CENÁRIO-2: AVERSÃO A RISCO LOCAL AUMENTA À TARDE, AINDA COM CRÍTICA DE LULA A BC E PAYROLL
Os ativos brasileiros tiveram uma rodada adicional de queda nas últimas horas da sessão desta sexta-feira, ainda sob o peso das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Banco Central (BC). Em entrevista exibida no fim da noite de ontem, ele voltou a criticar a autonomia da instituição e a meta de inflação. É sobre esse último tema que mais repousam as dúvidas do mercado, já que uma mudança no alvo definido para o triênio 2023-2025 dependeria de um decreto presidencial e o governo tem maioria no Conselho Monetário Nacional (CMN) para estabelecer o objetivo para além desse período. As críticas de Lula vêm também na esteira de uma comunicação dura do BC, que nesta semana, ao manter a Selic em 13,75%, reforçou sua posição autônoma. No fim do dia, o salto computado nos juros futuros foi superior a 30 pontos-base na maioria dos contratos, com alguns vencimentos longos subindo mais de 40 pontos no pior momento do dia. A curva a termo reduziu ainda mais a precificação para queda da Selic este ano, projetando taxa de 13,50%, de 13,25% ontem. De acordo com a BlueLine Asset, há um total de 45 pontos-base de alta precificados para o primeiro semestre e corte de cerca de 70 pontos a partir de agosto. Toda essa piora no mercado também teve uma causa externa. O payroll de janeiro veio muito acima do consenso do mercado e os dados do setor de serviços mostraram bastante resiliência, levantando dúvidas sobre a tese de desinflação verbalizada pelo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Lá fora, juros e dólar foram para cima, e as bolsas recuaram. A taxa da T-note de 2 anos voltou à casa de 4,3%, chegando ao fim da tarde a 4,319%. O DXY quase superou os 103 pontos na máxima e o Nasdaq, índice mais penalizado pelo eventual endurecimento da política monetária dos EUA, caiu 1,59%. Aqui no Brasil, o dólar à vista terminou o dia na máxima, aos R$ 5,1476 (+2,03% na sessão e +0,70% na semana), 20 centavos acima da mínima do dia de ontem, que havia sido o piso desde junho. O Ibovespa terminou a sessão em 108.523,47 pontos, recuo diário de 1,47% e semanal de 3,38%.
•JUROS
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•CÂMBIO
•BOLSA
JUROS
A jornada vespertina foi ainda pior para o mercado de juros, com as taxas passando praticamente a tarde toda renovando máximas e alguns contratos da ponta longa chegando a abrir mais de 40 pontos-base. Os fatores que já pressionavam a curva pela manhã - Lula e o payroll - continuaram atormentando os investidores, que trataram de se zerar em ativos brasileiros antes do fim de semana e antes da pesquisa Focus na segunda-feira. Com o desempenho muito ruim hoje, as taxas acumularam alta expressiva na semana, marcada pelo balde de água fria nas apostas de queda de juros em 2023 tanto pelo Copom quanto pelo Federal Reserve.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,83%, de 13,64% ontem, e a do DI para janeiro de 2025, a 13,27%, de 12,97%. O DI para janeiro de 2027 fechou em 13,18%, de 12,82%. A taxa do DI para janeiro de 2029 saltou de 12,97% para 13,33%. Na semana, a ponta curta abriu 30 pontos; as intermediárias, 40 pontos; e as longas entre 30 e 40 pontos.
A entrevista do presidente Lula ontem à RedeTV! caiu como uma bomba no mercado. Não que tenha trazido qualquer novidade. As críticas à autonomia do Banco Central (BC), ao atual nível da taxa de juros e das metas de inflação já haviam sido feitas por ele em entrevista à GloboNews em janeiro. O fato é que ontem ele dobrou a aposta contra o BC, um dia depois do Copom indicar que a Selic pode não cair no curto prazo caso as estimativas de inflação não retornem às metas no horizonte relevante da política monetária.
