Um movimento de amenização do fantasma da recessão global iniciado ontem após a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed) ganhou corpo hoje e aumentou o apetite por risco nos mercados globais. Por aqui, resultou no clássico: bolsa em alta - escalando de volta aos 101 mil pontos no melhor momento -, dólar em queda e, consequentemente, recuo nas taxas da renda fixa. O alívio ocorre após o banco central americano colocar panos quentes na possibilidade de desaceleração global e foi calibrado hoje pelos discursos de dirigentes do Fed renovando o compromisso com o aperto monetário, mas mantendo o tom dentro do esperado. Tido como um dos mais conservadores, aliás, o presidente do Fed em St. Louis, James Bullard, chegou a mencionar que há "boas chances" de um pouso suave para a economia americana. Os ativos domésticos foram ajudados ainda por uma recuperação nas commodities, após dias de perdas: avanço de 3,93% no petróleo (tipo Brent) e de 2,48% no minério em Qingdao, na China. Em dia de blue chips no azul e com duas das principais empresas da bolsa, Vale e Petrobras, em alta robusta, o Ibovespa interrompeu o jejum de 6 sessões abaixo dos 100 mil pontos e terminou o dia em 100.729,72 pontos, alta de 2,04%. O dólar, por sua vez, interrompeu a sequência de cinco pregões consecutivos de alta e encerrou em R$ 5,3451, queda de 1,42%. A divisa segue, aqui, comportamento visto também lá fora, tanto ante emergentes quanto a moedas fortes, com o DXY encerrando o dia perto da estabilidade, mas ainda acima dos 107 pontos. A libra, que vinha de quedas seguidas e ajudava o dólar a ganhar força lá fora, teve hoje valorização após o primeiro-ministro Boris Johnson renunciar ao cargo. O alívio no câmbio ajudou os juros futuros a encamparem queda firme nos vencimentos médios e longos. Na ponta mais curta, as taxas tiveram viés de baixa. Ajudou ainda a votação da PEC dos Benefícios, cujo impacto fiscal assombrou os mercados nos últimos dias, na comissão especial da Câmara dos Deputados. O texto parece ter sido em boa parte digerido pelos mercados, que ainda acompanham a votação em plenário, estimada para hoje.
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MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York ampliaram ganhos à tarde, encerrando pregão em geral positivo para a tomada de risco nos mercados internacionais. A menor busca por segurança levou para cima os juros dos Treasuries, em meio a declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed) renovando o compromisso com o aperto monetário para conter a inflação. No câmbio, o índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, chegou a cair em parte do dia, mas oscilou, próximo da estabilidade, enquanto a libra se valorizou após o premiê Boris Johnson anunciar que deixará o cargo no Reino Unido, depois de um sucessor ter sido escolhido. O petróleo também subiu, com recuperação após perdas recentes e ganhando impulso após o relatório semanal de estoques nos EUA do Departamento de Energia (DoE).
Os mercados acionários dos EUA mostraram mais fôlego hoje, exibindo ganhos de mais de 1% em geral e, no caso de Nasdaq, de 2%. O setor de energia puxou os ganhos, mas o avanço foi generalizado, em quadro de apetite por risco, e papéis de tecnologia e serviços de comunicação também estiveram entre os destaques. O índice Dow Jones fechou em alta de 1,12%, em 31.384,55 pontos, o S&P 500 subiu 1,50%, a 3.902,62 pontos, e o Nasdaq avançou 2,28%, a 11.621,35 pontos.
Já havia ganhos no mercado acionário mais cedo, mas eles foram impulsionados à tarde, em meio a declarações de dirigentes do Fed. Embora o comando do BC americano continue a demonstrar apoio por aperto monetário, o que tende a pressionar as ações, não houve hoje sinalizações excessivamente restritas sobre a política monetária. Presidente do Fed de St. Louis, James Bullard disse que uma elevação de 75 pontos-base em julho "faz sentido". Diretor do Fed, Christopher Waller afirmou que também apoia uma alta de 75 pontos-base neste mês, acrescentando que deve defender um avanço de 50 pontos-base nos juros em setembro.
