ATIVOS LOCAIS DERRETEM COM INCERTEZA FISCAL E MAIS DESENVOLVIMENTISTAS NA TRANSIÇÃO

Blog, Cenário

A liquidação dos ativos brasileiros se estendeu na tarde desta quinta-feira, com marcas há algum tempo não vistas nas telas dos operadores, ainda que com certa amenização no fim do dia. Com o salto de 4,14%, aos R$ 5,3966, o dólar à vista teve a maior alta porcentual diária desde 16 de março de 2020, day after à decisão do Federal Reserve de baixar a zero os juros e ao anúncio de medidas restritivas na cidade de São Paulo por causa da covid-19. Também em termos porcentuais, a Bolsa chegou a ter no intraday a maior queda desde quando o Supremo Tribunal Federal (STF) devolveu os direitos políticos a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O índice cedeu aos 109.775,46 pontos, recuo de 3,35%. E os juros futuros saltaram mais de 100 pontos-base, fazendo com que toda a curva flertasse com o nível de 13%. Além do desconforto com o IPCA e com a possível retirada de gastos sociais do teto de gastos via PEC da Transição, houve um estresse adicional, perto das 16h, quando o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) anunciou o nome do ex-ministro Guido Mantega como membro da equipe de transição de Planejamento e Orçamento. Ainda que - conforme Alckmin tem reforçado desde a semana passada - fazer parte da transição não signifique necessariamente estar no governo, a questão é que a ala de economistas desenvolvimentistas está crescendo. E em um dia como hoje, foi a razão para estender ainda mais o 'sell off'. No fim da tarde, Alckmin até tentou ponderar que a era Lula foi de responsabilidade fiscal, mas o próprio presidente eleito ironizou a reação do mercado hoje. Depois, no Twitter, Lula escreveu um recado aos agentes: "Podem ficar tranquilos". Tudo isso posto, em Nova York, o dia foi de elevada corrida para o risco depois de o CPI marcar inflação abaixo da projetada por analistas. No radar, agora, está a diminuição da intensidade da alta dos Fed Funds. Note-se que o Nasdaq teve a maior alta porcentual desde março de 2020, com disparada de 7,35%.

•CÂMBIO

•BOLSA

•JUROS

•MERCADOS INTERNACIONAIS

CÂMBIO

O dólar disparou no mercado doméstico de câmbio na sessão desta quinta-feira (10) e fechou no maior nível desde julho após fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva crítica ao teto de gastos e dúvidas sobre a confecção da PEC de Transição deflagrem temores de mudança do arcabouço fiscal.

Com oscilação de quase 17 centavos entre a mínima (R$ 5,2454) e a máxima (R$ 5,4148), a moeda americana encerrou a sessão em alta de 4,14%, cotada a R$ 5,3966 - maior valor de fechamento desde 22 de julho de 2022 (R$ 5,4988) e maior alta porcentual desde 16 de março de 2020, dia em que foi decretada situação de emergência na cidade de São Paulo em razão da pandemia de covid-19.

O real não apenas amargou, de longe, o pior desempenho entre as divisas globais nesta quinta-feira como foi a única moeda relevante, ao lado do peso argentino, a perder valor frente ao dólar. O índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana frente a seis divisa fortes - caiu mais de 2%, aproximando-se do limiar dos 108,000 pontos.

Analistas e operadores ressaltaram que, não fosse o ambiente de forte apetite ao risco no exterior, o dólar poderia ter ido muito mais longe no mercado doméstico, quiçá superando o nível de R$ 5,50. "Não esperava tanta trapalhada tão rápido. Tenho o receio de que o dólar vá para R$ 6,00. Fim de ano já é ruim com remessas. O céu é o limite", afirma um gestor de recursos, que pediu anonimato.

A degringolada do real começou pela manhã, com o dólar superando 5,34, em alta superior a 3%, na primeira meia hora de negócios. Parte do mau humor vinha de fora com a expectativa pela divulgação índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de outubro. Parte se devia à indefinição sobre a configuração da chamada PEC da Transição.

