O dia já tenderia a ser amargo ao investidor de Brasil só pelos ajustes ao mau humor externo de ontem, quando a palavra recessão não saiu do noticiário. Mas o cenário local deu a sua contribuição, e a crise na Petrobras, acentuada após novo reajuste, guiou o sentimento da maior parte dos ativos domésticos hoje. O investidor acompanhou o desenrolar da tensão que põe, de um lado, a cúpula da estatal e, de outro, o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados no Congresso. A pressão do governo é para que a atual diretoria deixe o cargo imediatamente, a que o colegiado resiste. A chance de uma CPI para investigar os preços da companhia também entrou no radar. As ações da estatal até apararam as perdas na reta final do pregão - chegando a um encerramento com baixa de 7,25% (ON) e 6,09% (PN), longe das quedas de perto de 10% no princípio da tarde - e levaram de volta pontualmente o Ibovespa aos 100 mil pontos. Contudo, o sentimento de fuga do risco ainda prevaleceu. O índice fechou em 99.824,94 pontos, baixa diária de 2,90% e semanal de 5,36% - a terceira seguida. Computa também perda de 10,35% em junho, que já é o pior mês do ano para a Bolsa e o segundo pior desde o agravamento da covid-19 no Brasil. O dólar à vista saltou aos R$ 5,1443, valorização diária de 2,35%, semanal de 3,12% e no mês de 8,24%. Os juros futuros, contudo, ficaram blindados a essa fonte de mau humor. Nesse mercado, prevaleceram as acomodações pós-decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos, em especial nos vencimentos intermediários e longos. Aqui, o Banco Central sinalizou novo aumento em agosto e abriu espaço para a extensão do ciclo atual ao mesmo tempo que inseriu em seu cenário uma variável (a inflação de 2024 abaixo da meta) lida como dovish. Lá fora, não só a chance de o Federal Reserve reduzir o ritmo de aperto em julho como também o risco do ajuste monetário à atividade econômica derrubaram as taxas dos Treasuries ontem - com reflexo hoje na curva doméstica. Em Nova York, após o tombo da véspera, os índices se recuperaram (S&P 500 +0,22% e Nasdaq +1,43%, Dow Jones com queda leve de 0,13%), mas ainda assim acumularam perdas semanais expressivas (-5,79%, -4,78% e -4,79%, respectivamente).
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BOLSA
A quinta-feira bem negativa nos mercados da Europa e dos Estados Unidos já seria o suficiente para o Ibovespa buscar alinhamento ao dia anterior neste retorno de feriado combinado à véspera de fim de semana. E com outro feriado, na segunda-feira nos EUA, sem bolsa por lá, em celebração ao encerramento definitivo da escravidão no país, em 19 de junho de 1865, após a Guerra Civil. Sancionada como feriado pelo presidente Joe Biden, a data, conhecida como “Juneteenth”, marca o momento em que se soube no Texas que todos estavam livres, ocasião que é celebrada pelos afro-americanos no país desde o fim do século 19, de acordo com relato do The New York Times.
Na sessão isolada desta sexta-feira, além do cenário externo, os investidores precisaram processar aumento de combustíveis, encaminhado ao longo do feriado e anunciado hoje pela Petrobras. Iniciativa que foi recebida pelo governo como afronta do presidente da estatal, José Mauro Coelho, ainda à espera de efetivação da troca de comando na empresa. O novo ajuste de preços vem no momento em que o Planalto pretendia capitalizar o teto do ICMS sobre combustíveis como linha auxiliar no controle da inflação, em tentativa, também, de reconquistar popularidade rumo à eleição.
O fogo cruzado contribuiu para abater as ações da Petrobras, que fecharam o dia com perdas na casa de 7% na ON (-7,25%) e de 6% na PN (-6,09%), carregando o Ibovespa de volta para os cinco dígitos, em nível não visto desde o começo de novembro de 2020, o primeiro ano da pandemia. Após rodar o dia com perdas acima de 3%, o índice encerrou esta sexta-feira em queda de 2,90%, aos 99.824,94 pontos, o menor nível de encerramento desde 4 de novembro de 2020 (97.866,81). Na mínima intradia, aos 98.401.73 pontos, desceu ao mais baixo patamar desde 5 de novembro do mesmo ano, então aos 97.872,27. A de hoje foi a maior queda em porcentual desde 26 de novembro passado (-3,39%) e, na semana, o recuo foi o mais acentuado desde outubro. Em sessão com vencimento de opções sobre ações, o giro de hoje foi a R$ 43,1 bilhões.