Em meio às falas do Fed, os juros dos Treasuries ganharam fôlego e subiram no dia, com investidores também ajustando posições na véspera do relatório mensal de empregos (payroll) dos EUA. Na próxima manhã, a mediana da expectativa dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast é de 275 mil vagas geradas em junho, uma desaceleração ante o mês anterior, mas ainda considerada positiva pelos economistas em geral. Com o aperto do Fed em andamento, porém, o consenso aponta para maior perda de fôlego também no mercado de trabalho americano (leia mais na reportagem publicada às 13h12). Para o BMO Capital, o movimento de hoje no mercado de Treasuries foi sobretudo de ajustes antes do payroll. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos subia a 3,024%, o da T-note de 10 anos avançava a 3,006% e o do T-bond de 30 anos, a 3,201%, ainda com inversão na curva dos retornos dos bônus de 2 e 10 anos, o que sinaliza risco de recessão à frente para alguns economistas.
No câmbio, o índice DXY do dólar oscilou durante a sessão, encerrando em alta de 0,03%, em 107,130 pontos. No horário citado, o dólar subia a 136,02 ienes, o euro recuava a US$ 1,0163 e a libra avançava a US$ 1,2027. A moeda britânica subiu no dia em que Boris Johnson anunciou que deixará o posto de premiê, seguindo apenas até o sucessor ser escolhido. Para a Capital Economics, a renúncia de Johnson pode levar a cortes de impostos no Reino Unido. A Oxford Economics, por sua vez, avalia que a libra ficará mais pressionada com o quadro político.
Entre as commodities, o petróleo WTI para agosto avançou 4,27%, a US$ 102,73 o barril, na Nymex, e o Brent para setembro subiu 3,93%, a US$ 104,65 o barril, na ICE. Os contratos recuperaram parte de fortes perdas recentes e também foram apoiados pelo quadro de maior apetite por risco em geral. Na agenda de indicadores, o dado misto de estoques na semana dos EUA apoiou os ganhos. (Gabriel Bueno da Costa - [email protected])
BOLSA
Sem muitas novidades na agenda do dia, o Ibovespa navegou a retomada do apetite por risco desde o exterior nesta quinta-feira, com os mercados ainda digerindo os sinais emitidos ontem à tarde pela ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve. Sem menções do Fed a risco de recessão iminente, os investidores buscaram descontos em ações, tanto aqui como nos Estados Unidos e na Europa. Amanhã, a atenção se volta à nova leitura sobre a economia americana em junho, com a divulgação de dados sobre o mercado de trabalho como a geração de vagas, a taxa de desemprego e a evolução do ganho salarial médio. No Brasil, será conhecido o IPCA de junho.
Nesta véspera de dados importantes, o Ibovespa não apenas conseguiu retomar o nível de 100 mil pontos pela primeira vez desde o fechamento do último dia 28, como também encontrou fôlego, no meio da tarde, para chegar aos 101 mil, nas máximas da sessão. Perto do fim, moderou o avanço do dia a 2,04%, a 100.729,72 pontos, entre mínima de 98.721,51, da abertura, e máxima de 101.420,24, com giro em recuperação, a R$ 29,4 bilhões no fechamento desta quinta-feira.
Na semana, o Ibovespa passa a acumular ganho de 1,79%, elevando a retomada do mês a 2,22% - no ano, limita a perda a 3,90%. Em porcentual, o ganho de hoje chegou a parecer que seria o maior desde o dia 9 de março (+2,43%), tendo superado também, nos picos da sessão, o do fechamento de 27 de junho (+2,12%) quando, saindo como nesta quinta-feira de abertura a 98 mil, o Ibovespa recuperou a linha de 100 mil que havia sido perdida na sessão anterior (24). Em parte da tarde, o índice parecia a caminho mesmo de seu maior ganho diário em porcentual no ano - e que seria também o mais alto desde 2 de dezembro passado, quando subiu 3,66%.
“A inflação tem sido a grande preocupação dos mercados desde o início do ano, e o Fed deixou (ontem) em aberto a definição dos juros para a próxima reunião, se um aumento de 50 ou 75 pontos-base. Assim, os mercados reagiram bem à indicação de política monetária mais restritiva para controlar a inflação. Por outro lado, o mercado de títulos americanos tem mostrado inversão ou igualdade entre os juros de 2 e 10 anos, o que assinala, conforme histórico, a possibilidade de recessão”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.
"A depender das métricas utilizadas, alguns analistas já antecipam que os Estados Unidos estejam em recessão, e outros acreditam que esteja entrando. A inflação por lá permanece nos maiores níveis em 40 anos. O ritmo dos mercados deve ser afetado pelo ajuste nas condições de liquidez, com a elevação de juros do Fed. Já há sinais de que a demanda agregada, o ritmo de produção, de atividade, está em desaceleração nos Estados Unidos", observa Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos.