Havia rumores de que a equipe de transição de governo trabalhava com a possibilidade de excluir despesas do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) definitivamente da regra do teto. A alta de 0,59% do IPCA de outubro, acima do teto de Projeções Broadcast (+0,54%), contribuía para a postura defensiva dos agentes.

Um dos pilares de sustentação da alta da moeda americana ruiu quando o CPI de outubro, em especial o núcleo, veio abaixo das expectativas. O dólar passou a cair em bloco no exterior e as taxas dos Treasuries mergulharam, aliviando as pressões sobre a taxa de câmbio doméstica, que chegou a ser negociado a R$ 5,30. Investidores assimilavam a perspectiva de uma ação menos agressiva do Federal Reserve, com redução do ritmo de alta da taxa básica americana em dezembro e juro terminal não tão elevado.

O caldo voltou a entornar à medida que investidores absorviam fala do presidente eleito. Quem esperava uma guinada de Lula ao centro se decepcionou com o tom similar ao da campanha eleitoral. Eis uma lista das perguntas retóricas do petista: "Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse País? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste País?".

Gasto social, disse Lula, tem de ser visto como investimento. Ele indagou também por que o País tem metas de inflação e não de crescimento. O presidente até temperou sua fala com a lembrança de seu primeiro mandato e o alerta de que é preciso garantir uma política fiscal "séria" para pagar juros da dívida. "Ninguém pode dizer que há alguém mais responsável que eu (no fiscal)", disse. Nada capaz de anular a percepção de que o novo governo está disposto a mudar as regras do jogo fiscal.

"Agora está um frenesi de gastos, mas ninguém falou de onde vai vir o dinheiro ou de cortes. Só se escuta esse lado", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que, levando em conta a baixa do índice DXY, a depreciação do real foi muito aguda. "Ninguém sabe quando vai ser o waiver fiscal, o que vai ficar fora e dentro do teto. E se o que ficar fora vai ser apenas por um período ou para sempre".

As palavras do presidente levaram a uma degringolada adicional dos ativos domésticos. O dólar superou de novo os R$ 5,35 no início da tarde, nível em ao redor do qual orbitou até que, por volta das R$ 5,40, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin anunciou novos integrantes da equipe de transição, com o ex-ministro Guido Mantega no time de Orçamento e Planejamento.

Já se sabia que o Mantega participaria do time, mas seu lugar ainda era uma incógnita. Lula planeja recriar o ministério do Planejamento e o nome de Mantega na equipe de transição é visto como prenúncio de um perfil desenvolvimentista à frente da Pasta.

Foi a senha para uma corrida compradora ainda mais intensa no mercado de câmbio, que levou o dólar a superar sucessivas máximas e correr até o nível de R$ 5,4148 (+4,14%). Alckmin ainda tentou, sem sucesso, dourar a pílula a dizer que "se alguém teve responsabilidade fiscal foi o governo Lula".

"Tudo indica um governo com estilo expansionista. Conhecemos a tendência de nomes como Guido Mantega. A volatilidade deve aumentar até que haja uma visão mais clara com a indicação do ministro da Fazenda", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. "Espero que eles reflitam que credibilidade fiscal leva anos para construir e minutos para destruir. O Brasil é sustentável se os agentes acreditarem que é", diz o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig. (Antonio Perez - [email protected])

18:32

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.39660 4.1392 5.41480 5.24540

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5373.000 3.20784 5435.000 5260.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5370.000 2.90497 5370.000 5370.000

BOLSA

As declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vieram como uma tempestade em céu azul nesta quinta-feira de forte apetite por risco em Nova York, onde os ganhos ficaram em 3,70% (Dow Jones), 5,54% (S&P 500) e 7,35% (Nasdaq), na esteira de leitura mais fraca do que o esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos em outubro, que pode abrir caminho para Federal Reserve mais ameno em dezembro. Aqui, na contramão do sentimento positivo no exterior, o Ibovespa fechou em queda de 3,35%, aos 109.775,46 pontos, após ter chegado a 108.516,46 pontos na mínima da sessão (-4,46%), em nível não visto desde o fim de setembro.

