BOLSA CAI 3% NA SEMANA E DÓLAR SOBE COM VISÃO DE JURO APERTADO E RUÍDO POLÍTICO

Blog, Cenário

A percepção de que a inflação ainda requer política monetária apertada, especialmente nos Estados Unidos, voltou a abalar a confiança dos investidores - e o apetite por ativos de risco. O Ibovespa fechou em queda de 1,67%, aos 105.798,43, renovando o menor nível de fechamento desde 4 de janeiro. Ainda, voltou a terreno negativo nesta semana, após alta na anterior, com perda agora de 3,09%. Já o dólar terminou a sessão em alta de 1,23%, cotado a R$ 5,1987, encerrando a semana, encurtada pelo feriado de carnaval, com ganhos de 0,72%. O dia foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda americana no exterior. Na renda fixa, os dados de inflação do dia no País e nos EUA sustentaram avanço dos juros e, na semana, a inclinação se manteve, com curva abrindo em torno de 25 bps. No País, o IPCA-15 subiu 0,76% em fevereiro, enquanto nos EUA, o PCE, medida preferida do Federal Reserve, também superou as expectativas. O desconforto com a queda de braço no governo em torno da reoneração dos combustíveis e seus impactos na política de preços da Petrobras e, por tabela, na inflação, também pesou, bem como falas da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffman, de que "antes de falar em retomar tributos sobre os combustíveis, é preciso definir uma nova política de preços" para a estatal. Nos mercados internacionais, o PCE deu o tom, com economistas cogitando até a possibilidade de taxa terminal dos Fed funds em 6,5%. O monitoramento do CME Group apontava no fim da tarde maior chance de juro acima de 5,25% no fim de 2023. O Dow Jones caiu 1,02%, o S&P, 1,05% e o Nasdaq, 1,69%, com perdas de 2,99%, 2,67% e 3,33% na semana, respectivamente, enquanto o índice DXY trabalhou em alta firme e voltou a superar a linha dos 105,000 pontos, e os yields dos Treasuries avançaram. No monitoramento do CME, as chances de alta de 50 pontos-base nos juros em março aumentaram após inflação PCE nos EUA.

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BOLSA

Após a leve recuperação de 1,02% na semana anterior, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta semana, faltando apenas as sessões de segunda e terça-feira para o fechamento de fevereiro, mês em que acumula até aqui perda de 6,73%. Assim, o índice segue firme rumo a seu pior desempenho mensal desde junho passado (-11,50%).

Na semana, a retração ficou em 3,09% - a terceira perda semanal no mês. Hoje, pressionado por leituras acima do esperado para a inflação ao consumidor nos EUA (PCE) e no Brasil (IPCA-15), o Ibovespa oscilou entre mínima de 105.359,92, ainda o menor nível intradia desde 5 de janeiro (105.333,08), e máxima de 107.610,59, pouco acima da abertura aos 107.581,79 pontos.

Ao fim, mostrava queda de 1,67%, aos 105.798,43, renovando o menor nível de fechamento desde 4 de janeiro, então aos 105.334,46 pontos. Como nas últimas sessões, o giro financeiro permaneceu fraco nesta sexta-feira, a R$ 19,0 bilhões. No ano, o Ibovespa cede agora 3,59%. Em Nova York, os recuos desta sexta-feira ficaram entre 1,02% (Dow Jones) e 1,69% (Nasdaq).

Na B3, “as perdas se acentuaram ao longo da tarde muito em função do fraquíssimo volume financeiro, bem abaixo do habitual, o que amplifica os movimentos de preço. A cautela vinha desde mais cedo, com as leituras sobre inflação aqui e nos Estados Unidos se refletindo também nos juros futuros”, diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

Hoje, a percepção de que a evolução dos preços ainda requer política monetária em viés restritivo especialmente nos Estados Unidos voltou a abalar a confiança dos investidores - e o apetite por ativos de risco -, em sexta-feira de avanço não apenas dos juros futuros, mas também do dólar, que fechou bem perto de R$ 5,20.

