A sessão foi de queda acentuada na maior parte dos vencimentos da curva de juros, diante do entendimento de que o Copom deve encerrar o ciclo de aperto monetário, com possibilidade reduzida, na leitura dos agentes, de uma alta de 0,25 ponto porcentual em setembro. Além disso, o mercado antecipou para o primeiro semestre de 2023 as apostas de corte da taxa básica, o que derrubou especialmente os vértices intermediários. A desvalorização das commodities e do dólar se somaram para ajudar na trajetória de baixa. Ainda, o mercado respondeu pontualmente à redução do preço do diesel, embora o impacto na inflação seja praticamente nulo. Na Bolsa, a percepção de que o fim do ciclo de alta da Selic melhora a perspectiva para o custo do crédito e torna a renda variável mais atrativa fez disparar as ordens de compra nas ações do Ibovespa, que teve um dia de ganhos firmes, voltando a operar acima do nível dos 106 mil pontos na máxima, para encerrar aos 105.892,22, em alta de 2,04% - maior pontuação desde 9 de junho (107.093,71 pontos). Petróleo e minério de ferro cederam por volta de 3% em ambos os casos, mas, mesmo assim, Petrobras e siderúrgicas deram sustentação à B3. O bom humor também impulsionou o real que, pari passu com emergentes, valorizou-se frente ao dólar. No segmento à vista, a divisa americana encerrou em queda de 1,09%, cotada a R$ 5,2204, mas ainda com certa distância do vale visto em 1º de agosto (R$ 5,1786). Lá fora, a cautela deu o tom aos negócios, com os índices em Nova York sem força para ir adiante, uma vez que os olhares se voltam para a divulgação, amanhã, dos dados do payroll de julho, que ajudam a embasar as decisões do Federal Reserve (Fed). Hoje, as apostas para uma alta de 50 pontos-base pelo banco central americano voltaram a ser majoritárias, mesmo com a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, que tem direito a voto, defendendo taxas "um pouco acima de 4%". A tensão geopolítica entre Pequim e Washington, com os exercícios militares da China nos arredores de Taiwan, segue no radar.
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JUROS
Os juros futuros tombaram nesta quinta-feira pós Copom, dada a leitura do comunicado indicando que se o processo de aperto da Selic já não chegou ao fim, está bem perto, e as apostas numa antecipação do ciclo de cortes. As taxas caíram desde a abertura, mas passaram a renovar mínimas no começo da tarde, com o impacto do Copom turbinado pela queda expressiva do dólar e das commodities, além do reajuste para baixo nos preços do diesel anunciado pela Petrobras - embora, na prática, com efeito quase nulo na inflação. A disposição para o risco contribuiu para que o leilão de prefixados do Tesouro tivesse demanda quase integral, com taxas abaixo do consenso na LTN e na NTN-F mais longas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 terminou em 13,01%, de 13,275% ontem, com mais de 1 milhão de contratos, ante média diária de 485 mil nos últimos 30 dias. A do DI para janeiro de 2025 teve alívio ainda maior, de 40 pontos-base, passando de 12,509% para 12,10% e o dobro de volume ante a média dos últimos 30 dias. A taxa do DI para janeiro de 2026, que fechou em 12,005%, de 12,399% ontem, chegou a furar 12% na mínima da sessão (11,99%). Nos curtos, o DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 13,745%, de 13,796% ontem, e nos longos a taxa do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,115% (12,479% ontem).
"O Copom veio mais 'dovish' e impactou a curva como um todo", afirmou a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, para quem o fato de o Banco Central estar olhando com maior atenção o horizonte até o primeiro trimestre de 2024 sinaliza que o ciclo de alta da Selic pode ter terminado. O Copom se utilizou desse recurso como forma de suavizar o forte impacto inflacionário que a reversão das desonerações tributárias terão no primeiro trimestre do ano que vem. "Mas o Copom não quis fechar totalmente a porta para uma nova alta. Esse discurso de que talvez possa dar 25 pontos em setembro é uma forma de ancorar as expectativas", disse. De acordo com Veronese, na curva a termo a projeção de Selic para o fim deste ano, que ontem era de 14%, estava mais perto de 13,75%, a 13,82% mais precisamente no meio da tarde.
O trecho intermediário, que capta a expectativa dos agentes para a Selic no médio prazo, foi o alvo central dos vendedores, tanto em termos de magnitude da queda quanto em volume negociado, uma vez que o mercado passou a antecipar o timing para o ciclo de distensão monetária.