Em porcentual, o grau de ajuste durante a sessão chegou a superar os 3,78% do fechamento de 8 de setembro do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro, naquele 7 de setembro, havia afirmado que não mais cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nas mínimas do dia, o mergulho era mais profundo também do que o de 8 de março de 2021 (-3,98%), quando as ações contra o agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que permitiu sua volta ao jogo político.

Hoje, afirmações de Lula sobre a necessidade de resgate da dívida social, rumores sobre a possibilidade de que o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil) fique de vez fora do teto de gastos, comentários do futuro presidente sobre Petrobras e BNDES, e a indicação de que o vice eleito Geraldo Alckmin não deve ocupar ministério derrubaram a expectativa por comedimento na largada da próxima administração, ante situação fiscal, para 2023, que já era vista com reservas pelo mercado.

Os comentários de Lula foram fortes, mas não tudo. Mais cedo, os ativos brasileiros já refletiam grau maior de aversão ao risco fiscal, mas, em direção ao fim da tarde, a situação se deteriorou com a confirmação oficial de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega estará envolvido, na equipe de transição, com a área de Planejamento e Orçamento. Assim, o que parecia ruim, ficou ainda pior aos olhos do mercado, com pressão observada também no câmbio e nos juros futuros.

"Por aqui, houve uma reprecificação do risco fiscal à medida que o novo governo começa a se posicionar e a se estruturar, especialmente no que diz respeito ao teto de gastos. Há muita cautela com a Bolsa neste momento de reprecificação do risco Brasil", diz Dennis Esteves, especialista de renda variável da Blue3.

O nível de fechamento da sessão de hoje, com giro financeiro muito reforçado, a R$ 55,4 bilhões, foi o menor desde o último 29 de setembro, então aos 107.664,35 pontos. Na semana, o Ibovespa acumula agora perda de 7,09%, por enquanto a caminho de seu pior intervalo desde outubro de 2021, quando cedeu 7,28% entre os dias 18 e 22 daquele mês. Em novembro, o índice da B3 cai agora 5,40%, limitando o avanço do ano a 4,73%.

Em outro desdobramento negativo para o dia, após três meses de deflação, a leitura a 0,59% para o IPCA de outubro, acima do que se esperava para o mês, contribui para reforçar a percepção de que o BC terá de manter a Selic elevada por mais tempo, em contexto ora agravado pela deterioração da perspectiva para a política fiscal, em viés ainda claramente expansionista.

A queda dos preços de ativos brasileiros hoje mostra que o mercado não está disposto a dar o benefício da dúvida ao futuro governo, afirma o economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel de Barros, conforme relato de Cicero Cotrim, do Broadcast. "Este início de governo está me parecendo muito semelhante ao de Liz Truss [na Inglaterra], que propôs um pacote de expansão fiscal bastante grande e foi igualmente punido. O mercado está punindo tanto emergentes quanto avançados que apontam para uma trajetória de insustentabilidade fiscal", avalia Barros.

Refletindo a aversão ao risco fiscal no Brasil, o dólar à vista fechou em alta de 4,14%, a R$ 5,3966, com máxima na sessão a R$ 5,4148. Lá fora, o índice DXY, que contrapõe o dólar a uma cesta de referências como euro, iene e libra, operou ao longo do dia em direção contrária, em baixa de 2,10%, a 108,231 pontos no fim da tarde, por volta da hora de fechamento do câmbio por aqui. No exterior, prevaleceu hoje a percepção de que a inflação de outubro nos Estados Unidos abre caminho para que o Federal Reserve entregue um aumento de juros menor, de meio ponto porcentual, na última reunião do ano, em dezembro, o que estimulou o apetite por risco.