"Os dados de inflação e consumo vieram mais fortes do que o esperado para os Estados Unidos, e trouxeram uma renovação das preocupações com a política monetária, no sentido de que venha a ser um pouco mais agressiva, no BC americano", diz Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. "O PCE desta manhã reforçou a expectativa por mais altas de juros nos Estados Unidos, elevando a chance de vir um aumento de 50 pontos-base em março, o que resultou em fortalecimento do dólar, hoje, mundo afora", acrescenta.

Dessa forma, as ações e os setores de maior peso e liquidez na B3 não escaparam ao ajuste negativo, com destaque para Vale (ON -2,20%), em dia de recuo nos preços do minério de ferro na Ásia, que "voltaram à mira dos órgãos reguladores tanto na China como em Cingapura", observa Lucas Martins da Silva, especialista em renda variável da Blue3.

Para os grandes bancos, com Bradesco (PN -3,20%) à frente, o dia também foi de baixa. Entre as siderúrgicas, as perdas chegaram a 5,22% (CSN ON) na sessão. Petrobras ON (-1,50%) e PN (-2,18%) tiveram ajuste um pouco mais discreto, com o petróleo em alta à tarde. Na ponta perdedora do Ibovespa, além de CSN e de CSN Mineração (-5,52%), destaque para Dexco (-6,14%), Raízen (-4,93%) e Alpargatas (-4,74%). No lado oposto, Azul (+4,96%), Gol (+1,44%) e Magazine Luiza (+1,40%).

Conhecido pela abordagem 'hawkish' para a política monetária, mas atualmente sem direito a voto no comitê que delibera sobre os juros, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, afirmou hoje que, como os bancos centrais modernos têm mais credibilidade do que era o caso na década de 1970 - período que resultou em choque de juros decorrente da explosão de preços suscitada pela crise do petróleo -, o Fed será capaz de reduzir desta vez a inflação de maneira ordenada, de forma a alcançar um pouso relativamente suave para a economia.

Apesar das palavras de conforto, os investidores se mostram cada vez mais em dúvida quanto ao nível terminal da taxa de juros de referência nos EUA, com aumento das apostas - ainda que não majoritárias no momento - de que o Fed venha a retomar elevação de 50 pontos-base logo à frente, após ter desacelerado o ritmo de ajuste à casa de 25 pontos-base.

"O relatório desta manhã (do PCE) não foi uma boa notícia e talvez seja uma indicação de que a trajetória da inflação de volta à meta de 2%, do Federal Reserve, provavelmente será mais irregular e prolongada do que os mercados esperam", observa em nota Greg Wilensky, diretor de renda fixa dos EUA na Janus Henderson Investors.

A política monetária do Fed precisará ser mais rígida, com a taxa básica de juros podendo chegar a 6,5%, e o custo de reduzir a inflação para a meta de 2% até 2025 provavelmente estará associado a pelo menos uma leve recessão, conforme estudo realizado por um grupo de economistas de grandes bancos internacionais, entre os quais o vice-presidente de pesquisa do Deutsche Bank, Peter Hooper, e o chefe de pesquisa nos EUA do JPMorgan, Michael Feroli, reporta a jornalista Letícia Simionato, do Broadcast.

Aqui, na seara fiscal, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, veio a público confirmar a posição da ala política do governo, favorável à prorrogação da desoneração dos combustíveis à revelia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reporta o jornalista Eduardo Gayer, do Broadcast em Brasília. Para Gleisi, a discussão sobre a volta de impostos federais sobre combustíveis deve ser feita apenas depois de a Petrobras adotar uma nova política de preços - hoje, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, esteve reunido com o presidente Lula no Palácio do Planalto.

