Toda a cautela dos últimos dias, antes da reunião do Fed, saiu de cena após a decisão de elevar os juros em 0,50 ponto porcentual e iniciar a compra de ativos em junho. Isso tudo estava no preço, mas o apetite por risco chegou a aparecer com a decisão unânime, o que diminuiu a percepção de que o BC dos EUA poderia acelerar o passo adiante, mas se consolidou com a entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell. Segundo ele, uma alta de 0,75 ponto "não é algo que o comitê está ativamente considerando" para a próxima reunião. E não adiantou dizer depois que a autarquia está preparada para ajustar a rota ou que a inflação pode seguir pressionada por causa da guerra na Ucrânia ou do aumento de casos de covid-19 na China. A leitura dos investidores é de que o ciclo de aperto monetário nos EUA não será tão radical quanto se chegou a esperar, o que beneficia a busca por ativos mais arriscados. Nesse ambiente, os yields dos Treasuries passaram a renovar mínimas, em ajuste à precificação de juros não tão altos, ao mesmo tempo em que as bolsas ganharam fôlego, o dólar se enfraqueceu e as taxas dos DIs, mesmo à espera do Copom, passaram a ceder. Tanto o S&P 500 quanto o Dow Jones subiram quase 3% e o Ibovespa, que chegou a perder o nível de 105 mil pontos ao longo do dia, virou e terminou com avanço de 1,70%, aos 108.343,74 pontos. O mesmo ocorreu com o câmbio. Depois de o dólar testar máxima de R$ 5,03 mais cedo e se manter em alta durante quase todo o pregão, a decisão e sinalização do Fed mudou o cenário, empurrando a divisa americana para uma queda de 1,21%, a R$ 4,9036. Com a possibilidade de juros menores nos EUA e o recuo do dólar, a curva do DI devolveu prêmios em todos os vértices, inclusive nos mais curtos, que precificam decisões do BC após o encontro de hoje. Esses vencimentos passaram a indicar apenas mais uma elevação de 0,25 ponto da Selic, após o aperto de hoje, e não mais de 0,50 ponto. Até porque, ninguém acredita em algo diferente de uma elevação de 1 ponto da taxa básica nesta quarta-feira, para 12,75%, restando apenas saber se o Banco Central irá voltar atrás e sinalizar que o ciclo pode se estender para além desta reunião.
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MERCADOS INTERNACIONAIS
Sem surpresas para o mercado, o Federal Reserve (Fed) decidiu elevar a taxa básica de juros em 50 pontos-base - pela primeira vez em mais de 20 anos - e anunciou que o aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) terá início em 1º de junho. Foram as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, porém, que deram impulso para Wall Street fechar com avanço de mais de 2% e levaram os juros dos Treasuries às mínimas. O banqueiro central afirmou que uma alta de 75 pontos-base nos juros básicos - considerada pelo presidente do Fed de St. Louis, James Bullard - não é algo "ativamente discutido" entre os dirigentes. A expectativa de que aumento em 50 pontos-base (pb) na próxima reunião foi reforçada. Em meio às declarações, o índice DXY do dólar perdeu força ante rivais e caiu mais de 1%. O petróleo, por sua vez, se fortaleceu e fechou com avanço de 5% no mercado futuro, apoiado pela proposta da União Europeia (UE) de embargo ao petróleo russo.
Em coletiva à imprensa após a decisão, Powell disse que outros aumentos de 50 pb são considerados neste ano, mas ponderou que subir os juros em 75 pb ainda não é um debate ativo dentro do Fed. O presidente da instituição afirmou esperar que a economia americana tenha um "pouso suave" - ponto de preocupação para alguns analistas. Ele reconheceu ainda que a inflação está muito alta nos Estados Unidos e destacou haver "boa chance" de controlá-la sem provocar recessão. Além disso, frisou que não há uma linha clara para quando os juros neutros serão atingidos, mas, se necessário, o Fed levará os juros para cima da taxa neutra.
Impulsionadas por Powell, as bolsas de Wall Street ficaram no positivo, com várias máximas nas horas finais do pregão. O Dow Jones fechou com alta de 2,81%, a 34.061,06 pontos, o S&P 500, de 2,99%, a 4.300,17 pontos, e o Nasdaq, de 3,19%, a 12.964,86 pontos. Entre os destaques, está o forte avanço de bancos, como Citi (4,25%), Morgan Stanley (4,14%) e JPMorgan (3,31%).
