Os ativos domésticos tiveram ajuste de baixa nesta segunda-feira de estreita liquidez devido à ausência dos mercados em Nova York e em Londres. A realização de lucros recentes deu o tom aqui, à medida que o investidor também espera o início da tramitação do arcabouço fiscal no Senado e o resultado do Produto Interno Bruto do Brasil no primeiro trimestre, esse a ser conhecido na quinta-feira. Neste ambiente, o dólar superou o nível dos R$ 5 e terminou no segmento à vista perto da máxima do dia (R$ 5,0165), com valorização de 0,48%, aos R$ 5,0124. Houve também uma pressão externa no câmbio. Depois de democratas e republicanos chegarem no fim de semana a um acordo para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos, prevaleceu no mercado a percepção de que saíram os entraves à atividade americana no curto prazo. Isso também significa que o Federal Reserve pode continuar com a sua política monetária apertada, gerando ao fim a valorização da divisa dos EUA mundo afora. No final da tarde, o índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrava alta de 0,07%, a 104,278 pontos, em dia ainda de baixa do euro após a convocação de eleições antecipadas na Espanha. Já entre moedas de países emergentes, a lira turca renovou mínimas históricas, após o presidente Recep Tayyip Erdogan conseguir se reeleger. De volta ao Brasil, o Ibovespa terminou o dia em 110.333,40 pontos, queda de 0,52%. As ações da Vale, que mais cedo ajudaram a diminuir a queda do índice, acabaram virando na hora final e terminaram em baixa de 0,75%. Na renda fixa, os juros subiram levemente, em dia à mercê de fatores técnicos e fluxos pontuais.
•CÂMBIO
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•BOLSA
•JUROS
CÂMBIO
Após trocas de sinal pela manhã, o dólar à vista se firmou em terreno positivo ao longo da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 29, em alta de 0,48%, cotado a R$ 5,0124. Sem a referência de Treasuries e dos índices acionários em Nova York, em razão feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, o mercado de câmbio local trabalhou em marcha lenta. As movimentações foram contidas, com oscilação de apenas cerca de quatro centavos entre mínima (R$ 4,9743) e máxima (R$ 5,0155). O contrato futuro para junho, principal termômetro do apetite por negócios, apresentou volume financeiro inferior a US$ 8 bilhões.
"Com o feriado nos EUA, a liquidez foi mínima. O exterior acabou ditando o ritmo, com o dólar aqui acompanhando o comportamento de alta em relação a alguns pares emergentes do real", afirma o analista de câmbio Elson Gusmão, da corretora Ourominas, acrescentando que amanhã à tarde o mercado já deve começar a se movimentar para a rolagem de posições no segmento futuro e a disputa pela formação da última Ptax de maio.
Lá fora, o índice DXY - termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em leve alta ao longo da tarde, na casa dos 102,200 pontos, em razão da fraqueza do euro. Haverá antecipação de eleição geral na Espanha, após derrota do Partido Socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez em pleito regional neste domingo.
O dólar ganhou força na comparação com a maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, incluindo moedas latino-americanas de países de juros altos, à exceção do peso mexicano. A lira turca renovou mínimas históricas, após o presidente Recep Tayyip Erdogan conseguir se reeleger.
No front externo, o destaque foi o acordo firmado entre o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, e o presidente Joe Biden para ampliação do teto da dívida americana. A perspectiva é que o projeto de lei seja votado nesta quarta-feira, 31. Afastado o risco de calote e paralisação de serviços públicos, o foco dos investidores se volta para a trajetória de taxa de juros nos EUA. Dados mais recentes de atividade e inflação aumentam as chances de nova elevação da taxa em 0,25 ponto porcentual pelo Federal Reserve em junho e desautorizam apostas mais contundentes em cortes os juros ainda neste ano.
Segundo o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a perspectiva de alta da taxa básica americana em junho, após acordo em torno do teto da dívida, tende a apoiar o dólar no exterior. "O acordo da dívida nos EUA aliviou e eliminou a antecipação da recessão e o eventual rebaixamento do rating, mas também reforça dólar e alta dos juros pelo Fed", afirma Velho.
Por aqui, Velho afirma que a expectativa de mais ingresso de recursos externos nos próximos dias, em especial para a Bolsa, e exportações líquidas fortes devem sustentar a taxa de câmbio ao redor de R$ 5,00 no curtíssimo prazo.
