A última sessão de março e do primeiro trimestre foi marcada por uma relativa realização de lucros recentes nos mercados locais, que vieram embalados dos fortes ganhos da véspera com a divulgação do novo arcabouço fiscal. O investidor refaz as contas e vê pontos ainda em aberto da nova medida, em especial quanto à questão da tributação. É consenso entre analistas de contas públicas que, para atingir os objetivos do plano, será necessário um aumento de arrecadação. O governo insiste que isso não se dará via novos impostos, e sim por meio de compensações tributárias, mas o temor é de que mesmo assim a conta não feche. Agentes relataram dúvidas ainda sobre o quanto a despesa poderá crescer em 2024, se com base no estimado pela receita em fevereiro ou em junho. Em meio ao incômodo, houve vendas na Bolsa hoje. Dos 88 papéis que fazem parte do índice, 76 caíram. O Ibovespa cedeu aos 101.882,20 pontos (-1,77%), ganho semanal de 3,09%, mas perda mensal de 2,91%. Entre janeiro e março, a baixa foi de 7,16%, o que faz com que período seja o pior início de ano para o índice brasileiro desde 2020. Nos juros futuros, as incertezas quanto ao arcabouço incomodaram à tarde, mas a baixa dos rendimentos dos Treasuries ajudou a tirar pressão sobre as taxas. Ainda assim, o DI para janeiro de 2025 terminou o dia acima da marca psicológica dos 12% (aos 12,03%). A curva desinclinou no mês e no trimestre. A percepção de analistas é que o arcabouço ajuda, mas não autoriza uma queda rápida da Selic, mantendo a renda fixa local bastante atraente ao investidor de fora. Essa visão ajudou a manter o dólar em queda hoje, para o fechamento de R$ 5,0686 (-0,57%). Na semana, a baixa foi de 3,48%; no mês, de 2,99%; e no ano até agora, de 4,00%. Contribuiu ainda a desaceleração da inflação medida pelo PCE dos Estados Unidos, divulgada mais cedo, fato que ajudou na performance das bolsas de Nova York. À tarde, falas dovish do presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, deram ajuda adicional ao sugerir que o aperto monetário está perto do fim. O Dow Jones subiu 1,26% hoje, 3,22% na semana, 1,89% no mês e 0,38% no primeiro trimestre. O S&P 500 ganhou, respectivamente, 1,44%, 3,48%, 3,51% e 7,03%. E o Nasdaq avançou 1,74%, 3,37%, 6,69% e 16,77%.
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BOLSA
O Ibovespa devolveu a alta do dia anterior, ontem como hoje em cima do arcabouço fiscal, mas obteve ganho de 3,09% na semana - após perda de exatos 3,09% acumulada no intervalo precedente, a última de uma série de cinco quedas semanais iniciada também com um recuo de 3,09%, ainda em fevereiro.
Na semana ora encerrada, o desempenho positivo refletiu a gordura que havia acumulado nas últimas cinco sessões. Hoje, desconectada do sinal positivo nas bolsas do exterior, a referência da B3 oscilou entre mínima de 101.475,57 e máxima de 104.040,62, saindo de abertura aos 103.714,34 pontos. No fechamento, a queda foi de 1,77%, a 101.882,20 pontos, com giro a R$ 26,7 bilhões na sessão. Em março, o Ibovespa recuou 2,91%, vindo de perda de 7,49% em fevereiro, após abertura de ano positiva, com avanço de 3,37% em janeiro. Em 2023, cede agora 7,16% neste fechamento de primeiro trimestre, a pior abertura de ano desde 2020.
A queda firme no primeiro trimestre do ano contrasta com o desempenho registrado no mesmo intervalo de 2022, um ganho de 14,48% que havia sido o maior para o Ibovespa desde os últimos três meses de 2020 (+20,51%) e o melhor primeiro trimestre desde 2016 (+15,47%). Na última sessão de março de 2022, o índice fechou no piso do dia, mas esta mínima correspondia, praticamente, a 120 mil pontos (então aos 119.999,23). Em março do ano passado, o Ibovespa acumulou alta de 6,06%, após avanços de 0,89% e de 6,98%, respectivamente, em fevereiro e janeiro.