A dicotomia entre o controle dos gastos públicos e a expansão de despesas com programas sociais é falaciosa, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, segundo relato de Italo Bertão Filho, do Broadcast. “Dicotomia entre gastos sociais e instrumentos de controle fiscal não tem conexão direta, como ele (Lula) impôs. Isso acabou sugerindo que, mesmo sem ter recurso, sem diminuir outros gastos, haverá expansão (de despesas) no governo dele”, diz Sanchez.

“O cenário hoje ficou bastante turbulento, após uma aceitação a princípio melhor do que se esperava para o resultado das eleições, especialmente com o Geraldo Alckmin como líder da equipe de transição. A piora veio com os ruídos sobre a PEC de Transição e o risco fiscal”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “A ideia de tirar o Auxílio Brasil do teto de gastos, o que abriria recursos para promessas de campanha, não está sendo bem-vista pelo mercado. A partir do momento em que se coloca o programa social fora do teto, abre brechas pela frente”, acrescenta.

Pela manhã, o IPCA de outubro trouxe uma quebra na sequência de deflação no intervalo de julho a setembro. “O índice de difusão continua superior a 60%, talvez ainda acima do esperado, e os núcleos ainda apresentam sentido altista para a inflação, talvez mais alta do que o projetado para 2022”, diz a economista Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais.

Nesse contexto desafiador, o Ibovespa operou nesta quinta-feira nos menores níveis intradia desde 30 de setembro, com poucas blue chips, como Vale (ON +1,91%), escapando à correção. Os grandes bancos cederam até 3,49% (Unit do Santander) e as perdas em Petrobras ficaram entre 1,23% (ON) e 2,90% (PN) no fechamento.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Vale e CSN Mineração (+2,77%), destaque também para Suzano (+2,29%), Embraer (+0,75%) e Klabin (+0,71%) - apenas seis papéis da carteira teórica conseguiram fechar o dia em alta. No lado oposto, Azul (-17,83%), Yduqs (-13,92%), Hapvida (-13,67%) e CVC (-13,33%). (Luís Eduardo Leal - [email protected], com Cicero Cotrim e Italo Bertão Filho)

18:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 109775.46 -3.34973

Máxima 113578.78 -0.00

Mínima 108516.46 -4.46

Volume (R$ Bilhões) 5.54B

Volume (US$ Bilhões) 1.04B

18:32

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 111000 -3.35641

Máxima 114155 -0.61

Mínima 109535 -4.63

JUROS

A piora na avaliação do risco fiscal e ajustes na percepção sobre a inflação após o IPCA de outubro acima do esperado mantiveram os juros fortemente pressionados ao longo da tarde. As taxas fecharam em alta significativa, com as principais delas no maior nível desde o fim de julho, assim como as taxas das NTN-B no secundário também escalaram.

A possibilidade de a PEC da Transição excluir de forma permanente a despesa com o Bolsa Família, e sem apresentação de contrapartidas em receitas, já pesava no começo do dia, em meio a ausência dos nomes que vão compor a equipe econômica. Depois, a entrevista do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no fim da manhã fez a curva empinar, com alguns contratos chegando a entrar em leilão.

No fechamento da sessão regular, o mercado ainda reagiu mal à nova leva de nomes que vão compor a transição de governo, com o ex-ministro Guido Mantega alocado na área de Planejamento e Orçamento. Nesse clima, o alívio dos ativos no exterior - os yields dos Treasuries tombaram - com a surpresa benigna vinda da inflação americana não conseguiu chegar até aqui.

A taxa do contrato e Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a regular e a estendida em 13,63%, de 13,04% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 saltou de 12,01% para 13,05% (regular) e 12,95% (estendida) e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,98% (regular) e 12,90% (estendida), de 11,89%. Tais níveis representam o pico desde a última semana de julho, quando o Federal Reserve, em reunião de política monetária, apertava mais uma vez sua taxa de juros no atual ciclo. Nas NTN-B, as taxas dos papéis curtos já romperam 6%.

