FED MENOS ‘HAWKISH’ LEVA NY PARA O AZUL E DÓLAR A MENOR VALOR ANTE REAL EM 5 MESES

Blog, Cenário

Com a elevação dos Fed funds em 25 pontos-base, à faixa de 4,50% a 4,75%, já precificada, o mercado direcionou as atenções nesta tarde ao teor do comunicado do Federal Reserve e à entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell. E o saldo final foi de uma sinalização menos hawkish do que chegou a ser esperado mais cedo. Embora tenha deixado claro que não prevê cortes de juros este ano nos Estados Unidos e que a taxa ainda deve continuar a subir, pois é prematuro declarar vitória contra a inflação, Powell destacou que o processo de desinflação está em estágio preliminar e que há muito caminho pela frente. Na prática, ele reforçou a confiança no ajuste monetário feito até aqui, sinalizando que o fim do aperto está próximo. Houve também falas descartando recessão nos Estados Unidos e reforçando a "aterrissagem suave", previsão que é particularmente comemorada pelo investidor de ações do setor de consumo, que ainda titubeia quanto à saúde da economia americana. Desta forma, os mercados acionários de Nova York saíram do vermelho e terminaram o dia em alta: Nasdaq saltou 2,00%, S&P 500 ganhou ,05% e Dow Jones subiu 0,02%. O dólar perdeu força globalmente e os juros dos Treasuries chegaram ao fim da tarde perto das mínimas. No Brasil, a decisão do Fed foi mais absorvida pelo câmbio, com o dólar à vista terminando a sessão a R$ 5,0605 (-0,32%), menor cotação ante o real desde 29 de agosto. Entre as ações, a virada em Nova York fez o Ibovespa aparar as perdas à casa de 1% (na mínima, chegou a ser mais de 2%). O índice terminou o dia em 1120.73,55 pontos (-1,20%), sob peso particular do setor financeiro, nesta véspera de início de temporada de balanços. Amanhã cedo serão conhecidos os números do Santander Brasil, cuja ação cedeu 5,53%, fechando na mínima. Nos juros futuros, o câmbio e os Treasuries causaram gradualmente a retirada de prêmios até que as taxas terminassem estáveis. Há também grande expectativa com as sinalizações do Copom, cujo anúncio sai depois das 18h30. O mercado local observou ainda as eleições para as presidências da Câmara, onde é dado que Arthur Lira (PP-AL) será reeleito, e do Senado, no qual a vitória de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi ameaçada pelo crescimento da candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) nos últimos dias.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•CÂMBIO

•BOLSA

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

Após a precificada decisão do Federal Reserve (Fed) de arrefecer ritmo de aperto monetário, o mercado se concentrou nos comentários do presidente da instituição, Jerome Powell, que em tom menos hawkish que o esperado, afirmou que, pela primeira vez, pode-se dizer que o processo desinflacionário começou. Em reação, os juros dos Treasuries e o dólar ante rivais despencaram, ao passo que as bolsas de Nova York ganharam fôlego, depois de serem pressionadas ao longo da sessão por uma rodada de dados de construção e mercado de trabalho dos EUA. Por outro lado, o banqueiro central ponderou que não espera cortes de juros este ano, se as projeções se confirmarem. Entre as commodities, o petróleo fechou em queda após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) manter os níveis atuais de produção, enquanto o Departamento de Energia (DoE) mostrou alta nos estoques na última semana.

O banco central americano decidiu elevar a taxa dos Fed Funds em 25 pontos-base (pb), para a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano. Em comunicado, a instituição alterou a forma de se referir às futuras ações sobre juros, trocando a palavra "ritmo" por "extensão".

"Para determinar a extensão de futuros aumentos da variação da meta, vamos levar em consideração o aperto cumulativo da política monetária e as defasagens com que a política afeta a atividade econômica e a inflação", anunciou o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês). Para o CIBC, o banco central dos EUA ainda não optou por sinalizar uma pausa ou dar qualquer consolo aos mercados que estão precificando cortes nas taxas para o segundo semestre do ano.