Lula defendeu um "padrão Brasil" para as metas. "Uma inflação de 4,5% no Brasil, de 4%, é de bom tamanho se a economia crescer", disse o presidente, para quem não há razão para a taxa de juros estar em 13,75%, uma vez que não existiria inflação de demanda. Por fim, disse que após o fim do mandato de Roberto Campos Neto fará uma "avaliação do que significou o Banco Central independente [sic]".
De acordo com apuração do Broadcast em Brasília, qualquer mudança no objetivo já definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) precisa ser autorizada anteriormente por um decreto presidencial. Ou seja, Lula poderia alterar a meta via decreto. Em 25 anos do sistema de metas, houve revisão em 2002 e 2003.
"Ele parece não ter entendido que a Selic está neste patamar por questões técnicas", afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Quanto à autonomia do BC, embora o mercado veja a mudança deste status como mais difícil, a insistência de Lula amplia os temores às vésperas das trocas na diretoria. No fim de fevereiro, vencem os mandatos de Bruno Serra (Política Monetária) e Paulo Souza (Fiscalização). "Há um temor de que indique nomes mais suscetíveis a influências políticas, principalmente no caso da diretoria ocupada hoje por Bruno Serra", diz Rostagno. "Tombini era alinhado à ala política e vimos que, na prática, as ações do BC miravam o teto e não o centro da meta", lembra o estrategista, citando o risco deste cenário se repetir.
A curva a termo reduziu ainda mais a precificação para queda da Selic este ano, projetando taxa de 13,50%, de 13,25% ontem. De acordo com a BlueLine Asset, há um total de 45 pontos-base de alta precificados para o primeiro semestre e corte cerca de 70 pontos a partir de agosto.
No fim da tarde, o mercado acelerou os ajustes, com zeragem de posições (stop loss) vendidas antes do fim de semana e da pesquisa Focus na segunda-feira. Resta saber se as medianas de IPCA vão refluir com o recado do Copom ou continuarão avançando após a nova investida de Lula contra o Banco Central.
A piora à tarde também foi influenciada pelo exterior, onde os juros dos Treasuries aceleraram o avanço, com a T-Note de dois anos superando 4,30% e a de 10 anos tocando 3,54% nas máximas. Houve deterioração também no câmbio, com as máximas do índice DXY levando o real a ampliar as perdas, e o dólar por aqui fechou na casa de R$ 5,14.
Os números forte do emprego americano, com criação de 517 mil vagas em janeiro, muito acima do consenso de 190 mil, dissiparam as apostas de redução de juro nos Estados Unidos este ano. "A perspectiva esperada de enfraquecimento do mercado de trabalho derivado do aperto nas condições financeiras ainda não se materializa, o que sugere necessidade de juros altos por período maior", afirmam, em relatório, os economistas do Banco Modal. (Denise Abarca - [email protected])
MERCADOS INTERNACIONAIS
A perspectiva de que o Federal Reserve (Fed) pode ser mais agressivo nas próximas reuniões ganhou força hoje ao mesmo tempo em que diminuíram as especulações de cortes de juros neste ano e os temores de recessão. As mudanças foram impulsionadas por um payroll com criação forte de vagas para janeiro e alta acima do esperado no ganho anual dos salários. Ademais, a presidente da distrital do BC americano em São Francisco, Mary Daly, sinalizou que os juros podem superar 5,1% em 2023. Para fechar o quadro hawkish, dados do setor de serviços dos EUA avançaram, indicando resiliência da economia americana. Neste cenário, os juros dos Treasuries alavancaram alta, assim como o dólar ante rivais. Já as bolsas de Nova York caíram, acompanhadas pelas commodities, como o petróleo, que é cotado na divisa americana.
Para o CEO da Conti Capital, Carlos Vaz, o BC americano pode fazer ajustes em sua política monetária, "inclusive voltando a considerar subir os juros além do previsto", após os dados do payroll. Segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, a economia americana criou 517 mil empregos em janeiro, bem acima da expectativa de analistas consultados pelo Projeções Broadcast. Além disso, no primeiro mês do ano,na comparação anual, houve ganho salarial de 4,43% no último mês, acima da projeção de 4,30%.