Ainda assim, com a busca por descontos, o desempenho isolado desta quinta-feira levou, durante a sessão, papéis de maior liquidez a zerar as perdas da semana e a pontuar no mês, embora o ritmo da recuperação não tenha se sustentado linearmente ao fim para ações como as de Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, CSN e Gerdau, entre outras. Na ponta do Ibovespa na sessão, destaque para Yduqs (+10,51%), no positivo em julho (+16,68%), embora ainda muito depreciada no ano (-25,28%). Caso semelhante ao de CVC (+10,32%), segunda maior alta da sessão, que se recupera neste começo de julho (+7,16%), mas ainda cede 44,26% em 2022. E de MRV (+6,42%), terceira maior alta do dia, com recuperação de 16,77% no mês e perda de 22,12% no ano.
Em 2022, Petrobras ON e PN ganham, respectivamente, 20,55% e 21,66%, e Vale ON, 2,81%. Vale está agora positiva na semana (+2,77%) e no mês (0,81%). Hoje, as três ações fecharam, respectivamente, em alta de 2,91% (Vale), 2,96% (Petrobras ON) 2,93% (Petrobras PN), em dia de recuperação parcial tanto para os preços do petróleo como do minério de ferro após correção nas últimas sessões. Destaque também para a siderurgia nesta quinta-feira, com CSN ON em alta de 5,29%, Gerdau PN, de 5,76%, e Usiminas PNA, de 2,31%.
“Rumores de que o governo chinês planeja antecipar a venda de US$ 220 bilhões em títulos especiais, que têm o intuito de fomentar a infraestrutura, trouxeram alívio nesta manhã” para as commodities e empresas do setor, observa em nota a Guide Investimentos.
"Com o cenário externo favorável e commodities em alta, praticamente todas as ações que compõem o Ibovespa se valorizaram, o que o levou a superar os 101 mil pontos. A movimentação não surpreende após a queda forte desde abril. O Ibovespa está na média descontado, com seu múltiplo de lucro (P/L) próximo a mínimas históricas", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. "Em certa medida, o mercado parece precificar uma inflação mais amena, com juros futuros recuando na véspera da divulgação do IPCA e algumas ações relacionadas à inflação se valorizando mais forte na semana", acrescenta o analista.
Do lado negativo do Ibovespa nesta quinta-feira, apenas oito ações, tendo JBS (-1,22%), Marfrig (-1,12%) e Suzano (-0,69%) à frente. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:32
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 100729.72 2.03683
Máxima 101420.24 +2.74
Mínima 98721.51 0.00
Volume (R$ Bilhões) 2.93B
Volume (US$ Bilhões) 5.47B
17:34
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 102210 2.24067
Máxima 102760 +2.79
Mínima 100705 +0.74
CÂMBIO
Após cinco pregões consecutivos de alta, em que acumulou valorização superior a 4% e chegou a romper o teto de R$ 5,40 no fechamento, o dólar encerrou a sessão desta quinta-feira (7) em queda de 1,42%, cotado a R$ 5,3451, tendo descido até R$ 5,3310 na mínima da sessão, pela manhã. Apesar do tombo hoje, o dólar ainda apresenta alta na semana (0,45%) e sobe mais de 2% no mês.
O desafogo no mercado doméstico foi atribuído ao apetite por ativos de risco no exterior, com alta das bolsas em Nova York e recuperação relevante de preços de commodities agrícolas e metálicas. Notícias de novos estímulos à economia na China e uma leitura benigna da ata do Federal Reserve, que não mencionou a palavra recessão, teriam arrefecido, por ora, temores de uma desaceleração mais aguda da atividade global.
Por aqui, as atenções seguem voltadas à tramitação da PEC dos Benefícios (outrora PEC dos Combustíveis e também apelidada de PEC Kamikaze) na Câmara dos Deputados. Operadores não descartam a possibilidade de nova rodada de depreciação do real, mas ressaltam que boa parte do risco fiscal ensejado pela medida parece já ter sido incorporado à formação da taxa de câmbio.
O texto-base do relator da PEC, deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), foi aprovado em Comissão Especial da Câmara à tarde, com rejeição de destaques, e vai ser apreciado no plenário da Casa ainda nesta quinta-feira. Nas mesas de operação, comenta-se que a ausência de modificações na Câmara, com eventual inclusão de novos gastos, já é uma boa notícia.