A perda da linha psicológica dos 100 mil pontos, um suporte que vinha sendo acompanhado de perto pelo mercado, colocou a retração acumulada pelo Ibovespa na semana a 5,36%, superando a queda de 5,06% vista na anterior - foi o terceiro desempenho semanal negativo seguido, em intervalo iniciado com leve ajuste de -0,75%. Em junho, o recuo do índice chega agora a 10,35%, superando a correção de 10,10% em abril, que havia sido o pior desempenho mensal desde o mergulho de 29,90% em março de 2020, no auge da aversão a risco relacionada à pandemia. No ano, a referência da B3 cede 4,77%.
A Selic a 13,25% ao ano, após o aumento de 0,50 ponto porcentual confirmado na noite da última quarta-feira, combinada à efetivação de aumentos nas taxas de juros de referência nos Estados Unidos e no Reino Unido, por si, já favoreciam a cautela dos investidores e o apetite pela renda fixa. O mal-estar quanto à extensão, ainda incerta, da elevação dos custos de crédito ao redor do mundo - em cenário, por um lado, de inflação ainda pressionada e, por outro, de dúvida quanto ao fôlego da retomada econômica - acende o sinal de que, ao fim, o que se colherá é a recessão,
"Os mercados globais seguem precificando o cenário de elevação nas taxas de juros e de aversão a risco. O Ibovespa trabalhou em forte queda desde a abertura, com poucas ações conseguindo operar em alta na sessão", em dia também desfavorável para o petróleo e o minério de ferro, observa Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora
Assim, nesta sexta-feira, para além das perdas em Petrobras, ajustes fortes foram registrados em outros carros-chefes da Bolsa, como Vale (ON -5,22%), siderurgia (Gerdau PN -7,89%, CSN ON -5,13%) e, em menor medida, bancos (Bradesco ON -1,60%, Itaú PN -1,26%). Ainda assim, parte das ações do Ibovespa conseguiu se desvencilhar da correção e fechar em alta, com destaque para CVC (+11,19%), Qualicorp (+4,56%) e Alpargatas (+4,10%). Na ponta oposta, 3R Petroleum (-9,51%), PetroRio (-8,79%) e Gerdau Metalúrgica (-8,51%).
“O mercado viu o reajuste dos combustíveis como insuficiente porque a defasagem, para o preço internacional, já estava muito grande. O mercado viu como pouco reajuste, o que explica parte da queda - a outra é a aversão a risco, como um todo, que pegou hoje o petróleo também. O reajuste pesou, mas há um ambiente difícil para ações também lá fora”, diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. Ele acrescenta que a percepção dos investidores sobre a tensão entre governo e Petrobras é ruim.
“O mercado vê com maus olhos tantas trocas de presidente (na Petrobras), em claras tentativas de mexer na política de preços da empresa. O que tem ajudado um pouco é que o governo enfrenta extrema dificuldade de fazer isso (interferir no comando para tentar influenciar os preços) - o que mostra que a governança da companhia melhorou muito”, conclui Varejão.
“Sexta-feira difícil depois do feriado, com o que houve na quinta-feira, nos mercados dos Estados Unidos, já abrindo caminho para que o Ibovespa perdesse os 100 mil pontos”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Depois desta semana de forte deterioração, os agentes do mercado reduziram o otimismo com a bolsa para a próxima semana. O Termômetro Broadcast Bolsa de hoje mostra redução nas apostas de alta do índice, enquanto a perspectiva de queda foi elevada. Na semana passada, 50% dos participantes esperavam alta para o Ibovespa nesta semana. Agora, esse porcentual recua para 45,45%. A fatia dos que apostavam na estabilidade caiu de 30% para 27,27%. Já os que esperavam queda eram 20% na semana passada e agora também são 27,27%. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 99824.94 -2.90047
Máxima 102800.87 -0.01
Mínima 98401.73 -4.28
Volume (R$ Bilhões) 4.31B
Volume (US$ Bilhões) 8.39B
17:31
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 101635 -3.34284
Máxima 103375 -1.69
Mínima 100325 -4.59
JUROS
Apesar da disparada do dólar e do reajuste dos preços dos combustíveis anunciado hoje pela Petrobras, os juros futuros encerraram em queda firme a sessão desta sexta-feira (17), sobretudo entre o miolo e a ponta longa da curva a termo. Como o mercado estava fechado ontem, em razão do feriado de Corpus Christi, os ajustes à decisão do Copom na quarta-feira (15), de elevar a taxa Selic em 50 ponto porcentual, para 13,25%, e sinalizar novo aumento em agosto se deram hoje. A curva doméstica reflete aposta majoritária em nova alta da Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,75%.