Os comentários de Powell, em coletiva de imprensa após a reunião, ganharam os holofotes nas mesas de operações. Apesar de destacar que a tarefa de baixar a elevada inflação nos Estados Unidos ainda não foi concluída e que aumentos contínuos das taxas serão apropriados para atingir uma postura de política "suficientemente restritiva", Powell disse que, pela primeira vez, é possível afirmar que o processo desinflacionário nos EUA começou.

O Wells Fargo destaca que ações e títulos subiram depois que Powell disse que o processo desinflacionário parece ter começado."Parece que o mercado está comprando (esperando?) o cenário de "pouso suave"", destaca o banco. O analista da Oanda Edward Moya tem opinião semelhante: "as ações dos EUA entraram em uma montanha-russa do Fed, enfraquecendo depois que a declaração sugeriu que o Fed manterá suas armas de aumento de taxas, mas se recuperando após uma coletiva de imprensa dovish que não viu Powell defender seus gráficos de pontos e o fez dizer pela primeira vez que o processo de desinflação começou".

Phil Rasori, da Mortgage Capital Trading, disse ao The Wall Street Journal que os comentários de Powell acabaram sendo dovish. "Se o mercado continuar a subir, esperamos que [as autoridades do Fed] tragam todos de volta à terra". Monitoramento do CME Group mostrava que, embora Powell tenha reiterado que não espera cortes nos juros este ano, o mercado ampliou aposta por um relaxamento monetário até a reunião de dezembro. A ferramenta indica 18,5% de chance de que a taxa básica termine o ano na faixa entre 4,00% e 4,25%, do intervalo atual entre 4,50% e 4,75%. Ontem, a probabilidade era de 13,4%.

Dessa forma, o índice Dow Jones subiu 0,02%, aos 34092,96 pontos, o S&P 500 avançou 1,05%, aos 4119,21 pontos, e o Nasdaq fechou em alta de 2,00%, aos 11816,32 pontos. No fim da tarde em Nova York, o retorno da T-note de 2 anos caía a 4,100%, o da T-note de 10 anos cedia a 3,402% e o do T-bond de 30 anos tinha queda a 3,552%. Já o dólar recuava a 128,85 ienes, o euro avançava a US$ 1,0995, e a libra tinha alta a US$ 1,2380. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, caiu 0,86%, a 101,217 pontos.

Powell também comentou que o Congresso dos Estados Unidos precisa elevar o teto da dívida norte-americana. "Acredito que o Congresso acabará agindo como deve no final para aumentar o teto da dívida", concluiu.

Entre as commodities, os contratos futuros de petróleo fecharam em baixa, após a Opep manter os níveis atuais de produção. Além disso, as baixas se estenderam depois que o relatório semanal do DoE mostrou alta nos estoques dos EUA na última semana. O petróleo WTI para março fechou em queda de 3,12% (US$ 2,46), em US$ 76,41 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para abril recuou 3,07% (US$ 2,62), a US$ 82,84 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).(Letícia Simionato - [email protected])

CÂMBIO

O mercado de câmbio doméstico foi engolfado na reta final dos negócios pela onda de desvalorização mais aguda da moeda americana no exterior em meio à fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após o BC americano ter, como esperado, desacelerado o ritmo de alta de juros para 25 pontos-base. Embora Powell tenha, assim como o comunicado do Fed, acenado com continuidade de aperto monetário e manutenção de juros elevados por mais tempo, os investidores parecem ter se apegado à menção de que o processo de desinflação da economia americana já está em curso.

Com virada para o lado negativo na meia hora final da sessão, quando registrou mínima a R$ 5,0500, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,32%, cotado a R$ 5,0605 - menor valor de fechamento desde 29 de agosto de 2022 (R$ 5,0334). Com isso, a moeda já acumula baixa de 1,01% na semana e de 4,16% no ano.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes - operou em queda ao longo de toda a sessão e registrou mínima aos 101,055 pontos, na esteira das declarações de Powell. O dólar também recuou frente à ampla maioria de divisas emergente e de países exportadores de commodities, com perdas de mais de 1% em relação a pares do real como peso chileno e mexicano.