Com a decisão de hoje, a taxa dos Fed Funds passa a ficar entre 0,75% e 1,00%. O ING destaca que "ainda há muito mais por vir" e que este foi o primeiro aumento em 50 pb desde maio de 2000. Apesar da cautela de Powell, o banco holandês diz não descartar uma alta de 75 pb em junho. "Na última semana, o mercado tem estado entre 50 e 75 pb e Powell admitiu a necessidade de ser 'ágil'". Para julho, o ING espera alta de 50 pb antes que o Fed volte a elevar em 25 pb nas outras três reuniões do ano.
No monitoramento feito pelo CME Group, as apostas para probabilidade de alta de 75 pontos-base no encontro de 15 de junho caíram de 95,4% ontem para 74,1% no fim desta tarde. A Pantheon e o CIBC projetam aumento de 50 pb na próxima reunião. O Wells Fargo concorda, mas espera alta de 25 pb na de julho. Para o banco, o comunicado não sugere um ritmo acelerado de aperto monetário e destaca implicações para a economia americana pela invasão russa na Ucrânia e a consequente intensificação de pressões inflacionárias.
Quanto ao QT, o Fed informou que o limite para reduzir as compras líquidas de títulos atrelados a hipotecas (MBS, na sigla em inglês) será de US$ 17,5 bilhões ao mês e as de Treasuries em US$ 30 bilhões, em um total de US$ 47,5 bilhões, que valerá durante os primeiros três meses. Depois, o limite para a redução será de US$ 60 bilhões por mês para Treasuries e US$ 35 bilhões para MBS, em um total de US$ 95 bilhões. Na avaliação do CIBC, o ritmo inicial veio mais rápido do que o previsto. A Capital Economics, porém, afirma que veio exatamente como descrito na ata da reunião anterior, de março.
Depois de renovarem mínimas com Powell, no fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 2,625%, o da T-note de 10 anos recuava a 2,914% e o do T-bond de 30 anos tinha baixa a 2,998%. Com a menor busca por risco, o dólar também perdeu força. O índice DXY caiu 1,12%, a 102,587 pontos, enquanto o euro cedia a US$ 1,0609 e a libra, a US$ 1,2617, no horário citado.
O enfraquecimento do dólar apoiou alta do petróleo nesta sessão, junto a dados de estoques americanos e movimentação da UE sobre Rússia. O Departamento de Energia (DoE) nos EUA informou que os estoques de gasolina caíram 2,23 milhões de barris - bem mais do que a expectativa de 300 mil barris. Como informado pela manhã, a Comissão Europeia propôs um sexto pacote de sanções, incluindo embargo à importação de petróleo russo. Ainda não há consenso entre os 27 Estados-membros, informou a Reuters. O petróleo WTI para junho fechou em alta de 5,27% (US$ 5,40), a US$ 107,81 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), enquanto o Brent para o mês seguinte avançou 4,92% (US$ 5,17), a US$ 110,14 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). (Ilana Cardial - [email protected])
BOLSA
O receio de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fosse muito duro na reunião de política monetária de hoje, que encheu de cautela e derrubou os mercados nos últimos dias, foi afastado pelo presidente da autoridade monetária, Jerome Powell. Se havia alguma dúvida após o comunicado da decisão de juros, a coletiva de imprensa veiculada por Powell afastou a possibilidade de uma alta de 75 pontos nos juros, o que retirou pressão das bolsas globais e abriu espaço para o Ibovespa voltar aos 108 mil pontos.
O índice foi suportado, ainda, por um avanço sustentado das ações das petroleiras. Com o barril do Brent em alta superior a 5%, as ações da Petrobras subiam de forma consistente, com os papéis preferenciais da companhia avançando mais de 6%. PetroRio e 3R Petroleum ganharam 5,81% e 4,68%, respectivamente, esta última apesar do prejuízo líquido de R$ 335,17 milhões reportado no primeiro trimestre.
No minério, por sua vez, uma leve queda da commodity em Qingdao, na China, levou mineradoras e metalúrgicas a pesarem negativamente no índice, com Vale recuando 0,84%.