Investidores também incorporaram hoje à curva doméstica o tombo de ontem das taxas dos Treasuries, diante dos temores de recessão nos Estados Unidos, na esteira da alta de juros promovida pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), que elevou a taxa básica em 75 pontos-base, para a faixa entre 1,50% e 1,75% ao ano. A queda expressiva do petróleo, que passou a ser negociado perto dos US$ 110 o barril, ao lado de perdas de commodities metálicas, também contribuiu para a redução das taxas futuras.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,55%, de 13,604%, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,437% para 13,22%. Entre os longos, o DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,52% (de 12,75%), ao passo que o DI para janeiro recuou 12,67% para 12,45%, na mínima da sessão.
"O reajuste dos combustíveis, principalmente da gasolina, veio abaixo do esperado. O maior impacto nos preços será do corte do ICMS. As taxas são não estão caindo mais porque o câmbio está pressionado", afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, destacando que o petróleo tem fortes perdas no mercado internacional. "Essa queda dos juros futuros parece até estranha em dia de estresse como hoje. Mas no contexto pós-Copom, de perspectiva de recessão nos EUA e perdas do petróleo, faz todo sentido".
Embora as taxas futuras mostrem expectativa de nova alta da Selic em 50 pontos-base em agosto, Vieira prevê que uma elevação terminal da Selic em 0,25 ponto, para 13,50% e afirma que, dependendo dos indicadores daqui até lá, pode nem haver elevação adicional da taxa básica. "O Copom poderia já ter parado agora, mas deu outra alta porque o Fed subiu em 75 pontos-base. Era hora de parar para esperar os efeitos defasados [da política monetária]", afirma Vieira, para quem o imbróglio político envolvendo a Petrobras e eventuais riscos fiscais já estão embutidos nas taxas.
Em seu comunicado na quarta-feira, o Copom afirmou que "antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude" da Selic em agosto. As projeções de inflação no cenário de referência do comitê "não incorporam o impacto de medidas tributárias sobre os preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações que estão em tramitação".
Na quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que limita o teto do ICMS para combustíveis, energia e telecomunicações em 17% até dezembro - que já havia passado pelo Senado e é uma das principais iniciativas do governo Bolsonaro para segurar os preços da gasolina e do diesel. Essa medida, segundo analistas, pode reduzir a inflação neste ano, mas aumenta as expectativas para o IPCA em 2023.
A Petrobras anunciou hoje pela manhã o primeiro aumento dos combustíveis nas refinarias em 99 dias. O diesel vai subir 14,2% e a gasolina, 5,2%. Diversas casas fizeram as contas para calcular o impacto do reajuste sobre o IPCA deste ano. Pelos cálculos do Santander, o aumento da gasolina vai levar a acréscimo de 0,13 ponto porcentual na inflação, que o banco estima em 9,5% em 2022. Considerando gasolina e diesel, a Asa Investments projeta impacto de 0,22 ponto porcentual no IPCA deste ano.
A política de preços da Petrobras, que busca a paridade com o mercado internacional, e os lucros da petroleira foram alvo de críticas duras no meio político. O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou o reajuste de inconcebível e sugeriu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o presidente e os conselheiros da Petrobras. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que pode dobrar a taxação dos lucros da empresa, a quem acusou de não ter "absolutamente nenhuma sensibilidade". Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, propôs, em post no Twitter, que o governo divida "os enormes lucros da Petrobras com a população, por meio de uma conta de estabilização de preços em momentos de crise".