Em seu comunicado, o Fed anunciou elevação da taxa de juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,50% para 4,75% ao ano e antecipou que novos aumentos dos juros "serão apropriados" para levar a política monetária a campo suficientemente restritivo para pôr à inflação rumo à meta de 2%.

Powell reforçou em sua fala que o BC americano não discute neste momento eventual pausa no processo de aperto e que, caso as projeções se confirmarem, não haverá corte de juros em 2023, diferentemente do que prevê o mercado. De outro lado, o chairman afirmou que o processo de desinflação da economia americana já está em andamento, confirmando a leitura de que o pico da inflação ficou para trás.

"O mercado queria uma novidade positiva. Powell disse que a inflação está desacelerando devagar, mas está desacelerando, e sinalizou que as expectativas estão ancoradas. Foi o que mais mexeu com o mercado. A ideia é que o aperto monetário continua, mas não será prolongado por muito mais tempo, e que a taxa terminal vai ficar apenas um pouco acima de 5%", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, acrescentando que indicadores da economia dos EUA, como índice de custo de emprego e ganhos de massa salarial já apresentam crescimento mais moderado.

Pesquisa ADP divulgada pela manhã mostrou que o setor privado dos Estados Unidos criou 106 mil empregos em janeiro, bem abaixo do esperado (190 mil). Esse número aumenta a expectativa para a divulgação, na sexta-feira, 3, do relatório de emprego (payroll) nos EUA em janeiro. Powell repetiu que o mercado de trabalho continua apertado, mas diz não ver sinais de espiral salarial.

Apesar do sinal predominante de baixa da moeda americana lá fora durante todo o dia, o dólar esboçou, antes do Fed, uma alta por aqui, tendo operado pontualmente acima do teto de R$ 5,10, com máxima a R$ 5,1122. Operadores atribuíam o escorregão do real a ajustes técnicos, após a disputa pela última taxa Ptax de janeiro ontem, e a movimento mais intenso de realização de lucros de investidores estrangeiros na bolsa.

Havia ainda certa cautela diante da eleição para os presidentes da Câmara e, em especial, do Senado, com a disputa entre o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do governo Jair Bolsonaro, e o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG), candidato à reeleição. A reconfiguração do Congresso na eleição de 2022, com perfil mais à direita, e uma eventual vitória de Marinho, poderia, em tese, prejudicar a governabilidade. No fim, Pacheco foi reeleito.

Dados do fluxo cambial divulgado à tarde confirmaram relato de operadores de forte ingresso de capital externo ao longo para ativos locais nos últimos dias. Na semana passada (de 23 a 27), o fluxo foi positivo em US$ 5,190 bilhões, com entrada líquida de US$ 3,612 bilhões pelo canal financeiro. No acumulado de janeiro (até 27), o fluxo cambial total é positivo em R$ 4,198 bilhões.

"A bolsa sofreu hoje e tivemos na maior parte do dia um processo de rebalanceamento de carteiras e reequilíbrio técnico que fez o dólar subir por aqui", afirma o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, para quem a tendência ainda é de apreciação do real. "Temos uma barreira técnica nos R$ 5,00, mas podemos ver o dólar escorregar mais porque tem bastante fluxo estrangeiro".

É dado como certo que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai anunciar hoje à noite manutenção da taxa Selic em 13,75%, o que garante um juro real elevado e atrai capitais para operações de carry trade. As atenções estarão voltadas ao comunicado, no qual agentes vão buscar possível reação do colegiado a críticas do presidente Lula à atuação do Banco Central e ao nível das metas de inflação. (Antonio Perez - [email protected])

18:26

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.06050 -0.3191 5.11220 5.05000

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5077.000 -0.46074 5135.500 5065.500

DOLAR COMERCIAL 5137.593      

BOLSA

O Ibovespa acentuou perdas na primeira metade da tarde, cedendo no intradia a linha dos 112 e depois a dos 111 mil pontos, chegando na mínima da sessão aos 110.729,47 antes da decisão sobre juros do Federal Reserve e da coletiva do presidente do BC americano, Jerome Powell, eventos mais aguardados do dia. O movimento do índice acompanhou avanço firme dos juros futuros no meio da tarde, e a consolidação de alta, ainda que moderada - e ao final revertida -, do dólar frente ao real.