Assim, o Ibovespa encerrou o dia em alta de 1,70%, aos 108.343,74 pontos. O patamar, conquistado praticamente na última hora do pregão, colocou o índice bem longe da mínima do dia (104.932,97 pontos) e reverteu a perda semanal. Na semana, a referência da bolsa sobe 0,43%. Hoje, o giro financeiro foi de R$ 36,9 bilhões.
O alívio na bolsa, que passou a manhã e boa parte da tarde em queda, começou logo após o comunicado, quando o índice diminuiu significativamente a baixa. A virada para o positivo, no entanto, só veio após Powell dizer que subir o juro em 75 pontos-base não é algo que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) está "ativamente considerando" por enquanto. Ele afirmou, contudo, que novos aumentos de 50 pontos estão na mesa.
Com o tom bem mais suave do que o esperado, as bolsas tiveram alívio globalmente, renovando máximas aqui e em Nova York. Tanto que Dow Jones e S&P500 fecharam o dia em altas superiores a 2,8%.
"Powel foi na direção de sinalizar mais duas altas de 50 [ponto] e também dizer ao mercado que não é um dado ou outro que vai fazê-lo mudar de opinião, é um conjunto de informações. Isso retira incerteza. Fica um pouco mais claro que não teremos surpresas mais duras nos próximos meses", aponta Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG, completando: "Com essa sinalização, tirando a chance de 75 pontos e dando previsibilidade, o mercado reagiu bem".
O mercado ainda espera a decisão de política monetária brasileira, marcada para hoje às 18h30. Os investidores monitoram sobretudo as sinalizações do Comitê de Política Monetária (Copom) para a próxima reunião e apostam que o BC irá deixar espaço para ao menos mais uma alta em junho.
"Provavelmente, se o mercado entender que o BC faz uma alta adicional em junho e para, isso será bom para os ativos", aponta Luciano Costa, economista e sócio da Monte Bravo Investimentos, completando: "A decisão do Fed só potencializa esse efeito, porque é a favor de ativos de risco".
Além da incerteza, a reação nas bolsas globais ocorre porque um cenário de política monetária mais agressiva retiraria recursos de ativos de risco, à medida que os títulos atrelados a juros ficam mais interessantes. Além disso, o Fed aumentando juros de maneira ainda mais forte nos EUA é especialmente ruim para emergentes como o Brasil, à medida que, com mais retorno, uma fuga de capital começa a entrar no radar.
"No início, a alta de juros não foi prejudicial para as bolsas aqui. Quando deixa de ser bom pra bolsa? Quando sobe num nível que causa uma piora muito grandes nos dados correntes das empresas. E esse ponto está se aproximando. Mas não achamos mais que será agora no curtíssimo prazo", disse o gestor de portfólio da Kilima Asset, Luiz Adriano Martinez. A decisão mais suave do Fed trouxe alívio aos mercados justamente porque alonga esse impacto negativo sobre a economia.
Setorialmente, todos os segmentos fecharam no positivo no Ibovespa hoje, com destaque para as ações do setor imobiliário (1,84%), de consumo (+1,74%) e utilities (+1,79%). Entre as maiores altas do índice, Magazine Luiza (7,61%), Americanas (7,54%) e Pão de Açúcar (7,52%). Na ponta oposta, Marfrig (-7,76%), com investidores repercutindo negativamente mudança na política de pagamento de dividendos, e JBS (-3,04%), respondendo a um nível de dólar mais alto. (Bárbara Nascimento - [email protected])
17:32
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 109775 1.84154
Máxima 109900 +1.96
Mínima 106130 -1.54
CÂMBIO
A perspectiva de que o processo de ajuste da política monetária americana não será tão intenso e rápido como se esperava, após declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, hoje à tarde, levou a uma rodada de enfraquecimento global da moeda americana. Isso abriu espaço para o dólar voltar a ser negociado na casa de R$ 4,90 no mercado doméstico de câmbio.
Como esperado, o BC americano subiu a taxa básica em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 0,75% e 1% ao ano, em um comunicado que suscitou reações tímidas nos preços dos ativos. O dólar, que vinha em leve alta, na casa de R$ 5,00, pouco se mexeu. A virada do mercado veio quando Powell, durante entrevista coletiva, praticamente tirou a possibilidade de acelerar o passo de alta de juros em junho, ao dizer que "0,75 [ponto porcentual] não é algo que o comitê está ativamente considerando".