Investidores vão monitorar nas próximas semanas a tramitação da nova proposta de arcabouço fiscal no Senado, após a aprovação por votação por folga na Câmara. O avanço do novo marco fiscal e a desaceleração surpreendente do IPCA-15 de maio, somadas a declarações em tom mais ameno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estimularam na semana passada as apostas em corte da taxa Selic em agosto. É grande a expectativa em torno do encontro do Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho, que pode haver adoção de meta de inflação contínua, como defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Pela manhã, o boletim Focus trouxe nova redução das expectativas para o IPCA deste ano (de 5,80% para 5,71%). Para 2024, a projeção mostrou manutenção em 4,13% após quatro semanas de queda. Houve redução das expectativas para a taxa de câmbio no fim deste ano (de R$ 5,15 para 5,11%) e do próximo (de R$ 5,20 para 5,17%). (Antonio Perez - [email protected])
18:02
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.01240 0.4751 5.01650 4.97430
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5021.000 0.37985 5024.000 4977.000
DOLAR COMERCIAL 5044.500 0.28827 5049.000 5005.000
MERCADOS INTERNACIONAIS
Nem a resistência de uma ala do Partido Republicano ao acordo para suspender o teto da dívida americana deve ser suficiente para impedir a aprovação do projeto. A avaliação predominante no mercado é de que há votos suficientes nos dois partidos para acabar com o impasse antes do prazo de 5 de junho fixado pelo Tesouro para evitar um possível calote. De qualquer forma, o ínfimo volume de negócios determinou movimentações contidas aos ativos de risco que operaram no exterior nesta segunda-feira, com feriados nos EUA e no Reino Unido. Assim, o petróleo subiu marginalmente em Londres, enquanto bolsas europeias tiveram viés negativo. Já o dólar se fortaleceu, com euro vendido após a convocação de eleições antecipadas na Espanha.
"Vamos tentar [bloquear o acordo]", avisou o deputado republicano Chip Roy, um dos representantes da bancada mais à direita da oposição. O parlamentar integra um crescente grupo congressistas que criticaram o chamado "Projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal", fruto de semanas de negociações entre o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, e a Casa Branca. A proposta prevê a suspensão do teto da dívida por dois anos combinada a novas travas nos gastos em várias áreas. A previsão é de que a pauta seja votada já na próxima quarta-feira.
Candidato à nomeação republicana para as eleições presidenciais de 2024, o governador da Flórida, Ron DeSantis, afirmou que o texto mantém a maior economia do planeta em rota rumo à "falência". Ainda que imponha alguns limites, a legislação autorizaria quase US$ 800 bilhões em despesas com segurança nacional em 2024 e mais de US$ 700 bilhões em outros setores. "Dizer que você pode fazer 4 trilhões [dólares] de aumentos no próximo ano e meio, quero dizer, é uma quantidade enorme de gastos", criticou DeSantis.
Apesar da emergente revolta republicana, a expectativa consensual é de que a lei seja aprovada. O Goldman Sachs prevê que a Câmara dará seu aval na quarta-feira e enviará a matéria ao Senado, que deve votá-la no final de semana. "Há menos incerteza em relação ao apoio no Senado do que na Câmara, acreditamos, então isso é mais uma questão de cronograma do que resultado", avalia o banco americano.
Essa percepção positiva pintou um quadro benigno nas poucas mesas de operações que atuaram durante o feriado do Memorial Day americano. Tanto que os futuros atrelados aos principais índices acionários de Nova York operaram no azul. No entanto, do outro lado do Atlântico, predominou o sinal negativo: Frankfurt perdeu 0,20%, Paris cedeu 0,21% e Milão caiu 0,36%.
Investidores monitoraram o cenário político da Espanha, onde eleição geral foi antecipada para julho no dia seguinte à derrota do partido governista em pleitos regionais. A Eurasia avalia que a medida fortalece a oposição de direita, que faria um governo mais pró-mercado, na visão da consultoria. A S&P Global Ratings, por sua vez, avalia que a situação terá impacto limitado na política fiscal do país.
