BOLSA CAI COM BANCOS, INCERTEZA DOMÉSTICA E TEMOR DE MAIS JUROS NO EXTERIOR

Blog, Cenário

Os ativos domésticos até tentaram uma recuperação, mas a tributação sobre as exportações de petróleo, as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o exterior negativo impediram um movimento uniforme. E a Bolsa foi, de longe, o mercado que mais sentiu o cenário adverso, especialmente com a queda dos pares em Wall Street e temendo uma política mais intervencionista do atual governo. E ainda que Haddad tenha tentado, em uma entrevista nesta quarta-feira, dar um freio de arrumação às declarações dadas ontem, quando sugeriu que o Banco Central deveria rever os juros diante da reoneração dos combustíveis e pôs em dúvida a transparência da política de preços da Petrobras, o mercado seguiu ressabiado. Não por acaso, o Ibovespa emendou o quarto pregão de perdas, ao cair 0,52%, aos 104.384,67 pontos. Mas é claro que Nova York também teve peso importante no mercado acionário doméstico. Afinal, indicadores de atividade mais fortes do que o previsto nos EUA - e também na China - sugerem que as pressões inflacionárias não serão revertidas facilmente. Soma-se a isso a continuidade de declarações duras de dirigentes do Fed e de outros grandes BCs, no sentido de que mais altas de juros serão necessárias, o que resultou em alta dos yields dos Treasuries e queda dos principais índices de ações. Na renda fixa, os juros curtos e intermediários devolveram um pouco de prêmios, depois do estresse da véspera. Mas as taxas longas voltaram a subir, ainda reverberando o arranjo para recompor receitas envolvendo a Petrobras e influenciados pelo avanço nos retornos dos títulos americanos. A exceção a esse quadro foi o câmbio. O dólar, depois de duas sessões de alta, teve desvalorização de 0,65% ante o real, a R$ 5,1912, em linha com a perda verificada em relação a outras moedas no exterior. Nesse caso, prevaleceu certo otimismo com a economia chinesa, o que favorece divisas mais arriscadas e de exportadores de commodities, como é o caso da brasileira.

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

•CÂMBIO

BOLSA

Após o pior fevereiro desde 2020 (então -8,43%), quando o mundo ingressava numa pandemia, o Ibovespa inicia março de 2023 da forma como encerrou o mês anterior, em baixa, emendando hoje a quarta perda diária, a mais longa série negativa desde as cinco perdas entre 7 e 14 de outubro passado. Bem moderada ao fim, o índice fechou o dia em baixa de 0,52%, aos 104.384,67 pontos, no menor nível de encerramento desde 3 de janeiro (104.165,74), tendo permanecido em boa parte da tarde abaixo dos 104 mil, parecendo então a caminho do pior fechamento do ano.

Hoje, a referência da B3 oscilou entre mínima de 103.104,81, menor nível intradia desde 19 de dezembro (102.769,76), e máxima de 105.497,01, saindo de abertura aos 104.933,17 pontos. Na semana, o Ibovespa cai 1,34% e no ano cede 4,88%, vindo de perda de 7,49% ao longo de fevereiro. O giro financeiro desta quarta-feira subiu para R$ 32,9 bilhões.

Março ganha significado por ter marcado um dos topos mais recentes do Ibovespa, aos 120,2 mil pontos no dia 30, em 2022 - em abril iria mais longe, chegando aos 121,5 mil pontos na abertura do mês. Antes, marcas semelhantes haviam sido vistas em 27 de agosto de 2021, aos 120,6 mil pontos naquele fechamento, em um mês no qual chegou a mostrar 123,5 mil pontos no encerramento de 3 de agosto. Contudo, as referências em 2021 eram outras, com o Ibovespa vindo dos 128 mil, em meados de julho, e dos 130 mil pontos, na primeira quinzena de junho.