O desempenho ruim nesta abertura de ano se acresce a comportamento lateralizado do Ibovespa no último trimestre de 2022, quando fechou aos 109.734,60 vindo de 110.036,79 no encerramento de setembro - uma variação trimestral negativa de 302 pontos. Por sua vez, o terceiro trimestre do ano passado foi de recuperação, após o Ibovespa, como agora, ter vagueado abaixo dos 100 mil pontos em junho de 2022 - assim, no 3º tri teve retomada de 11,66% após mergulho de quase 18% no anterior, que foi o maior tombo trimestral do índice da B3 desde o auge do temor sobre a pandemia, em janeiro-março de 2020, quando havia recuado cerca de 37%.
Em dólar, o Ibovespa chega ao final do primeiro trimestre de 2023 aos 20.100,65 pontos, com a moeda americana em baixa de 2,99% em março frente ao real. Em fevereiro, quando a Bolsa caiu cerca de 7,5%, o Ibovespa, em dólar, estava praticamente no mesmo ponto, então aos 20.082,66 pontos, tendo encerrado janeiro aos 22.343,36 pontos e dezembro de 2022 aos 20.783,06.
Se ontem, embalado pelo anúncio oficial do arcabouço fiscal, o Ibovespa andou à frente das bolsas de fora e subiu 1,89%, hoje fez o movimento inverso, devolvendo boa parte da recuperação em cima do mesmo fator: o arcabouço fiscal. Na quinta-feira, apesar das ressalvas feitas por diversos analistas econômicos, que atentaram para premissas otimistas nas linhas gerais da proposta, o apetite por risco impulsionou os ativos brasileiros, entre os quais as ações na B3. Hoje, o real manteve a apreciação frente ao dólar, cotado a R$ 5,06 no fechamento, mas Bolsa e juros futuros não sustentaram o movimento do dia anterior.
A atenção dos investidores se volta agora ao futuro detalhamento técnico do arcabouço, com a percepção de que, para que as referências de desempenho das contas públicas apresentadas para os próximos anos sejam cumpridas pelo governo, deve vir pela frente aumento de impostos, considerando também o desempenho da economia.
"A semana foi um pouco melhor, apesar do desempenho ruim hoje. A melhora, de qualquer forma, foi insuficiente para fazer a Bolsa subir no mês e no ano. Os juros fecharam um pouco mais na semana, com a expectativa sobre o arcabouço, corrigindo exagero [na pressão sobre as taxas futuras] que vem ainda do ano passado", diz Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos. "As diretrizes gerais do arcabouço vieram ontem, e a expectativa do mercado, que era baixa, resultou em uma reação razoável. É preciso ver agora as medidas pelo lado da receita. No Brasil, de forma geral, se estabelece a despesa para depois correr atrás da receita."
Cavalheiro observa também que os resultados corporativos do quarto trimestre de 2022, temporada de anúncio de balanços com prazo encerrado neste 31 de março, trouxeram receitas - conforme esperado - mais fracas, refletindo em especial o nível dos juros e a dificuldade de crédito. "Raríssimas foram as empresas que tiveram melhora de receita em relação ao terceiro trimestre", acrescenta. "E o primeiro trimestre deste ano tende a ser fraco também para as empresas."
"O volume diário está travado na Bolsa - era de R$ 30 bilhões no ano passado e está agora em torno de R$ 20 bilhões. Há um desinteresse total, com grandes resgates em fundos e muitas pessoas físicas vendendo direto. Os estrangeiros vinham sustentando, mas nesse mês de março passaram a vender também. Os preços estão atrativos, com muitas ações de empresas de qualidade a preços muito baixos. Mas enquanto não tiver investidor, não vão subir", acrescenta o gestor.
