Declarações "hawkish" do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, se somaram à percepção de que o Federal Reserve terá de ser mais duro na condução do seu aperto, o que impulsionou os juros domésticos e pesou sobre o Ibovespa. Lá fora, retornos dos Treasuries e dólar foram para cima também, penalizando a performance dos índices acionários em Nova York. Ontem à noite, Campos Neto afastou a possibilidade de queda da Selic "neste momento" e disse ainda que um possível ajuste final em setembro estará em avaliação. Hoje, Serra repetiu que é necessário "guarda alta" nos próximos trimestres e mencionou incômodo com desancoragem das projeções de 2024. Com espaço para recomposições dadas as baixas recentes, a curva passou a mostrar chance menor de manutenção da Selic em 13,75% agora em setembro, ainda que majoritária (de 80% ontem para 60% hoje). Para o ano que vem, a precificação de corte agora é de pouco menos do que 300 pontos-base, ante 330 pb ontem. Nos Estados Unidos, dados acima do previsto no segmento de serviços guiaram a escalada das apostas sobre a decisão do Fed deste mês. A chance de uma elevação de 75 pb saiu da faixa de 57% na sexta-feira para 74% nesta volta de feriado por lá. E o retorno da T-note de 2 anos superou a marca de 3,5%. Nas bolsas, a visão de juro mais alto por mais tempo penalizou os índices. Aqui, perdas fortes foram registradas nos subíndices imobiliário, financeiro e nos papéis ligados a commodities. Lá, tecnologia foi o mais afetado. O Ibovespa teve queda de 2,17%, aos 109.763,77 pontos, a baixa porcentual mais intensa desde 17 de junho. Em Nova York, Nasdaq cedeu 0,74%, S&P 500 perdeu 0,41% e Dow Jones caiu 0,55%. No câmbio, o dólar subiu forte ante o real tanto por causa da alta externa como devido a alguma cautela com o acirramento da tensão política por causa das manifestações programadas por apoiadores do governo no Sete de Setembro. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 5,2381, valorização de 1,63%.
•JUROS
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•BOLSA
•CÂMBIO
JUROS
Os juros sustentaram o ajuste de alta até o fechamento dos negócios, ainda apoiados em declarações "hawkish" dos dirigentes do Banco Central (BC) entre ontem e hoje e na influência negativa do ambiente externo na volta de Wall Street do feriado. As taxas que mais subiram foram as curtas e intermediárias refletindo a redução de apostas mais otimistas sobre a Selic, após alertas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, enquanto a ponta longa respondeu basicamente ao exterior. A crise de energia na Europa reforça preocupações com a inflação às vésperas da reunião do Banco Central Europeu (BCE), na quinta, e a expectativa de um aperto monetário mais firme no juro pelo Federal Reserve em setembro voltou a ganhar força, puxando para cima o rendimento dos Treasuries.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023, com mais de 1 milhão de contratos negociados hoje, fechou em 13,74%, de 13,71% ontem. O DI para janeiro de 2024, também com giro acima do padrão, voltou a rodar acima dos 13%, fechando em 13,10%, de 12,82% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 encerrou em 11,93%, de 11,69%, e a do DI para janeiro de 2027 avançou a 11,62%, de 11,44%.
As taxas vinham caindo seguidamente desde a última quarta-feira (30), o que naturalmente já deixava espaço para correção. O movimento de alívio nos prêmios parece ter trazido algum desconforto ao Banco Central, que aproveitou as oportunidades ontem e hoje para um ajuste na rota.
Em evento Valor 1000, do jornal Valor Econômico, Campos Neto alertou ontem que o Brasil terá três meses consecutivos de deflação, mas a batalha não está ganha. Segundo ele, o BC não pensa em queda de juros neste momento, mas sim em finalizar o trabalho de convergência da inflação para as metas. Disse ainda que a decisão do Copom deste mês está em aberto e que o colegiado vai avaliar "um possível ajuste final" na Selic.
Bruno Serra, em evento virtual organizado pela Bradesco Asset Management, fez coro, dizendo que haverá uma discussão no próximo Copom sobre um ajuste residual na Selic. "A inflação está em quase dois dígitos ainda. A nossa meta é de 3,25% em 2023 e 3,00% em 2024, é um desafio bem grande pela frente”, disse.