"Agora é difícil pensar mesmo em 120 mil pontos para o Ibovespa, com os juros americanos no patamar onde estão, e continuando a subir", observa Rodrigo Jolig, diretor de investimentos e co-CEO da Alphatree Capital. "O cenário macro desafiador continua a dar o tom. Hoje, mesmo com o PMI dos Estados Unidos em linha com o consenso, a preocupação continuou a ser o nível de atividade americano e a recuperação do mercado de trabalho por lá, com efeito sobre a inflação e, consequentemente, sobre os juros do Federal Reserve, ante a incerteza quanto ao nível até onde precisarão chegar para acomodar os preços", diz Karina Okazaki, sócia da Legend Investimentos.

Nesta quarta-feira, o yield de dois anos dos Estados Unidos, mais sensível à perspectiva de curto prazo da política monetária americana, foi negociado na máxima do dia quase a 4,90%, a 4,8993%, bem acima de máxima a 4,0092% para o vencimento de 10 anos - uma inversão que, pelo histórico, costuma ser vista como sinal antecedente de recessão nos Estados Unidos, na percepção do mercado. Em Nova York, os índices de ações fecharam o dia entre leve ganho de 0,02% (Dow Jones) e perda de 0,66% (Nasdaq).

Na B3, a queda, bem moderada em direção ao fechamento, foi em grande medida decorrente da correção nas ações de grandes bancos, como Santander Brasil (Unit -1,98%), Itaú (PN -1,61%) e especialmente o estatal BB (ON -3,23%), no momento em que os investidores acompanham de perto os efeitos do contingenciamento de crédito suscitado pela crise da Americanas e o que poderá produzir ainda à frente, nos balanços como também na distribuição de dividendos pelas instituições financeiras, mais cautelosas após o tombo da gigante do varejo.

Como no fechamento de ontem, em que tocaram as mínimas do dia com o anúncio da tributação das exportações de petróleo bruto e a exigência, do ministro Fernando Haddad (Fazenda), de "maior transparência" na Petrobras, as ações da estatal seguiram na defensiva nesta quarta-feira, mas conseguiram reagir perto do fechamento, antes do balanço do quarto trimestre de 2022, com a ON sem variação e a PN virando para leve ganho de 0,24% na sessão.

Por outro lado, a forte leitura sobre o PMI da China deu impulso ao setor metálico, com destaque para Vale (ON +4,55%), em dia de recuperação também para a siderurgia, que vinha refletindo, como a Vale, ajustes negativos nos preços do minério de ferro - hoje, destaque para a forte retomada em CSN, em alta de 7,62% no fechamento. O minério de ferro subiu 2,42% em Dalian, China, nesta quarta-feira.

"O PMI mais forte nas China ajuda nossas empresas exportadoras, como Vale e Gerdau (PN +3,11%). Fevereiro foi muito afetado pela questão externa, pelos dados americanos e quanto de aperto monetário ainda haverá lá fora. Aqui, na discussão interna, muito impacto negativo ainda derivado da questão fiscal. Para março, está dado que os juros americanos ficarão altos por mais tempo, e há o contraponto da retomada chinesa, que passa por um bom momento", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Ele ressalva que a taxação das exportações de óleo cru, anunciada ontem pelo governo, é um desdobramento negativo que deve continuar no radar, pelo sinal dado. "Caiu muito mal no mercado, e pode se refletir em outras exportadoras, embora não tenha sido o caso hoje. Vai taxar amanhã proteína? Vai taxar minério?", questiona Moliterno.

Hoje, as ações da Petrobras reagiram em parte da sessão à "notícia de que o Ministério de Minas e Energia pediu à empresa que suspendesse a venda de ativos por 90 dias", aponta Antonio Sanches, especialista da Rico Investimentos. "Essa notícia impactou todo o setor, especialmente empresas relacionadas à aquisição de ativos da Petrobras."

