MERCADO TOMA RISCO COM NEGOCIAÇÃO SOBRE GUERRA E POWELL, MAS DI SOBE COM COMMODITIES

Blog, Cenário

Se a expectativa de novas conversas entre Rússia e Ucrânia, além de declarações consideradas mais "suaves" por parte do presidente do Fed, Jerome Powell, estimularam o apetite por risco nas bolsas e no câmbio, os juros futuros reagiram à disparada das commodities que pode, em última instância, manter a inflação pressionada no mundo e no Brasil. As bolsas, tanto nos EUA quanto aqui, chegaram a subir cerca de 2% ou mais durante a tarde, depois que Powell sinalizou que defenderá um aumento de juros de 0,25 ponto porcentual neste mês e reconheceu que o conflito possivelmente levará a autoridade monetária a rever suas políticas em longo prazo. No caso do Brasil, a disparada do petróleo, de mais de 7%, e a alta do minério de ferro puxaram Petrobras e Vale, o que ajudou o Ibovespa a encerrar o dia com avanço de 1,80%, aos 115.173,61 pontos nesta volta de carnaval, período marcado pelo aumento do conflito no Leste Europeu e pelo anúncio de mais sanções aos russos, o que deixou os ativos bastante voláteis. O apetite por risco e o forte avanço das commodities tirou força do dólar ante boa parte das demais divisas, incluindo o real, ante a qual teve desvalorização de 0,94%, a R$ 5,1073. A moeda brasileira se beneficia, ainda, da possibilidade de aperto monetário mais comedido nos EUA, enquanto a Selic, já elevada, deve subir mais. No caso dos juros futuros, aliás, não houve queda do dólar ou sinalização de Powell sobre um aumento de juros que impedisse o forte acúmulo de prêmios na curva a termo. Afinal, o avanço do petróleo, diante da guerra e da decisão da Opep de manter o aumento da produção dentro do que já vinha fazendo, deve respingar em novos aumentos dos combustíveis. Mas não é só: o preço das matérias-primas agrícolas também tem alta expressiva, uma vez que Rússia e Ucrânia são grandes produtores, além de trigo, de fertilizantes, essenciais para a produção de alimentos. Nesse cenário, o mercado começa a trabalhar com a possibilidade de apertos mais intensos da Selic em maio e junho, além da alta de 1 ponto já contratada para março.

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MERCADOS INTERNACIONAIS

O impacto da guerra na Ucrânia para e economia global seguiu como o principal tema para os mercados, em um dia no qual o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, reconheceu que o conflito possivelmente levará a autoridade monetária a rever suas políticas de longo prazo, mas confirmou o início do novo ciclo de alta de juros nos EUA neste mês. Uma desaceleração da atividade global é considerada, levando em conta especialmente a alta no preço do petróleo, que hoje saltou 7% no mercado internacional. Em mais uma rodada de sanções, os EUA miraram no setor de petróleo e gás da Rússia. Apesar das incertezas, as bolsas em Nova York e na Europa tiveram um dia de ganhos, os rendimentos dos Treasuries subiram e o dólar ficou praticamente estável ente seus pares.

Hoje, Powell destacou que a guerra na Ucrânia levará o banco central americano a pensar sobre efeitos à política monetária no longo prazo, caso o conflito provoque uma situação de constante alerta militar na Europa por um período extenso. "Este evento é um 'game changer' e os efeitos estarão conosco por bom tempo”, disse. "Vamos elevar juro, mas (com invasão) faremos com cuidado para não gerar incertezas", acrescentou. Powell indicou ainda que será "apropriado" subir as taxas na reunião de março, e que irá propor uma alta de 0,25 ponto porcentual. Ainda hoje, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse esperar algum alívio na inflação dos EUA apenas em 2023. Já o presidente da regional de St. Louis, James Bullard, reiterou defesa por rápido aumento de juros.

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse hoje que a guerra entre Rússia e Ucrânia deverá ajudar a impulsionar a inflação e a reduzir o ritmo de crescimento da zona do euro nas próximas semanas. Já o dirigente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Jon Cunliffe, afirmou que ainda não é claro o impacto do conflito para o cenário econômico.