O Credit Suisse comenta que o relatório de empregos de hoje manterá o Fed em alerta máximo para qualquer sinal de recuperação na inflação ou nos dados salariais. "Haverá muitos dados adicionais antes das reuniões de março e maio e continuamos esperando uma pausa após mais uma alta em março. Mas tudo o mais igual, este relatório fortalece o caso para o Fed continuar subindo para uma taxa terminal acima de 5,0%", diz o banco. Seema Shah, estrategista chefe da Edelman Smithfield, avalia ainda que o mercado deve passar por uma "montanha-russa" enquanto tenta decidir se o payroll é boa ou má notícia. "É difícil ver como as pressões salariais podem diminuir o suficiente quando o crescimento do emprego é tão forte e é ainda mais difícil ver o Fed parar de aumentar taxas e cogitar ideias de cortes quando há notícias econômicas explosivas chegando", observa.
Durante a tarde, em entrevista à Fox Business, a presidente da distrital do BC americano em São Francisco, Mary Daly, afirmou que a direção da política monetária americana neste momento é de maior aperto e sugeriu que pode ser necessário elevar a taxa de juros nos EUA a 5,1% em 2023. "E estou preparada para fazer mais do que isso, caso seja preciso", acrescentou ela. Segundo ferramenta do CME Group, as chances do BC americano deixar os juros no nível atual, na faixa entre 4,50% e 4,75%, na reunião de março diminuíram de 17,3% para 5,5%, enquanto a possibilidade de uma alta de 25 pontos-base (pb) na próxima reunião aumentou de 82,7% para 94,5%.
Dessa forma, no fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos subia a 4,319%, o da T-note de 10 anos aumentava a 3,538% e do do T-bond de 30 anos avançava a 3,630%. Em Wall Street, o Dow Jones encerrou a sessão em baixa de 0,38%, a 33.926,01 pontos; o S&P 500 recuou 1,04%, a 4.136,48 pontos; e o Nasdaq cedeu 1,59%, a 12.006,95 pontos.
Ao mesmo tempo em que os dados de hoje acenderam o alerta de que o Fed pode não ser tão "bonzinho" quanto o imaginado pelos mercados nos últimos dias, eles também afastaram os temores de recessão. O economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Robin Brooks, afirmou hoje que o resultado do payroll contraria a narrativa de "recessão iminente" e acaba com o "medo" de um cenário de contração na atividade.
A alta do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços dos Estados Unidos, elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM), que avançou de 49,2 em dezembro de 2022 para 55,2 em janeiro de 2023, também serviu para mostrar a resiliência da economia americana. "O ISM forneceu um número monstruoso com uma onda de volta ao território de expansão e está jogando água fria sobre as apostas de corte de juros no final do ano", analisa Edward Moya, da Oanda.
No fim da tarde em Nova York, o dólar avançava a 131,15 ienes, o euro baixava a US$ 1,0797, e a libra tinha queda a US$ 1,2054. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, subiu 1,14%, a 102,915 pontos. "Enquanto as interpretações dovish dos investidores sobre os anúncios do Fed, Bando da Inglaterra (BoE) e Banco Central Europeu (BCE) levaram o dólar a um vaivém contra as principais moedas europeias nos últimos dias, a enorme surpresa positiva de hoje no payroll dos EUA e no índice de serviços ISM levou a uma recuperação ampla do dólar, enquanto investidores apontavam mais aperto do Fed", conclui a Capital Economics.
Enfraquecido pela valorização do dólar, o petróleo caiu. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para março de 2023 fechou em queda de 3,28% (US$ 2,49), a US$ 73,39 o barril, enquanto o Brent para abril, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em baixa de 2,71% (US$ 2,23), a US$ 79,94 o barril.(Letícia Simionato - [email protected])
CÂMBIO
Após três pregões seguidos de queda e de ter flertado ontem com fechamento abaixo de R$ 5,00, o dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 3, em alta de 2,03%, cotado a R$ 5,1476, na máxima do dia. O estresse mais forte na reta final do pregão ocorreu em meio mínimas do Ibovespa e à forte aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior, em especial na comparação com o euro. Com a escalada de hoje, a divisa encerra a semana com valorização de 0,70%. A queda acumulada ano, que chegou a superar 4%, agora é de 2,51%.