O Congresso não deverá arbitrar, pelo menos neste primeiro momento, quanto ao retorno dos impostos sobre combustíveis. Com o prazo para a prorrogação da desoneração da gasolina e do álcool terminando na próxima quarta-feira, 1º, a avaliação de parlamentares próximos à cúpula do Legislativo, ouvidos pelo Broadcast Político, é de que não há tempo hábil para votação de Medida Provisória sobre o tema até lá - o texto ainda nem começou a tramitar no Congresso Nacional.

Com tantos fatores de dúvida no horizonte imediato, o mercado financeiro está mais conservador sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a fatia dos que esperam alta para o Ibovespa na próxima semana teve forte recuo, de 50,00% na pesquisa anterior, para 28,57%. Os que esperam estabilidade agora são 57,14%, de 50,00% no último Termômetro, e os que preveem perda representam 14,29% - no levantamento da semana passada, nenhuma resposta apontava queda. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 105798.43 -1.66781

Máxima 107610.59 +0.02

Mínima 105359.92 -2.08

Volume (R$ Bilhões) 1.90B

Volume (US$ Bilhões) 3.67B

18:34

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 107450 -1.58003

Máxima 109105 -0.06

Mínima 106810 -2.17

MERCADOS INTERNACIONAIS

O mau humor após a divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos se estendeu pelo resto do dia nos mercados acionários de Nova York, à medida que dirigentes do Federal Reserve (Fed) continuam destacando a importância da continuidade do aperto monetário para controlar a inflação. Dessa forma, crescem as perspectivas de que o BC americano pode ser mais agressivo na reunião de março, com economistas até cogitando a possibilidade de taxa terminal em 6,5%, o que fez com que os rendimentos dos Treasuries e o dólar ante rivais subissem hoje. O petróleo também avançou, em meio à notícia de que a Rússia planeja reduzir suas exportações de petróleo.

A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, afirmou hoje que novas altas de juros serão necessárias e que o banco central americano deverá manter "nível suficientemente restritivo por algum tempo". Já a dirigente da distrital do BC americano em Cleveland, Loretta Mester, destacou que a inflação segue bem acima da meta de 2% ao ano. Dessa forma, Mester disse que não ficou surpresa com a última rodada de fortes dados de inflação americana, que ela viu como outro lembrete de que o Fed precisa elevar as taxas ainda mais para reduzir as pressões de preço.

Dados divulgados hoje mostraram que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos avançou 0,6% em janeiro ante dezembro do ano passado. Já o núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, também cresceu 0,6%, no mesmo período, sendo que a previsão era de alta menor, de 0,5%. Na comparação anual, a alta foi de 4,7%, superior ao aumento de 4,4% projetado pelos analistas. A Capital Economics acredita que a alta maior que o esperado do núcleo poderá fazer com que o BC americano mantenha as taxas de juros altas por mais tempo. O Citi conclui ainda que uma atividade muito mais forte e o cenário de inflação em janeiro devem fazer com que o Fed aumente as taxas pelo menos para a faixa de 5,25% a 5,50% e possivelmente além.

Um estudo realizado por um grupo de economistas, que inclui o vice-presidente de pesquisa do Deutsche Bank, Peter Hooper, e o chefe de pesquisa dos EUA no JPMorgan, Michael Ferol, concluiu que a política monetária do BC americano precisará ser mais rígida, com a taxa básica de juros podendo chegar até 6,5%. Os pesquisadores inferiram que, mesmo assumindo expectativas de inflação estáveis, há dúvidas sobre a capacidade do Fed de arquitetar um "pouso suave" no qual a inflação retorne à meta de 2% até o final de 2025 sem uma recessão branda.

Já para a reunião de março, ferramenta do CME Group mostra que as expectativas para aumento de 0,50 ponto porcentual subiram logo após a publicação do PCE, para 32,9%, de 27,0% ontem. Além disso, houve aumento da chance de juro acima de 5,25% no fim deste ano. No fim da tarde em Nova York, a plataforma apontava 38,3% de chances de que os juros básicos subam do atual nível entre 4,50% a 4,75% para a faixa de 5,25% a 5,50% até o final do ano. Ontem, essa probabilidade era de 32,5%. Já a possibilidade de que as taxas atinjam o intervalo de 5,50% a 5,75% até dezembro cresceu de 12,4% na véspera a 20,5% há pouco.

