TENSÃO GOVERNO-BC SE SOMA À PERDA DE FÔLEGO EM NY E BOLSA VOLTA A NÍVEL DE JULHO

Blog, Cenário

A etapa da tarde no mercado financeiro local foi marcada por uma deterioração adicional dos ativos do País. Eles já vinham sofrendo a pressão da tensão entre o governo e o Banco Central, mas o estresse ganhou novo ingrediente diante da perda de fôlego do apetite ao risco em Nova York. Lá fora, houve volatilidade na esteira das dúvidas quanto aos próximos passos do Federal Reserve. No fim, apesar de tropeços que levaram o Dow Jones e o S&P 500 ao negativo pontualmente, emergiu a interpretação de um futuro mais dovish do Fed, e os índices terminaram em alta de 0,23% e 0,30%, distante das máximas. O Nasdaq manteve ganho acima de 1%. Declarações da secretária do Tesouro, Janet Yellen, de apoio ao sistema bancário, também contribuíram para o alívio nos minutos finais. Só que o soluço das bolsas americanas no meio da tarde fez grande estrago no sentimento local. Principal termômetro da tensão no mercado doméstico hoje, o Ibovespa mergulhou na mínima aos 96.996,84 pontos. Ao fim, o índice marcava 97.926,34 pontos (-2,29%), menor pontuação de fechamento desde 18 de julho. Dos 88 papéis da carteira teórica, somente 12 subiram, aqueles mais ligados a ações defensivas. Às críticas de membros do governo à manutenção da Selic e ao alerta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quanto ao arcabouço fiscal, somaram-se novos tiroteios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, chamado de "esse cidadão". O petista também sugeriu que o Senado tem de "cuidar" do presidente do BC. Com a retórica política inflamando o temor de ruído institucional, os juros futuros de prazo mais longo acompanharam os mais curtos no movimento de alta - esses, ajustando-se ao comunicado do Copom, que reduziu o espaço para queda da Selic em breve. Na precificação da curva, o orçamento de corte ficou bem mais enxuto. Na semana passada, a expectativa de redução no ciclo chegou a 300 pontos. Hoje, está entre 150 e 175 pontos. No câmbio, o dólar à vista subiu aos R$ 5,2900 (+1,01%), indo na contramão das principais moedas emergentes, dado o cenário político local.

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BOLSA

Após ter estacionado no nível de 100 mil pontos nas três sessões anteriores, o Ibovespa tomou o elevador e desceu quatro andares, em sentido contrário ao de Nova York nesta quinta-feira, tocando no pior momento os 96 mil pontos, a 96.996,84 (-3,22%), em patamar não visto no intradia desde 19 de julho passado (96.917,30). Ao fim, a referência da B3 mostrava hoje queda de 2,29%, aos 97.926,34 pontos, saindo de máxima aos 101.125,76 e de abertura a 100.221,10.

Um pouco menos moderado, o giro foi a R$ 25,7 bilhões nesta quinta-feira pós-Copom, de sinal ainda duro, mais do que o previsto, sobre a orientação da política monetária, sem cortes da Selic de 13,75% à vista do BC. Assim, o Ibovespa fechou hoje no menor nível desde 18 de julho, então aos 96.916,13 pontos. Em porcentual, foi a maior perda diária para o índice da B3 desde o tombo de 3,06% na abertura do ano, no dia 2 de janeiro.

Sem qualquer estímulo ao apetite por risco, o Ibovespa passou a tarde renovando mínimas, sem exceções entre as ações de maior peso no índice - e buscando novos pisos à medida que os índices de NY foram perdendo força, com Dow Jones e S&P 500 levemente em baixa em parte da tarde, mas não no fechamento (ao fim, Dow Jones +0,23%, S&P 500 +0,30% e Nasdaq +1,01%).

Aqui, as ações de commodities embicaram para baixo (Vale ON -2,57%, Petrobras ON -1,96% e PN -2,27%), em sessão negativa também para os preços do minério e do petróleo, enquanto as perdas entre as ações de grandes bancos chegaram a 3,46% (Bradesco PN) no encerramento da sessão, afetadas em bloco por temores quanto ao risco de elevação da inadimplência nos futuros resultados das instituições financeiras, em cenário de juros muito altos.