No fechamento, apoiada na fala de Powell a partir das 16h30, a referência da B3 mostrava queda bem menor, de 1,20%, aos 112.073,55 pontos, saindo de máxima a 113.597,64, pouco distante da abertura aos 113.429,60 pontos. Na semana, após ter acumulado ganho de 0,99% de segunda a terça-feira, o Ibovespa vira ao negativo, com recuo de 0,22% até esta quarta-feira. No ano, o índice sobe agora 2,13%, após ter encerrado janeiro com ganho de 3,37% no mês, o primeiro desde outubro. O giro financeiro desta quarta-feira subiu para R$ 32,6 bilhões.

Hoje, antes de Powell, a piora do Ibovespa era puxada por acentuação de perdas em Petrobras no miolo da tarde, quando superavam os 2%, enquanto os contratos futuros de barris de petróleo Brent (abril) e WTI (março) mostravam queda superior a 3% na sessão, em dia de manutenção pela Opep dos níveis atuais de produção.

"Vale já caía mais de 2% desde cedo após os dados sobre produção, divulgados na noite anterior. E à tarde Petrobras colocou pressão a mais no Ibovespa, o que se fez acompanhar pouco depois pelas ações de 'bancões'", diz Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, indicando que o movimento de vendas pode ter sido liderado por investidores estrangeiros, que vinham muito ativos na ponta compradora de ações na B3, recentemente.

Tanto as ações de Petrobras e da Vale, gigantes das commodities, como as de grandes bancos estão entre as preferidas dos estrangeiros. Com a cautela vista nesta 'superquarta' de Fed e Copom, Petrobras fechou em baixa de 1,97% (ON) e de 1,38% (PN) e Vale (ON), de 1,11%, enquanto as perdas entre os grandes bancos chegaram a 5,53% na Unit do Santander (mínima do dia no fechamento), que abre amanhã a temporada de balanços das instituições financeiras no Brasil.

Na ponta negativa do Ibovespa, além de Santander Brasil, destaque também para Eztec (-5,12%), Raízen (-4,26%) e Natura (-3,78%). No lado oposto, BRF (+7,66%), Marfrig (+5,32%) e São Martinho (+4,72%).

"Mais tarde, para o Copom, o mercado estará muito atento à avaliação do comitê de política monetária do BC sobre o balanço de riscos, tendo em vista que os boletins Focus têm trazido, semanalmente, aumento das projeções para a inflação", observa Paulo, da Manchester.

A agenda de dados americanos, pela manhã, trouxe leitura sobre geração de vagas de trabalho no setor privado, da ADP, "bem mais fraca do que a expectativa", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Os dados da ADP são divulgados na antevéspera do relatório oficial sobre o emprego nos Estados Unidos, mas ambos os levantamentos costumam guardar pouca correlação, apesar de o ADP ser observado como uma espécie de prévia. "Há um sinal de esfriamento da economia americana, o que se refletiu no dólar ante uma cesta de moedas de referência" após a leitura sobre esses dados de emprego, diz Camila.

Leituras mais acomodadas sobre dados de emprego são um fator que corroborava a impressão de que Powell poderia vir, na coletiva desta tarde, menos 'hawkish' com relação à política monetária, tendo o mercado já precificado que haveria desaceleração do ritmo de alta dos juros de referência dos Estados Unidos, hoje, de um grau de meio para 0,25 ponto porcentual, atingindo agora a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano - o que afinal se confirmou, nesta tarde.