Como resultado, a curva passou a projetar hoje 40% de chance de uma elevação de 0,25 ponto porcentual na taxa básica, para 14,00%, no encontro do dia 21, ante 60% de probabilidade de manutenção nos atuais 13,75%, segundo a Greenbay Investimentos. "Pela manhã, a chance de alta de 0,25 ponto chegou a 60%", afirmou o economista-chefe, Flávio Serrano. Para 2023, ele explica que o orçamento total de cortes na curva caiu de 330 pontos ontem para 290 pontos hoje. O mercado também rearranjou o timing e as doses nas reuniões do próximo ano. "Pode ser antes e menos, pode ser depois e um pouco mais", comentou.
Para o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, a fala dos dirigentes deixou no ar um certo incômodo com a "cravada" do mercado de que o ciclo de alta havia terminado, já que muita coisa mudou desde o último Copom. "Não é pouca coisa a alteração nas apostas para o BCE e Fomc, por exemplo, que naquela ocasião eram de alta de 0,5 ponto para as reuniões de setembro", destacou. Apesar do ajuste nas apostas e do efeito sobre a curva, o estrategista viu as declarações como uma tentativa de frear a empolgação, mas "não colocam em dúvida de que o ciclo está perto do fim".
Caramaschi destaca ainda que, mesmo hoje sucumbindo ao exterior, os ativos domésticos têm suportado bem o tranco. "O Brasil não é um mercado que está na linha de frente se as coisas piorarem na Europa. Estamos longe geograficamente e podemos nos beneficiar dos ganhos das commodities", afirmou. Além disso, o processo eleitoral está mais tranquilo do que se imaginava. "Ninguém está entusiasmado com nenhum dos dois que estão à frente, mas também não há medo", avaliou.
No exterior, os juros dos Treasuries subiram após surpresa com a alta do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços americano mantido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), ante expectativa de baixa. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos avançava a 3,505% e o da T-note de 10 anos a 3,339%. Segundo o CME Group, as chances de alta de 75 pontos-base pelo BC americano neste mês subiram a 74%, contra 26% de chance de 50 pontos. Na sexta-feira, eram, respectivamente, 57,0% a 43,0%.
No leilão do Tesouro, a instituição vendeu 1.145,150 de NTN-B, ou quase toda a oferta de 1,150 milhão, com DV01 (risco para o mercado) de US$ 503 mil, segundo a Necton Investimentos. Foram colocados integralmente os lotes para 2025 e 2032, de 500 mil títulos cada, e 145.150, dos 150 mil, papéis para 2045. (Denise Abarca - [email protected])
17:29
Operação Último
CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 13.70
Capital de Giro (%a.a) 6.76
Hot Money (%a.m) 0.63
CDI Over (%a.a) 13.65
Over Selic (%a.a) 13.65
MERCADOS INTERNACIONAIS
Na primeira sessão da semana, um dia após o feriado nos Estados Unidos, as bolsas de Nova York fecharam em queda. Sem sinalizações do Federal Reserve (Fed) hoje, foram os resultados de índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços dos EUA que guiaram os mercados. A leitura acima do esperado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) reforçou as perspectivas de um Fed agressivo na decisão monetária deste mês e a aposta para alta de 75 pontos-base (pb) subiu a 74%, conforme monitoramento do CME Group. Assim, os juros dos Treasuries avançaram e o dólar se fortaleceu ante rivais, o que pressionou os contratos do petróleo, que fecharam no vermelho. Na Europa, a posse da premiê britânica, Liz Truss, ficou em destaque, em paralelo às renovadas preocupações com a crise energética no continente.
O PMI de serviços dos EUA caiu a 43,7 em agosto, na análise do S&P Global, e provocou reação marginal dos mercados. Já pela metodologia do ISM, o indicador avançou a 56,9 no mesmo mês, acima da previsão de 55,5, o que levou à imediata queda dos índices acionários. Em relatório, o Citi afirma que a discrepância entre os resultados é incerta, mas que o resultado forte do ISM mostra o setor de serviços resiliente, apesar das pressões pelos preços altos e dificuldades contínuas em contração. "Isso deve manter o Fed em Fed buscando uma postura ainda 'hawkish' com um aumento de 75pb em setembro, já que a pressão inflacionária nos serviços parece mais indicativa de mercados de trabalho apertados com menos alimentação de choques de commodities", afirma o banco.
A análise do Citi parece ter sido também o entendimento do mercado, mostra o monitoramento do CME Group. No fim da tarde, a ferramenta apresentava 74% de probabilidade para elevação de 75pb e 26% para 50pb, para a reunião do próximo dia 22. Na sexta-feira, quando foi publicado o payroll de agosto, tais parcelas eram de 57% e 43%, respectivamente. Para a reunião de dezembro, por sua vez, entre sexta-feira e hoje, a chance de juros entre 3,75% e 4% subiu de 44,9% a 69,6%, seguida pela faixa de 3,5% a 3,75% que caiu de 45,5% a 26,1% no período.