Para Edward Moya, analista da Oanda, as ações se recuperaram na esperança de que as sanções contundentes possam estar surtindo efeito na Rússia e com as expectativas de que Powell sinalizasse que o Fed está aguardando para ver no que diz respeito ao combate à inflação. Hoje, o Dow Jones subiu 1,79%, o S&P 500 avançou 1,86% e o Nasdaq teve alta de 1,62%. Na Europa, o FTSE 100 subiu 1,36% em Londres e o CAC 40 avançou 1,59% em Paris. Moya diz que o "apetite ao risco terá dificuldades para se recuperar completamente até que um verdadeiro fim da guerra na Ucrânia esteja à vista".

Em seu discurso de Estado da União, na noite de ontem o presidente dos EUA, Joe Biden, se dirigiu a Vladimir Putin, e disse que caso ele tente qualquer ação bélica contra países membros da Otan: "Movimentamos forças militares dos EUA para países da Otan. Os EUA vão defender cada polegada do território da Otan com todo o poder à nossa disposição". Enquanto isso, no campo econômico, as sanções seguiram tendo seus desdobramentos. Reguladores estão se preparando para um possível fechamento do braço europeu do segundo maior banco da Rússia, o VTB Bank. Já o maior banco da Rússia, o Sberbank, está saindo de quase todos os mercados europeus, devido a grandes retiradas de recursos e ameaças a seus funcionários e instalações. Tentando lidar com o tema, Putin, assinou hoje um decreto para proibir que se retire mais de US$ 10 mil em moeda estrangeira em espécie ou "instrumentos monetários" do país. Já o Banco Central da Rússia decidiu cortar o compulsório dos bancos do país, a fim de ajudar seus balanços no momento em que o país enfrenta sanções. Lidando com as restrições, a Nord Stream 2 AG, companhia que construiu o gasoduto ligando a Alemanha à Rússia, informou que "não pode confirmar" os relatos na imprensa de que estaria declarando falência.

A China, segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, reitera que o gigante asiático se opõe a "todas as sanções unilaterais ilegais, e acredita que elas nunca são meio fundamentalmente efetivos de se resolver problemas", quando perguntado se o país tomará medidas similares a de nações ocidentais em resposta à invasão russa na Ucrânia. Ainda hoje, com 141 países a favor, 5 contra e 35 abstenções, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução que condena a invasão da Ucrânia pela Rússia. A China esteve entre as abstenções. O Brasil votou a favor.

A incerteza sobre o conflito ajudou a impulsionar o petróleo a mais uma forte alta. Ainda hoje, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) decidiu aumentar sua cota de produção de petróleo em abril em 400 mil barris por dia (bpd), mantendo seu plano de reduzir gradualmente os cortes de produção relacionados à pandemia até o final do ano. Em sua declaração pós-reunião, a Opep+ disse que os recentes aumentos dos preços do petróleo não estão sendo impulsionados por fundamentos, mas sim por geopolítica. O WTI para abril fechou em alta de 6,95% (US$ 7,19), a US$ 110,60 o barril, e o Brent para maio avançou 7,58% (US$ 7,96), a US$ 112,93 o barril.

O setor privado dos EUA criou 475 mil empregos em fevereiro, segundo a ADP. O resultado superou a expectativa de analistas, que previam geração de 400 mil postos de trabalho no último mês. Já o Livro Bege apresentou um quadro no qual o emprego nos EUA avançou de ritmo "modesto a moderado", com demanda forte disseminada por trabalhadores e relatos de dificuldades de achar pessoal. As divulgações foram observadas no mercado de Treasuries, com os rendimentos avançando. Ao fim da tarde, o juro da T-note de 2 anos subia a 1,528%, o da T-note de 10 anos tinha alta a 1,889% e o do T-bond de 30 anos avançava a 2,271%. O dólar ficou sem sinal único ante rivais, e o DXY, que mede a moeda americana ante seis competidoras, fechou com leve baixa, de 0,02%. Já o rublo russo teve uma forte valorização após as quedas recentes. Ao fim da tarde de ontem, o dólar era cotado a 110,77 rublos, valor que era de 99,011 nesta tarde. (Matheus Andrade - [email protected])