No comunicado sobre a decisão, o comitê de política monetária do Fed apontou que altas de juros são necessárias para atingir postura monetária "suficientemente restritiva", o que resultou, num primeiro momento, em algum aprofundamento de perdas dos índices de ações em Nova York e em progressão dos juros dos Treasuries, especialmente do vencimento de 2 anos, mais correlacionado á perspectiva de curto prazo - na máxima do dia, o yield de 2 anos foi à casa de 4,25%, mas mudou de direção durante a entrevista coletiva de Powell, caindo a 4,08% na mínima intradia.

Em paralelo à oscilação vista nos rendimentos dos Treasuries, entre o comunicado e a fala de Powell, os três índices de referência para ações em Nova York (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) viraram para o positivo, e assim fecharam após renovarem máximas da sessão, com o sinal dado pelo presidente do Fed de que o pico de inflação nos Estados Unidos provavelmente ficou para trás.

"O Fed está cada vez mais próximo da sua meta de redução da inflação e colecionando evidências que justificam esse entendimento. Ainda é incerto, mas, na minha opinião, estamos mais próximos da sonhada etapa de 'pouso econômico suave', embora ainda não seja seguro descartar o risco de recessão", observa em nota Carlos Vaz, CEO da Conti Capital, para quem, com base nos índices econômicos divulgados nos últimos meses, a fase mais dura da crise nos EUA, com pico inflacionário, pode já ter ficado para trás, conforme apontado também por Powell.

"É cedo para dizer que o problema está resolvido, mas está endereçado", resume Bruno Mori, economista e sócio fundador da Sarfin, ao se referir aos comentários do presidente do Fed sobre a inflação americana.

Por outro lado, Powell afirmou também que o comitê de política monetária não está discutindo eventual pausa no aumento de juros em curso nos Estados Unidos, e que, caso as projeções do BC se confirmem, também não deve ocorrer um corte nas taxas neste ano, como já havia sinalizado após a reunião de dezembro.

"Entendemos os danos que a inflação alta causa e estamos determinados a reduzi-la", disse hoje o presidente do BC americano, logo na abertura da coletiva sobre a decisão de política monetária. "Precisamos ver evidências substanciais para ficarmos confiantes na queda da inflação", observou também Powell, acrescentando que o Fed tem tomado "medidas enérgicas" para conter a demanda. "Efeitos do aperto monetário ainda serão sentidos completamente", afirmou o dirigente do Fed, reconhecendo que "reduzir a inflação demandará crescimento abaixo do esperado".

Após o início da fala de Powell nesta tarde, o CME Group mostrava avanço da possibilidade de uma elevação de juros em 25 pontos-base pelo Federal Reserve na próxima reunião, em março, a 86,3%, de 82,4% ontem. Já a probabilidade de o Fed não elevar juros e manter a taxa atual diminuiu de 17,3% para 13,4%.

"A atenção esteve hoje totalmente voltada ao Fed, antes da decisão do Copom, à noite. Após terem operado em estabilidade em grande parte do dia, todos os vértices de juros subiram, especialmente a ponta longa, com a expectativa para a decisão e os sinais sobre juros no Brasil e, possivelmente também, por alguma cautela sobre a eleição para as presidências da Câmara e do Senado, com algum efeito, dúvida, sobre o que o resultado poderá trazer para a condução fiscal", diz Gabriel Matesco, especialista em renda variável da Blue3. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:21

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 112073.55 -1.19632

Máxima 113597.64 +0.15

Mínima 110729.47 -2.38

Volume (R$ Bilhões) 3.25B

Volume (US$ Bilhões) 6.42B

18:26

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 112725 -1.09673

Máxima 114100 +0.11

Mínima 111170 -2.46

Volta

JUROS

A cautela com a agenda carregada da quarta-feira puxou os juros para cima durante boa parte do dia, mas no fim da tarde o movimento arrefeceu, após a entrevista do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, lida como "dovish", e as taxas fecharam estáveis. Os retornos dos Treasuries ampliaram a queda e passaram a renovar mínimas, levando as taxas por aqui a reduzirem sensivelmente o avanço, sendo que as curtas foram para os ajustes anteriores. Quanto ao Copom, as expectativas estão bem ajustadas para a manutenção da Selic e para um comunicado que aborde a piora das estimativas de inflação e o cenário fiscal. No radar, ficou ainda a eleição para a presidência do Senado, com os agentes tentando mapear impactos econômicos de uma eventual mudança no comando da casa em caso de vitória de Rogério Marinho (PL-RN). A votação terminou após o fechamento dos negócios, com a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,53% (mínima), de 13,52% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou a 12,78% (mínima), de 12,79% ontem. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 12,77%, estável, e a do DI para janeiro de 2029 encerrou também estável, a 12,95%.