O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - desceu do nível de 103,600 pontos para a casa de 102,600 pontos, e a taxa da Treasury de 2 anos, mais ligada à expectativa em torno dos juros neste ano, caiu mais de 4%. A maioria das divisas emergentes, que já ganhava espaço, acelerou a alta em relação à moeda americana.
No mercado doméstico, o dólar não apenas trocou de sinal como chegou a furar pontualmente o piso de R$ 4,90, ao descer até a mínima de R$ 4,8990 (-1,30%). No fim do dia, a divisa recuava 1,21%, cotada a R$ 4,9036. Com isso, a moeda passa a acumular queda de 0,79% no mês e perda de 12,06% em 2022.
"Nossa moeda sentiu bastante o efeito da tensão pré-Fomc (comitê de política monetária do BC americano). Hoje, estamos vendo uma volta desse movimento com a postura mais suave do Fed", afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressaltando que o mercado de juros americano embutia grande probabilidade de alta de 0,75 ponto da taxa básica em junho. "Isso agora está fora da mesa. Obviamente, o dólar perde valor em relação a moedas de mercados desenvolvidos e moedas de commodities".
Antes de responder perguntas de jornalistas em coletiva de imprensa, Powell se dirigiu diretamente à população americana, em uma mensagem reconhecendo que a inflação está elevada, em meio a um mercado de trabalho apertado, demanda interna forte e gargalos na cadeia produtiva. "A inflação está muito elevada e vamos atuar para baixá-la".
Essas declarações mais duras foram ofuscadas logo em seguida pelo próprio Powell, ao descartar a possibilidade de alta de 0,75 dos Fed funds em junho, reforçando que "há uma ampla avaliação" entre dirigentes do Fed de que novos aumentos de 0,50 ponto porcentual estão na mesa para as próximas reuniões. No plano de voo da instituição, a inflação vai arrefecer e a economia terá um "pouso suave". Há, segundo Powell, uma "boa chance" de o BC americano restaurar a estabilidade de preços sem provocar uma recessão e aumento de desemprego nos EUA.
A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, avalia que as declarações de Powell, à exceção da fala sobre novas altas de 0,50 ponto, foram "bastante duras", alertando o mercado de trabalho apertado e a demanda aquecida. "A alta de juros e a redução do balanço já estavam precificados. O mercado viu a fala de Powell como dovish e, por isso, houve queda da taxa de câmbio. Não descarto uma reversão dessa tendência de baixa do dólar no curto prazo", diz Consorte, que vê possibilidade de o mercado voltar a cogitar alta de 0,75 ponto da taxa básica nos EUA em razão da inflação pressionada.
Oliveira, do Fibra, ressalta que a tendência para as moedas emergentes e o real é de apreciação nos próximos meses, uma vez que os preços das commodities devem continuar em níveis elevados. O economista do Fibra ressalta que as divisas emergentes vão sofrer não com uma ou duas altas dos Fed Funds, mas com o "efeito cumulativo" do ajuste da política monetária americana, que ainda vai demorar a se manifestar. Além da alta dos juros, há também o impacto da redução do balanço patrimonial, que vai começar em junho, na ordem de US$ 47,5 bilhões ao mês nos três primeiros meses.
"No ano que vem, as commodities devem sofrer com o aperto monetário cumulativo nos Estados Unidos. Não veremos efeito agora. Para esse semestre, o cenário ainda é de valorização das moedas emergentes. E o real vai seguir esse movimento no curto prazo", diz Oliveira, que não descarta a possibilidade da taxa de câmbio voltar ao nível de R$ 4,80.
Além das commodities em preços elevados e da postura suave do Fed, Oliveira afirma que o provável anúncio, hoje à noite, pelo Banco Central brasileiro, de alta de 1 ponto porcentual da taxa Selic, para 12,75%, contribui para manter um diferencial entre juros interno e externos elevados.