BOLSA

Com forte desempenho das ações de commodities, especialmente do complexo minero-siderúrgico - em ajuste a três dias de avanço para a cotação da matéria-prima na China -, o Ibovespa retornou do feriado em firme alta de 1,80%, a 115.173,61 pontos, segundo melhor nível de fechamento do ano, atrás apenas dos 115.180,95 de 16 de fevereiro, que havia sido o maior desde 14 de setembro (116.180,55). Hoje, oscilou entre mínima de 113.143,06, da abertura, e máxima de 115.428,90, também o maior nível intradia desde o último dia 16 (115.734,45). O giro financeiro foi de R$ 32,6 bilhões na sessão. No ano, o Ibovespa sobe 9,87%.

Nesta tarde, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que a guerra na Ucrânia “muda o jogo”, causando efeitos que “estarão conosco por bom tempo”. "Vamos elevar juro, mas faremos com cuidado para não gerar incertezas", acrescentou o presidente do Fed, reforçando a percepção do mercado de que um aumento de 0,50 ponto porcentual na taxa de referência em março está agora fora de cogitação, restando a opção de uma elevação de 0,25 ponto.

Hoje, os índices de ações em Nova York tiveram ganho entre 1,62% (Nasdaq) e 1,86% (S&P 500), enquanto o ajuste nos Treasuries também foi evidente, com avanço do yield do vencimento de 2 anos para 1,51%, e o de 10 anos, a 1,88%, após a demanda por proteção vista na segunda e terça, de escalada do conflito, que havia deprimido o rendimento dos títulos americanos. O ouro cedeu hoje, também refletindo a melhora de percepção sobre risco.

Com o Brent a US$ 115 e o WTI a US$ 112,5 por barril nas respectivas máximas desta quarta-feira, Petrobras ON e PN fecharam respectivamente em alta de 3,16% e de 1,97%, bem atrás de Vale ON (+7,99%), o quarto maior ganho da carteira Ibovespa na sessão, atrás apenas de 3R Petroleum (+12,93%), PetroRio (+9,02%) e de CSN (ON +8,09%). Na ponta oposta do índice, destaque para Ambev (-4,47%), Natura (-4,02%) e Cielo (-3,89%). Entre os segmentos de maior peso no Ibovespa, as ações de grandes bancos fecharam o dia na maioria em baixa, à exceção de BB ON (+1,11%).

Entre o fechamento dos mercados no Brasil, na sexta-feira, e a reabertura no início da tarde de hoje, foram quatro dias de desdobramentos violentos no leste europeu, tanto na retórica pela e contra a guerra como na devastação no terreno, em perdas de vidas, propriedade e no deslocamento de refugiados. Desde sexta, a solidariedade e o apoio à resistência ucraniana - na Europa e nos Estados Unidos, assim como no Japão e mesmo em estados tradicionalmente neutros, como a Suíça - no aprofundamento de sanções à Rússia resultou, por outro lado, em bombardeios ainda mais pesados em cidades como Kharkiv, no leste, e Kherson, no sul, com a asfixia financeira sobre a Rússia parecendo acelerar iniciativas por uma solução pela força.

“A situação que se tem hoje é muito complexa e o mercado talvez esteja sendo um pouco negligente. O conflito é sério e pode se tornar ainda mais sério. Há muito otimismo quanto à chance de uma conversa sobre cessar-fogo. Mesmo as sanções anunciadas, especialmente a exclusão de bancos russos do Swift, têm algum grau de dificuldade na implementação - fala-se em até 10 dias para que seja operacionalizada. Há impressão de que Putin já desejaria um cessar-fogo por não aguentar a asfixia financeira. Mas ele não parece ter atingido seus objetivos, ainda”, diz Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa. “Tivemos dois dias de 'mega vol' (grande volatilidade) lá fora, mas não pegamos aqui por estarmos fechados. Isso afeta os modelos de risco: só pegamos a recuperação”, acrescenta.

O endurecimento da retórica russa, com alerta sobre armas nucleares no fim de semana e referência a risco de terceira guerra mundial, "nuclear e devastadora", retomada hoje pelo chanceler Sergey Lavrov - além do ataque ao Ocidente como “império de mentiras”, feito há poucos dias pelo presidente Vladimir Putin - sugere que o apetite por risco visto hoje, assim como a recuperação da última sexta-feira, tende a se alternar a dias menos otimistas, como ontem e anteontem, em volatilidade decorrente do grau de incerteza que ainda prevalece no curto prazo.