"A preocupação com a PEC dos Benefícios não conseguiu abalar os ativos brasileiros hoje", afirma a economista Bruna Centeno, da Blue 3, que vê a recuperação do apetite ao risco muito ligado à recepção do mercado à ata do Banco Central americano ontem. "O Fed reforçou o comprometimento com o combate à inflação e admitiu que a alta de juros tem impactos na atividade, mas não usou a palavra recessão. Até disse que, após a queda no primeiro trimestre, o PIB mostra recuperação no segundo."
Declarações de dirigentes do Fed ao longo da tarde reforçaram a leitura da ata de que a economia dos EUA vai resistir ao processo de aperto da política monetária. Tido como o maior falcão do BC americano, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, afirmou hoje que seu cenário base é de que haja um "pouso suave" da economia americana. O dirigente disse que uma nova alta da taxa básica - hoje na faixa entre 1,50% e 1,75% - em 75 pontos-base neste mês "faz sentido" e que almeja juros de 3,5% neste ano, mas ponderou que é possível haver corte da taxa após a inflação moderar.
Na mesma linha, Christopher Waller, membro do comitê de política monetária do Fed, disse que há "boas chances de um pouso suave" da economia, dado que o mercado de trabalho está sólido. Amanhã, sai o relatório de emprego (payroll) nos EUA em junho, com expectativa de criação de 275 mil vagas. "Pessoalmente, acho que os temores de recessão são exagerados", disse. Waller afirmou ainda que apoiará alta de 75 pontos na taxa básica neste mês, mas que "provavelmente" defenderá moderação do rimo em setembro, com elevação de 50 pontos.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - terminou o dia perto da estabilidade, acima dos 107 pontos. Enquanto a libra experimento forte recuperação, na esteira da renúncia do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o euro voltou a apanhar com a divulgação da ata do Banco Central Europeu (BCE). Embora tenha revelado planos de subir os juros neste mês, o BCE ressaltou que um aumento inicial agressivo poderia desencadear reação excessiva dos mercados.
Com raras exceções, como o peso colombiano e a lira turca, o dólar caiu em bloco frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O minério de ferro subiu em Qingdao, na China, e os preços de cobre avançaram mais de 4%. Os contratos futuros de petróleo também se recuperaram, impulsionados pelo apetite ao risco e por dados de alta dos estoques nos EUA, na contramão das previsões. O contrato do Brent para setembro, referência para a Petrobras, avançou 3,93%, a US$ 104,65 o barril.
"Temos uma melhora hoje bem significativa das moedas emergentes, principalmente do real. Parece mais um movimento alívio depois da alta forte do dólar nos últimos dias. Existe também uma recuperação dos preços de commodities metálicas e agrícolas que favorece emergentes", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, que também vê anúncio de estímulos na China e a postura do Fed como prováveis indutores da busca pelo risco. "Ainda tem muita incerteza com a questão fiscal brasileira. Esse alívio parece momentâneo. E, apesar da queda do dólar hoje, a taxa de câmbio ainda está em patamar bastante elevado." (Antonio Perez - [email protected])
17:34
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.34510 -1.4165 5.41410 5.33100
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5386.500 -1.40033 5450.500 5365.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5519.000 06/07
JUROS
Após fechar em alta nas últimas três sessões, os juros futuros tiveram queda firme nos vencimentos de médio e longo prazos, com a ponta curta encerrando apenas com um viés de baixa. O comportamento foi amparado na melhora de humor no cenário internacional, que também produziu efeitos benignos no câmbio, jogando o dólar para menos de R$ 5,35. A curva resistiu em baixa mesmo com as máximas registradas nos rendimentos dos Treasuries no meio da tarde, em meio a discursos hawkish de membros do Federal Reserve. Aqui, as questões fiscais que vinham respondendo em boa medida pela escalada recente das taxas foram assentadas com a votação da PEC dos Benefícios na comissão especial da Câmara, com o mercado já tendo digerido o impacto fiscal bilionário das medidas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou com taxa de 13,755% (máxima), de 13,765% no ajuste de ontem. O janeiro 2024 passou de 13,551% a 13,515%. O janeiro 2025 caiu para 12,80%, de 12,89%. E o janeiro de 2027 recuou de 12,85% a 12,73%.