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que a próxima semana "promete ser nervosa", com a "pressão de Lira e do Centrão" para alterar a dinâmica dos preços dos combustíveis, uma vez que a política de reajustes da Petrobras pode "limitar" o impacto do projeto do ICMS sobre a inflação. "Aumenta o risco fiscal do governo tentar fazer ações expansionistas e de controles de preços e de tabela. Isso pressiona o BC para prolongar a alta da Selic pela dinâmica do dólar", afirma Velho, em relatório. "O sinal é de mais 50 pontos (de aumento da taxa Selic) em agosto, mas não deveria parar". (Antonio Perez - [email protected])
17:30
Operação Último
CDB Prefixado 31 dias (%a.a) 13.15
Capital de Giro (%a.a)
Hot Money (%a.m)
CDI Over (%a.a) 13.15
Over Selic (%a.a) 13.15
CÂMBIO
Uma conjuntura de fatores externos ruins para moedas emergentes e um ambiente doméstico politicamente tenso deram o tom dos ativos hoje. Fortalecida lá fora, a moeda americana escalou 2,35% sobre o real, a R$ 5,1443, consolidando uma sequência de resultados ruins para a divisa brasileira: uma alta de 3,12% na semana e de 8,24% no mês.
Com uma perspectiva de aperto monetário duro nos Estados Unidos e sinais da China que esfriaram as commodities, o dia foi de dólar fortalecido globalmente, tanto ante emergentes quanto frente a moedas fortes. Tanto que o índice DXY - que mede o ímpeto do dólar ante seus pares - trabalhava hoje acima dos 104,000 pontos. Aqui, o impacto foi sentido com mais força sobre o real em ajuste aos movimentos de ontem do mercado - feriado no Brasil - e também pelo clima de tensão política interno criado após o anúncio de reajuste nos combustíveis pela Petrobras, à revelia do Palácio do Planalto.
"Hoje os fatores externos estão pegando mais no câmbio. Começou que, ontem, como não teve mercado no Brasil, acabou não precificando a subida do dólar proveniente da alta de juros nos Estados Unidos. Hoje, somamos dois dias ruins num dia só", aponta o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed) endureceu o tom e subiu a taxa de juros em 75 pontos-base, num ritmo não visto em décadas. De lá pra cá, recados do presidente da instituição e de diretores fizeram crescer as apostas de que o aperto deve seguir agressivo.
Velloni observa que as moedas ligadas às exportações de commodities perderam com ímpeto extra hoje, após incertezas sobre a produção industrial chinesa. Com o preço do aço caindo, as usinas tentam cortar a produção para ajustar a oferta em relação à demanda, que está fraca, e geram preocupação extra aos exportadores de matéria-prima, como o Brasil. Hoje, o minério de ferro negociado no porto de Qingdao fechou em queda superior a 5%, no menor nível desde dezembro de 2021. Dia ruim também para o petróleo, com o barril do Brent em queda em torno de 6%.
Assim, uma aposta no ciclo aquecido de commodities que vinha descolando a moeda brasileira das tensões externas nos últimos meses, perdeu ímpeto com força nos últimos dias. "O Brasil deixa de ser a 'carruagem' das commodities e vira 'abóbora'", completa Velloni.
O azedume externo não foi ajudado pelo cenário doméstico. O anúncio de reajuste nos combustíveis pela Petrobras, acompanhando a política de paridade com os preços internacionais, botou mais lenha na fogueira política em torno do assunto. O assunto suscitou reações fortes do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, com pressões adicionais para que o já demitido presidente da estatal, José Mauro Coelho, deixe o cargo de fato. A ideia do Palácio do Planalto é emplacar Caio Paes de Andrade, ex-secretário de Paulo Guedes, no comando da empresa na semana que vem.
O ruído político a meses da eleição adiciona incerteza ao cenário interno, tanto em relação a uma interferência mais contundente na estatal, quanto de medidas com fins políticos que afetem as contas públicas negativamente.
Contando os fatores externos e internos negativos para os papéis brasileiros, o dia foi de saída massiva da Bolsa brasileira, o que também ajuda a explicar a perda do real.