Por outro lado, na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, além de CSN e Vale, destaque também para BRF (+5,36%) e Bradespar (+4,23%), assim como para Usiminas (+4,98%), Gerdau (+3,11%) e Marfrig (+3,14%). No lado oposto do índice, Hapvida (-32,74%), em acentuada correção após o balanço com prejuízo líquido consolidado de R$ 316,7 milhões, após lucro de R$ 200,2 milhões um ano antes. Além de Petrobras, a tributação das exportações de petróleo bruto afetou também, hoje, as ações da 3R Petroleum (-10,46%). O dia também foi bem negativo para nomes do setor de consumo, como Pão de Açúcar (-8,11%) e Magazine Luiza (-10,03%).

O índice de consumo fechou o dia com perda de 3,54%, mas o efeito sobre o Ibovespa foi em parte amortecido pelo avanço de ações de commodities, com o índice de materiais básicos em alta de 2,13% na sessão, puxado pelas metálicas. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:28

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 104384.67 -0.52154

Máxima 105497.01 +0.54

Mínima 103104.81 -1.74

Volume (R$ Bilhões) 3.29B

Volume (US$ Bilhões) 6.32B

18:28

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 105840 0.08511

Máxima 106695 +0.89

Mínima 104385 -1.29

MERCADOS INTERNACIONAIS

Tanto na China quanto nos EUA, dados de índice de gerentes de compras (PMI) renovaram a perspectiva de que mais pressão inflacionária está a caminho, e, consequentemente, os bancos centrais terão que apertar mais a política monetária. Além disso, dirigentes do Federal Reserve (Fed) continuam utilizando o discurso de que mais altas de juros serão necessárias. Tudo isso somado impulsionou os rendimentos dos Treasuries - sendo que o de dois anos bateu o maior nível desde 2007 - e instaurou a cautela em Wall Street. Se por um lado o otimismo com a demanda da segunda maior economia do mundo gera preocupações com a inflação global, ele favorece as commodities, como o petróleo, que também foi ajudado pelo enfraquecimento do dólar no exterior. O euro subiu ante a divisa americana, após a inflação ao consumidor (CPI) da Alemanha vir acima do esperado e com dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) apontando que mais altas significativas de juros vão ocorrer. Por outro lado, a libra foi pressionada frente a divisa americana, por comentários vistos como dovish do presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey.

Duas pesquisas mostraram que o PMI industrial chinês teve um forte avanço para acima de 50 em fevereiro, o que indica sinais de expansão e recuperação da atividade manufatureira do país. O Wells Fargo afirma que a retomada econômica da China "segue intacta" e, com isso, elevou sua projeção para o crescimento do país neste ano, de 5,2% a 5,5%.

A Capital Economics, entretanto, aponta que há riscos inflacionários para os bancos centrais, à medida que os dados apontam para uma maior demanda por metais e petróleo bruto. "A reabertura da China é realmente subestimada, principalmente pelos investidores americanos", disse Rusty Vanneman, da Orion Advisor Solutions, ao The Wall Street Journal. "Isso vai dar algum impulso aos preços das commodities, e isso vai aumentar a inflação em toda a economia global", acrescenta.

Nos EUA, o PMI industrial subiu de 47,4 em janeiro para 47,7 em fevereiro, ainda em contração, porém o subíndice de preços subiu de 44,5 em janeiro para 51,3 em fevereiro. Para a Capital Economics, a forte recuperação do índice de preços é uma preocupação, pois sinaliza que a resiliência econômica recente está exercendo pressão renovada sobre a inflação. Em meio a esses sinais de inflação, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou hoje que a instituição terá que elevar juros a entre 5% e 5,25% e mantê-los assim até 2024. Já o dirigente de Minneapolis, Neel Kashkari, defendeu que as altas de juros devem continuar, e que um pouso suave não é garantido.

"Há uma percepção crescente de que a economia não respondeu totalmente aos aumentos de juros até agora", disse Thorne Perkin, presidente do multi-family office Papamarkou Wellner Perkin.