“A manutenção da Selic [ontem à noite] já era esperada, mas o que causou aversão a risco hoje foi o comunicado, o tom mais conservador do Copom, na medida em que havia certo otimismo: uma expectativa de que o BC poderia dar indicação quanto à possibilidade de antecipar o ciclo de redução da taxa de juros, até pelos problemas no sistema bancário dos Estados Unidos, que resultaram em tom mais leve na comunicação do Federal Reserve, ontem, na decisão sobre juros por lá”, observa Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, destacando a queda nas empresas de varejo e do setor de saúde na B3, sensíveis aos juros elevados que ainda persistem no cenário.

Na ponta perdedora do Ibovespa nesta quinta-feira, Magazine Luiza (-13,37%) e Gol (-10,08%), com Embraer (+1,78%) e Minerva (+1,33%) no canto oposto. Em certo momento da tarde, apenas quatro ações da carteira teórica conseguiam escapar de perdas na sessão, mas ao final 12 mostravam alta nesta quinta-feira.

“O Ibovespa derreteu com o comunicado do Copom. A referência ao arcabouço fiscal no balanço de riscos foi leve - arcabouço que por sinal ainda não saiu. Houve também referências à crise bancária lá fora e às dificuldades de crédito, aqui, mas de forma não tão relevante nas considerações do BC. O mais relevante foram as observações sobre o nível de inflação e a aceleração do núcleo, que continua aquecido”, diz Alan Dias Pimentel, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos. “O BC deixou bem claro que vai perseguir a meta e que vai manter a estratégia, para fazer com que a inflação convirja à meta”, acrescenta.

Para o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC Tony Volpon, que já ocupou posições em instituições financeiras como Nomura e UBS, faltou "visão de jogo" aos diretores do Banco Central, em percepção "estreita" do cenário econômico, ao justificarem a decisão do Copom. Algum alívio no nível de contração poderia ter sido sinalizado para as próximas reuniões do comitê de política monetária em função dos sinais de crise de crédito, avalia Volpon, conforme relato do jornalista Vinicius Neder, do Broadcast no Rio de Janeiro.

Desde ontem à noite, o governo tem se posicionado contra o tom ainda mais firme adotado pelo Copom, sob fogo cerrado praticamente desde o início do terceiro mandato do presidente Lula, que resiste à ideia de autonomia do BC e sugere que Roberto Campos Neto, presidente da autarquia, tem independência questionável por sinais de simpatia à administração anterior. Do ministro Fernando Haddad (Fazenda) à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o governo reagiu rapidamente ao tom do comunicado da quarta-feira.

Hoje, o presidente Lula disse que a decisão do BC, sem “explicação nenhuma no mundo”, será julgada pela História. E sugeriu que o Senado precisa “cuidar” de Campos Neto - o que pode ser interpretado, no limite, como referência velada a uma das atribuições de senadores, a de votar pelo afastamento inclusive de autoridade monetária, caso entendam que não está cumprindo seu papel.

"Não tem explicação nenhuma no mundo a taxa de juros estar a 13,75% ao ano. Quem tem que cuidar do Campos Neto é o Senado, que o indicou. Ele não foi eleito pelo povo. Não foi indicado pelo presidente. Foi indicado pelo Senado", disse Lula. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 97926.34 -2.28924

Máxima 101125.76 +0.90

Mínima 96996.84 -3.22

Volume (R$ Bilhões) 2.56B

Volume (US$ Bilhões) 4.87B

18:04

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 97575 -3.0744

Máxima 101775 +1.10

Mínima 97455 -3.19

MERCADOS INTERNACIONAIS

As bolsas de Nova York perderam fôlego à tarde, mas ainda conseguiram fechar com ganhos, enquanto os retornos dos Treasuries não tiveram sinal único. Em meio a avaliações sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed), com aumento na chance de manutenção dos juros em maio, no monitoramento do CME Group, houve volatilidade em vários mercados. O dólar ganhou algum fôlego ante outras moedas principais e subiu, colaborando para levar o petróleo para baixo, com a commodity também sem força após ganhos recentes. Declarações da secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, foram monitoradas, com renovado compromisso de medidas adicionais no setor bancário, caso necessário.

Os ganhos de mais de 1% de mais cedo em Nova York, e de mais de 2% no caso do Nasdaq, não perduraram, com menor busca pelas ações na parte da tarde. Os setores de tecnologia e serviços de comunicação ainda confirmaram ganhos, mas nos demais o tom negativo prevaleceu. Em foco recente, o financeiro teve queda de mais de 0,5%, com vários grandes bancos invertendo o sinal de mais cedo. Citigroup recuou 0,57%, JPMorgan perdeu 0,27% e Bank of America cedeu 2,42%, mas Goldman Sachs subiu 0,38%. Entre instituições regionais, First Republic Bank chegou a subir no dia, mas fechou em baixa de 6,15%. No setor de criptoativos, Coinbase caiu 14,05%, após a SEC lançar alerta sobre riscos nesse segmento, depois de ter ameaçado a própria corretora de criptomoedas com processo nesta semana.