“A sinalização de que Rússia e Ucrânia podem retomar as conversas (sobre cessar-fogo) animou os mercados desde a manhã e, depois, o presidente do Fed, em testemunho ao Congresso americano, não elevou o grau de preocupação quanto a uma aceleração de juros ou uma redução mais rápida do balanço. O cuidado manifestado por Powell quanto a aumento de juros contribuiu para firmar os mercados, à tarde”, diz Luciano Costa, economista-chefe da Kilima Asset. Ele observa também que a pressão sobre commodities como o petróleo e o minério beneficiam a B3, mantendo o interesse e o fluxo estrangeiro.

“As commodities subiram muito hoje no mundo inteiro, mas há também um otimismo maior nas bolsas de fora. A guerra não deve atingir outros países envolvidos. As sanções foram duras, como no Swift (afastamento de bancos russos da plataforma global interbancária), mas sem impacto mundial, economicamente falando, à exceção das commodities”, diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Em relatório, a XP Investimentos manteve preço-alvo do Ibovespa a 123 mil pontos para o fechamento de 2022. “Com a discussão de altas de juros e preços mais altos de commodities, o índice Ibovespa deve continuar a ser favorecido. Os setores financeiro e (de) commodities respondem por 80% dos lucros do Ibovespa em 2022, e, atualmente, têm um peso de 62% dentro do índice. Em 2023, vemos que a contribuição dos lucros das commodities contraem 40%, passando a ser responsável por apenas um terço dos lucros do Ibovespa”, aponta o texto do estrategista-chefe e head de research, Fernando Ferreira, da estrategista Jennie Li e da analista Rebecca Nossig. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

18:25

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 115173.61 1.79568

Máxima 115428.90 +2.02

Mínima 113143.06 0.00

Volume (R$ Bilhões) 3.26B

Volume (US$ Bilhões) 6.35B

18:29

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 116565 2.02626

Máxima 116670 +2.12

Mínima 115140 +0.78

CÂMBIO

Uma onda de recuperação de ativos de risco no exterior, em meio a declarações em tom cauteloso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e à valorização expressiva dos preços das commodities, na esteira de gargalos de oferta provocados pelas sanções econômicas à Rússia, abriu espaço para uma nova rodada de apreciação do real. Notícias de provável retomada das negociações entre russos e ucranianos nesta semana também teriam contribuído para o bom humor dos investidores.

Depois de dois dias fechado por conta do feriado de Carnaval, o mercado doméstico de câmbio reabriu na tarde desta quarta-feira (02) esboçando jogar o dólar para cima, em reação ao recrudescimento da guerra na Ucrânia. Na máxima, a moeda atingiu R$ 5,2236 (+1,32%). A febre compradora teve, contudo, vida curta. Já no término da primeira hora de negócios, o dólar passou a operar em queda, sob influencia clara do ambiente externo benigno - marcado por alta firme das bolsas de Nova York e tombo da moeda americana frente a divisas emergentes.

Com renovação sucessiva de mínimas na reta final do pregão, o dólar à vista desceu até o patamar de R$ 5,10, ao tocar R$ 5,1033 (-1,02%). No fim da sessão, era cotado a R$ 5,1073, em queda de 0,94%. A moeda já acumula desvalorização de 8,40% em 2022.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - ensaiou uma alta pela manhã, mas perdeu força e passou a trabalhar em leve baixa, na casa dos 97,300 pontos. O rublo - que havia amargado queda de mais de 30% - hoje liderou os ganhos entre emergentes, com alta de mais de 6% ante o dólar.

O real e seus pares são beneficiados pelo aumento dos preços das commodities, insuflados pelas restrições de oferta por conta do conflito no leste europeu e das sanções econômicas impostas à Rússia. Bancos russos foram excluídos do sistema de pagamentos internacional Swift e houve congelamento de cerca de US$ 300 bilhões em reservas internacionais do país. Os contratos futuros do petróleo dispararam, fixando-se acima de US$ 110,00. O minério de ferro teve alta modesta no porto de Qingdao na China hoje (0,55%), mas vem de dois dias de valorização firme 2,64% na segunda-feira e 4,41% ontem.