"Até o final de janeiro o Ibovespa vinha bem, daí veio o processo de realização. Chegou a se aproximar dos 115 mil, depois mergulhou até os 97 mil. Expectativa para a reabertura da China e o começo de governo - a que foi dado o benefício da dúvida - deram apoio às ações de commodities como também a empresas correlacionadas à nossa economia, no início do ano", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Em fevereiro, contudo, "a tempestade perfeita começou a se formar, com perspectiva ainda mais restritiva para a taxa de juros americana", acrescenta. "Aqui, o mercado se tornou mais questionador com relação ao fiscal a partir da tensão entre governo e BC. Março teve também a crise bancária [no exterior], piorando a percepção de risco", aponta Moliterno. "Com o arcabouço, o cenário ainda é de aumento da dívida [doméstica]."
Assim, em tom menor neste fechamento de mês e trimestre, apenas 12 ações da carteira Ibovespa conseguiram escapar ao sinal negativo da sessão, com ganhos moderados. Na ponta vencedora, destaque hoje para CCR (+2,81%), Cogna (+2,75%) e Ultrapar (+2,35%). No canto oposto, empresas de setores expostos ao ciclo doméstico, como MRV (-7,13%), Soma (-7,00%) e Hapvida (-6,43%).
Entre as ações de empresas com maior peso no índice, houve poucas exceções positivas, com destaque para as de três grandes bancos: Itaú (PN +0,49%), Santander (Unit +0,34%) e Banco do Brasil (ON +0,26%). Petrobras ON e PN caíram respectivamente 2,18% e 2,17%, e Vale ON fechou o dia em baixa de 1,87%.
O mercado financeiro ajustou o otimismo sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, mas a expectativa de alta para o Ibovespa segue majoritária. Entre os participantes, 57,14% disseram que a Bolsa deve acumular ganho na próxima semana e 14,29% esperam perdas, enquanto para 28,57% o Ibovespa terá variação neutra. No Termômetro anterior, 75,00% previam avanço para o índice nesta semana, contra 12,50% que projetavam baixa e outros 12,50%, estabilidade. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:02
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 101882.20 -1.76568
Máxima 104040.62 +0.32
Mínima 101475.57 -2.16
Volume (R$ Bilhões) 2.66B
Volume (US$ Bilhões) 5.25B
18:08
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 101900 -2.44136
Máxima 104660 +0.20
Mínima 101670 -2.66
JUROS
Os juros futuros reduziram o ritmo de alta a partir de meados da tarde, acompanhando a melhora do ambiente internacional, especialmente com os rendimentos dos Treasuries acelerando a queda e renovando mínimas do dia. O alívio aplacou um pouco a pressão da recomposição de prêmios que vinha puxando as taxas para cima desde a abertura, com a repercussão negativa de uma avaliação mais detalhada do arcabouço fiscal pelos agentes. O mercado está preocupado especialmente com o peso que a proposta coloca sobre as receitas para alcançar a melhora dos resultados primários nos próximos anos, na medida em que o governo, ao mesmo tempo, insiste que não haverá elevação de impostos. Com o desempenho de hoje, a curva encerra março com todas as taxas em queda em relação ao fim de fevereiro, mas com as longas caindo mais do que as curtas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,20%, de 13,15% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,94% para 12,03%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,10%, de 12,08% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 12,52%, de 12,54%. No balanço do mês, a curva desinclinou. Enquanto as taxas curtas fecharam em torno de 20 pontos-base, as longas caíram até 80 pontos.
A semana foi marcada por forte volatilidade, instalada inicialmente pelos ruídos que antecederam a divulgação do arcabouço fiscal e depois pela reação à proposta em si, que se estendeu de ontem para hoje. Se ontem a curva descarregou prêmios com o mercado comemorando que, fosse como fosse, havia alguma proposta com controle no crescimento de gastos, nesta sexta-feira a falta de clareza sobre o crescimento das receitas pesou bastante nos ativos. Por mais que o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, e o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenham exaltado a proposta ao longo do dia, o clima no mercado é de desconfiança.