Segundo o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, hoje a curva já apontava leve queda da Selic no primeiro trimestre de 2023, de cerca de 10 pontos-base, e no segundo a precificação de corte aumentava para 40 pontos, na terceira reunião do ano. "Ontem, tinha um pouco de precificação de queda no segundo trimestre, mas se intensificava mesmo no segundo semestre", explicou. Para o fim de 2023, a curva projetava taxa básica entre 10,75% e 11%.
O sócio da Ibiúna Investimentos e ex-diretor do BC, Rodrigo Azevedo, avalia que a inflação "já começou a virar" e saiu das posições tomadas em juros. No entanto, a opção por posições aplicadas ainda não foi efetivada. "No Brasil, ainda estamos namorando posições aplicadas", contou o executivo, durante participação em painel da Expert XP.
Além do Copom, outros fatores, ainda que secundários, conspiraram a favor do alívio nos prêmios da curva, com destaque para a valorização do real e o recuo de commodities. O petróleo fechou em baixa de mais de 2%, com o tipo Brent aquém de US$ 95 o barril, e o minério de ferro tombou 4,5%. O pano de fundo segue sendo os riscos de recessão global, hoje reforçado pelo alerta do Banco da Inglaterra. No comunicado da decisão de política monetária desta quinta, os dirigentes projetam que a economia britânica entrará em recessão a partir do último trimestre de 2022 e deverá se estender por cinco trimestres.
No começo da tarde, o anúncio da Petrobras de recuo de R$ 0,20 no litro do diesel, a partir de amanhã, levou as taxas a acelerarem a queda, numa reação mais psicológica, dada a grande disposição do mercado em vender DI, do que racional. Analistas calculam impacto de queda no IPCA entre 0,01 e 0,02 ponto porcentual.
Na gestão da dívida, diante do apetite dos investidores, o Tesouro elevou um pouco o risco do leilão de prefixados e conseguiu boa demanda nos papéis longos, vendendo todo o lote de 300 mil NTN-F, após várias semanas sem conseguir colocar tudo. Nas LTN, da oferta total de 10 milhões, 9 milhões foram colocadas no vencimento mais longo do papel, 1/1/2026; as 500 mil para 1/10/2023 foram vendidas integralmente; e 304.200 LTN para 1/10/2024, do lote de 500 mil. Tanto a taxa da LTN 2026 quanto a da NTN-F 2033 ficaram abaixo do consenso de mercado, segundo a Necton Investimentos. (Denise Abarca - [email protected])
17:40
Operação Último
CDB Prefixado 6 dias (%a.a) 13.66
Capital de Giro (%a.a) 6.76
Hot Money (%a.m) 0.63
CDI Over (%a.a) 13.65
Over Selic (%a.a) 13.65
BOLSA
Em dia sem sinal único em Nova York, o Ibovespa voltou a mostrar rumo próprio, em alta de 2,04%, aos 105.892,22 pontos, o melhor nível de fechamento desde 9 de junho (107.093,71). A recuperação neste começo de agosto se faz acompanhar por entrada de recursos estrangeiros na B3: nos dois primeiros dias do mês, tal saldo ficou positivo em R$ 437,7 milhões, com aporte de quase R$ 528 milhões considerando apenas a sessão de terça-feira (2), quando sinais 'hawkish' de autoridades de Federal Reserve e a cautela em torno de Taiwan descolaram a B3 do dia negativo no exterior, beneficiada por algum avanço nas commodities. No ano, o saldo de capital externo está agora perto de R$ 54,2 bilhões.
Hoje, os ganhos se disseminaram pelas ações e setores de maior liquidez e peso no Ibovespa, com o apetite por renda variável sendo favorecido pela indicação do Copom, ontem à noite, de que o ciclo de elevação de juros no Brasil está virtualmente concluído - ou muito próximo a isso, com a possibilidade de um aumento residual na próxima reunião, em setembro. Assim, a expectativa majoritária é de Selic a 13,75%, o nível a que foi elevada ontem, ou talvez 'arredondada' a 14% ao ano quando o comitê monetário voltar a se reunir, no mês que vem.
No comunicado de ontem, o Copom “deixou de se comprometer com uma decisão para a próxima reunião, dizendo que 'pode' fazer um aumento menor”, observa Igor Barenboim, sócio e economista-chefe da Reach Capital. Ele destaca que o BC inovou ao deslocar o horizonte relevante da meta de inflação para os 12 meses até março de 2024, “de modo a limpar o efeito das mudanças tributárias”. “Essa inovação aumenta a chance de o BC poder concluir o ciclo de aumento de juros” com a decisão da noite de ontem, acrescenta o economista.