O tombo do real hoje veio no bojo de alta das taxas dos Treasuries e de fortalecimento global da moeda americana, após dados fortes de geração de emprego nos EUA em janeiro desautorizarem apostas em fim iminente do aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed, o BC americano). Aos ventos externos negativos somou-se o desconforto com a nova investida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o Banco Central. Além de repetir críticas ao nível da taxa de juros e da atual meta de inflação, Lula pôs na mesa a ideia de rever a autonomia legal do BC após o fim do mandato do presidente Roberto Campos Neto, em 2024.
Termômetro do desempenho do dólar frente a pares fortes, o índice DXY subiu mais de 1,20% e chegou a se aproximar dos 103,000. A moeda americana também avançou em bloco frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. As cotações do petróleo recuaram no mercado internacional, com o contrato do tipo Brent para abril em baixa de 2,71%, a US$ 79,94 o barril. O real, que costuma apanhar em episódios de fuga do risco, desta vez não amargou o pior desempenho entre pares.
Divulgado pela manhã, o relatório de emprego nos EUA (payroll) revelou geração de 517 mil vagas de emprego no país em janeiro, bem acima da mediana (190 mil) e do teto (305 mil) de Projeções Broadcast. Mais: a taxa de desemprego caiu de 3,5% em dezembro para 3,4%, e o salário médio por hora na comparação anual subiu 4,43%, acima do esperado.
O economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, observa que a diferença entre o projetado por analistas e o resultado do payroll foi o maior da história, à exceção exatamente do número de um ano atrás. "Você não tem esse tipo de surpresa positiva se a recessão é iminente. Esse relatório acaba com o temor de recessão nos EUA. O dólar está muito baixo", afirma Brooks, no Twitter, acrescentando que a perda de força da moda americana nos últimos meses foi baseada na tese dupla de desinflação e recessão. "A primeira está correta, mas agora já está mais do que precificada. A última está errada. O dólar deve se fortalecer, especialmente contra o euro".
O resultado surpreendente do payroll veio após o Fed ter desacelerado o ritmo de alta da taxa de juros para 25 pontos-base e o mercado ter celebrado a menção do chairman Jerome Powell ao início do processo de desinflação nos EUA - o que estimulou apostas em taxa terminal ao redor de 5% e começo de corte de juros ainda neste ano. Monitoramento do CME Group mostra que, após o payroll, as chances de o Fed cortar a taxa básica em 2023 caíram da faixa de 60% para 40%.
"Ontem, o real ficou abaixo de R$ 5,00 e foi até R$ 4,94, mas reduziu bastante a queda ao longo da tarde com críticas do governo Banco Central. Hoje, o motivo da alta é mais relacionado ao payroll, que veio muito forte. As taxas de juros americanas subiram e todas as moedas emergentes se desvalorizaram frente ao dólar", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.
Em entrevista ontem à Rede TV!, Lula voltou à carga contra a autonomia do BC, que classificou como uma "bobagem", criticou o nível da taxa de juros e o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. "Então, ele [Campos Neto] quer chegar à inflação padrão europeu? Não. Nós temos que chegar à inflação 'padrão Brasil'. Uma inflação de 4,5% no Brasil, de 4%, é de bom tamanho se a economia crescer". Lula foi além e disse que vai esperar o fim do mandato de Campos Neto, para avaliar "o que significou o Banco Central independente", embora tenha dito que tal questão não está em sua pauta neste momento.