"A percepção da política monetária e para onde ela está indo mudou drasticamente", disse David Donabedian, diretor de investimentos da CIBC Private Wealth US, ao The Wall Street Journal. "O que está precificado atualmente é mais realista em comparação com o que as pessoas estavam precificando logo após a reunião do Fed em 1º de fevereiro", acrescentou ele. Assim, no fim da tarde em Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,794%, o da T-note de 10 anos avançava a 3,943%, e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 3,934%. O índice DXY, que mede o dólar ante seis rivais fortes, fechou a sessão em alta de 0,59%, a 105,214 pontos. Já o euro recuava a US$ 1,0552 e a libra, a US$ 1,1948, enquanto a moeda americana caía a 136,41 ienes.

Na renda variável o movimento foi o contrário: o índice Dow Jones caiu 1,02%, a 32.816,92 pontos; o S&P 500 perdeu 1,05%, a 3.970,04 pontos; e o Nasdaq teve queda de 1,69%, a 11.394,94 pontos. Na semana, as perdas foram de 2,99%, 2,67% e 3,33%, respectivamente. Papéis da Ford caíram 1,57%, após a montadora manter suspensa a produção na fábrica da picape elétrica F-150 por mais uma semana, após um problema envolvendo a bateria do carro, que pegou fogo no começo do mês.

No aniversário de um ano da invasão russa à Ucrânia, os Estados Unidos anunciaram que 22 indivíduos e 83 entidades que estão contribuindo de alguma maneira com a Rússia em serão alvos de novas sanções, dando destaque ao setor de mineração e metais russo, assim como as suas cadeias de suprimentos militares.

Segundo a Reuters, a Rússia, por sua vez, planeja reduzir em até 25% suas exportações de petróleo em portos ocidentais em março, na comparação com fevereiro. A notícia impulsionou os contratos futuros de petróleo por oferecer riscos do lado da oferta da commodity. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para abril fechou em alta de 1,23% (US$ 0,93), a US$ 76,32 o barril, enquanto o Brent para o mesmo mês, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em alta de 1,16% (US$ 0,95), a US$ 83,16 o barril. Na semana, a variação foi de queda de 0,3% para o WTI e de alta de 0,19% para o Brent. (Letícia Simionato - [email protected])

CÂMBIO

Depois de cair 0,64% ontem e fechar no menor nível desde 2 de fevereiro, o dólar terminou a sessão desta sexta-feira, 24, em alta de 1,23%, cotado a R$ 5,1987, encerrando a semana, encurtada pelo feriado de Carnaval, com ganhos de 0,72%. O dia foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda americana no exterior, após leitura acima do esperado do índice de preços de gastos com consumidor (PCE, na sigla em inglês) nos EUA reforçar a perspectiva de mais elevações de juros pelo Federal Reserve.

O real, que se destacou entre pares ontem, apresentou hoje o segundo pior desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Quem mais sofreu foi o peso chileno, com queda superior a 2%. Termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY trabalhou em alta firme e voltou a superar a linha dos 105,000 pontos, com máxima aos 105,320 pontos.

Ao ambiente externo de liquidação de ativos de risco somou-se o desconforto com a queda de braço no governo em torno da reoneração dos combustíveis e seus impactos na política de preços da Petrobras e, por tabela, na inflação. A aceleração do IPCA-15 de 0,55% em janeiro para 0,76% em fevereiro, acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast (+0,72%) - em momento no qual se fala em desancoragem das expectativas de inflação - desautoriza apostas em cortes da taxa Selic no primeiro semestre, apesar das críticas pesadas de Lula à gestão da política monetária.