"Parece que o mercado devolveu a alta do dólar que vimos na sexta-feira, quando investidores se protegeram antes do feriado. Apesar do ambiente muito incerto, estamos vendo um aumento recente das commodities, que pode estar favorecendo um pouco o fluxo via exportadores para o Brasil", diz a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, salientando que é cedo para apostar uma tendência maior de queda do dólar, já que o ambiente ainda é de muita incerteza.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, os mercados de risco apresentam uma recuperação pontual, após dois dias seguidos de queda, movimento que acaba se refletindo nos ativos domésticos, como o real. "Powell sacramentou um aumento moderado de 0,25 ponto nos juros, que devem continuar subindo depois de forma gradual. E existe a percepção de que com a asfixia econômica e financeira da Rússia, a guerra tende a acabar mais rapidamente", diz Velho, ressaltando que a moeda brasileira também se beneficia de dados de atividade positivos na China.

A combinação de uma alta gradual dos juros nos EUA com uma taxa Selic perto de 13% nos próximos meses mantém o diferencial entre taxas internas e externas em níveis elevados, o que estimula as operações de "carry trade" e, por tabela, dá certa sustentação ao real.

Velho observa que o mercado pode experimentar uma nova rodada de deterioração, já que a guerra trará como grande efeito colateral a alta global da inflação, em sintonia, provavelmente, com perda de dinamismo da atividade. Os preços das commodities, tanto agrícolas como energéticas, devem seguir em rota ascendente, por conta do choque de oferta. "Ao mesmo tempo em que as commodities em alta favorecem o real e parece continuar o fluxo de estrangeiro para o Brasil, o dólar pode voltar a subir com aversão ao risco e essas pressões sobre a economia global".

Na mesma linha, o economista Paulo Duarte, da Valor Investimentos, espera uma intensificação ainda maior da valorização commodities nas próximas semanas, dado que Rússia e Ucrânia são países relevantes na cadeia de fornecimento de matérias-primas, como gás natural e fosfato, usado na produção de fertilizantes "Petróleo já disparou e minério também. Isso deve pressionar ainda mais a inflação, que já era um problema global. Podemos ver um aperto monetário no mundo todo. O Brasil já iniciou esse processo no ano passado", afirma. (Antonio Perez - [email protected])

18:30

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.10730 -0.9388 5.22360 5.10330

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 5136.000 -1.45817 5267.500 5125.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5232.000 1.61196 5232.000 5232.000

JUROS

A retomada dos negócios com juros futuros após o carnaval, como esperado, foi de pressão sobre as taxas, explicada basicamente pela explosão dos preços das commodities nos últimos dias, em meio ao agravamento do conflito Rússia-Ucrânia. A curva até tentou acompanhar a melhora do câmbio no começo da sessão, que começou às 13h, mas o ajuste à disparada das cotações do petróleo e das matérias-primas agrícolas se impôs, trazendo preocupação adicional ao cenário doméstico já ruim, de inflação. Nesse contexto, o mercado vê agora chance de aperto maior da Selic nas reuniões do Copom de maio e junho, enquanto para a de março não houve alteração na precificação de aumento de 1 ponto porcentual.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular em 12,62%, de 12,484% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 11,535% (regular), de 11,426%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,41% (regular), de 11,316%. Na sessão estendida, as taxas continuaram subindo, acompanhando as novas altas do petróleo no sistema de negociação eletrônico, terminando, respectivamente, em 12,655% (máxima); 11,60%; e 11,455%.

Na tarde de sexta-feira, o mercado de juros até havia adotado um pouco de cautela, mas não o suficiente para tamanha deterioração do cenário geopolítico vista nos dias em que ficou fechado, enquanto no exterior os mercados funcionavam normalmente. O aperto nas sanções à Rússia - entre elas a temida exclusão dos bancos russos do sistema Swift e o bloqueio nas operações do banco central - gerou, em resposta, uma escalada nos ataques à Ucrânia, numa espiral que não se sabe onde vai dar, com o presidente russo, Vladimir Putin, chegando a colocar em alerta as forças nucleares.