Antes do veredicto do Fed, operadores comentavam que, caso o BC sacramente o fim do ciclo de aperto monetário nesta noite, o dólar poderia se firmar acima de R$ 5,00 e até emendar uma alta mais substancial. Já um discurso mais firme do Copom, com aceno de elevação adicional da Selic em junho, daria fôlego extra ao real. (Antonio Perez - [email protected])
17:32
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.90360 -1.2068 5.03550 4.89350
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4949.000 -1.07935 5079.000 4934.000
DOLAR COMERCIAL 5054.115 02/05
JUROS
Jerome Powell demorou 15 minutos de coletiva para dar a informação mais esperada pelo mercado nesta quarta-feira: o Federal Reserve continuará a elevar os juros, mas a magnitude deve ser de 50 pontos-base, e não 75 pontos, como até membros do colegiado estimavam. Isso foi suficiente não apenas para a retirada de prêmios nos intervalos mais longos dos juros domésticos, correlacionados com o câmbio, como também para sacudir as estimativas para a próxima reunião do Copom. Para a de hoje, Banco Central (BC) e mercado estão alinhados quanto ao aumento de 100 pontos da Selic. As atenções agora se direcionam para os indícios que o comunicado trará sobre se para ou não o ciclo de ajuste monetário.
A 'Super Quarta-Feira' era guiada, pela manhã, por assuntos não explicitamente ligados à política monetária. Um sentimento de cautela à espera do Fed e do BC se somou a uma subida forte do petróleo na esteira da proposta de sanção da União Europeia ao óleo da Rússia, o que fez os juros terem viés de alta mais cedo.
Quando veio o comunicado do Fed, as movimentações foram tímidas na renda fixa doméstica, com alguma retirada de excessos. Isso porque dirigentes da instituição já haviam deixado de maneira muito explícita o que seria feito hoje: elevação do Fed Fund para a faixa de 0,75% a 1,00%, bem como o anúncio dos detalhes do plano de retirada de estímulos.
"Estava tudo bastante precificado", notou o estrategista-chefe e sócio do banco digital Modalmais, Felipe Sichel, em uma conversa com a reportagem entre a divulgação da decisão e a entrevista de Powell. "Chamou a minha atenção que até mesmo o James Bullard votou pelos 50 pontos. Tudo bem que era o cenário-base dele, mas ele havia sido o primeiro a colocar os 75 pontos na mesa de discussão", acrescentou.
Bullard, presidente do Fed de Saint Louis, tem sido o mais vocal 'falcão' da instituição no atual ciclo de ajuste monetário. De certa forma, ao votar por 50 e não 75 pontos-base, acabou sinalizando um consenso não tão hawkish assim quanto o mercado esperava. Quando Powell disse, então, que uma alta de 0,75 ponto porcentual não é algo "ativamente considerado", essa percepção, então, se consolidou.
A coincidência das datas entre Fomc e Copom pode acabar ajudando este último na formulação de seus planos de voo. Sem a pressão de um Fed ainda mais acelerado para chegar à taxa neutra, o BC pode fazer um pouso suave na taxa - ou até, no limite, interromper o ciclo de alta já, como era a ideia inicial.
Para o estrategista-chefe da Renascença DTVM, Sergio Goldenstein, o BC pode deixar os próximos passos em aberto, ainda que tenha elementos como efeitos defasados da política monetária e o comportamento do câmbio para encerrar o ciclo de aperto em maio. Dessa forma, avalia ele, o Copom teria maior liberdade para acompanhar a evolução da inflação corrente, das expectativas, da taxa de câmbio e dos preços das commodities até a reunião de junho.
"Como a maioria do mercado entende que o BC deveria estender o ciclo, uma interrupção agora poderia ser mal recebida e deteriorar as expectativas de inflação. Nesse sentido, admitimos que aumentou a probabilidade do nosso cenário alternativo, de Selic a 13,25%, com uma alta adicional de 0,50 ponto porcentual em junho", afirmou Goldenstein.
Nas máximas do dia, a precificação da Selic na curva chegou a ser majoritária em mais um aumento de 50 pontos-base em junho, a 13,25%. Porém, ao final da sessão, a aposta é de taxa entre 13,00% (88%) e 13,25% (12%). O juro no fim do ano embutido na estrutura passou dos 13,24% ontem a 13,15% hoje. Os cálculos foram feitos pelo Broadcast com base em modelo do professor Alexandre Cabral.
Nos demais contratos, a taxa do DI para janeiro de 2023 recuou de 13,129% a 13,040%. A do janeiro 2024 cedeu de 12,688% a 12,585%, na mínima do dia. A do janeiro 2025 caiu de 12,171% a 12,050%. E a do janeiro 2027 passou de 12,005% a 11,905%. (Mateus Fagundes - [email protected], colaborou Guilherme Bianchini)
17:30
Operação Último
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