Não por acaso, o dólar renovou máximas à tarde, correndo até R$ 5,2095, em meio a falas da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffman (PR). Tida com expoente da ala política do governo mesmo sem cargo na Esplanada dos Ministérios, Gleisi disse que "antes de falar em retomar tributos sobre os combustíveis, é preciso definir uma nova política de preços para a Petrobras". Embora tenha dito que não é "contra taxar combustíveis", a deputada ressaltou que "fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de campanha".

Como apurou o Broadcast, o presidente Lula, que se reuniu hoje com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, que defendeu a reoneração, deve esperar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltar de viagem à índia amanhã para bater o martelo. Com o prazo para a prorrogação da desoneração da gasolina e do álcool terminando na próxima quarta-feira, 1º, a avaliação de parlamentares próximos à cúpula do Congresso ouvidos pelo Broadcast Político é que não há tempo hábil para votação da Medida Provisória sobre o tema até lá.

"O real já tem sofrido nas últimas semanas mais que seus pares, principalmente pelo acirramento da disputa entre governo e BC. E agora temos essa questão da reoneração de combustíveis, com reunião de Lula com o presidente da Petrobras e o ministério da Fazenda. Tudo isso que aumenta a insegurança fiscal e ajuda a depreciar a moeda", afirma o sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac.

Nos EUA, o núcleo do PCE - que exclui itens voláteis como alimentos e energia - subiu 0,6% em janeiro, acima do esperado (0,5%). Na comparação anual, a alta foi de 4,7%, ante expectativa de 4,4%. Esse resultado vem após uma sequência de falas mais duras de dirigentes do BC americano e a divulgação, na quarta-feira, da ata Fed. Ferramenta do CME Group mostra que, embora as apostas em elevação da taxa básica em 25 pontos-base no encontro de política monetária do BC dos EUA em março sejam majoritárias, as chances de alta de 50 pontos-base subiram e já ultrapassam 30%.

"Os números estão mostrando que o núcleo de inflação nos Estados Unidos é um pouco mais do que o dobro da meta de 2%. É ainda um patamar muito alto. A perspectiva é de taxa de juros mais próxima de 5,5% que de 5% no fim do ciclo. A batalha da inflação não está ganha e há uma reprecificação de juros e dólar", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.

A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, disse que será necessário novas elevação de juros e manutenção da taxa "em nível suficientemente restritivo", mas que acredita em desaceleração da inflação sem queda significativa da atividade. No mesmo tom, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, afirmou que a política monetária restritiva já tem se refletido nos dados recentes da economia dos EUA, mas que a inflação seguem bem acima da meta.

"A resiliência da economia e uma menor velocidade de queda na inflação trazem o temor de que o Fed precise fazer um aperto monetário mais forte e mais prolongado. O mercado já precifica três aumentos de 25 pontos base, levando a taxa de juros para o intervalo entre 5,25 e 5,5% em junho, e postergou uma possível queda nos Fed Funds para o começo de 2024", afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Novaes. (Antonio Perez - [email protected])

18:32

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.19870 1.2287 5.20950 5.14880

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5215.000 1.35069 5220.000 5152.000

DOLAR COMERCIAL 5245.500 1.18634 5252.000 5212.000

JUROS

A semana do carnaval terminou com o mercado de juros bastante pressionado, tanto pelo aumento dos riscos de um aperto monetário mais forte nos Estados Unidos quanto por fatores locais, hoje com a leitura negativa do IPCA-15 de fevereiro somada ao aumento dos ruídos em torno dos preços dos combustíveis. A curva teve uma nova rodada de máximas na etapa vespertina depois da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defender a prorrogação da desoneração dos combustíveis, à revelia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. As taxas subiram não somente em relação aos ajustes de ontem como também no balanço da semana, em torno de 25 pontos-base nos principais contratos ante a sexta-feira passada.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 terminou em 13,47%, de 13,38% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,61% para 12,77%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 13,04%, de 12,87%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 13,41% (13,23% ontem).