Monitoramento CME Group mostra que a probabilidade de que o Fed suba juros em 50 pontos-base em março aumentou. No fim da tarde em Nova York, a ferramenta indicava 30,6% de chance de que a taxa dos Fed Funds avance para o nível de 5,00% a 5,25%, ou seja, uma elevação de meio ponto porcentual neste mês. Ontem, essa possibilidade era de 24%. Ademais, o CME mostrava 27,5% de chance de um aumento ao intervalo entre 5,50% e 5,75% até dezembro. Ontem, essa probabilidade era de 21,2% e, há uma semana, de 12,8%.

Assim, perto do fechamento das bolsas de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,891%, sendo que chegou a operar em 4,899% - maior nível desde junho de 2007. O da T-note de 10 anos avançava a 3,999%, após ter chegado no nível acima de 4%, e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 3,958%. O índice Dow Jones subiu 0,02%, aos 32.661,84 pontos, o S&P 500 perdeu 0,47%, aos 3.951,39 pontos, e o Nasdaq fechou em queda de 0,66%, aos 11.379,48 pontos.

O ministro de Finanças da China, Liu Kun, prometeu hoje impulsionar os gastos fiscais para fortalecer a economia. Dessa forma, entre as commodities, no embalo do otimismo com o país asiático, o petróleo fechou em alta. Além disso, relatório de estoques dos Estados Unidos veio pouco acima do esperado, indicando desaceleração no crescimento dos estoques e melhora na demanda doméstica. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para abril fechou em alta de 0,83% (US$ 0,64), a US$ 77,69 o barril, enquanto o Brent para maio, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em alta de 1,03% (US$ 0,86), a US$ 84,31 o barril.

O dólar enfraquecido no exterior também ajudou a apoiar o óleo. No câmbio, o euro tinha alta a US$ 1,0663 impulsionado pelo CPI da Alemanha, que subiu acima da expectativa. O ING considera que "a pressão inflacionária está longe do fim" na Alemanha e que nesse quadro o Banco Central Europeu (BCE) continuará a elevar os juros nos próximos meses, sem considerar cortes futuros nas taxas.

Dirigente da instituição, Joachim Nagel disse hoje que o BCE poderá ter de implementar mais altas significativas de juros depois da reunião de política monetária deste mês. Membro do conselho do BCE, Madis Muller, por sua vez, afirmou ser possível que os juros na zona do euro tenham de subir também em 2024, a fim de conter a inflação. Já a libra recuava US$ 1,2015, com comentários de Bailey, que afirmou que "nada está decidido sobre altas de juros". Por fim, o dólar avançou a 136,24 ienes, e o índice DXY, que mede o dólar frente a uma cesta de seis rivais fortes, recuou 0,37%, a 104,483 pontos.(Letícia Simionato - [email protected])

JUROS

Os juros futuros terminaram a sessão com queda nas taxas de curto e médio prazos e avanço nas longas, com o mercado digerindo as entrevistas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a reoneração dos combustíveis - ontem e também hoje - e influenciadas ainda pelo ambiente externo pesado. O investidor assimilou a mensagem do ministro de que o fim da isenção pode ajudar a Selic a cair via melhora fiscal, mas o arranjo para recompor receitas envolvendo a Petrobras foi mal recebido, ajudando a pressionar os vértices longos, também penalizados pela forte abertura da curva dos Treasuries.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,29%, de 13,37% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 ficou em 12,63%, de 12,67%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,99%, de 12,90% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 avançou de 13,24% para 13,38%.

O mercado de juros operou em dois tempos bem definidos nesta primeira sessão de março. Pela manhã, a curva foi bastante influenciada pelas declarações do ministro, enquanto à tarde pesou mais o quadro no exterior, dada a escalada dos Treasuries, especialmente com a taxa da T-Note de dez anos se firmando em 4% pela primeira vez desde novembro. A piora no desempenho dos títulos do Tesouro americano, por sua vez, é atribuída a declarações consideradas hawkish de dirigentes do Federal Reserve e junto à interpretação de dados econômicos.