Ainda assim, o euro acelerou queda após a notícia, embora a liquidez menor tenha mitigado qualquer movimentação. No fim da tarde em Nova York, a divisa comum europeia recuava a US$ 1,0714 e a libra subia a US$ 1,2361. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrava ganho de 0,07%, a 104,278 pontos. A moeda americana se fortalecia ainda a 20,0960 liras turcas após a reeleição do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, defensor de uma agenda macroeconômica heterodoxa. A lira chegou a renovar mínima histórica ante o dólar. "Na ausência de uma reviravolta em suas políticas econômicas, o risco de uma crise cambial aguda se aproxima", resume o Danske Bank.
Entre commodities, o petróleo ficou perto da estabilidade em uma sessão encurtada pelos feriados: o barril do Brent para agosto fechou em alta de 0,16%, a US$ 77,10. Operadores aguardam novidades sobre a próxima reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), marcada para o começo de junho. Na semana passada, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, chegou a dizer que não esperava "passos adicionais" no encontro, o que foi interpretado como uma sinalização de que não haverá cortes na oferta do cartel. No entanto, Novak voltou atrás e disse que não havia sido tomada decisão. (André Marinho - [email protected])
BOLSA
O Ibovespa teve um início de semana com variação e giro financeiro restritos pelo feriado em Nova York e também na principal praça financeira europeia, Londres. Assim, sem catalisadores domésticos que elevassem o índice da B3 pelo terceiro dia seguido, ou que resultassem em uma realização de lucros significativa, a referência oscilou menos de mil pontos entre a mínima (110.195,11) e a máxima (111.168,05) do dia, em que saiu de abertura aos 110.905,81 pontos.
No fechamento, mostrava perda de 0,52%, aos 110.333,40 pontos, com giro fraquíssimo nesta segunda-feira, a R$ 11,9 bilhões. No mês, que termina na quarta-feira, o Ibovespa acumula ganho de 5,65%, que coloca o do ano a 0,55%.
As ações de maior peso e liquidez tiveram inclinação moderada ao longo da sessão, na maioria em baixa, como Petrobras (ON -0,63%, PN -0,41%), e ao final com sinal misto para as de grandes bancos (Itaú PN -0,44%, Bradesco PN +0,12%, Unit do Santander +0,31%). Apesar da recuperação de quase 5% para o preço do minério neste início de semana na China, o setor metálico, que chegou a esboçar reação mais cedo, fechou o dia em baixa, com Vale (ON -0,75%) à frente.
Na ponta do Ibovespa, destaque nesta segunda-feira para CVC (+4,03%), Cogna (+3,26%), Eztec (+2,45%) e Méliuz (+2,30%). No lado oposto, Vibra (-3,91%), BRF (-2,89%), Fleury (-2,31%) e Equatorial (-2,28%).
"Com liquidez muito baixa, o dia foi de ajuste leve, com o mercado tendo a seu favor o alívio, que deve ser maior amanhã com Nova York, proporcionado pelo entendimento sobre a elevação do teto da dívida americana, no fim de semana. Mercado trabalhou hoje aqui perto do zero a zero, com o setor metálico devolvendo a alta vista mais cedo. Dia bem tranquilo, sem grandes movimentações", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
"O acerto sobre o limite do teto nos Estados Unidos, que será votado na quarta-feira, afasta o risco de calote na dívida americana. E o acordo veio com o compromisso do presidente Joe Biden, junto aos republicanos, de não aumentar gastos públicos nos próximos dois anos - algo que foi visto de forma positiva nos índices futuros dos Estados Unidos, e que deve se refletir amanhã na retomada dos negócios em Nova York", diz Alan Dias Pimentel, especialista da Blue3 Investimentos.