"A Bolsa está tendo realização grande, dando sinal de que fluxo de curto prazo é de saída. Isso pressiona a taxa de câmbio e deixa o real em nível mais depreciado, o que é normal de se esperar, considerando o comportamento do dólar lá fora. A gente teve alguns ruídos políticos, decisão da Petrobras sobre reajuste de combustíveis e a reação do governo gera sempre uma incerteza, o que coloca um prêmio na taxa de câmbio", aponta Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. (Bárbara Nascimento - [email protected])
17:31
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.14430 2.3538 5.14980 5.10630
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL 5164.500 1.70343 5169.000 5124.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5127.467 14/06
MERCADOS INTERNACIONAIS
Após perdas robustas ao longo da semana, os índices acionários de Nova York não sustentaram avanço uniforme hoje. O setor de tecnologia, mais descontado, teve recuperação forte e impulsionou o índice Nasdaq, que fechou em alta acima de 1%. O movimento das bolsas ocorre na esteira de sinalizações do Federal Reserve (Fed) que reforçaram o foco da entidade no combate à inflação, por meio de comentários de seus dirigentes e relatório ao Congresso americano. O BC americano deu força para o índice DXY do dólar e os juros dos Treasuries de menor prazo, que subiram. O fortalecimento do dólar no exterior contribuiu para a queda de 5% a 6% do petróleo no mercado futuro. Além do câmbio, a commodity energética operou pressionada por temores de recessão econômica em meio ao aperto monetário e possível melhora da oferta global.
As bolsas nova-iorquinas tiveram algum alívio nesta sexta-feira após os principais índices de Wall Street atingirem os níveis do fim de 2020 ontem. A recuperação parcial se concentrou em ações de companhias de tecnologia, que estavam mais descontadas por conta da perspectiva negativa que o aperto monetário agressivo nos EUA provocou sobre o setor. Desta forma, o índice Nasdaq fechou em alta de 1,43%, mais robusta que o avanço de 0,22% do S&P 500, enquanto o Dow Jones encerrou o pregão em baixa de 0,13%. No acumulado semanal, o Dow Jones cedeu 4,79%, o S&P 500 recuou 5,79% e o Nasdaq teve queda de 4,78%.
Hoje, dirigentes do Fed voltaram a reforçar seu foco no combate à escalada inflacionária, dois dias após o BC promover o maior aumento de juro em uma só reunião desde 1994. Em relatório ao Congresso dos EUA, a autoridade monetária disse ter compromisso "incondicional" em restaurar a estabilidade de preços. "As condições financeiras estão apertando, os riscos de crédito, aumentando", de forma que a "liquidez infinita" deixará de sustentar a economia, alerta o analista Edward Moya, da Oanda.
De olho nisso, analistas aumentam suas apostas em uma recessão econômica dos EUA em breve. O Bank of America, por exemplo, avalia que há 40% de chance da economia americana contrair em 2023. Já o Wells Fargo diz que um cenário de recessão leve já pode ser visto como o mais provável para o ano que vem.
Sensível às perspectivas de crescimento global, o petróleo fechou em queda robusta hoje. Em Nova York, o barril do WTI para agosto teve baixa de 6,30%, a US$ 107,99, enquanto o do Brent para igual mês cedeu 5,58% em Londres, a US$ 113,12. Operadores também olharam para sinais de que a oferta global possa aumentar em breve, com a pressão dos EUA sobre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e sinais de que a demanda pelo óleo russo segue resiliente, apesar das sanções europeias.
O principal driver para a commodity, no entanto, foi o fortalecimento do dólar no confronto com moedas rivais. O índice DXY, que mede a variação da divisa americana ante seis pares fortes, fechou com ganho de 1,03%, aos 104,700 pontos, apoiado pela percepção de que o aperto monetário será mais forte nos EUA do que em outras economias desenvolvidas. No fim da tarde em Nova York, o euro cedia a US$ 1,0496 e a libra, a US$ 1,2219.
Dentre os componentes do DXY, o recuo mais forte foi registrado pelo iene. A moeda japonesa chegou ao seu menor valor ante o dólar desde 1998, após o Banco do Japão (BoJ) manter sua política monetária relaxada. Segundo a Capital Economics, o BC eventualmente deve anunciar mudanças em seu programa de controle da curva de juros, mas isso não conterá a fraqueza do iene. No período citado, o dólar subia a 134,96 ienes.
Também atentos à perspectiva de aumento dos juros nos EUA, a ponta curta dos rendimentos dos Treasuries sustentaram a trajetória de alta observada na maior parte do dia, enquanto os de títulos de maior prazo perderam força no fim da tarde. O juro da T-note de 2 anos aumentou a 3,171%, o da T-note de 10 anos recuou a 2,234% e o do T-bond de 30 anos baixou a 3,282%. (Gabriel Caldeira - [email protected])