A correção para cima que os ativos de risco vinham experimentando ao longo do dia ganhou combustível durante a coletiva do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Mesmo com o Fed elevando hoje os juros em 75 pontos-base, a sinalização de que essa intensidade pode ser diminuída já em julho trouxe alívio no dólar e nos juros e impulsionou as bolsas americanas e a brasileira. Powell deixou claro o incômodo que o 0,75pp a mais nos Fed funds lhe trouxe, ao julgar que essa magnitude é "incomumente alta", mas defendeu a "ação forte" diante de surpresas na inflação. Para o próximo encontro, nos dias 26 e 27 de julho, segundo o dirigente, estão à mesa tanto outros 75 pontos quanto os 50 pontos - que eram o cenário-base do mercado até sexta-feira passada -, uma vez que a implementação da política monetária "será flexível". Portanto, o tamanho do próximo ajuste, avisou, dependerá de dados econômicos. Assim, o mercado leu o 'recado' como um passe livre para seguir à tomada de risco. Os juros dos Treasuries arrefeceram quase 20 pontos em relação ao fim da tarde de ontem e o índice DXY voltou à casa dos 104 pontos. As bolsas de Nova York terminaram com ganhos firmes, ainda que longe das máximas - Dow Jones subiu 1,00%, S&P 500 ganhou 1,46% e Nasdaq avançou 2,50%. Os ativos domésticos espelharam o comportamento dos pares externos. Nos juros futuros, após máximas em seis anos ontem em alguns vencimentos, um ajuste de eventuais exageros marcou a espera pelo desfecho do Copom, com o mercado bem posicionado para uma alta de 0,5 ponto porcentual na Selic logo mais. No câmbio, o dólar à vista cedeu a R$ 5,0260 (-2,11%), após uma sequência de sete pregões de alta. E a Bolsa conseguiu interromper a pior sequência em 10 anos e fechou em 102.806,82 pontos (+0,73%).
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MERCADOS INTERNACIONAIS
O Federal Reserve (Fed) não decepcionou a expectativa dos mercados e elevou o juro básico nos EUA em 75 pontos-base, à faixa entre 1,50% e 1,75%, após a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) encerrada nesta tarde. Diante da decisão monetária em linha com o que investidores projetavam, ativos estrangeiros reagiram sem grande impulso ao comunicado. Um comentário do presidente Jerome Powell sobre a possibilidade de elevar os juros em ritmo mais brando na reunião de julho, porém, deu força às bolsas de Nova York - que fecharam em forte alta - e tirou ainda mais fôlego dos juros dos Treasuries e do dólar no exterior. Já o petróleo aprofundou o ritmo de queda observado na maior parte do dia e terminou a sessão em baixas de 2% a 3% em Nova York e Londres.
Inédita desde meados de 1994, a decisão do Fed de elevar o juro em 75 pontos-base confirmou a expectativa majoritária do mercado, que se moveu após leitura forte de inflação em maio e reportagens na imprensa americana que anteciparam o movimento. Por isso, a decisão veio sem grandes surpresas, ao mesmo tempo em que poucas sinalizações sobre os próximos passos do Fed foram dadas no comunicado, de acordo com a Capital Economics.
A consultoria britânica aposta em inflação consistentemente elevada no curto prazo, obrigando o Fomc a optar por novo aumento de 75 pontos-base em julho. Para o fim deste ano e do próximo, a Capital projeta juro em torno de 3,5% e 4%, respectivamente, próximo das medianas das previsões dos dirigentes do BC, de 3,4% em 2022 e 3,8% em 2023.
O CIBC, por outro lado, classifica as projeções do Fed como "exageradas", e espera que a taxa dos Fed funds atinja um teto de 3,25% ao fim de 2022. Assim como a Capital, o banco canadense espera por um novo aumento de 75 pontos-base do juro na próxima reunião do Fomc.
Entre outras projeções do Fed, a mediana para o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) de 2022 saltou de 4,3% a 5,2%, enquanto as previsões para 2023 e 2024 foram levemente reduzidas. Espera-se ainda que a taxa de desemprego de 4,1% no fim deste ano, ante 3,7% na projeção anterior, e crescimento de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), de 2,8% anteriormente.
Em coletiva de imprensa que seguiu a divulgação do comunicado, o presidente do BC, Jerome Powell, afirmou que o ritmo da elevação adotado hoje é "incomum" e não deve se repetir muitas vezes. Para o encontro do mês que vem, ele disse que um aumento de 50 ou 75 pontos-base é provável. A sinalização de que uma alta mais branda que a de hoje é possível alterou as expectativas do mercado: no fim da tarde, a ferramenta do CME Group que mede as probabilidades para a taxa dos Fed funds indicava 23,4% de chance de alta de meio ponto porcentual, ante 3,2% ontem, à faixa entre 2% e 2,25%. Com 69,8% de chance, a probabilidade majoritária seguia para nova alta de 75 pontos-base.