Entre os índices acionários de Nova York, o Dow Jones fechou em alta de 0,23%, em 32.105,25 pontos, o S&P 500 avançou 0,30%, a 3.948,72 pontos, e o Nasdaq avançou 1,01%, a 11.787,40 pontos.

No monitoramento do CME Group, a chance de manutenção de juros pelo Fed na próxima decisão, em 2 de maio, subia a 72,3% (de 50,1% ontem). A política monetária menos dura tende a apoiar as bolsas, mas hoje o quadro de cautela aumentou nas últimas horas do dia.

Entre os Treasuries, os retornos tampouco tiveram sinal único. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 3,795%, o da T-note de 10 anos recuava a 3,385% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 3,663%. O BMO Capital considera que o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, admitiu indiretamente ontem que o momento é de muita incerteza. O banco de investimentos retoma a questão de quanto de aperto no crédito será fruto das turbulências recentes em banco, o que pode levar o Fed a ser menos hawkish.

O BMO considera que a mesma questão se aplica agora para o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra (BoE) e o BC da Suíça (SNB), que apertaram sua política monetária nos últimos dias, conforme haviam já sinalizado. O BoE elevou mais cedo sua taxa básica em 25 pontos-base e disse que poderá avançar um pouco mais. Para a Capital Economics, com grandes bancos centrais levando adiante altas nos juros, mesmo em meio a preocupações com a estabilidade financeira, "a recente resiliência dos mercados acionários deve se mostrar de vida curta, se, como esperamos, os juros dos bônus continuarem a manter viés de baixa".

A secretária do Tesouro americano falou hoje no Congresso e prometeu ações adicionais no setor bancário, se necessário para estabilizar esse sistema. Yellen garantiu que agora a prioridade é garantir estabilidade ao sistema bancário, além de também considerar que a inflação desacelera no país.

No câmbio, o dólar caía a 130,62 ienes, o euro tinha baixa a US$ 1,0842 e a libra avançava a US$ 1,2294, no horário citado. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, subiu 0,18%, a 102,532 pontos.

Entre as commodities, o petróleo WTI para maio fechou em queda de 1,32%, em US$ 69,96 o barril, na Nymex, e o Brent para junho recuou 1,15%, a US$ 75,50 o barril, na ICE, com pressão do dólar mais forte e após dias de ganhos recentes, que abriram espaço para ajustes. A Oanda considera que há "pessimismo" no mercado do óleo neste momento, com o temor de que a demanda não melhore o suficiente para reduzir os estoques, bem como ante riscos de recessão.

Na contramão, o Wells Fargo afirmou hoje em relatório que revisou para cima sua expectativa para a alta do PIB global em 2023, de 2,0% em fevereiro a 2,2%. O banco acredita que o ciclo global de aperto monetário termina no primeiro semestre e espera que alguns bancos centrais promovam relaxamento de suas políticas mais rápido e mais cedo, até o fim de 2023. (Gabriel Bueno da Costa - [email protected])

JUROS

Foi uma sessão difícil para o mercado de juros, com taxas em alta expressiva em boa parte do dia, sobretudo nos vencimentos intermediários, castigados pelo ajuste ao comunicado hawkish do Copom. A pressão foi mais forte pela manhã, quando também os rendimentos dos Treasuries avançavam. Na segunda etapa, os yields passaram a cair, o que suavizou bastante a pressão por aqui. Mais até do que não sinalizar sobre o ciclo de queda da Selic, o Copom deixou claro o risco de ter de voltar a elevar a taxa caso as expectativas de inflação não convirjam às metas. Os recados inflamaram ainda mais os ânimos dentro do governo contra o plano de voo da autoridade monetária e a figura do presidente Roberto Campos Neto. A curva zerou as apostas de corte em maio, assim como para junho foram reduzidas, e o orçamento total projetado agora está bem mais enxuto.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,17% (máxima de 13,24%), de 13,02% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,04% para 12,10%, mas chegou na máxima a 12,27%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,35% (12,49% na máxima), de 12,31%, e a do DI para janeiro de 2029 encerrou em 12,85%, de 12,78%, com máxima a 12,96%. O volume de contratos negociados foi bastante significativo, acima de 1 milhão nos vencimentos de janeiro de 2024 e janeiro de 2025.