Na agenda doméstica neste começo de semana, destaque pela manhã para a divulgação do Boletim Focus, que trouxe nova redução nas projeções de mercado para o IPCA no fechamento de 2023, a 5,71%, em mais um desdobramento que contribui para a redução da pressão sobre os juros no Brasil, observa Vanessa Naissinger, especialista da Rico Investimentos. Ela destaca, na semana, outro ponto da agenda com potencial para orientar os negócios, o PIB brasileiro no primeiro trimestre. A mediana da pesquisa Projeções Broadcast indica alta de 1,2% para o indicador ante o mesmo período de 2022.(Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:02
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 110333.40 -0.51585
Máxima 111168.05 +0.24
Mínima 110195.11 -0.64
Volume (R$ Bilhões) 1.18B
Volume (US$ Bilhões) 2.37B
18:03
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 110895 -0.54706
Máxima 111860 +0.32
Mínima 110655 -0.76
JUROS
Os juros futuros começaram a semana com leve alta, numa sessão de liquidez fraquíssima imposta pela ausência de negócios em Wall Street. Os últimos quatro dias de baixa deixaram espaço para uma realização de lucros que, no entanto, foi discreta considerando o tamanho da queima de prêmios na semana passada. Sem os mercados em Nova York e sem destaques internos - a pesquisa Focus trouxe poucas novidades -, a curva hoje ficou a mercê de fatores técnicos e fluxos pontuais. O mercado também espera para ver como será a reação das bolsas americanas na reabertura amanhã ao acordo para a elevação do teto da dívida dos Estados Unidos, em boa medida já precificado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,220%, de 13,168% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 11,50%, de 11,43%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,97%, de 10,94% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 11,29%, de 11,28%.
O sinal positivo das taxas se instalou logo pela manhã, alinhado ao movimento de correção que se via nos segmentos de ações e câmbio que, assim como na renda fixa, ficaram reféns do giro fraco. Hoje é feriado nos Estados Unidos, o Memorial Day, em homenagem aos militares norte-americanos mortos em guerras, e, por isso, os mercados não operaram por lá. "O fechamento do mercado dos EUA tende a enfraquecer a liquidez e a tomada de novas posições", disse o economista-chefe da JFTrust, Eduardo Velho. Para se ter ideia, o DI mais líquido, janeiro de 2025, movimentou apenas 245 mil contratos, ante média diária de 639 mil nos últimos 30 dias.
Após o bull flattening da curva na semana passada, Velho vê o mercado bem ajustado e com menos espaço para novas quedas, uma vez que também acredita que o investidor já precificou de forma plena a aprovação do arcabouço fiscal pelo Congresso. Esta semana o texto deve começar a tramitar no Senado.
Do lado externo, ele cita expectativa de nova alta dos juros pelo Federal Reserve em junho, de 25 pontos-base, e de números ainda altos do payroll que sai na sexta-feira, o que estaria "induzindo menos espaço, ou então mais tempo, para o início da queda dos juros". Ainda, para o economista, o mercado pode estar antecipando que os dados fiscais, que saem amanhã e na quarta-feira, ainda serão fracos comparativamente a 2022. Nesta terça-feira, o Tesouro deve divulgar um superávit de R$ 15,9 bilhões para o Governo Central em abril, segundo a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast. O resultado é bem melhor do que o saldo negativo de R$ 7,08 bilhões em março, mas bem abaixo dos R$ 28,9 bilhões de abril de 2022.
Também amanhã a instituição realiza leilão de NTN-B e resta saber se a oferta virá tão elevada quanto na semana passada, quando foi ofertado um lote 2,5 milhões de títulos, absorvido integralmente. Hoje, o Tesouro divulgou o relatório da dívida referente a abril, segundo o qual a emissão líquida de R$ 92,3 bilhões naquele mês foi a maior desde junho de 2021. No ano, o saldo ainda é de resgate, R$ 125,82 bilhões, pressionado pelas elevadas torres de vencimento em janeiro e março. "Ao longo do ano temos outras pela frente. A maior torre que teremos é a de setembro, algo em torno de R$ 300 bilhões”, disse o coordenador-geral de Operações da Dívida Luis Felipe Vital.
Pelo lado da inflação, a pesquisa Focus trouxe alívio na mediana de IPCA em 2023, de 5,80% para 5,71%, na esteira do IPCA-15 de maio mais baixo e da sequência de revisões baixistas que se seguiu à divulgação do índice. Não houve, no entanto, alteração nas medianas para 2024 (4,13%) e 2025 (4,00%). Todas elas se mantêm acima do centro das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional.
"A persistência da desancoragem reflete a percepção de maior expansionismo fiscal, bem como a possibilidade de alterações no regime de metas de inflação, seja a escolha de metas mais elevadas ou a adoção de um horizonte mais amplo para o alcance das metas", afirma Luiz Benamor, da Tendências Consultoria. E, apesar do aumento nas apostas de corte da Selic na curva de juros na semana passada para este e o próximo ano, no Boletim Focus as medianas permanecem em 12,5% para 2023 e 10,00% para 2024. (Denise Abarca - [email protected])