"Os comentários de Lula tendem a elevar as incertezas em torno do cenário de inflação, o que resultará em maiores juros no Brasil e maior instabilidade política", afirma que o CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, que não vê ainda um cenário de estresse para o câmbio, já que o nível elevado dos preços das commodities tende a contrabalançar o efeito das incertezas no cenário fiscal. (Antonio Perez - [email protected])
18:29
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.14760 2.0256 5.14760 5.06020
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5179.000 2.09956 5179.000 5079.500
DOLAR COMERCIAL 5100.000 02/02
BOLSA
Ao atacar o "padrão europeu" e defender o "padrão Brasil" para a inflação a ser perseguida no futuro pelo Banco Central - ao que indica, depois da saída de Roberto Campos Neto, ao fim de 2024, quando expira o mandato da autoridade monetária - , o presidente Lula manteve um antigo bode na sala, especialmente presente no governo de Dilma Rousseff: cooptar o BC como linha auxiliar à política econômica do dia, sem independência - uma "bobagem" a autonomia, disse Lula. A reação do mercado à entrevista da noite anterior à RedeTV! ficou bem visível nesta sexta-feira, no câmbio e nos juros futuros, ambos em alta. A Bolsa chegou a resistir um pouco, mas encerrou a última sessão da semana com sinal negativo, acentuado a partir do meio da tarde, quando passou a renovar continuamente as mínimas do dia.
Nos Estados Unidos, a forte geração de vagas de trabalho em janeiro, no relatório oficial sobre o emprego divulgado pela manhã, pôs água fria em Nova York, revertendo parte do entusiasmo desencadeado pelas palavras de quarta-feira do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em tom "dovish" aos ouvidos do mercado. "A última reunião do Fomc (comitê de política monetária do BC americano) demonstrou que já dá sinais de que deve encerrar o ciclo de alta de juros em breve. Contudo, os dados de emprego indicam que o Fed provavelmente manterá as taxas terminais de juros por um tempo maior do que o esperado, para conseguir desaquecer a atividade econômica e trazer a inflação à meta de 2%", observa Rafael Perez, economista da Suno Research.
Assim, os três índices de NY se firmaram em baixa à tarde, com perdas que chegaram a 1,59% (Nasdaq) no fechamento, após os futuros terem refletido, ainda na noite anterior, os decepcionantes balanços do triplo A da tecnologia (Apple, Amazon e Alphabet). Os índices, porém, acumularam ganhos de 1,62% (S&P 500) e 3,31% (Nasdaq) na semana, à exceção do Dow Jones (-0,15%).
Aqui, o Ibovespa cedeu 3,38% no mesmo intervalo, ao fechar nesta sexta-feira em baixa de 1,47%, aos 108.523,47 pontos, agora no menor nível de encerramento desde 5 de janeiro (107.641,32). Foi a terceira perda diária seguida para a referência da B3 que, nas últimas sete sessões, avançou apenas em uma, no dia 31 (+1,03%). Na semana, o resultado negativo é o primeiro desde o intervalo inaugural do ano, entre 2 e 6 de janeiro, quando cedeu 0,70% - depois disso, foram três ganhos semanais seguidos (pela ordem, +1,79%, +1,01% e +0,25% na semana passada).
No ano, o Ibovespa vira para o negativo (-1,10%), acumulando nestas três primeiras sessões de fevereiro perda de 4,33%. Moderado, o giro financeiro desta sexta-feira ficou em R$ 24,9 bilhões, após avanços ontem e anteontem. Hoje, o índice oscilou entre mínima de 108.184,98 (-1,78%) e máxima de 110.570,22 pontos, saindo de abertura aos 110.140,64 pontos.
"Mais uma vez, o Ibovespa trouxe a impressão de que não conta toda a verdade da Bolsa, com as ações de commodities, após terem apanhado ontem, chegando a dar hoje alguma sustentação ao índice, pelo peso que tem. Nos Estados Unidos, houve em parte reversão do otimismo visto nos últimos dias, em que o mercado buscou acentuar os trechos 'dovish' da comunicação do Fed, quando se sabe que os juros seguirão altos, ainda por um bom tempo, por conta da inflação", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus, destacando também os efeitos, na B3, das declarações de Lula.