"Ainda tem muita coisa a ser explicada, tem muita ponta solta", afirma o estrategista para juros e câmbio e sócio da Garin Investimentos, Felipe Beckel. Por ora, ele não vê possibilidade de cumprimento das metas sem aumentar imposto, na medida em que o governo deve enfrentar muita resistência no mundo político para desfazer desonerações e combater os "jabutis" que distorcem a arrecadação.
Em evento promovido pela Warren Rena, Ceron afirmou que parte do déficit decorre de uma renúncia tributária que equivale a 1,5% do PIB. Ele afirmou que o teto de gastos, que limitava o crescimento da despesa, não olhava para a receita. Com isso, era criado um incentivo para renuncia de receitas, o gerou uma pressão considerada pelo secretário insustentável para 2023. "Quem usa de manobras para pagar menos impostos, é dever do Estado para inibir esses comportamentos. As compensações tributárias cresceram mais de R$ 100 bi nos últimos três ano", disse. Ceron voltou a afirmar que o Ministério da Fazenda anunciará na próxima semana medidas fiscais para aumentar a arrecadação de 2023 em até R$ 150 bilhões.
Mais cedo, ele também esteve com agentes do mercado financeiro reunidos em evento para esclarecer a proposta. Um dos questionamentos mais comuns entre os participantes era com relação aos parâmetros temporais a serem utilizados nos cálculos de receitas e despesas. Como ele já havia dito ontem, a receita do governo, usada como base para o crescimento das despesas no novo arcabouço fiscal, será feita na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) com base no valor de 12 meses até fevereiro, mas poderá ser atualizada no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) usando como referência o valor até junho.
A partir de meados da tarde, a pressão foi suavizada pelos ventos externos vindos da fala "dovish" do presidente do Federal Reserve de Nova York, John Willians. Entre outras coisas, ele disse que a perspectiva para a economia é incerta e previu aumento gradual na taxa de desemprego para 4,5% em 2024. As declarações somaram-se ao núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, em inglês) levemente abaixo do esperado para encorajar apostas de que o ciclo de alta de juros pelo Federal Reserve pode ter chegado ao fim. Com isso, as taxas dos Treasuries ampliaram a queda, com a da T-Note de dez anos marcando 3,47% no fim da tarde. (Denise Abarca - [email protected])
CÂMBIO
Apesar do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior e do tombo do Ibovespa, o dólar à vista trabalhou em queda firme ao longo do dia e emendou nesta sexta-feira, 31, o sexto pregão consecutivo de baixa no mercado doméstico de câmbio. Entre máxima a R$ 5,1061, fruto de um avanço pontual e bem limitado na abertura dos negócios, e mínima a R$ 5,0583, a moeda fechou o dia cotada a R$ 5,0686, em queda de 0,57%.
Com as perdas de hoje, o dólar acumula nos últimos cinco pregões desvalorização de 3,48% - a maior queda semanal desde a semana encerrada em 2 de dezembro de 2022 (-3,61%), quando o mercado absorvia a desidratação da PEC da Transição, que abriu espaço para gastos extrateto no primeiro ano de governo Lula. Em março, as perdas são de 2,99% e no primeiro trimestre, de 4,00%.
Analistas atribuem o recuo da moeda americana hoje, em grande parte, a fatores técnicos, como a formação da última taxa Ptax de março e a rolagem de posições no mercado futuro. O contrato de dólar para vencimento em maio teve giro expressivo, superior a US$ 16 bilhões. Do lado conjuntural, dados encorajadores da economia da chinesa, que alimentam perspectiva positiva para preços de commodities, contribuíram para apreciação do real. Divisas como peso mexicano e rand sul-africano também conseguiram escapar do movimento de valorização do dólar no exterior.
Por aqui, analistas ponderam os efeitos líquidos da proposta do novo arcabouço fiscal sobre a dinâmica da taxa de câmbio. Apesar de premissas consideradas otimistas e de se apoiar na perspectiva de aumento das receitas, a nova regra fiscal, com boas chances de ser aprovada no Congresso, afasta o cenário de piora significativa da relação dívida/PIB, principal indicador de solvência do País. Por outro lado, contudo, não é capaz de induzir uma redução grande das expectativas de inflação, fator essencial para um afrouxamento monetário.