A expressiva zeragem de posições (stop loss) vendidas em DI ao longo da sessão contribuiu para catapultar o volume de contratos, com cerca de 1,7 milhão em cada um dos vértices mais líquidos hoje - janeiro de 2024 e janeiro de 2025. Os longos também tiveram giro elevado, caso do DI para janeiro de 2027, que movimentou quase 600 mil, ante média diária de 175,6 mil nos últimos 30 dias.

As taxas longas vêm subindo ininterruptamente desde segunda-feira, acusando o aumento das incertezas fiscais, que se agravaram de ontem para hoje. "Os gatilhos para a reprecificação dos ativos foram os discursos de ontem e de hoje, dada a possibilidade de expansão de gasto social sem fonte de recurso sustentável", afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

Ao risco de que as despesas com o programa social permaneçam fora da regra do teto durante todo o mandato, somou-se hoje um discurso de Lula considerado "heterodoxo" ao sinalizar que vê dicotomia entre prioridades sociais e equilíbrios fiscal. Vários profissionais têm citado o caso do Reino Unido, onde o pacote fiscal da ex-primeira ministra Liz Truss provocou a estilingada dos juros do país, ao incluir cortes de impostos em prol do crescimento, em um ambiente inflacionário desafiador.

Em encontro com parlamentares aliados, Lula declarou que as pessoas são “levadas a sofrer” para garantir a estabilidade fiscal. “Por que se fala em cortar gastos, fazer superávit e respeitar o teto de gastos?”, questionou. Ao mesmo tempo, disse que não há "alguém mais responsável que eu (no fiscal)”, acrescentou, ao citar o tripé de sua campanha eleitoral: credibilidade, previsibilidade e estabilidade.

A expectativa é de que a PEC da Transição saia ainda hoje. O mercado está engolindo com dificuldade um valor de R$ 175 bilhões extrateto, e não descarta que possa chegar a R$ 200 bilhões.

As agruras fiscais também monopolizaram os debates nas reuniões de economistas com o Banco Central, normalmente utilizadas para coletar impressões para o Relatório de Inflação (RI), com profissionais até alertando os diretores sobre o risco de retomada das altas da Selic.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, afirma que o conjunto IPCA + fiscal pesou sobre a curva, "mas mais o fiscal". "A negociação da PEC preocupa porque não tem até agora anúncio de contrapartida. Daí veio o IPCA. Não dá para o BC fazer muita coisa, embora seja ainda cedo para dizer se o ciclo de cortes da Selic está em xeque", afirmou.

Com a deterioração do sentimento fiscal puxando zeragem de posições, a precificação de Selic na curva a termo ficou bastante distorcida, com o mercado até colocando alguma chance de retomada de alta este ano. Para 2023, no fim da tarde, a precificação de queda, que já chegou a ser de 300 pontos-base, caía fortemente e a curva projetava taxa entre 13,00% e 13,25%, ante o nível atual de 13,75%.

O IPCA de outubro, de 0,59%, superou a mediana (0,49%) e o teto das projeções (0,54%) e contribuiu para adicionar cautela, com várias casas já revendo para cima suas estimativas para o fechamento do ano, para mais perto de 6% do que de 5%. Foi o caso do BofA, que revisou de 5,3% para 5,8%, mantendo em 4,8% para 2023.

Dado o nível de estresse da curva, o Tesouro reduziu hoje os lotes de prefixados e ainda assim não vendeu todo o volume de LTN (300 mil das 450 mil ofertadas), rejeitando todas as propostas para o vencimento 1/10/2023. A oferta, também pequena, de NTN-F (100 mil), foi absorvida na íntegra. (Denise Abarca - [email protected])

08:24

 Operação   Último 

CDB Prefixado 31 dias (%a.a) 13.66

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 13.65

Over Selic (%a.a) 13.65

MERCADOS INTERNACIONAIS

Após tirar o foco das eleições de meio mandato dos Estados Unidos, dados do índice de preços ao consumidor (CPI) e comentários de dirigentes do Federal Reserve (Fed), que juntos deram forte suporte à expectativa de que o BC americano deve arrefecer o ritmo de seu aperto monetário, foram os responsáveis por um rali robusto em Wall Street, assim como pelo alto enfraquecimento dos rendimentos dos Treasuries e do dólar, nesta quinta-feira. As commodities, por sua vez, surfaram na desvalorização da divisa americana, incluindo o petróleo. Entretanto, o óleo teve os ganhos contidos pelas preocupações com a demanda chinesa, em meio ao avanço da covid-19 no país asiático.