Com o entusiasmo pós-Copom, e uma redução de 3,5% anunciada pela Petrobras para os preços do diesel nas refinarias - o que contribui para reforçar o viés desinflacionário -, o giro financeiro voltou a se recuperar nesta quinta-feira na B3, a R$ 34,5 bilhões. Entre a mínima e a máxima do dia, o Ibovespa oscilou dos 103.776,71 pontos, da abertura, aos 106.161,56 pontos, maior nível intradia desde 10 de junho (107.092,37). Na semana e no mês, o índice sobe agora 2,64%, voltando assim a ficar positivo no ano (+1,02%). Foi o terceiro avanço diário consecutivo para a referência da B3 e a maior alta em porcentual desde 7 de julho, quando também havia subido 2,04% naquela sessão.
Os ganhos entre os bancos chegaram hoje a 2,43%, para Bradesco ON e Itaú PN, nesta quinta-feira, em sessão positiva também para Petrobras (ON +1,54%, PN +0,97%), mas não para Vale (ON -0,58%), que se firmou em baixa em direção ao fim da sessão. O índice de materiais básicos fechou o dia com ganho de 1,32%, e o de consumo, a 2,69%.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Méliuz (+15,04%), à frente de Gol (+14,81%), Magazine Luiza (+13,99%), MRV (+12,73%), Via (+12,60%) e Cyrela (+11,42%), com empresas dos setores de varejo, construção e serviços mostrando ganhos de dois dígitos na sessão, em meio à perspectiva de conclusão do ciclo de aperto monetário. No lado oposto, as perdas foram pouco visíveis nesta quinta-feira, limitadas a 2,00% (BRF), 1,73% (PetroRio) e 1,63% (Minerva), na ponta negativa do índice.
Entre ontem e hoje, a BGC Liquidez realizou nova pesquisa sobre a Selic, desta vez com 139 'players' institucionais, no pós-Copom, levantamento que trouxe “certa dicotomia” entre a visão de traders/gestores e a dos economistas. O primeiro grupo ficou dividido entre percepção neutra (39%) e “mais dovish do que o esperado” (33%) quanto ao comunicado, considerado “mais dovish do que o esperado” por 57% do grupo de economistas ouvidos - ou seja, bem mais surpreendente para os economistas do que para os traders e gestores.
“Para a Selic terminal deste ano, vemos o mercado concentrando um pouco mais no 'call' de fim de ciclo em 13,75% (48%)”, comparado a 38% na pesquisa pré-Copom, aponta a BGC. “O 'call' de 14,00% ficou estável (38%)” e a "maioria entre traders e gestores (54%) acha que o ciclo se encerrou", enquanto a maior parte entre os economistas "prefere ainda apostar no 'call' de ajuste residual de 25bps [pontos-base]”, acrescenta o levantamento. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:32
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 105892.22 2.04052
Máxima :20 -100.00
Mínima 0 0.00
Volume (R$ Bilhões) 3.45B
Volume (US$ Bilhões) 6.58B
17:40
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 106800 2.24499
Máxima 106845 +2.29
Mínima 104000 -0.44
CÂMBIO
Já em baixa firme pela manhã, o dólar acelerou o ritmo de queda ao longo da tarde, chegando a flertar com fechamento abaixo da linha de R$ 5,20. A perda de fôlego da moeda dos EUA por aqui se deu em sintonia com o tombo da divisa americana no exterior em relação a moedas fortes, sobretudo o euro, e de países emergentes. Operadores também relataram fluxo externo para ativos domésticos, em meio à alta de mais de 2% do Ibovespa e o bem sucedido leilão de NTN-Fs, papéis públicos prefixados preferidos pelos estrangeiros.
A leitura de que o Copom, após elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,75%, acenou com o fim do ciclo de aperto monetário dá vazão a apostas em redução dos juros em 2023 - o que aumenta o apetite ações ligadas ao consumo e posições prefixadas. Em seu comunicado, o BC afirmou que "avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião".
Afora uma alta pontual nos primeiros minutos de negócios, quando registrou a máxima do dia (R$ 5,2958), a divisa operou em queda ao longo de toda sessão. À tarde, rompeu o piso de R$ 5,20, ao descer até a mínima de R$ 5,1996. No fim do dia, com uma redução das perdas, o dólar era cotado a R$ 5,2204, em queda de 1,09%. Com isso, os ganhos na semana e no mês se reduziram a 0,89%.