A leitura é que a dupla formada por redução de temores de piora aguda das contas públicas com manutenção da taxa Selic em níveis elevados ao longo do ano, mesmo com eventual corte de juros no segundo semestre, dá sustentação à moeda brasileira. Além disso, nota-se uma diminuição do sentimento de aversão ao risco e da volatilidade no exterior, o que deixa o investidor estrangeiro mais confortável para buscar o retorno das altas taxas brasileiras.
"O novo arcabouço está alicerçado no aumento da arrecadação e deve manter acesa a chama da inflação, o que equivale a juros altos, atraindo o investidor", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressaltando que, no caso de hoje, o comportamento do dólar esteve sobre forte influência técnica da formação da última ptax de março.
Para o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, apesar de certas inconsistências na proposta do novo arcabouço, o sinal que fica para o investidor estrangeiro é o de que o governo tem um plano de voo para a gestão das contas públicas. "Ao mesmo tempo, o BC sinaliza que não tem intenção de cortar os juros tão cedo. A gente vai continuar com juro real muito alto e isso ajuda a nossa moeda", afirma Caciano, que não acredita, contudo, em recuo do dólar para R$ 5,00 no curto prazo. "Podemos ter uma correção na semana que vem após uma sequência muito forte de queda, que abriu oportunidade de compra".
Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho o dólar frente a seis divisas fortes - subiu hoje, voltando ao operar ao redor dos 102,500 pontos com ajustes técnicos, mas fecha a semana e baixa e acumula queda superior a 2% no mês. A moeda americana também avançou frente à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com as principais exceções sendo o real e o peso mexicano.
Dados da economia americana divulgados hoje - como núcleo do índice de preços de gastos consumo (PCE) em fevereiro abaixo do esperado - corroboram a leitura de que o ciclo de alta de juros pelo Federal Reserve está próximo do fim, com apostas para a decisão de política monetária divididas entre manutenção e alta de 25 pontos-base. Na próxima semana, as atenções estarão voltadas para indicadores do mercado de trabalho americano, com destaque para o relatório de emprego (payroll) e taxa de dezembro em março, na sexta-feira, 7. (Antonio Perez - [email protected])
18:02
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.06860 -0.5708 5.10610 5.05630
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL 5080.000 -0.35308 5108.500 5061.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5087.000 -0.69302 5131.000 5079.000
MERCADOS INTERNACIONAIS
Comentários do presidente do Federal Reserve (Fed) de Nova York, John Williams, que destacou que a inflação deve desacelerar, deram ânimo aos índices de Nova York, que já vinham sendo impulsionados pelos dados abaixo do esperado do índice de preços de gastos com consumo (PCE) dos EUA. Por outro lado, os rendimentos dos Treasuries foram pressionados, ao passo que o dólar subiu ante rivais europeias, após a inflação da zona do euro mostrar desaceleração, o que aumenta a perspectiva de um Banco Central Europeu (BCE) menos hawkish. Apesar disso, a presidente do entidade, Christine Lagarde, ponderou que a inflação de bens de consumo na zona do euro continua "muito elevada", assim, a instituição ainda teria "chão a percorrer".
Williams expressou que se sente confiante nas atuais ações adotadas pela instituição no combate à inflação, afirmando que ela deve diminuir para "cerca de 3,25% neste ano". A Capital Economics avalia que os dirigentes do BC americano serão levemente encorajados pelos dados de hoje: o núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, teve crescimento de 0,3% em fevereiro ante janeiro, sendo que o consenso era de alta maior, de 0,4%. Na comparação anual, a alta foi de 4,6%, inferior ao aumento de 4,7% projetado. Presidente da distrital do Fed em Boston, Susan Collins, afirmou que levará tempo, mas os setores da economia dos Estados Unidos deverão responder às altas de juros nos próximos trimestres. Sobre o PCE, ela afirmou que se trata de uma "notícia positiva".