Para Mohamed El-Erian, ex-CEO da Pimco e principal conselheiro econômico da Allianz, a inversão da curva americana não vai se desfazer tão cedo. "Pior, está se intensificando, com diferencial de pelo menos 90 pontos entre os vértices de dois e dez anos", escreveu no Twitter, citando ainda o contexto de juros globais mais altos.

O efeito na curva local foi mais forte nos vencimentos de longo prazo, com as taxas ampliando a alta no meio da tarde, enquanto os intermediários reduziram o recuo. O impacto do exterior foi em alguma medida mitigado pelo comportamento do câmbio, por sua vez favorecido pelos avanços nos PMIs na China.

As taxas curtas caíram, com o mercado absorvendo os sinais emitidos pelo ministro Haddad. A afirmação dele "esperamos que o BC reaja da maneira prevista na ata do Copom", ontem, soou para o mercado como uma pressão da Fazenda para que o Copom reduzisse a Selic, uma vez que o ministro citou ainda que a taxa de 13,75% é "insustentável". Hoje, porém, ele buscou corrigir a mensagem. Em entrevista ao UOL, negou que tenha sido um recado para a autoridade monetária. "Eu, como ministro da Fazenda, tenho que tomar medidas compensatórias para permitir e até contar que o Banco Central faça a parte dele e comece a restabelecer o equilíbrio da política econômica com vistas ao crescimento sustentável", disse.

Após a reação negativa ontem, hoje o mercado parece ter compreendido que, ainda que não seja pela via do controle de gastos, há uma disposição do governo para equilibrar as contas, o que pode colaborar para o processo de distensão monetária. "Parece que a lógica do ministro é de que mais importante do que o impacto da reoneração sobre a inflação são os efeitos positivos para recompor receitas e reduzir a incerteza fiscal. Ele está certo", afirma o economista-chefe do Banco Original, Marco Antonio Caruso.

"A sinalização não é ruim. Foi dado o recado de que o governo está ajustando o fiscal e aos poucos pode ser que vejamos uma evolução", concorda a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, que considerou a reoneração como uma "vitória" do ministro ante as pressões contrárias dentro do PT. Mas ainda é preciso esperar pelo novo arcabouço, que, segundo Haddad, pode sair este mês até antes da reunião do Copom no dia 22.

Segundo da BlueLine Asset, a curva precificava nesta tarde Selic estável até junho, quando então começariam os cortes, num orçamento em torno de 90 pontos-base, que levaria a taxa a encerrar o ano em 12,75%.

O que o mercado não gostou foi do arranjo para garantir a arrecadação original de R$ 28,9 bilhões de antes da desoneração e, ao mesmo tempo, mitigar o impacto na inflação. A taxação de exportações de óleo cru, a princípio válida por quatro meses, é vista com desconfiança, uma vez que pode afetar as receitas da Petrobras. Também causa desconforto a possibilidade, já dada como certa no mercado, da revisão da política de dividendos da companhia, chamada pela presidente do PT, Gleisi Hoffman, de "indecente".

Como lembra o sócio-fundador da Oriz Partners ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, (veja artigo publicado às 17h52), frente ao resultado esperado menor para 2022, uma redução da distribuição de dividendos da Petrobras para por exemplo 50% do lucro líquido, implicaria uma retração de cerca de R$ 40 bilhões na parcela da União e de R$ 10 bilhões no que cabe ao BNDES, relativamente aos valores de 2022. "O ajuste fiscal, deste modo, não seria vencedor", afirma. (Denise Abarca - [email protected])

CÂMBIO

Após duas sessões seguidas de alta, o dólar à vista recuou no pregão desta quarta-feira, 1º, no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de desvalorização da moeda americana no exterior, sobretudo em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Tirando um avanço pontual e bem limitado no início da tarde, quando registrou máxima a R$ 5,2314 (+0,12%), a moeda operou em baixa ao longo do dia. Com mínima a R$ 5,1847 (-0,77%), encerrou a sessão em queda de 0,65%, cotada a R$ 5,1912.