Em Nova York, no fim da tarde, o juro da T-note de 2 anos avançava a 3,505%, o da T-note de 10 anos subia a 3,339% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 3,487%. Já nas bolsas, o Dow Jones caiu 0,55%, a 31.145,30 pontos, o Nasdaq cedeu 0,74%, a 11.544,91 pontos, e o S&P 500 teve baixa de 0,41%, a 3.908,23 pontos. Neste, os setores de comunicação, tecnologia e energia tiveram os piores desempenhos. O Morgan Stanley publicou hoje estimativa de que o S&P 500 pode chegar a 3.400 pontos, no que seria o patamar mais baixo no quarto trimestre deste ano. Em caso de recessão nos EUA, 3.000 pontos passam a ser uma possibilidade, diz o banco.
No que se refere ao câmbio, o DXY fechou com alta de 0,35, a 110,214 pontos, no maior nível desde maio de 2002, de acordo com dados disponibilizados pelo TradingView. Na marcação, o dólar subia a 142,80 ienes, o euro caía a US$ 0,9906 e a libra tinha leve alta a US$ 1,1521.
Sobre as principais moedas europeias pesavam as avaliações quanto à situação energética, na esteira da pausa de entrega de gás pela Gazprom através do Nord Stream 1. A Rystad Energy prevê que o ápice de escassez do combustível na Europa se dê no primeiro trimestre de 2023, quando os níveis de armazenamento zerarem. Já a Fitch Ratings destaca que a interrupção total de entrega de gás pelo Nord Stream 1 aumenta a chance de recessão na zona do euro e prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) da região de moeda comum no ano que vem seria reduzido em 1,5 ponto porcentual (pp) e 2pp, em caso de corte total por Moscou. Em entrevista à FAZ, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse que seu país está "preparado e provavelmente será capaz de passar por este inverno". De acordo com fontes ao Financial Times, a União Europeia pressiona países-membros a criar impostos nacionais sobre ganhos inflacionados de empresas de energia, com o intuito de controlar os preços "astronômicos" de contas de eletricidade.
No Reino Unido, a nova premiê Liz Truss deve impor um teto aos preços de eletricidade e gás nas residências, de acordo com documentos vistos pela Bloomberg. Em seu primeiro discurso no cargo, a primeira-ministra não anunciou nenhuma medida, mas garantiu que lidar com os altos custos de energia está entre suas prioridades, assim como corte de taxas para crescimento da economia e impulso ao serviço nacional de saúde, o NHS.
Com a nova líder, o Reino Unido informou novos nomes para suas pastas. Kwasi Kwarteng assumirá Finanças, James Cleverly liderará a secretaria de Relações Exteriores e Thérèse Coffey atuará na Saúde e como vice-primeira-ministra.
Mudanças no gabinete também se deram no Chile, após derrota da proposta de nova Constituição. O presidente Gabriel Boric busca um gabinete mais ao centro, para negociar os próximos passo na política local.
Pressionado pelo dólar e digerindo a decisão de ontem da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de cortar a produção de petróleo em 100 mil barris por dia (bpd), o petróleo caiu. Na Nymex, o barril do WTI para outubro caiu 0,01%, ou US$ 0,01, a US$ 86,88. Na ICE, o Brent para novembro fechou com queda de 3,04%, ou US$ 2,91, a US$ 92,83. (Ilana Cardial - [email protected])
BOLSA
No que foi sua maior queda em porcentual desde 17 de junho (-2,90%), quando perdeu o nível de 100 mil pontos em fechamento pela primeira vez desde 27 de outubro de 2020, o Ibovespa caiu hoje 2,17%, aos 109.763,77 pontos, tendo chegado na mínima da sessão (109.348,31 pontos) a ficar negativo no mês, após ter encerrado agosto aos 109.522,88 pontos. Em setembro, ainda registra leve avanço de 0,22% após a correção de hoje, que limita o ganho do ano a 4,71%. O giro da sessão foi a R$ 31,2 bilhões.
Até esta terça-feira, o índice da B3 resistia aos fatores de risco externo - como a crise de energia na Europa, a desaceleração chinesa e o processo de elevação de juros nos EUA - que tem abalado o apetite por risco nas praças globais. Mas o discurso de ontem à noite do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em sinal reiterado hoje pelo diretor de Política Monetária, Bruno Serra, lançou os ativos brasileiros a uma forte correção, com pressão sobre a curva de juros, o câmbio e as ações listadas na B3.