Uma nova reunião entre as partes que aconteceria hoje chegou a dar ao mercado esperança de um acordo de cessar-fogo, explicando em parte a melhora do apetite ao risco no exterior, mas o encontro foi adiado para amanhã. Na curva brasileira, porém, o dia foi de ajuste à escalada dos preços das commodities nos últimos dias. O petróleo subiu mais de 7% e superou a marca de US$ 110 nesta quarta-feira, chegando perto dos US$ 115 no fim da tarde no caso do Brent, que é a referência para os preços da Petrobras. Com isso, a defasagem ante os preços externos já estaria perto de 30%, segundo economistas, aumentando a expectativa por reajuste de combustíveis, o que tem efeito cascata em outros preços da economia.

No caso dos grãos, alguns até chegaram a fechar em baixa, mas devolvendo muito pouco o que subiram nos últimos dias - o trigo, por outro lado, avançou mais de 7%. Para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, os preços das commodities agrícolas estão voláteis e, por isso, "é muito cedo para a gente pregar catástrofe". Ela garantiu que a população vai ser abastecida e que o governo está tomando providências para minimizar o impacto na oferta, como por exemplo medidas para reduzir a dependência da importação de fertilizantes russos.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, somando-se o desempenho do petróleo mais o dos grãos, as expectativas de inflação para 2022 poderão superar 6% ou até chegar a 7%. "Se bater em 7%, o Banco Central vai ter de ir além do planejado", disse. "Não tem redução do IPI que dê alívio", completou, sobre a medida anunciada pelo governo na sexta-feira. Como havia antecipado o Broadcast, o governo reduziu a alíquota do imposto em 25%, o que terá impacto de 31 pontos-base no IPCA por ano enquanto a medida durar, segundo Daniel Xavier, coordenador do departamento econômico do banco ABC Brasil.

Diante da piora na perspectiva inflacionária, as apostas para alta da Selic ficaram mais agressivas para o Copom de maio e de junho. Para maio, a curva já projeta 30% de chance de alta de 1 ponto e 70% de 0,75 ponto, enquanto na semana passada o quadro estava entre 0,50 e 0,75 ponto. Para junho, na semana passada, o quadro estava dividido entre 0,25 ponto e 0,50 ponto, mas hoje a aposta de elevação de 0,50 ponto já está em 90%, contra 10% de chance de 0,25 ponto. Para o Copom de março, segue mantido o consenso de alta de 1 ponto. Para a Selic terminal, a curva aponta taxa de 12,65%, de 12,45% no fim da semana passada. A Selic está em 10,75%. Os cálculos são da Greenbay Investimentos.

A pesquisa Focus, divulgada excepcionalmente hoje por causa do carnaval, trouxe nova rodada de alta nas estimativas do IPCA, após o IPCA-15 de fevereiro de 0,99%, acima do esperado. A mediana para 2022 subiu de 5,56% para 5,60%, reforçando a ideia de que este ano o teto da meta de 5% é inatingível. A mediana que realmente pesa agora no horizonte da política monetária, a de 2023, oscilou de 3,50% para 3,51%, acima do centro da meta de 3,25% para o ano que vem.

A abertura da curva hoje só não foi maior porque o real teve boa performance, com o dólar fechando em baixa e na casa dos R$ 5,10. Tanto a disparada do petróleo e de alguns grãos quanto as apostas mais conservadoras na Selic jogam a favor da moeda brasileira, mas, ainda assim, Lima, da Western, calcula que a taxa de câmbio teria de cair abaixo de R$ 5 para neutralizar os efeitos deletérios das commodities na inflação.

O Brasil pode ainda se beneficiar do rebalanceamento das carteiras de emergentes que os investidores estão tendo de fazer diante do aperto nas sanções contra a Rússia, e que devem deslocar fluxo para os ativos brasileiros. Amanhã, o Tesouro volta a fazer leilões de prefixados, o que será um bom termômetro desse apetite pelo risco. (Denise Abarca - [email protected])

18:28

 Operação   Último 

CDB Prefixado dias (%a.a) 11.13

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 10.65

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