"Parece que está havendo um rearranjo das carteiras em direção ao risco. O catalisador desse movimento é a sinalização do BC de que o aperto monetário está no fim", afirma o economista Homero Guizzo, da Terra Investimentos. "O apetite maior parece ser pela renda variável, porque há muitas ações com preços bem descontados".
Na renda fixa, as taxas dos principais contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram, ajustando-se à sinalização do Copom. Pela manhã, em leilão, o Tesouro Nacional vendeu o lote integral de NTN-Fs. Foram 150 mil títulos com vencimento em janeiro de 2029 e 150 mil para janeiro de 2033, com valor total de R$ 265 milhões.
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, no cenário-base do BC, o aperto monetário terminou ontem. "Apenas uma mudança significativa de cenário faria o Copom avaliar a necessidade de continuar o ciclo de aperto monetário", afirma Oliveira, que, na contramão da corrente majoritária, não vislumbra corte da taxa em 2023. No cenário alternativo do economista, também contrário ao embutido na curva de juros, há possibilidade de uma retomada da alta de juros no início de 2023, dado "o fortalecimento da demanda via estímulos fiscais, a resistência da inflação de serviços e o aumento da inércia inflacionária".
No exterior, o índice DXY - termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - perdeu a linha dos 106,000 pontos, em meio a baixas de mais de 0,7% em relação ao euro e ao iene. O mercado realiza lucros e reduz posições defensivas, na esteira da perspectiva de que o Federal Reserve vai desacelerar o ritmo de alta de juros e do arrefecimento das tensões geopolíticas desencadeadas pela visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan.
A libra também experimentou uma leve valorização. Como esperado, o Banco da Inglaterra (BoE) elevou a taxa básica de juros em 50 pontos-base, para 1,75%, para combater a maior inflação em quatro décadas. A autoridade monetária projeta que a economia britânica entre em recessão a partir do quarto trimestre deste ano.
"O câmbio aqui mostrou um ritmo parecido com o do dólar no exterior, que foi de enfraquecimento com a tensão geopolítica não escalando após o fim da visita de Pelosi", afirma o economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. "Internamente, temos dentro da Bolsa setores como imobiliário e consumo, mais sensíveis à taxa de juros, avançando com a leitura do mercado de que o BC pode ter encerrado a alta de juros. Isso intensifica um pouco mais o movimento da moeda aqui".
O monitoramento do CME Group aponta que a chance de uma alta de 50 pontos-base pelo Fed em 21 de setembro avançava hoje a 64,5%, de 57,0% ontem. A presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, reconheceu que existe o risco de que os EUA amargue uma recessão, mas ponderou que "há um caminho" para o Fed desacelerar a demanda sem provocar retração da atividade. Mester condicionou o ritmo da alta de juros à evolução dos índices de preços.
Amanhã, sai um indicador-chave para avaliar a saúde da economia americana: o relatório de emprego (payroll) em julho. Mediana de Projeções Broadcast é de criação de 250 mil pontos de trabalho, com piso em 75 mil e teto em 300 mil. Se confirmado, esse resultado mostrará uma desaceleração da geração de vagas, já que houve criação de 372 mil postos em junho. O número de pedidos de auxílio desemprego, divulgado pela manhã, subiu a 6 mil na semana encerrada em 30 de julho, para 260 mil, em linha com a expectativa de analistas.
Para Guizzo, da Terra Investimentos, em vez de dar sinais sobre o ritmo e a intensidade do aperto monetário nos EUA, as declarações recentes de autoridades do Fed tem provocado muito ruído. Ele observa que, mesmo com a continuidade da alta de juros nos EUA e o fim do ciclo de aperto no Brasil, o diferencial de juros seguirá em patamar relevante e manterá a atratividade de operações de "carry trade" que podem favorecer o real. (Antonio Perez - [email protected])
17:40
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.22040 -1.0913 0.00000 5.19960
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5254.500 -1.40726 5336.500 5240.000
DOLAR COMERCIAL 5369.772 27/07
MERCADOS INTERNACIONAIS
Na espera do resultado do payroll de julho, que embasa as decisões do Federal Reserve (Fed), as apostas para uma alta de 50 pontos-base pelo banco central americano voltaram a ser majoritárias. Hoje, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester (vota), defendeu que os juros fiquem "um pouco acima de 4%" nos Estados Unidos. No radar, também estiveram as tensões geopolíticas entre Pequim e Washington, com os exercícios militares da China nos arredores de Taiwan. As bolsas de Nova York fecharam mistas e os juros dos Treasuries ficaram sem sinal único. A libra e o euro subiram ante o dólar, após decisão do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), que alertou para o risco de recessão no Reino Unido. Com preocupações quanto a demanda, o petróleo caiu 2% na sessão.