Com o ambiente externo hoje tranquilo, os investidores ficaram mais confortáveis na exposição ao risco e foram em busca dos gordos prêmios da curva, embora as taxas não tenham devolvido integralmente o que haviam subido. O modo risk on teve ainda suporte da leitura da ata do Federal Reserve ontem, que ao não mencionar o risco de recessão foi vista de forma positiva, ainda que tal possibilidade siga sobre a mesa diante do que o Fed promete fazer para a desaceleração da inflação - tanto que a curva das T-Notes de 2 e 10 anos segue invertida.
Nesta tarde, o presidente da distrital de St. Louis do Federal Reserve, James Bullard, considerado um dos membros mais duros do board, disse que o que está em jogo é a credibilidade da instituição e que as expectativas de inflação para os Estados Unidos podem se desequilibrar sem uma ação confiável por parte do banco central americano.
Ao mesmo tempo, o diretor do Fed Christopher Waller minimizou os riscos de que a economia entre em recessão como resultado do aperto monetário, vendo boas chances de "pouso suave". Ele defendeu mais 75 pontos-base de alta em julho e disse que deve apoiar uma elevação de 50 pontos em setembro.
Como reação, as taxas das T-Note de 2 e 10 anos romperam 3%, mas os mercados de ações assimilaram bem as declarações.
Nas commodities, o petróleo subiu hoje cerca de 4%, mas como ainda tem grande margem de queda acumulada no mês, o desempenho desta quinta-feira não foi suficiente para impedir o fechamento da curva local. Até porque a defasagem dos preços dos combustíveis ante os internacionais está praticamente zerada e já há sinais dos efeitos das medidas do governo sobre os preços nas bombas.
"O efeito prático da PEC dos combustíveis já começou a se verificar nos preços da gasolina e do diesel, mas precisa se consolidar e firmar em patamares próximos aos que temos visto nos últimos dias - em torno de R$ 6,00. Se confirmado nas próximas leituras de inflação, o BC ganhará fôlego para talvez até mesmo manter a Selic em 13,25%", afirmam profissionais da área de renda fixa da Necton Investimentos, em relatório, destacando, porém, que o cenário da instituição é de Selic terminal de 13,50%, com uma última alta de 25 pontos na reunião de agosto.
O texto-base da PEC dos Benefícios, também chamada de 'Kamikaze', foi aprovado na comissão especial da Câmara e a expectativa é de que, após a análise dos destaques, a matéria siga para o plenário. Os agentes veem a tramitação célere como um mitigador da piora de risco fiscal, na medida em que a demora no processo poderia abrir brecha para a inclusão de mais benefícios sociais. Sem contar o custo das desonerações, a PEC terá impacto de R$ 41,2 bilhões fora do teto de gastos, a serem custeados, em boa medida, com recursos da privatização da Eletrobras.
Para a equipe de renda fixa da Necton, a aprovação da PEC pode trazer certo alívio momentâneo, "uma vez que se sabe mais ou menos o tamanho do cheque que será assinado". "Mas os investidores percebem tais medidas como paliativos indesejáveis que têm como efeito líquido postergar a inflação deste ano para o ano que vem e, neste sentido, o prêmio de risco subiu consideravelmente."
Na gestão da dívida, com os leilões de títulos prefixados desta quinta, o Tesouro encerrou a primeira semana de leilões do segundo semestre, com três vértices novos de LTN. "O Tesouro acumulou apenas R$ 12,3 bilhões e é a terceira menor semana de emissão no ano", destacou o estrategista de renda fixa da Necton Fernando Ferez.
Os leilões de hoje foram considerados pequenos. O Tesouro vendeu 4,211 milhões de LTN, com novos vencimentos (1º/10/2023, 1º/10/2024 e 1º/1/2026), menos do que os 5 milhões ofertados. No leilão de NTN-F, a instituição colocou 190 mil títulos (150 mil para 1º/1/2029 e 40 mil para 1º/1/2033), pouco mais da metade da oferta total de 300 mil. "Complicou. Volume fraco com taxas recordes", anotou, no Twitter, o especialista em renda fixa e professor ligado a Mercado Financeiro na B3, na Anbima e FIA, Alexandre Cabral.
Amanhã, o mercado começa o dia já conhecendo o IPCA de junho. A mediana das estimativas aponta aceleração a 0,71%, de 0,47% em maio. No exterior, o destaque da agenda é o relatório de emprego (payroll) de junho nos Estados Unidos. (Denise Abarca - [email protected])
17:33
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