De qualquer forma, o comentário de Powell deu fôlego às ações em Wall Street, e os índices aceleraram o avanço após perda de força pontual em reação à decisão monetária. O Dow Jones fechou com ganhos de 1,00%, o S&P 500 teve alta de 1,46% e o Nasdaq subiu 2,50%.
Em reação contrária, os juros dos Treasuries e o índice DXY acentuaram quedas. No fim da tarde em Nova York, o retorno da T-note de 2 anos baixava a 3,230%, o da T-note de 10 anos reduzia a 3,319% e o do T-bond de 30 anos tinha queda a 3,333%, enquanto o euro subia a US$ 1,0446, a libra apreciava a US$ 1,2185 e o dólar cedia a 133,74 ienes. O DXY, por sua vez, encerrou a sessão em baixa de 0,34%, aos 105,158 pontos, após atingir mínima diária na casa dos 104 pontos.
Na visão do Wells Fargo, a decisão de hoje consolida a posição "cada vez mais hawkish" do Fed. Diante disso, o banco afirma que uma recessão econômica nos EUA em 2023 parece ser o cenário mais provável. "O Fomc já elevou a taxa dos Fed funds em 150 pontos-base desde março, e esperamos que o Comitê aumente as taxas em mais 275 pontos-base até o início do próximo ano. Taxas de juros mais altas acabarão por deprimir os gastos sensíveis" aos custos de empréstimos, prevê.
Após a decisão do Fed, o petróleo acelerou seu ritmo de queda. Mais cedo, os contratos foram pressionados pelo avanço inesperado dos estoques da commodity nos EUA e um relatório pessimista da Agência Internacional de Energia (AIE), que prevê retomada da demanda aos níveis anteriores à pandemia somente em 2023. O barril do WTI com entrega prevista para o mês que vem fechou em baixa de 3,04% na Nymex, a US$ 115,31, e o do Brent para agosto recuou 2,19% na ICE, a US$ 118,51.
Com o Fed em foco, a notícia de que a estatal russa Gazprom anunciou cortes no fornecimento de gás natural à Alemanha pelo segundo dia seguido ficou em segundo plano. A decisão ajuda a apertar mais o mercado de energia europeu, em meio aos esforços da União Europeia (UE) em reduzir sua dependência sobre a energia produzida na Rússia. (Gabriel Caldeira - [email protected])
Volta
JUROS
A Super Quarta de decisões do Federal Reserve e do Copom terminou com juros futuros em queda firme, nas mínimas, principalmente os longos, resultando em perda de inclinação na curva a termo. O Fed confirmou o consenso recém formado do mercado e subiu a taxa dos fed funds em 75 pontos-base, mas foi a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, que animou os ativos no fim do dia, ao citar a possibilidade de reduzir o ritmo de aperto no encontro de julho. Antes do Fed, as taxas já apresentavam baixa expressiva, em movimento de correção após tocarem ontem o pico em seis anos, autorizada pelo alívio nos Treasuries, no câmbio e no petróleo. Esse clima de ajuste de eventuais exageros marcou a espera pelo desfecho do Copom, com o mercado bem posicionado para uma alta de 0,5 ponto porcentual na Selic logo mais.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,600%, de 13,698% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 caiu de 13,668% para 13,435%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,67%, de 13,01% ontem no ajuste.
Com o comportamento mais benigno no exterior e ainda sem anúncio, por ora, de reajuste nos preços por parte da Petrobras, o mercado de juros logo de manhã passou a corrigir o movimento de ontem, devolvendo prêmios especialmente na ponta longa. No fechamento, o diferencial negativo entre os contratos para janeiro de 2027 e janeiro de 2024, voltou a abrir, ficando hoje em -76 pontos, de -65 pontos ontem.
O ajuste em baixa perdeu um pouco de força após o comunicado da decisão do Federal Reserve. "O Fed subiu os juros em 75 pontos e fez uma revisão bem negativa do cenário", comentou a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, no Twitter.
Na sequencia, porém, Powell deu a senha para a melhora do apetite pelo risco, com Treasuries e dólar aprofundando as quedas, e juros aqui acompanhando para fecharem nas mínimas. A taxa da T-Note de dez anos, que ontem se aproximou do 3,5%, voltou a 3,32%, e o dólar fechou em R$ 5,0260.