Monitoramento do CME mostrou que a chance de manutenção da taxa de juros na próxima reunião de política monetária do Fed chegou a ser majoritária em parte do dia de hoje, em quadro bem dividido nos últimos dias com a possibilidade de uma alta de 25 pontos-base. Ao fim da tarde, a chance de manutenção dos juros em maio estava em 52,2% e a de um aumento de 25 pontos-base, em 47,8%.
"O mercado parece determinado a encerrar o capítulo sobre os problemas bancários que o levaram a esperar o fim da campanha de aumento de juros do Fed", disse Quincy Krosby, estrategista-chefe global da LPL Financial, ao Wall Street Journal. A Oxford Economics também analisa que os mercados financeiros continuaram a se estabilizar nesta semana, em meio a uma diminuição das preocupações com o setor bancário.
Assim, o índice Dow Jones fechou em alta de 1,26%, em 33.274,15 pontos, o S&P 500 subiu 1,44%, a 4.109,31 pontos, e o Nasdaq avançou 1,74%, a 12.221,91 pontos. Na comparação semanal, os índices subiram 3,22%, 3,48% e 3,37%, respectivamente. Já no mês de março, o Dow Jones caiu 0,35%, o S&P 500 avançou 1,57% e o Nasdaq subiu 4,56%.
"O Fed certamente dá as boas-vindas aos sinais de estabilidade nos mercados financeiros, o que ajudará a evitar que o pânico que se seguiu às falências do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank se transforme em uma crise total. Esperamos que o Fed seja mais cauteloso quanto ao aumento das taxas do que antes da turbulência no sistema bancário, mas a inflação continua muito quente para o Fed e nossa previsão básica continua assumindo mais dois aumentos de 0,25 ponto porcentual nas taxas", conclui a Oxford.
No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos tinha baixa a 4,031%, o da T-note de 10 anos recuava a 3,480% e o do T-bond de 30 anos caía a 3,669%. No câmbio, o dólar avançava a 132,72 ienes, o euro caía a US$ 1,0864 e a libra recuava a US$ 1,2346. Já o índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, avançou 0,35%, aos 102,506 pontos, com perda de 0,59% na variação semanal.
Para a Capital Economics, com o arrefecimento das preocupações no setor bancário, o compromisso de dirigentes de bancos centrais com o combate à inflação volta a ser o foco dos mercados. No entanto, a consultoria avalia que a notícia não é necessariamente positiva para o dólar no curto prazo, considerando que autoridades estrangeiras "parecem mais dispostas a seguir com o aperto monetário do que o Fed". O ING ainda aponta que os mercados estão “punindo” o dólar pela comunicação pouco clara do Fed e, em vez disso, favorecem as moedas - como o euro - nas quais há uma direção política mais clara (e agressiva).
A taxa anual de inflação ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês) da zona do euro desacelerou fortemente em março, a 6,9%, atingindo o menor nível em 13 meses. Mesmo assim, Christine Lagarde ressaltou que a inflação de bens de consumo na zona do euro continua "muito elevada", apesar da desaceleração nos preços de energia. Neste cenário, segundo ela, o BCE ainda teria "chão a percorrer" para controlar e estabilizar o índice, afirmou ela, indicando que o trabalho da política monetária não teria terminado.
Com a desaceleração da inflação da zona do euro e nos EUA, o petróleo foi beneficiado. Ademais, números do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da China, que indicam expansão, também ajudaram a commodity. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para maio fechou em alta de 1,75% (US$ 1,30), a US$ 75,67 o barril, enquanto o Brent para junho, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou com ganho de 1,64% (US$ 1,29), a US$ 79,89 o barril. Na semana, as altas foram de 9,25% e 7,11%, respectivamente. Já no mês, o WTI registrou baixa de 1,79% e o Brent recuou 4,27%. (Letícia Simionato [email protected])