O CPI americano subiu 0,4%, na comparação mensal, e 7,7% anualmente, em outubro, quando a mediana dos analistas consultados pelo <b>Projeções Broadcast</b> apontava para alta maior, de 0,6% e 7,9% respectivamente. Já o núcleo do CPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, teve alta mensal de 0,3% em outubro, ante expectativa de avanço de 0,5%.

O presidente dos EUA, Joe Biden, celebrou os resultados ao afirmar que eles "mostram que estamos progredindo na redução da inflação, sem abrir mão de todo o progresso que fizemos no crescimento econômico e na criação de empregos". Para a Capital Economics, os dados marcam o início de uma tendência desinflacionária que convencerá o Fed a interromper seu ciclo de aperto no início do próximo ano, com a taxa básica de juros atingindo um pico de 4,50% - 4,75%.

A Oxford Economics, por sua vez, afirma que a desaceleração mais forte que o esperado é "um pouco ilusória", já que o resultado foi influenciado por mudanças na metodologia para coletar os preços de seguros de saúde, que enfraqueceram mais a leitura do mês passado. Dessa forma, a consultoria espera juro terminal de 4,75%, com a última alta em fevereiro, de 25 pontos-base. O Citi também pondera que a leitura mais branda não afeta significativamente a alta da inflação, principalmente no setor de serviços, e diz continuar esperando que as taxas atinjam 5,25-5,5% no próximo ano.

Entre os dirigentes do Fed, o tom de hoje tendeu mais para o lado dovish. Presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, disse que, nos próximos meses, diante do aperto cumulativo alcançado, o BC americano deve reduzir o ritmo das altas de juros. "Sou a favor de uma possível pausa quando os juros atingirem cerca de 4,5%", destacou. Já a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que é apropriado considerar o arrefecimento da trajetória de alta das taxas de juros.

Neste cenário, no fechamento, o Dow Jones subiu 3,70%, aos 33.715,37 pontos, o S&P 500 ganhou 5,54%, aos 3.956,37 pontos, e o Nasdaq teve alta de 7,35%, aos 11.114,15 pontos - maiores altas porcentuais desde 2020. Papéis da Meta (+10,25%) e Amazon (+12,18%) avançaram. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,315%, o da T-note de 10 anos perdia a 3,822% e o do T-bond de 30 anos tinha queda a 4,056%. O índice DXY perdeu 2,12%, a 108,206 pontos - na maior queda porcentual desde 2009, segundo a Dow Jones Newswires. Já o dólar caía 141,25 ienes, o euro subia a US$ 1,0192 e a libra tinha alta a US$ 1,1709. Para a Convera, a perspectiva é negativa para o dólar, já que o ritmo dos aumentos das taxas pode desacelerar e o nível máximo pode não precisar ser tão alto quanto o esperado.

A queda da moeda americana deu fôlego às commodities, como o petróleo. No entanto, indicadores chineses contiveram os ganhos do óleo. O Banco do Povo da China (PBoC) divulgou hoje que empréstimos de bancos do país recuaram acentuadamente em outubro, à medida que a demanda enfraquece em toda a economia por conta do aumento de casos de covid-19 e restrições mais apertadas. O petróleo WTI para dezembro fechou em alta de 0,74% (US$ 0,64), a US$ 86,47 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), enquanto o Brent para janeiro de 2023 subiu 1,10% (US$ 1,02), a US$ 93,67 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

Na América Latina, o Banco Central do México (Banxico) decidiu hoje elevar a taxa básica de juros em 75 pontos-base, a 10%. A instituição disse que a inflação global continua elevada e que os riscos ascendentes persistem. [Letícia Simionato - [email protected]

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