Segundo operadores, dados positivos do setor industrial na China em fevereiro divulgados ontem à noite se sobrepuseram à perspectiva de mais altas de juros nos EUA, após leitura acima do esperado de índices de gerentes de compras (PMIs) em fevereiro e falas duras de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o BC americano). As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com a T-note de 10 anos acima de 4% e a do título de dois anos atingindo o maior nível desde junho de 2017.

"Os Treasuries estão 'abrindo' mais e mesmo assim o dólar se deprecia no mundo. Havia questionamentos sobre os efeitos da reabertura da economia chinesa, mas as sinalizações vindas da China são boas, o que favorece emergentes", afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, que vê o dólar trabalhando em um intervalo entre R$ 5,00 e R$ 5,25.

Houve também relatos de ingressos pontuais de recursos, apesar do recuo do Ibovespa e do mau humor com a intenção do governo de taxar a exportação de petróleo cru. Passada a disputa pela formação da última taxa Ptax de fevereiro, investidores promoveram ajuste de posições e realizaram lucros no mercado futuro. Ontem, o contrato de dólar para abril, o mais líquido, havia subindo com força no início da noite em meio à fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugerindo que, com a reoneração dos combustíveis, haveria espaço para o Banco Central reduzir a taxa Selic, que classificou de "insustentável".

Em entrevista ao UOL hoje, Haddad negou tentativa de emparedar o BC, embora tenha voltado a criticar o nível da taxa de juros. "Não pressionei o BC ontem. Lembrei que o que estava escrito na ata do Copom", disse o ministro, que minimizou críticas da presidente do PT, Gleisi Hoffman, à reoneração de combustíveis. "[Gleisi] é uma pessoa que tem opiniões fortes, mas que sabe que quem arbitra os conflitos fora do governo é o presidente da República".

"Essa guerra verbal entre governo e BC não faz bem para a bolsa e cria estresse adicional para os juros futuros, que já estão bem elevados. Mas o dólar hoje ficou mais voltado ao mercado internacional", afirma o líder de renda variável da Manchester Investimentos. "Com a China acelerando os motores novamente, pode haver fluxo para emergentes e para o Brasil".

No exterior, além da apreciação de divisas emergentes, o índice DXY - termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - trabalhou em queda, ao redor dos 104,500 pontos. Esse movimento ocorreu, sobretudo, graças a uma recuperação do euro, diante de expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) ter que ser mais duro na condução da política monetária. Leitura preliminar mostrou que a taxa anual do índice de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da Alemanha ficou em 8,7% em fevereiro, repetindo variação de janeiro e acima das previsões (8,5%).

Por aqui, o BC informou à tarde que o fluxo cambial foi negativo em US$ 791 milhões entre 22 a 24 de fevereiro (os dias úteis da semana passada, marcada pelo feriado de carnaval), com saída de US$ 320 milhões pelo canal financeiro. Em fevereiro, até o dia 24, o fluxo é positivo em US$ 4,566 bilhões, com entrada líquida de US$ 1,931 bilhão via conta financeira e de US$ 2,635 bilhões via comércio exterior. Já a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), informou que a balança comercial registrou superávit de US$ 2,837 bilhões em fevereiro. No ano, o saldo comercial é positivo em US$ 5,446 bilhões. (Antonio Perez - [email protected])

18:28

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.19120 -0.6469 5.23140 5.18470

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 5209.000 -1.20436 5266.000 5208.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5281.016      

Gostou do post? Compartilhe:

Pesquisar

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Categorias

Newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Posts relacionados

Receba nossos conteúdos por e-mail
Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Copyright © 2023 Broker Brasil. Todos os direitos reservados

Abrir bate-papo
Olá!
Podemos ajudá-lo?