Powell admitiu que mudança de planos - a ideia inicial era subir os juros em 50 pontos - se deu em função da inflação acima da esperada em maio, mas que a alta de 75 pontos, é "incomumente alta" e que não espera que essa intensidade "se torne comum". Deixou, contudo, a porta aberta para mais uma elevação de 75 pontos.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, o Fed "elevou o juro em 75 pontos, sem querer elevar em 75". "Foi um resposta a uma inflação que veio muito forte, acima das expectativas", disse, explicando que se a autoridade monetária não desse tal resposta poderia gerar um cenário negativo no longo prazo. "Fed poderia ter assustado com uma postura mais pesada, mas não assustou. Continua dovish", avaliou.
Com o alívio nos prêmios, na precificação de Selic na curva, a probabilidade de aumento de 0,5 ponto na reunião de hoje subiu de 70% ontem para 80%, enquanto a de 0,75 caiu de 30% para 20%. Para o Copom de agosto, os 50 pontos precificados ontem hoje caíram para 42 pontos, ou seja 70% de chance de 0,5 ponto contra 30% de probabilidade de 0,25. Para o fim de 2022, a curva indica Selic entre 13,75% e 14%, ante 14,00% e 14,25% ontem.
O Banco Original prevê que o Copom colocará a taxa hoje em 13,25% e deixará em aberto os próximos passos no comunicado. "Há uma dicotomia entre as altas já entregues pela autoridade monetária e a falta de sinais claros de arrefecimento da inflação corrente atrelada aos riscos que seguem à frente, como a defasagem dos combustíveis domésticos em relação aos internacionais", avaliam os economistas Marco Caruso e Eduardo Vilarim.
O retorno do dólar para perto de R$ 5 e o petróleo se afastando dos US$ 120 dão uma trégua aos temores de aumento iminente dos preços pela Petrobras, com o governo ainda atuando nos bastidores para evitar o aumento.
Em Brasília, a Câmara encerrou votação dos destaques ao projeto de lei que fixa o teto de 17% para o ICMS sobre bens essenciais sem alterações no texto-base que, vai agora para sanção presidencial. A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado estimou que o projeto pode reduzir a inflação em até 2,8 pontos porcentuais em 2022. Por outro lado, a recomposição das alíquotas da Cide e do PIS/Cofins em 2023 sobre a gasolina e o etanol aumentaria a inflação em até 1 ponto.
Mesmo com o mercado mais afeito ao risco, o Tesouro fez uma oferta pequena de prefixados nos leilões desta quarta-feira, antecipados em função do feriado de Corpus Christi amanhã. Dos 9,950 milhões de LTN vendidos na semana passada, hoje foram apenas 3 milhões. O lote de 300 mil caiu para 100 mil e ainda assim, o Tesouro não aceitou nenhuma proposta. (Denise Abarca - [email protected])
17:33
Operação Último
CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 13.18
Capital de Giro (%a.a) 6.76
Hot Money (%a.m) 0.63
CDI Over (%a.a) 12.65
Over Selic (%a.a) 12.65
CÂMBIO
O dólar à vista caiu mais de 2% e encerrou a sessão desta quarta-feira (15) na casa de R$ 5,02, alinhado ao enfraquecimento da moeda americana no exterior, na esteira de declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre o ritmo de ajuste da política monetária americana. Como projetado por casas como JPMorgan e Barclays e refletido na curva de juros dos Estados Unidos, o BC americano, premido pela leitura forte da inflação ao consumidor em maio, acelerou o passo e elevou a taxa básica em 75 pontos-base, para a faixa entre 1,50% e 1,75%.
A postura mais forte contra a alta de preços foi temperada, contudo, pela fala de Powell. Apesar do discurso duro contra a inflação, ele classificou o aumento de 75 pontos como "incomumente alto" e abriu a possibilidade de que o BC americano opte por uma elevação de 50 pontos em julho. Foi a senha para que investidores reajustassem posições e voltassem aos ativos de risco, muito castigados nos últimos dias. As bolsas em Nova York se firmaram em alta, movimento seguido pelo Ibovespa, e as taxas dos Treasuries recuaram. No mercado de câmbio, as divisas emergentes aceleraram ganhos ante o dólar e o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana frente a seis pares fortes - virou para o lado negativo, passando a ser negociado na casa dos 104,700 pontos.
