selic em 0,50 pontos-base e contratar mais reduções da mesma magnitude contribui, segundo analistas, para parte da depreciação da moeda brasileira.

O diretor de tesouraria do banco de câmbio Braza Bank, Bruno Perottoni, observa que pelo menos metade da baixa do real ontem pode ser atribuída à reação dos investidores ao comunicado do Copom. Mais do que a decisão em si, de corte de 0,50 ponto porcentual, trouxe desconforto a contratação de reduções seguidas de 0,50 ponto. "Esse fato de cravar cortes seguidos de 0,50 jogou gasolina no mercado. Esse ímpeto de reduzir juros pode dar uma estressada no câmbio, uma vez que Estados Unidos e Europa mantêm taxas altas", afirma Perottoni.

O tesoureiro do Braza Bank chama a atenção para o fato de que a votação dividida e a mudança na composição da diretoria no fim do ano, com troca de dois diretores, sugerem alteração na gestão da política monetária. Terminam neste ano os mandatos dos diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) e Maurício Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), dois dos que votaram nesta semana por queda de 0,25 ponto. Dois novos diretores indicados pelo governo Lula - Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Aílton Aquino (Fiscalização) optaram pelo corte de 0,50 ponto, no que foram acompanhados pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.

"Considerando cenário de alta de juros lá fora, se esse novo Copom levar a Selic para menos de 10%, para algo como 8% ou 7%, vai haver uma mudança na atratividade do carry trade, o que terá reflexos no mercado de câmbio", afirma Perottoni, que espera mais explicações sobre o rumo da política monetária na ata do comitê na semana que vem.

O CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, também vê a sinalização do Copom como um fato que pode reduzir o fluxo de recursos para o Brasil, dado que países desenvolvidos ainda mantêm juros em níveis restritivos. Ele observa que os dados do payroll, embora com geração de empregos inferior às projeções, ainda mostram um mercado de trabalho aquecido nos EUA.

"A tendência do mercado mostra que o dólar deve terminar o ano entre R$ 4,90 e R$ 5,00. Enquanto a Selic estiver em dois dígitos e os indicadores de inflação e atividade econômica derem suporte às decisões de política monetária do Banco Central, não acredito que o dólar possa ultrapassar a casa do R$ 5,00", afirma Bazzo. (Antonio Perez - [email protected])

17:31

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.87530 -0.4777 4.91800 4.84710

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4890.500 -1.08212 4945.000 4870.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4930.852 02/08    

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