"A fala do presidente do Banco Central, sobre a inflação persistente e perspectiva de uma Selic alta por mais tempo, elevou a percepção de risco e ocasionou movimento de realização em praticamente todas as ações que compõem o Ibovespa", diz Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, destacando também o "estresse" na curva de juros e a apreciação do dólar frente ao real, com aumento da "aversão a risco no curto prazo".
"Lá fora há também continuidade no processo de elevação de juros, para conter a inflação. Aqui, ontem à noite, o discurso de Campos Neto, de que algum ajuste na Selic ainda seja necessário, jogou um pouco de água fria na expectativa do mercado de que os juros parariam no patamar em que já estão", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Moliterno destaca em especial a correção de hoje no setor de varejo, devolvendo recuperação recente, revertida agora pela percepção de que os juros ainda não chegaram ao teto no Brasil. O índice de consumo (ICON) fechou em baixa de 2,07%, queda superior à vista em materiais básicos (IMAT -1,44%), em dia também negativo para as commodities. O setor de construção, exposto a custos de crédito, também sofreu na sessão desta terça-feira.
Assim, com reprecificação na curva de juros e correção aguda também no câmbio - com dólar perto de R$ 5,24 (+1,63%) no fechamento desta terça-feira -, as perdas se disseminaram pela B3, embora algumas ações da carteira Ibovespa tenham conseguido escapar à correção, entre as quais TIM (+2,19%), São Martinho (+1,97%) e Telefônica Brasil (+0,77%). Na ponta oposta do índice, MRV (-8,51%), Via (-7,67%) e Magazine Luiza (-7,41%). Entre as blue chips, destaque para Petrobras (ON -3,52%, PN -3,69%), em dia de perdas para o petróleo, e também para Vale (ON -2,38%), com BB ON (-4,80%) puxando a fila, negativa, no financeiro, setor de maior peso no índice.
Em evento em São Paulo na noite de segunda-feira, Campos Neto foi cauteloso quanto a juros e inflação no País, esfriando a recente euforia do mercado com relação aos ativos brasileiros, nesta véspera de feriado da Independência - amanhã haverá negócios lá fora, mas não aqui. "Bruno Serra também falou hoje sobre ajuste residual na Selic em setembro, trazendo sinalização de que os dados macro não estão ainda tão bons, o que resultou em aversão a risco aqui", diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
"Campos Neto surpreendeu um pouco com discurso mais duro, mais 'hawk', com a indicação de que a Selic pode subir a 14% na reunião do dia 21, e o mercado leu como uma dica de que a taxa de juros pode ir a 14% (ao ano) e parar. Precificava-se majoritariamente que pararia a 13,75%, o que resultou em alteração das apostas (para a reunião de setembro) na medida em que daqui a pouco eles (diretores do BC) entram em período de silêncio", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Mais do que a indicação de que a porta permanece aberta para novo aumento da Selic em setembro - mês sobre o qual o mercado já havia sido instruído pelo Copom quanto à possibilidade de um aumento "residual" -, o que bateu mais forte foi a sinalização de que o BC não cogita corte de juros antecipado, em razão de inúmeros fatores de incerteza não só externos como também domésticos, entre os quais o financiamento de programas sociais no próximo ano - o que, na visão emitida ontem por Campos Neto, será um desafio significativo.
Na avaliação do economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que mantém a projeção de Selic terminal em 13,75%, as falas recentes de dirigentes do Banco Central parecem direcionadas a retirar da curva de juros a precificação de cortes adiantados da taxa de juros de referência. "Acho que eles quiseram tirar ou diminuir essas precificações de corte tão cedo, até porque a inflação projetada ainda está acima da meta", avalia Weeks. "Eu não acho que tenha mudado o cenário para o fim do ciclo."
Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal, as declarações de ontem para hoje são um "recado" de que o mercado está muito otimista, na visão do BC, quanto ao início do ciclo de cortes em 2023. "Para o BC, não interessa ter o mercado muito otimista com o início do ciclo de corte de juros quando você está em um processo de elevação das taxas", observa o economista. (Luís Eduardo Leal - [email protected], com Cícero Cotrim)
17:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 109763.77 -2.17425
Máxima 112202.77 -0.00
Mínima 109348.31 -2.54
Volume (R$ Bilhões) 3.12B
Volume (US$ Bilhões) 5.97B
17:30
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 110805 -2.42603
Máxima 113525 -0.03
Mínima 110590 -2.62
CÂMBIO
O mercado de câmbio doméstico foi engolfado nesta terça-feira (6) pela onda global de fortalecimento da moeda americana e de escalada das taxas dos Treasuries, após dados do setor de serviços nos EUA aumentarem as apostas em manutenção de uma postura dura pelo Federal Reserve, com as chances de nova alta da taxa básica americana em 75 pontos-base voltando a superar 70%.