Pela manhã, as taxas curtas e intermediárias chegaram a subir mais de 20 pontos, enquanto as longas abriam mais de 10, num movimento de "bear flattening" atribuído basicamente ao Copom. O mercado limpou a precificação de corte da Selic em maio, que ontem era de cerca de 20%. Para o encontro de junho, a curva projetava no meio da tarde 14 pontos de queda, em torno de 60% de probabilidade de recuo de 25 pontos e 40% de estabilidade. Até ontem, as apostas para este encontro eram todas de baixa, entre 25 e 50 pontos. Para o fim de 2023, os DIs apontam taxa básica próxima a 12,50% e para o fim de 2024, entre 12% e 12,25%. Os números foram fornecidos pelo economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel.

Enquanto os trechos curto e intermediário refletem diretamente a percepção de que o Copom não vê espaço para alívio monetário estando as projeções futuras tão longe das metas, os longos precificam um desconforto com o aumento da tensão na relação do governo com o BC, expresso nas críticas disparadas entre ontem e hoje à atuação da autoridade monetária. O presidente Lula disse que a manutenção da taxa básica "não tem explicação nenhuma no mundo" e que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, "tem que cumprir a lei", sugerindo ainda que o Senado é quem tem de "cuidar" do chefe da autoridade monetária.

Para os economistas, no entanto, a explicação para o tom do comunicado é principalmente a desancoragem das expectativas em relação às metas, quando texto diz que o Copom irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos.

"Aumentou a probabilidade de que a taxa Selic fique estável ao longo do ano ou só comece a cair nas últimas reuniões, tendo em vista o tom duro do Copom, a elevação das projeções de inflação e o risco de o novo arcabouço fiscal não ser visto como crível", disse o chefe da Área de Estratégia da Warren Rena, Sérgio Goldenstein.

Sichel acrescenta que a manifestação das lideranças do mundo político em relação ao Copom contribuíram para adicionar volatilidade ao mercado. "Em teoria, a política monetária de um BC autônomo não teria de levantar questionamentos pelo lado político", avalia.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou o comunicado como "muito preocupante" e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse esperar que a ata apresente justificativa "imparcial e justa com o Brasil". Vale lembrar que ambos, junto com Campos Neto, compõem o Conselho Monetário Nacional (CMN). No Copom de janeiro, a ata corrigiu o tom do comunicado, após Haddad afirmar que esperava um "aceno" do BC nas considerações sobre o fiscal após a apresentação do pacote fiscal.

Para embaralhar ainda mais o cenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira, saiu em defesa do BC, ao dizer que este só terá instrumentos para indicar baixa nos juros após o anúncio do novo arcabouço fiscal. O governo não conseguirá entregar a nova regra em março, como prometido, e vai anunciar só em abril, após a viagem de Lula à China.

Além da tensão entre BC e Lula/Fazenda, outro ruído que cresce em Brasília vem da relação aparentemente estremecida entre Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em função da discordância sobre o rito das votações de Medidas Provisórias (MP) que estão paradas no Congresso. Pacheco defende que sejam formadas as comissões mistas para avaliação das matérias, enquanto o deputado defende que sejam analisadas diretamente no plenário, devido à maior celeridade. "O clima entre Lira e Pacheco azedou de vez", avalia a equipe de Análise Política da Warren.

No meio da tarde, o ambiente externo deu uma contribuição para aliviar um pouco a pressão sobre a curva, com as taxas reduzindo a alta na esteira da ampliação da queda dos juros dos Treasuries. No fim do dia, a T-Note de dez anos rodava abaixo de 3,40%.

Nesta sexta-feira, o IPCA-15 de março poderá sinalizar se o Copom realmente teria exagerado ou, então, deixar o governo sem argumentos para reclamar da política monetária. A mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast é de 0,67%, após 0,76% em fevereiro.

O clima pesado do mercado de manhã deixou pouca margem para o Tesouro elevar a oferta de prefixados no leilão. O lote de 7 milhões de LTN foi totalmente absorvido, mas entre as NTN-F foram vendidas 240 mil, das 300 mil ofertadas. (Denise Abarca - [email protected])

CÂMBIO

O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 23, no mercado doméstico de câmbio em alta de 1,01%, cotado a R$ 5,2900, na contramão da onda de enfraquecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, após o Federal Reserve ter dado sinais ontem de fim iminente do processo de alta do juros nos Estados Unidos. Analistas atribuíram a derrocada da moeda brasileira ao aumento da percepção de risco fiscal e político local.