"Não havia nenhuma necessidade de comprar essa briga de novo. Toda vez que se diz que não se gosta de juros altos, sobem mais", acrescenta o analista. Mas, apesar dos ruídos políticos locais, que acabam afetando a precificação dos ativos, o cenário externo ainda distribui boas cartas para os emergentes, especialmente com a reabertura econômica da China, "a principal narrativa estrutural deste ano" - embora pairem dúvidas se será movida pela demanda interna ou pela externa, observa Spiess. "Entre os emergentes, o Ibovespa continua barato, tanto por 'valuation' como pelo câmbio, o que continua a favorecer fluxo estrangeiro para a B3", diz.
Como pano de fundo, porém, segue viva a preocupação quanto a um início de governo com declarações desencontradas sobre responsabilidade fiscal, o que já havia punido o Ibovespa na largada do ano, nas sessões dos dias 2 (-3,06%) e 3 de janeiro (-2,08%).
Para o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman, as recentes declarações de autoridades do governo federal estão causando um "descolamento das expectativas só pelo gogó", reporta a jornalista Marianna Gualter, do Broadcast. "O Banco Central está ali tentando apagar o fogo e o governo federal está jogando gasolina, seja na forma de aumento de déficit ou de descolamento das expectativas só pelo gogó", diz Schwartsman. "Está dificultando muito a tarefa do BC", acrescenta o economista.
"No geral, o discurso de Lula sugere que uma possível mudança na lei de independência do BC não deve acontecer antes de 2025 (o fim do mandato do atual presidente Roberto Campos Neto é no final de 2024), enquanto um ajuste na meta de inflação parece mais provável no curto prazo", aponta o banco Citi, em relatório.
"Dólar e juros dispararam com Lula, e o Ibovespa caiu com Nova York, após o 'payroll' bem mais forte do que o esperado, com geração de vagas de trabalho em janeiro quase três vezes acima do que se projetava para o mês, o que fez disparar também, lá fora, os juros dos Treasuries", diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos. "A fuga de risco respingou na Bolsa aqui, com a percepção de que o Federal Reserve não conseguirá cortar os juros este ano", acrescenta o analista, destacando também os efeitos da fala de Lula, que pressionaram em especial as ações de consumo, sensíveis a juros, e empresas com exposição a câmbio, como as aéreas. O dólar à vista fechou a sexta-feira na máxima do dia, a R$ 5,1476 (+2,03%).
Na B3, os efeitos decorrentes das declarações de Lula eram, até o meio da tarde, parcialmente contidos por boa recuperação das ações de commodities e de exportadoras após a pressão do dia anterior sobre esses mesmos papéis, quando o dólar havia sido negociado a R$ 4,94 (mínima de ontem).
O retrato se inverteu hoje, com as ações de grandes bancos no negativo (destaque para Bradesco PN -2,22%). Petrobras ON e PN subiram nesta sexta-feira 1,20% e 1,10%, respectivamente, tendo cedido ontem mais de 4,5%, assim como Vale, que também avançava mais cedo - em direção ao fim da sessão, a ação da mineradora perdeu fôlego e fechou em baixa de 0,21%.
Na ponta de ganhos do Ibovespa, destaque para Suzano (+2,87%), Klabin (+2,27%) e Raízen (+1,31%), com Yduqs (-12,79%), Hapvida (-9,39%), Locaweb (-9,10%), Azul (-8,20%) e Gol (-7,93%) no campo oposto. O índice de consumo (ICON) fechou em queda de 3,21%, enquanto o de materiais básicos (IMAT) obteve alta de 0,88%.
O mercado manteve a postura conservadora nas expectativas para o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 50% trabalham com cenário de estabilidade para o Ibovespa, enquanto 25% veem ganhos e outros 25% esperam semana de perdas, os mesmos porcentuais registrados na pesquisa anterior. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
18:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 108523.47 -1.46828
Máxima 110570.22 +0.39
Mínima 108184.98 -1.78
Volume (R$ Bilhões) 2.48B
Volume (US$ Bilhões) 4.87B
18:29
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 108870 -1.38587
Máxima 110955 +0.50
Mínima 108475 -1.74