Numa semana que teve apenas três dias úteis, a curva subiu em bloco, portanto sem alteração nos níveis de inclinação. Do exterior, a sexta-feira consolidou a piora da percepção sobre as ações do Federal Reserve, já danificada pela ata na quarta-feira. Hoje, o núcleo do índice de preços dos gastos com consumo (PCE, em inglês) de janeiro, com alta de 0,6%, veio acima do previsto (+0,5%), reforçando as apostas de que o Fed deve colocar a taxa terminal acima de 5% e o mercado ampliando fichas na possibilidade de retomada de elevação de 50 pontos-base em março. O índice PCE é a medida preferida de inflação do Fed. O núcleo, na comparação anual, está em 4,7%, enquanto a meta é de 2%.

Além disso, o salto nas vendas de moradias novas em janeiro, de 7,2%, superou a previsão de 0,6%, assim como o avanço no sentimento do consumidor (67) também veio acima da expectativa (66,4), endossando a leitura de que atividade aquecida é um risco para a inflação. Estudo realizado por um grupo de economistas, que inclui o vice-presidente de pesquisa do Deutsche Bank, Peter Hooper, e o chefe de pesquisa dos EUA no JPMorgan, Michael Feroli, indica que o Fed pode ter de elevar o juro até 6,5%, e o custo de reduzir a inflação para a meta de 2% até 2025 provavelmente estará associado a pelo menos uma leve recessão.

Os juros dos Treasuries dispararam, com o yield da T-Note de dez anos batendo em 3,97% nas máximas, afetando a ponta longa da curva local, pois uma ação mais drástica do Fed seria negativa para mercados emergentes. O câmbio depreciou, com o dólar nas máximas voltando a R$ 5,20, e só não foi pior porque com o IPCA-15 de fevereiro (0,76%), acima da mediana das estimativas (0,72%), em tese, haveria menos espaço para corte de juros.

A questão da política monetária, porém, parece estar mais atrelada ao fiscal do que à inflação corrente, o que explica certa rigidez do mercado ante a possibilidade de manutenção da desoneração dos preços dos combustíveis, dada como enterrada nos últimos dias, que poderia aliviar a inflação de curto prazo. Hoje, o presidente Lula se reuniu com o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e ministros na busca de uma solução que evite a alta dos combustíveis após o retorno da cobrança dos impostos federais sobre a gasolina e o etanol, a partir de 1º de março.

Porém, à revelia da Fazenda, a ala política pressiona pela renovação da medida, temendo impacto na popularidade do governo. Gleisi Hoffmann foi ao Twitter defender que antes da retomada das cobranças haja a definição de uma nova política de preços pela Petrobras. "Não somos contra taxar combustíveis, mas fazer isso agora é penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de campanha", disse. Haddad volta da Índia amanhã e dará a palavra final.

"Depois das declarações, houve uma piora marginal das taxas. Parece estar se desenhando uma probabilidade razoável de se estender a desoneração por mais um mês", avalia o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier. Para ele, o "trade off" da medida tende a ser mais prejudicial à área fiscal que, para ele, "tem de ser endereçada com urgência", do que favorável a um alívio da Selic. "Mais importante que a inflação corrente, a questão fiscal é o primeiro 'check' para a política monetária", afirmou.

De todo modo, não só o fato de o IPCA-15 cheio ter superado o consenso incomodou, mas o mercado também não gostou dos preços de abertura, sobretudo com serviços rodando ainda em patamar elevado, acima de 7% em 12 meses. "Se olharmos a abertura dos serviços, não são todos os itens que estão desacelerando. Algumas aberturas estão melhores, mas outras, ligadas à mão de obra e inércia inflacionária, estão até piores em relação ao mesmo período do ano passado", afirma Anna Reis, economista-chefe da GAP Asset.

A precificação da curva a termo mostra início do ciclo de cortes da Selic em junho, entre 25% e 30% de chances, segundo a BlueLine Asset, com orçamento total de 80 pontos e taxa básica perto de 13% no fim de 2023. (Denise Abarca - [email protected])

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