Afora uma queda na primeira meia hora de negócios, quando registrou mínima a R$ 5,2964, o dólar operou em alta ao longo do dia. A divisa renovou máximas à tarde acompanhando a degringolada do Ibovespa, atingindo R$ 5,2064. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para abril, que vinha apresentando baixa liquidez, teve giro mais forte hoje, acima de US$ 14 bilhões - o que sugere mudança relevante de posições dos agentes.

Houve nova leva de críticas do governo Lula ao Banco Central, que ontem manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano e não acenou, como ventilado por ala relevante do mercado, com redução do juros ainda no primeiro semestre. Em evento hoje no Rio, Lula disse que "não tem explicação no mundo para taxa de juros estar a 13,75% ao ano" e que "quem tem que cuidar do [Roberto] Campos Neto é o Senado", em alusão ao fato de que cabe ao Senado eventual afastamento do presidente do Banco Central. Até o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, visto como contraponto à ala política do Planalto, criticou a decisão do BC ontem à noite.

Também contribui para o mau humor dos investidores rusgas entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), justamente quando se prepara o terreno para votação do novo arcabouço fiscal. Lira até se contrapôs publicamente hoje ao tom belicoso de Lula e disse que o BC só terá instrumentos para reduzir os juros após o anúncio da nova regra.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que o tom duro do comunicado do Copom surpreendeu os investidores, que esperavam algum aceno para a possibilidade de redução de juros. "Mas o Copom está focado nas expectativas de inflação e, como o governo não ajuda a contê-las, o BC fica numa sinuca de bico. Mesmo com a taxa de juros extremamente alta, ele não tem condição de fazer qualquer movimento", afirma Weigt. "Com isso, vai aumentar a artilharia pesada contra o Roberto Campos Neto, o que gera um risco adicional. Diante do aumento da incerteza, vemos um movimento típico de aversão ao risco do 'Kit Brasil', com bolsa caindo e dólar subindo".

Em tese, o real tenderia a se beneficiar da perspectiva de manutenção de taxa de juros elevada por mais tempo. Investidores, contudo, parecem pedir prêmio ainda maior para carregar a divisa brasileira em razão das incertezas que se avolumam no horizonte. Ao desconforto com o adiamento da divulgação do novo arcabouço fiscal soma-se a perspectiva de desaceleração mais forte da atividade econômica, diante da deterioração das condições de crédito, sem a contrapartida de alívio relevante nas expectativas de inflação.

"O real destoou das demais moedas emergentes mesmo com o discurso duro do BC, que deveria ser positivo para a moeda, já que teremos juros altos aqui. Acho que esse desgaste entre o governo e o BC, com Haddad vindo a falar logo depois da decisão, prejudicou o real", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em baixa a maior parte do dia, mas, quando o mercado local fechou, apresentava leve alta, na casa dos 102,500 pontos. Pela manhã, o Banco da Inglaterra (BoE) anunciou elevação da taxa básica de juros em 25 pontos-base, para 4,25% ao ano. O dólar caiu em bloco frente a divisas de países exportadores de commodities e emergentes, à exceção do real. Divisas como lira turca e peso argentino também sofreram, mas não são mais consideradas relevantes no mercado global de moedas.

Ontem, o Fed elevou a taxa básica em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,75% e 5% ao ano, como esperado pelo mercado. Embora tenha ressaltado que a inflação permanece elevada, o BC americano e seu presidente, Jerome Powell, adotaram um tom mais ameno, sugerindo que o processo de aperto monetário está muito perto do fim. Investidores ainda monitoram com cautela os problemas de liquidez nos bancos regionais americanos.

Para o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, as incertezas no campo doméstico podem manter o real pressionado no curto prazo. O aumento das tensões políticas e a escalada da disputa entre governo e Banco Central tendem até mesmo a ofuscar parte do efeito positivo que provavelmente virá com a divulgação do novo arcabouço fiscal. "Por melhor que for a proposta, não vejo espaço para que o dólar possa bater os R$ 5,00. A insegurança é muito grande e o investidor estrangeiro está saindo da bolsa", afirma. (Antonio Perez - [email protected])

18:02

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.29000 1.012 5.29640 5.20430

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DOLAR COMERCIAL 5306.500 1.05694 5310.000 5212.500

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