Em alta desde a abertura dos negócios, após duas sessões seguidas de queda, o dólar superou a barreira de R$ 5,20 ainda pela manhã e, com uma arrancada ao longo da tarde, chegou a tocar R$ 5,25 ao registrar máxima a R$ 5,2508 (+1,88%). No fim do dia, era cotado a R$ 5,2381, valorização de 1,63%. Assim, a divisa passou a acumular alta de 0,70% nos quatro primeiros pregões de setembro. A volta da perspectiva de uma alta adicional da taxa Selic neste mês, na esteira de acenos de autoridades do Banco Central, não foi capaz de dar a sustentação à moeda brasileira.
Embora todas as divisas emergentes tenham apanhado hoje, o real, que vinha tendo um desempenho relativo superior a de seus pares, foi quem mais sofreu - movimento atribuído por analistas a questões técnicas, como a maior liquidez da divisa brasileira, e a certa cautela na véspera do feriado do Dia da Independência, dado os temores de acirramento das tensões políticas com eventuais ataques do presidente Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - superou a marca dos 110 pontos e atingiu máxima na casa dos 110,500 pontos, em razão de novo tombo do euro e, sobretudo, de forte depreciação do iene, que caiu ao menor nível na comparação com a moeda americana em 24 anos. Nem a perspectiva de alta de 75 pontos-base do juro básico da região pelo Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira (08) anima o euro, dado que pode aprofundar a perda de fôlego da economia europeia.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, atribui à depreciação do real hoje ao movimento de valorização do dólar no exterior diante do aumento das expectativas de nova alta dos juros americanos em 75 pontos-base após a divulgação do ISM de Serviços. "Em falas mais recentes, membros do Fed disseram que vão precisar subir mais os juros e mantê-los em nível elevado por mais tempo para desinflacionar a economia", diz Lima. "As taxas dos Treasuries acabaram subindo bastante hoje e afetando todas as moedas. Não vejo fator doméstico para a alta do dólar. É um movimento global de reprecificação dos ativos."
O índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços nos Estados Unidos divulgado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) subiu de 56,7 em julho para 56,9 em agosto, na contramão da previsão dos analistas, de queda para 55,5. Investidores deixaram em segundo plano a leitura fraca de outro PMI de Serviços dos EUA, divulgado pela S&P Global. Houve recuo de 47,3 em julho para 43,7 em agosto, abaixo da estimativa prévia (44,1) e no menor nível desde maio de 2020.
"A leitura do PMI reforçou a expectativa de um Fed mais agressivo. Estamos vendo um movimento de aversão ao risco que atinge todas as moedas emergentes", diz a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressaltando que o real sofre mais por ser mais líquido. "É óbvio que a incerteza do período eleitoral ajuda a aumentar a percepção de risco e tem impacto no câmbio."
A possibilidade de uma eventual alta adicional da taxa Selic, na esteira de declarações de autoridades do Banco Central, não chegou a ter papel relevante na formação da taxa de câmbio, segundo analistas. Ontem à noite, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a "mensagem que continua valendo é a do último Copom, que a gente disse que avaliaria um possível ajuste final". Ecoando a fala de Campos Neto, o diretor de Política Monetária, Bruno Serra, disse hoje que é preciso "ter muita cautela no eventual encerramento" do ciclo de aperto. "Ainda temos um desafio grande pela frente, a inflação está em quase dois dígitos", afirmou Serra.
A leitura dos analistas foi de que, mais do que acenar com alta adicional da taxa Selic, Campos Neto e Serra tentaram esfriar as apostas mais contundentes de corte relevante da taxa básica ao longo de 2023. Em tese, juros maiores e por mais tempo levariam a uma apreciação do real, ao contrário do observado na sessão desta terça-feira.
Segundo Lima, da Western Asset, em momentos de aversão ao risco e aumento da volatilidade, o diferencial de juros interno e externo, embora seja levando em conta, não tem papel preponderante na formação da taxa de câmbio. "Não é porque o BC parou de subir que haverá um corte iminente dos juros. É isso que Campos Neto e Serra passaram para o mercado", diz Lima, para quem uma eventual alta adicional da Selic em 0,25 ponto neste mês, para 14% ao ano, encerrará de vez o ciclo de aperto monetário. (Antonio Perez - [email protected])
17:30
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