Por aqui, o dólar à vista, que já vinha em baixa, acentuou o ritmo de queda e registrou sucessivas mínimas nas últimas horas de negócios, descendo até R$ 5,0190 (-2,25%). No fim do pregão, a moeda era negociada a R$ 5,0260, em queda de 2,11%, interrompendo uma sequência de sete pregões de alta em que havia acumulado valorização de 7,44%. Apesar do alívio hoje, o dólar ainda apresenta avanço de 0,75% na semana. O mercado estará fechado amanhã em razão do feriado de Corpus Christi, mas retorna ao trabalhos na sexta-feira.
Além da decisão da esperada elevação em 75 pontos-base, o Fed revelou sua projeção para o nível da taxa de juros no fim do ano, pelo chamado gráfico de pontos. Treze dirigentes do BC americano veem taxa entre 3% e 3,5%, sendo oito na faixa de 3,25% e 3,50% e cinco entre 3% e 3,25%. Em entrevista, Powell disse que os dirigentes do Fed esperam que a política monetária se torne "modestamente restritiva" para controlar a inflação nos Estados Unidos, com taxa entre 3% e 3,5% no fim de 2022. Ele afirmou que a chamada taxa neutra está "baixa" atualmente, em algum ponto entre 2% e 3%.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressalta que tanto o gráfico de pontos quanto as declarações de Powell acabaram levando à leitura de que o BC americano adotou uma postura "dovish" em relação à condução da política monetária, o que explica a reação positiva dos ativos de risco nesta tarde.
"Nos últimos dias, o mercado havia passado a precificar altas seguidas de 75 pontos e até a possibilidade de alta de 100 pontos nesta reunião. Além disso, o mercado precificava taxa de 3,8% no fim do ano, e os 'dots' vieram abaixo disso", diz Oliveira, chamando a atenção para o fato de que Powell ter dito que a taxa de juros não é o único instrumento para segurar a inflação. "Ele disse que o Fed não está olhando apenas para a taxa, mas para outros fatores, como aperto das condições financeiras e redução de balaço".
O economista-chefe do Fibra observa que o real sofreu muito nos últimos dias por uma combinação de fatores, como a perspectiva de uma alta mais intensa e forte dos juros americanos, o susto com o pacote do governo para conter os preços dos combustíveis e nova rodada de lockdowns em Xangai, na China. "As coisas se misturam. Mas a perspectiva era de que com um aperto forte e rápido do juro americano, haveria desaceleração dos preços das commodities. Se o aperto nos EUA não for tão forte, o real pode ter algum ganho", diz Oliveira, para quem as moedas emergentes devem sentir o efeito cumulativo do aperto da política monetária americana ao longo do tempo.
"O Fed ainda está atrás da curva. Ele vai dando as más notícias para o mercado aos poucos. Cumpre as expectativas com alta de 75 pontos-base e depois vem com um discurso mais leve. É um morde e assopra", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que não vê como o BC americano possa domar a inflação sem uma taxa real de juros positiva. "A inflação implícita de dois anos está em 4,11%. A taxa de juros (Fed Funds) tem de ir para 4,50%. Não consigo ver uma taxa terminal menor que isso".
Para Weigt, os mercados de risco podem experimentar uma calmaria nos próximos dias, mas deverão voltar a sofrer à medida que o mercado incorpore aos preços a ideia de que o aperto monetário terá de se estender. O real, diz o tesoureiro, continua a se beneficiar dos preços elevados das commodities, mas não deve ter fôlego para uma forte apreciação, dados os riscos fiscais e a proximidade da eleição presidencial. "Difícil a taxa de câmbio ficar novamente abaixo de R$ 4,60. Deve andar numa faixa bem ampla, entre R$ 4,70 e R$ 5,20", afirma o tesoureiro do Travelex.
Passada a decisão do Fed, investidores aguardam agora o veredicto do Copom hoje à noite. A expectativa majoritária é de elevação da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Há dúvidas se o Banco Central vai encerrar o ciclo de aperto ou deixar a porta aberta para uma nova alta em agosto, dada a deterioração das expectativas de inflação e o aumento da percepção de risco fiscal com o pacote do governo para conter os preços dos combustíveis. (Antonio Perez - [email protected])
17:33
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BOLSA
A decisão do Federal Reserve de elevar a taxa de juros americana em 0,75 ponto porcentual - acima do meio ponto que o mercado esperava até os dados de inflação da semana passada, que resultaram em reformulação de expectativas - não impediu que o Ibovespa cortasse a série negativa e encerrasse hoje em alta de 0,73%, a 102.806,82 pontos, vindo de oito perdas seguidas que haviam consumido 10.329 pontos entre os fechamentos dos dias 2 e 14.