Em evento, Mester ressaltou o compromisso de controlar a inflação para que esta não prejudique o crescimento econômico. Neste momento, não há tradeoff entre a atividade econômica e a inflação para decidir os juros, afirmou. A dirigente, que tem poder de voto nas decisões este ano, admitiu que há risco de recessão nos EUA, mas que existe um caminho para que o Fed desacelere a inflação sem que iso ocorra. Sem defender posições claras sobre o aumento de juros nas próximas decisões, a repórteres, após o evento, a líder do Fed de Cleveland disse considerar apropriado que os juros básicos subam um pouco além de 4% e que a taxa permaneça em alta até que a inflação retorne à meta de 2%.
No fim da tarde, ferramenta do CME Group mostrava que apostas para elevação de 50 pontos-base pelo Fed em setembro ganharam forças e esta tinha 66,5% de probabilidade de se concretizar - contra 57% ontem. Para 75 pontos-base a chance é de 33,5%, ante 43,0% ontem.
Agora, a atenção se volta para o relatório de empregos mensal dos EUA, o payroll, a ser publicado nesta sexta-feira. De acordo com o Projeções Broadcast, publicado às 11h40, a mediana das previsões é que o país criou 250 mil postos de trabalho no mês passado. No entanto, as apostas vão de 75 mil a 300 mil. Como mostra a reportagem, as próximas leituras sobre o mercado de trabalho americano serão "decisivas" para a condução de política monetária pelo Fed. A avaliação de que este se encontra robusto tem sido amplamente usada por analistas e economistas como argumento para negar a recessão econômica nos EUA, apesar da contração consecutiva do Produto Interno Bruto (PIB) do país nos dois trimestres deste ano.
Outro sinal da recessão americana seria a contínua inversão da curva de juros de títulos. Mesmo assim, as ações seguem ignorando a inversão mais profunda desde o início dos anos 2000, avalia o analista da Oanda Edward Moya. Na marcação, o rendimento da T-note de 2 anos caía a 2,950%, o da T-note de 10 anos recuava a 2,663% e o do T-bond de 30 anos avançava a 2,950%. "O índice S&P 500 se recuperou mais de 13% em relação às baixas de junho, já que muitos em Wall Street antecipam que o Fed interromperá o aperto quantitativo no próximo ano e começará a cortar as taxas de juros. Se os próximos relatórios de inflação e payroll apoiarem o argumento do pivô do Fed, podemos parar de ouvir essas chamadas do mercado de baixa", diz Moya.
Entre indíces acionários, o Dow Jones fechou com queda de 0,26%, a 32.726,99 pontos, o S&P 500 caiu 0,08%, a 4.151,97 pontos, e o Nasdaq teve alta de 0,41%, a 12.720,58 pontos. Após publicação de balanços, a ConocoPhillips caiu 1,58% e a Restaurant Brands International subiu 7,40%.
No câmbio, o índice DXY, que mede o dólar frente seis rivais, recuou 0,76%, a 105,693 pontos. Na marcação, a libra subia a US$ 1,2172, o euro ganhava a US$ 1,0249 e o dólar cedia a 132,82 ienes. Em relatório, o ING destaca que não houve grandes surpresas na decisão do Banco da Inglaterra de elevar os juros em 50 pontos-base pela manhã. "No entanto, a narrativa do BoE de um aperto ainda mais forte, mesmo quando a economia entra em recessão, é complicada para a libra esterlina sensível ao crescimento".
A incerteza no cenário pressionou os ativos do petróleo, que operaram nos níveis mais baixos desde fevereiro, quando houve a invasão russa da Ucrânia. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do petróleo WTI para setembro fechou em queda de 2,34% (US$ 2,12), a US$ 88,54, enquanto o do Brent caiu 2,75% (US$ 2,66), a US$ 94,12 por barril, na Intercontinental Exchange (ICE).
Na geopolítica, o destaque ficou para os exercícios militares da China na região de Taiwan. De acordo com o Ministério de Defesa taiuanês, 22 aeronaves do Exército de Libertação Popular (PLA, na sigla em inglês) chinês sobrevoavam seus arredores. A Casa Branca considerou a reação exagerada como resposta à visita da presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi a Taipei e reafirmou que a comunicação de Washington para com Pequim está aberta. (Ilana Cardial - [email protected])