A agenda pesada, com reuniões do Fed, Copom e eleição no Senado, deu a senha para o mercado testar ao longo da sessão uma correção parcial à queda de ontem. Pela manhã, a alta era mais moderada, mas ganhou ritmo na medida em que os eventos se aproximavam e o humor lá fora piorava. A decisão do Fed de elevar os juros em 25 pontos-base, para a faixa entre 4,50% e 4,75%, era consensual, mas havia alguma apreensão quanto ao discurso de Jerome Powell. Mais cedo, o dado da criação de vagas no setor privado em janeiro, vista como um prenúncio do payroll na sexta-feira, veio abaixo do esperado, mas deixou dúvida se seria um indicativo já da perda de fôlego do mercado de trabalho ou algum efeito da mudança da metodologia do indicador promovida meses atrás.

Powell, no entanto, disse que o mercado de trabalho está muito forte e que o nível da política monetária ainda não é suficientemente restritivo, pois a tarefa de reduzir a inflação ainda não está completa. Reconheceu que a queda dos dados de inflação nos últimos três meses é "encorajadora" e que não veio a custa do enfraquecimento do emprego. "Pela primeira vez, podemos dizer que processo desinflacionário começou", afirmou Powell. Disse ainda que não há intenção de apertar a política monetária de forma excessiva. Por outro lado, afirmou que uma pausa nos aumentos não está em discussão e que não espera cortes de juro este ano.

O mercado olhou Powell pelo copo meio cheio, com forte ajuste de baixa no yield da T-Note de dez anos, para a casa de 3,40%, de 3,50% ontem, assim como o dólar acelerou as perdas ante as demais moedas.

Na curva local, a reação dos ativos no exterior tirou pressão das taxas, mas o mercado conservava certa cautela, na medida em que a repercussão do Copom ficará para amanhã. A aposta de manutenção dos 13,75% da Selic é consenso, com os DIs precificando apenas 10 pontos-base de alta. Apontam ainda início do ciclo de corte em agosto, com um orçamento total ao redor de 85 pontos-base, com Selic projetada em cerca de 13% no fim do ano. Os cálculos são da BlueLine Investimentos.

Quanto ao comunicado, o mercado quer ver a percepção dos diretores sobre a escalada das expectativas futuras, desde que Lula criticou os níveis das metas de inflação, e também se houve mudança na percepção sobre os riscos fiscais, que, na avaliação dos economistas da LCA, "pouco refluíram desde a reunião do Copom de dezembro". "É quase certo que o Copom evitará opinar sobre a definição das metas de inflação em seus documentos oficiais; mas, por outro lado, também é quase certo que a autoridade manifestará apreensão com a alta recente das expectativas inflacionárias", avaliam.

Em Brasília, a eleição do Senado, embora considerada hoje pelos players como fator mais secundário, também foi monitorada. Enquanto a vitória de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara era considerada "favas contadas", no Senado a candidatura Pacheco ainda tinha algum risco, com o crescimento dos votos de Marinho nos últimos dias. A leitura do que representaria uma eventual vitória do ex-ministro não é consensual entre os agentes.

Se de um lado, por ser oposição, poderia dificultar a governabilidade e o andamento das reformas no governo Lula, de outro também representaria um potencial freio à aprovação de medidas populistas que pressionem ainda mais os gastos públicos ou até mesmo questões como mudança na lei das estatais. "Pode dar uma segurada no excesso de Lula", avalia a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira. (Denise Abarca - [email protected])

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