Hoje, à espera também da reação do Copom a um Fed que tem se mostrado mais duro no combate à resiliente inflação, a referência da B3 oscilou entre mínima de 102.046,47 (-0,02%), correspondente ao início da fala de Jerome Powell, presidente do BC americano, e máxima de 103.951,95, com giro a R$ 85,5 bilhões no fechamento, muito reforçado pelo vencimento de opções sobre o índice, nesta quarta-feira. Na semana, o Ibovespa ainda cede 2,54% e, no mês, 7,67% - no ano, a perda está em 1,92%.
No melhor momento da tarde, apenas Petrobras (ON -1,31%, PN -1,76% no fechamento) destoava de retomada bem distribuída entre as ações e os segmentos de maior peso no índice. Ao final, Vale ON mostrava leve baixa de 0,06%, com siderurgia refluindo também para o negativo (CSN ON -1,05%). O encerramento foi moderadamente positivo para as ações de grandes bancos, com BB ON (+1,58%) à frente, e melhor para as utilities, com destaque ainda para Eletrobras (ON +2,77%, PNB +2,75%).
"Nesse momento de muita incerteza ainda sobre a magnitude de aumento de juros pelo Fed, as empresas intensivas em capital, como as de tecnologia, do Nasdaq, oferecem risco maior, o que tende a favorecer setores mais consolidados, como bancos e indústrias de alimentos", avalia Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos.
Na ponta de ganhos do Ibovespa nesta quarta-feira, Qualicorp (+14,64%), CVC (+13,19%), Banco Inter (+9,33%) e Natura (+8,08%). No lado oposto, Braskem (-2,27%), PetroRio (-1,48%), CSN Mineração (-1,46%) e BRF (-1,37%), além de ambas as ações de Petrobras.
Apesar de o desfecho do Fed ter ficado em linha com o esperado nesses últimos dias, a confirmação de que os custos de crédito na maior economia do mundo vão se tornando restritivos, em ritmo superior ao que se antecipava há pouco tempo, seria fator suficiente para moderar o apetite dos investidores por risco. Mas o mercado parece ter preferido olhar o copo meio cheio ao longo das explicações de Jerome Powell, nesta tarde - de início, Dow Jones e S&P 500 chegaram a oscilar para o negativo, colocando o Ibovespa na mínima do dia, que correspondia até então à abertura da sessão.
Na entrevista coletiva após o comunicado sobre a decisão, Powell disse que a elevação de 0,75 ponto nos juros é "incomumente" alta e que espera que "não se torne comum", embora tenha deixado a porta aberta para aumento de 0,50 ou 0,75 ponto na próxima reunião do comitê de política monetária, o Fomc, em julho. Powell observou também que, na visão do Fed, o nível neutro de juros nos Estados Unidos - o patamar em que nem estimulam nem restringem a atividade econômica, condizente com o potencial do PIB e inflação estável - está entre 2% e 3%, e que os dirigentes do BC esperam juros "modestamente restritivos" no fim do ano.
"A temida 'super quarta' vinha sendo a vilã da semana até que veio o Dia D, e aí valeu o sentido de cair no boato e subir no fato. O resultado da reunião do Fed mostra a preocupação de trazer a inflação para perto da meta, de 2% no longo prazo, mas sem prejudicar a economia e deixar de alcançar o máximo emprego. A discussão passa a ser em quanto ficará o aumento nas próximas reuniões, o que dependerá também de como a inflação se comportará, assim como a economia americana", diz Eduardo Telles, especialista em renda variável da Blue3.
"A inflação nos Estados Unidos, desancorada, levava parte do mercado a esperar aumento de 0,75 ponto na reunião de hoje, tornando o Fed um pouco mais 'hawkish' com a última leitura (sobre a inflação). O remédio é amargo mas necessário. Para o Copom, a expectativa é de meio ponto, com parte do mercado esperando 0,75 ponto, em postura mais dura, que deve prevalecer também na próxima reunião do Fed", diz André Rolha, líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice Investimentos.
Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, chama atenção para a falta de unanimidade na decisão desta quarta-feira do Federal Reserve, na qual, por um lado, a instituição destacou o forte avanço da inflação - com fatores de risco externo que têm persistido, como a guerra na Ucrânia e os 'lockdowns' na China - e, por outro, o aquecimento do mercado de trabalho americano - lembrando, observa a economista, que o mandato do Fed é dual, focado em inflação e emprego. (Luís Eduardo Leal - [email protected])
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Índice Bovespa Pontos Var. %
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Máxima 103951.95 +1.85
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Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 103005 0.84194
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